"– É uma pena que você a tenha visto no dia em que queimou – disse Dumbledore, sentado-se à escrivaninha. – Na realidade ela é muito bonita quase o tempo todo, tem uma plumagem vermelha e dourada. Criaturas fascinantes, as fênix. São capazes de sustentar cargas pesadíssimas, suas lágrimas têm poderes curativos e são animais de estimação muitíssimo fiéis.”

Deixei o marcador na página 178 e suspirei deixando o livro ao lado da cama, não sabia a quanto tempo eu estava sozinha naquele quarto, olhei para o teto e balancei meus dedos um pouco ansiosa, Liah estava demorando demais e talvez estivesse ocupada com suas tarefas do abrigo, eu também precisava de tarefas e nos últimos dias a senhora gentil da cozinha havia aceitado que eu a ajudasse, talvez ela necessitasse de ajuda já que sentia-se cansada demais para carregar as panelas pesadas por estarem cheias de alimentos e essa essa uma das vantagens de ser um humano, seu corpo tinha um "prazo de validade" e em um determinado momento precisava descansar, era fascinante poder dormir eternamente e não viver eternamente vendo as pessoas que mais amou partirem e você permanecer no mundo, era essa a forma que meu pai via ser um vampiro até conhecer minha mãe.

Natalie também via a transformação dessa forma.

Continuei a olhar para o teto e pensei em minha melhor amiga, lembrei de suas últimas palavras duras e firmes antes de partir sem uma despedida, mesmo tendo Liah para me fazer companhia eu sentia falta de Natalie e esperava que ela estivesse bem.

— Acho que vou ajudar as senhoras na cozinha.

Falei a mim mesma me sentando naa cama, eu ocuparia minha manhã até a hora do almoço onde com certeza Jake viria me ver e essa era a razão de toda minha ansiedade, eu desejava que as horas passassem mais depressa para vê -lo.

Ainda sentada na cama prendi os cabelos em um rabo de cavalo e calcei minhas botinas, em seguida me levantei caminhando até a porta, suspirei ao ouvir algumas vozes, o som de marretas distantes, vozes masculinas em alguns corredores próximos e por último algumas crianças brincando em algum lugar.

Meus sentidos estavam aguçados e isso significava uma coisa, eu precisava caçar.

Sai do quarto e segui pelo corredor que dava acesso aos refeitórios, aproveitaria o almoço para conversar com Jake sobre essa minha necessidade, a última vez que eu havia me alimentado do modo não humano havia sido na ilha, embora eu tivesse auto-controle eu nunca havia convivido com humanos antes e isso me preocupava.

Antes de cruzar um dos corredores que dava acesso a outros quartos eu ouvi as vozes femininas que pelo tom usado pareciam discutir, uma das vozes era de Jéssica, diminui meus passos tentando não assusta-las e virei o corpo para retornar, mas parei ao ouvir um trecho daquela discussão.

" Eu não tenho como esconder minha barriga por muito tempo- Disse a mulher de voz desconhecida- O que pretende fazer quando a minha barriga começar a crescer e a sua não?"

" Eu tenho um plano- Respondeu Jessica- Você só precisa esconder a gravidez e quando a criança for nascer saímos do abrigo, crio uma situação para brigar com o Jacob e depois que a criança nascer voltamos e digo que o bebê nasceu e você me ajudou."

" Jéssica isso é loucura.."

Apesar de não me sentir confortável com aquela situação eu havia ouvido o suficiente para tirar minhas conclusões, Jéssica não estava grávida? Meu coração acelerou e senti um nó em minha garganta, afinal de contas o que significava aquilo?

De repente houve um breve silêncio, o único som que eu conseguia ouvir eram passos, virei novamente meu corpo e Jéssica me olhava com uma expressão surpresa, os olhos dela buscaram pelos meus e depois desviaram para a moça que estava ao seu lado.

— Eu preciso ir! Disse a mulher passando ao meu lado com passos largos e apressados, mesmo com toda a pressa eu havia decorado suas feições, o rosto fino, os olhos castanhos e pele clara.

— Algum problema princesinha Cullen? Perguntou Jéssica cruzando os braços- Não é necessário ficar na defensiva, eu ia justamente atrás de você.

A encarei mais uma vez- Porquê? Foi a única palavra que consegui expressar.

— Jacob conversou comigo ontem a noite, passamos a noite conversando- Disse ela sorrindo- Ele conseguiu me convencer do jeito dele, bom você sabe.

Minha expressão se fechou e eu engoli minha própria saliva, Jake havia passado a noite com ela? Por alguma razão aquilo havia me incomodado, mas disfarcei- Não eu não sei- Respondi engasgando em minhas próprias palavras.

Jéssica sorriu e tocou meu braço - Você é tão inocente, Jake vai me matar se me ver falando desses assuntos com você, por favor não diga a ele, ele a vê como a filha inocente que ele precisa proteger do mundo, a irmã mais velha da Sara, agora eu entendo e peço desculpas por meus ciúmes sem sentido.

Naquele momento as palavras de Jéssica pareciam distantes e fui invadida por uma sensação de angústia, então era dessa forma que Jake me via? Como sua filha mais velha? Eu me senti perdida sem compreender o porquê de todas aquelas sensações - Não é necessário - foi tudo que consegui falar.

Jéssica deu um sorriso largo e radiante- Que ótimo querida, precisa de alguma coisa?

Neguei com a cabeça.

— Eu preciso ir, se precisar me avise- Ela falou satisfeita e caminhou no sentindo oposto ao meu.

Minha garganta queimou de uma forma muito mais forte do que minutos antes, as palavras de Jéssica ecoavam em minha mente enquanto todas aquelas sensações se tornavam perturbadoras, fechei os olhos tentando me concentrar e senti as primeiras lágrimas brigando insistentemente para saírem.

" Vai deixá-la levar o nosso Jacob? A voz gritou em meu subconsciente - Ela está mentindo para ele, faça alguma coisa._

— Não posso machucar pessoas , não posso.

"Você está morrendo de ciúmes."

— Cala a boca.

— Eu não falei nada!

Virei na direção da voz masculina e o trio de garotos me olhavam com uma expressão de confusão - Você está bem? Perguntou o garoto maior, eu os conhecia, eles haviam falando comigo no refeitório e estavam presentes no incidente da construção.

— Eu preciso sair daqui.

— Ela está chorando - Disse um dos gêmeos - Melhor chamarmos o tio Jay.

— Não! Respondi em um tom mais alto, eu não queria ver Jacob, estava triste com ele - Eu preciso sair daqui, desse lugar não quero machucar ninguém.

— Espera, acho que entendi - o garoto mais velho falou novamente - Vamos com você está bem? Eu conheço uma saída secreta e segura do abrigo.

Os garotos gêmeos arregalaram os olhos- Você está maluco Cam? Não podemos sair do abrigo.

Cam olhou para eles- Olha vocês querem mesmo vê a garota com fome, depois do que ela fez na ala nova?

Eles trocaram olhares - Não! Responderam juntos.

— Então vamos, não podemos perder tempo- Disse Cam olhando para mim- Vem com a gente.

Olhei para os três e engoli minha saliva, eu podia ouvir seus batimentos cardíacos, o sangue pulsando em suas artérias.

— O Cam ela está olhando pra gente de uma forma muito suspeita.

Cam olhou para mim- Melhor nos apressarmos- Ele caminhou rapidamente a minha frente e os garotos os seguiram.

Senti o cheiro de humanos se aproximando e resolvi segui-los antes que aquela voz falasse novamente em meu subconsciente.

Segui os garotos por alguns corredores escuros e desconhecidos e paramos diante de uma grande pedra- Vamos lá - disse Cam afastando a pedra e meus olhos se fecharam diante da luz do sol.

— O Cam já pensou se ela pega fogo ! Disse um dos Gêmeos, em seguida ouvi o som do tapa dado em sua nuca, o resmungar do garoto, apenas ignorei e disparei na direção da floresta quando o cheiro do cervo foi trazido pelo vento.