Magnificently Cursed escrita por violet hood


Capítulo 1
I: your name engraved herein


Notas iniciais do capítulo

Olá! Cheguei hoje para postar a fanfic que disse diversas vezes que nunca iria escrever. Até ano passado estava respondendo comentários dizendo que Promise nunca teria continuação, ou seria transformada em uma fic maior (inclusive isso está nas notas de Promise).
Mas antes de contar como eu fui de "nunca vou escrever isso" para "estou aqui postando a futura maior fanfic que já escrevi", quero começar essas notas com:

CLARA FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!! Não poderia postar essa fanfic outro disse que não fosse o seu dia ♥ Obrigada por todos esses lindos anos de amizade, adoro você e as nossas conversas, os seus batons vermelhos e looks estilosos. Sou muito grata de te ter como amiga por grande parte da minha jornada fanfiqueira. Espero que a gente possa se encontrar ao vivo um dia de novo, lindas e vacinadas ♥ (dj coloca 22 - taylor swift pra tocar)

E agora para explicações (essas notas vão ser gigantes, me perdoem!!).

Em 2016 publiquei Promise, uma fanfic soulmate au. E assim que divulguei muita gente adorou o conceito. Sempre li soulmates au no ao3, mas não tinha notado que não existiam muitas fanfics nessa categoria com esse tema.
Promise se tornou uma das minhas fanfics mais comentadas, favoritadas, lidas e recomendadas (junto com Snapchat), e até hoje eu não sei muito bem o que rolou, escrevi em um surto sem pensar muito, enrolando para estudar (como sempre).
Quem leu Promise sabe que o final ficou meio aberto (beeeem aberto), e recebi muitos comentários pedindo um final fechado, ou que a fanfic fosse transformada em algo maior. Na época eu nunca senti vontade de fazer, não conseguia me decidir se queria um final feliz ou um triste, e também tinha preguiça kkkkkk

Em 2020, quando voltei para o Nyah (com o junho scorose do ano passado), muita gente ainda me conhecia por Promise, o que sempre me deixa muito feliz, e também pediam por um final para aquela fanfic. Mas essa Violet de agora não conseguiria escrever Promise como foi escrita em 2016, a Violet de 2020 pensa muito mais e planeja muito mais os seus plots, e surta muito mais com eles também. Sei que Promise tem seus furos, então não queria mais mexer naquela fanfic.

Chegou dezembro de 2020 e Taylor Swift lançou o álbum Evermore. Minha maravilhosa amiga Camila fez um comentário em nosso grupo que Ivy lembrava Promise, e eu fui dormir com aquilo na cabeça. Quando vi já tinha o plot perfeito de como Promise seria se fosse escrito pela Violet atual e aqui temos Magnificently Cursed! Bem diferente, mas com grande parte dos elementos principais.

Por fim, muito obrigada Camila, Clara e Luísa por me ouvirem surtar com essa fanfic. Trice que betou toda a bagunça e me ajudou bastante ♥ Junho Scorose que me fez voltar a escrever fanfics. E para quem leu essas notas até o fim (vocês arrasam, e são mais legais do que quem pulou as notas bjs)

Espero que gostem!

P.S. Roubei o nome de um filme para o título desse capítulo, mas zero semelhanças entre os dois



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Rose Weasley mal havia dormido na noite passada. Como ela poderia dormir sabendo que acordaria com o nome de alguém — que poderia ser um total desconhecido — gravado em alguma parte do seu corpo?

Mesmo que Jane tivesse feito um chá para que ela conseguisse dormir melhor, Rose havia acordado pelo menos três vezes ao longo da madrugada, segurando a vontade que sentia de acender uma vela e procurar pelo nome no seu corpo. Mas no segundo em que ela encontrasse seria o fim. Viveu 18 anos apenas para aquele único momento, o momento em que saberia o nome da sua alma gêmea.

Desde que a humanidade existia, as pessoas tinham almas gêmeas. Antes do alfabeto existir, elas acordavam com 18 anos com algum símbolo que só sua alma gêmea teria igual e, depois com a criação do alfabeto, elas passaram a acordar com os nomes tatuados em seus corpos.

Talvez uma das memórias mais antigas de Rose, era sua mãe a contando como que, no início de tudo, todos os humanos possuíam quatro braços, quatro pernas e duas cabeças. Até que os deuses os separaram no meio e, desde então, não importava quantas vidas você fosse viver sua alma gêmea seria a mesma.

Infelizmente, existiam aqueles que acordavam sem nome nenhum. Acreditava-se que, nesse caso, sua alma gêmea não havia renascido.

Rose tinha medo de acordar sem nome algum, porém tinha ainda mais medo de descobrir o nome que estaria gravado para sempre em seu corpo.

Ela nunca sentira interesse por alguém, enquanto as outras garotas conversavam sobre os homens mais atraentes do Reino, ou se escondiam nas atrás das plantas para observar os guardas treinando, Rose preferia a companhia de um livro. Sempre se perguntava se sentiria algo pela sua alma gêmea ou se seria como todos os outros.

Era claro que deveria ser diferente, mas a ideia de o universo escolher quem ela deveria amar não agradava muito Rose.

Então ela se revirou a noite toda, acordando de pesadelos que o nome escrito era de um homem velho ou de um cara completamente babaca que Rose teria que se casar. Mas em nenhum desses pesadelos, pensou que o nome poderia ser o dele. Ele que era mais como uma lenda do que uma pessoa real e nem em seus mais assustadores pesadelos iria sonhar com aquele rosto. O rosto que as pessoas descreviam ser o do próprio demônio.

Foi só quando o sol finalmente entrou pelas janelas do quarto de Rose, que ela pôde levantar correndo de cama em direção à sua penteadeira. Sentou-se no banco e respirou fundo. Havia escolhido dormir com uma camisola fina, para facilitar poder tirar e procurar pelo nome.

Por mais que não estivesse tão animada em descobrir, queria fazê-lo sozinha. Antes que uma de suas criadas, ou pior, sua mãe entrasse no quarto. E, depois que isso acontecesse, ela não teria mais privacidade. E aquele momento deveria pertencer apenas a ela e a mais ninguém. E, por isso, precisava fazer aquilo sozinha.

Primeiro encarou a parte do seu tronco visível e os ombros, mas não encontrou nenhuma marca, apenas algumas sardas que tinha ao longo do corpo. Abaixou as alças da camisola, deixando com que caísse em seu colo. Sua barriga e seus seios estavam iguais, sem nenhuma mancha nova.

Rose sentiu seu coração disparar cada vez mais rápido. Será que não encontraria nada? Ainda não sabia se aquilo era bom ou ruim.

Virou-se, ficando de costas para o espelho, ainda sentada. Suas costas nuas estavam como um quadro em branco. Assustada, Rose se levantou, deixando com que a fina camisola caísse no chão.

Encontrou as letras em preto na mesma hora, assim que olhou para as suas coxas. O nome estava em sua coxa esquerda, ele era tão pequeno que poderia ser difícil de ler caso Rose tivesse uma visão ruim, e também ficava de cabeça para baixo para ela.

Entretanto, infelizmente, Rose tinha uma boa visão e não tinha problema em ler palavras de cabeça para baixo.

Scorpius Malfoy

Aquelas duas palavras estavam gravadas no corpo de Rose para o resto da vida e ela não teria para onde fugir.

Scorpius Malfoy era um nome que ela conhecia muito bem, apesar de nunca o ter visto pessoalmente. Ele era o único filho de Draco Malfoy, além de ser o Príncipe herdeiro de Durmstrang, o país mais próximo do local que ela morava e também o mais perigoso de todos os reinos.

O reino de Durmstrang era conhecido por sua grande força militar e pela sua história de ter conquistado diversas terras e nunca ter perdido uma guerra. E, embora vizinhos, o reino de Rose, Hogwarts, não tinha relação nenhuma com eles. A população vivia em um constante medo de uma guerra acontecer, tanto que o Rei Harry havia feito o máximo para aumentar as forças militares do país desde que subiu ao trono.

E já seria ruim se Scorpius Malfoy fosse apenas o Príncipe de Durmstrang, contudo ele era muito mais que isso. A mãe de Scorpius, Rainha Astoria, era uma simples camponesa quando conheceu o Rei e conseguiu em um ano virar a Rainha. Existiam diversos rumores de que ela era uma feiticeira poderosa ou de que havia feito pacto com o próprio diabo para seduzir o Rei, e para se tornar a alma gêmea dele. Scorpius Malfoy era conhecido como sendo um demônio, tanto na aparência quanto na personalidade.

Rose não era o tipo de pessoa que ligava para rumores, mas os do Durmstrang sempre pareceram reais. Uma vez, suas criadas a contaram que Scorpius matava com a própria espada qualquer um que o irritasse, mesmo que pelos os motivos mais bobos. Elas também contaram que ele tinha olhos que pareciam frios como gelo e que era capaz de controlar a mente de cada um que o olhasse nos olhos.

Rumor ou não, Rose Weasley não queria ser a alma gêmea de Scorpius Malfoy. Ela era filha do Duque e o Rei era o seu tio, não conseguia imaginar o quanto sua família ficaria desapontada quando descobrisse.

Ainda mais depois do que aconteceu com seu primo, James Sirius, o Príncipe herdeiro. Quando ele acordou com 18 anos com “Rhiannon Greengrass” em seu antebraço, a família real não falou nada, mas um ano depois quando Rhiannon fez 18 anos, ela foi enviada para Hogwarts com apenas uma criada e uma carta, que pedia pelo casamento dos dois.

Rhiannon Greengrass era sobrinha da Rainha Astoria e prima do Príncipe Scorpius. A mãe havia ganhado o título de Duquesa depois do casamento da irmã, e tido a filha com um homem desconhecido. Um ano atrás, quando seu primo se casou, foi a única vez que viu Rhiannon. A loira era tão bonita que entendia o porquê dos rumores que diziam que ela não podia ser humana, que havia feito algum tipo de feitiço para ser a alma gêmea do Príncipe, assim como a tia.

Rose não sabia nada sobre Rhiannon, e a mesma não contava nada sobre o lugar que veio, ou negava os rumores sobre o primo. Nem sequer sabia se James a amava, ele nunca falava dela. Porém, sabia que a população não ficou feliz com uma possível bruxa virando Princesa de Hogwarts, e a próxima rainha deles. James estava perto de perder o trono para o irmão mais novo, Príncipe Albus.

Quando Rhiannon fez 18 anos, ela foi enviada para o reino deles. Mas Rose duvidava que, agora que tinha feito 18 eles, enviariam o futuro rei para morar em outro país. O Rei Draco Malfoy pediria que enviassem Rose.

E, se isso acontecesse, não poderia esperar que seu pai e seu tio negassem. Não poderiam provocar Durmstrang e Rose sabia que não teria escolha.

Vestiu sua camisola e sentou-se novamente na penteadeira. Não sabia o que fazer, não tinha como esconder a marca das suas criadas, as quais quase sempre a ajudavam a trocar de roupa e, se pedisse para elas pararem de ajudar, ficaria suspeito.

Respirou fundo, pegou a escova e começou a pentear os longos cabelos ruivos, enquanto esperava alguém entrar no quarto. Rose não chorou, era provável que outra pessoa naquela situação fosse chorar. Mas Rose raramente chorava, desde criança era assim. E do que adiantava chorar se seu destino já havia sido traçado?

Ainda estava parada encarando seu reflexo no espelho quando Jane entrou. A criada era doze anos mais velha que Rose, no entanto, apesar da grande diferença de idade, sempre a viu como uma amiga próxima, alguém que confiava mais do que qualquer outra pessoa. Os pais de Rose eram muito ocupados, e Jane sempre cuidou dela muito bem.

Porém, agora Rose sentia vergonha e medo de encarar aqueles olhos castanhos gentis. O que Jane pensaria dela? Que ela viraria um monstro como sua alma gêmea?

— Rose? — chamou, preocupada. — Por que está com esta cara?

Rose não respondeu. Não sabia se era capaz falar, parecia que estava presa dentro de um pesadelo horrível. De relance, encarou Jane pelo reflexo do espelho, que parecia muito confusa.

— Não tem nenhuma marca? — perguntou em um sussurro, como se Jane tivesse medo das próprias palavras.

Pessoas sem alma gêmea eram raras, mas existiam, Rose mesmo conhecia três. E naquele momento queria mais do que tudo ser uma delas. Mesmo que significasse a vida solitária, os olhares de pena e o julgamento por onde passasse, afinal, nada poderia ser pior do que ter Scorpius Malfoy como alma gêmea.

Sabia que precisava mostrar sua marca para Jane, a qualquer momento outras criadas poderiam entrar pela aquela porta, e ela não queria que a notícia se espalhasse pela residência sem que Rose nem ao menos entendesse o que estava acontecendo com ela.

Jane era a única que poderia ajudá-la. Rose só esperava que ela não fosse ter medo dela.

— Tenho uma marca — anunciou, agradecendo mentalmente por sua voz não ter tremido.

A criada parecia ainda mais confusa.

— E qual é o problema, querida? É alguém que você não gosta? Ou alguém que não é da nobreza?

Rose suspirou, exausta mesmo que o dia mal tivesse começado. Ela negou com a cabeça e desviou os olhos do reflexo para encarar a coxa esquerda.

Jane acompanhou o olhar.

— Está na sua coxa? — indagou, aproximando-se ainda mais dela.

Rose levantou a camisola devagar, passando pelos joelhos, e se ajustando na cadeira para conseguir revelar o nome em sua coxa.

Jane segurou a respiração, os olhos arregalados em completo choque.

— Isso não pode...

— É real — interrompeu Rose encarando mais uma vez aquele nome, as duas palavras que marcavam o fim da sua vida. — Queria que não fosse, mas é.

— Rose... — Jane nem ao menos conseguia completar a frase.

Encarou a criada diretamente pela primeira vez, Jane parecia mais preocupada com ela do que assustada. Aquele deveria ser um bom sinal.

— Eu não sei o que fazer — admitiu e, pela primeira vez, permitiu-se dizer o que sentia: — Estou com medo.

Jane fez o máximo para recuperar a compostura, desviando os olhos do nome dele. Rose cobriu com camisola de novo, também não queria olhar.

— O Duque e a Duquesa devem saber o mais rápido possível — disse Jane. Rose temia mais ainda a reação dos pais, mas sabia que não era possível esconder deles. — Vou mandar as outras criadas não entrarem agora. O Duque com certeza saberá o que fazer.

Jane saiu apressada do quarto, deixando Rose sozinha na penteadeira, mais uma vez encarando o seu reflexo.

Não queria olhar para as pernas, nunca sentiu tal repulsa com o próprio corpo. Colocou a mão esquerda sobre a coxa e a apertou com força, rezando para que aquele nome desaparecesse, ainda que soubesse que ele estaria gravado nela pelo restante da vida.

Não demorou muito para que Jane abrisse a porta de novo, dessa vez acompanhada dos pais de Rose. Ron e Hermione entraram com tranquilidade no quarto, como se não tivesse nada de errado. Os outros criados de residência deveriam ter achado estranho os dois indo visitar Rose desse modo, mas também hoje era um dia atípico, mesmo que ela tivesse o nome de outra pessoa no corpo, ainda assim, era um evento único.

A postura do Duque e da Duquesa desmoronou quando a porta fechou. Jane ficou parada perto da entrada do quarto, enquanto Hermione corria para abraçar a filha.

— Minha filha, como isso pôde acontecer — lamentou.

Rose colocou o braço direito em volta da mãe, que havia agachado para abraçá-la melhor. Não sabia o que deveria dizer, queria pedir desculpas embora soubesse que nada daquilo era sua culpa.

Hermione se afastou um pouco e encarou o local onde a marca estava.

— É aí? — perguntou receosa.

Rose concordou com a cabeça.

— Quer ver?

Quando sua mãe negou, ela quase suspirou de alívio, não queria ter que ver pela terceira vez.

— Jane confirmou. Está tudo certo, não preciso ver.

Ron se aproximou das duas e colocou uma das mãos no ombro de Hermione, fazendo com que ela se afastasse da filha, levantando-se.

— Nada disso é sua culpa, Rose — disse o Duque e, mesmo que ela soubesse, era muito bom ouvi-lo dizer. Ron Weasley sempre deixou claro como não gostava de nada que envolvesse Durmstrang, e agora corria o risco de ter que entregar sua filha mais velha para eles. — Mas precisamos pensar bem no que fazer neste momento.

Ron fechou os olhos preocupado, não parecendo nem um pouco contente com as suas conclusões. Quando os abriu de novo, encarava apenas a esposa.

— Eles podem pedir por ela.

Hermione negou, cruzando os braços.

— Eles nunca falaram nada — retrucou em negação. — O Príncipe deles é alguns meses mais velho que Rose, eles já sabem.

Pensar em Scorpius Malfoy, o famoso demônio, com o nome de Rose no próprio corpo fazia com que ela sentisse ainda mais medo.

Scorpius era o seu futuro agora, o seu destino, e Rose preferia não ter nenhum dos dois.

Ron nem pensou no que Hermione disse.

— Eles não podiam pedir por nossa filha antes que ela tivesse a marca. Talvez estivessem esperando por esse dia.

A Duquesa tampou a boca com uma das mãos, parecia que estava se controlando muito para não chorar. Rose se sentia ainda pior por saber que havia causado tamanha tristeza em sua própria mãe.

Os olhares de pai e filha se encontraram por alguns segundos, antes que Ron os desviasse, como que não conseguisse olhá-la.

Pela primeira vez naquela manhã, Rose sentiu que também precisava segurar o choro.

Sempre foi mais próxima do pai do que da mãe, o que não era comum, visto que ela tinha um irmão mais novo, que seria o futuro duque, e precisava sempre estar acompanhando o pai. Mas Ron gostava da companhia da filha e sempre se certificou de passar tempo com ela, todo o reino sabia o quanto a filha de Ron Weasley era importante para ele.

E, se antes Rose tinha medo de que Jane pudesse odiá-la, agora ela tinha ainda mais medo de que seu pai nunca mais fosse capaz de a encarar.

Ron olhou para a criada parada na porta.

— Peça para que preparem a carruagem — ordenou. — Irei imediatamente para a capital.

Jane saiu na mesma hora e Ron voltou seu olhar para a esposa.

— Preciso discutir isso com Harry — anunciou, referindo-se ao Rei e tio de Rose. — Farei de tudo para impedir que nossa filha seja levada por aqueles monstros.

***

Enquanto Ron Weasley estava fora, Rose foi ordenada a ficar em seu quarto, fingindo estar doente na cama. Apenas Jane podia entrar, nem mesmo o irmão mais novo, Hugo, podia vê-la.

Hugo não havia ficado feliz com aquela decisão, ele nem ao menos sabia sobre a marca da irmã. Rose amava o irmão, mas ele ainda era jovem demais para lidar com uma situação como aquela, sempre foi um pouco mais imaturo que os outros da sua idade, e havia herdado do pai o ódio pelo Durmstrang. Rose também estava magoada em não poder conversar com Hugo, no entanto entendia que era o melhor para todos.

No seu tempo de isolamento também descobriu que os dias sem poder sair do quarto eram longos e entediantes, porém as noites conseguiam ser ainda piores.

Era fácil para Rose ignorar a marca em sua coxa durante o dia, por mais que ela soubesse que estava ali, tentava se distrair com outras atividades, como ler um livro, fazer crochê ou, até mesmo, ouvir Jane contar fofocas que escutou pela residência. Contudo, quando Rose se deitava em sua cama e fechava os olhos, ela não tinha mais nada que a distraísse. Não conseguia mexer a perna esquerda sem lembrar do que estava ali e, quando finalmente conseguia dormir, suas noites eram preenchidas por pesadelos em que Scorpius Malfoy a levava para longe da sua casa.

Ela nunca conseguia o ver com clareza, era um vulto assustador, mas conseguia ver bem seus olhos vermelhos e, quando ele falava, apenas um som greve como a voz de um monstro saía.

Rose acordava suada, tremendo e gritando. E ela não sabia se aguentaria aquilo por muito tempo.

Perguntava-se o porquê de ter que ser ela, existiam muitas outras pessoas no mundo, mas por que ela?

Como filha de um duque, Rose sempre soube que não tinha muito controle sobre sua vida, mas mesmo assim se permitiu sonhar com um futuro que pudesse viver confortavelmente, pintar todos os quadros que quisesse e ler todos os livros do reino. Agora, de um dia para o outro, ela sentia que havia perdido todos os seus sonhos, talvez nem ficasse viva tempo o bastante para realizá-los.

Se os rumores sobre Scorpius Malfoy eram reais, Rose duvidava que ele iria mantê-la por muito tempo ao seu lado caso pedisse por ela. Não sabia como Durmstrang lidava com alma gêmeas, mas havia escutado que eles não viam a marca como nada mais do que uma fraqueza. E, se Rose tinha alguma chance de ser um ponto fraco de um príncipe como aquele, ele não esperaria muito para se livrar dela.

Quando Ron voltou para casa, Jane veio buscar Rose para levá-la para conversar com pai.

Deveria se sentir um pouco mais animada por sair do quarto, contudo estava tremendo de nervosismo com medo do que escutaria. E, por mais que tentasse manter sua compostura enquanto caminhava pelos corredores, sentia que estava prestes a desabar no chão.

— Rose!

Hugo apareceu antes que ela chegasse ao seu destino. Rose precisou respirar fundo, não queria ver o irmão agora. Nem ao menos sabia o que dizer para ele. E Hugo parecia estar feliz ao vê-la, e também preocupado.

— Soube que estava doente — comentou. — Já está melhor? E a sua marca?

Hugo tinha só dezesseis anos e já era bem mais alto que Rose, ainda que, para ela, ele sempre seria uma criança.

Fez o melhor que pôde para sorrir, esperando que isso fosse tranquilizá-lo.

— Já estou melhor — respondeu, ignorando a segunda pergunta e torcendo para que ele não notasse. — Preciso ir, conversaremos melhor depois.

— Espera! — exclamou antes que ela continuasse a andar. — E a marca? Perguntei para todo mundo e ninguém parecia saber, fiquei preocupado.

Rose trocou um olhar rápido com Jane, que parecia tão sem palavras quanto ela. Estava prestes a falar que não podia conversar agora, quando outra voz surgiu do corredor.

— Estava me perguntando por que você estava demorando muito — disse Ron, e Rose soltou um suspiro de alívio em ver o pai. — Venha, temos muito que conversar. Hugo, converse com sua irmã depois.

Infelizmente, Hugo parecia determinado em não deixar aquela conversa acabar.

— Por que não posso escutar? — perguntou olhando para o pai e a irmã. — Serei o futuro Duque, por que não posso saber o que está acontecendo?

— Sim — respondeu Ron devagar. — Você será o Duque, mas agora não é. Esse assunto é apenas entre adultos — e voltou a atenção para filha: — Venha, Rose.

Rose obedeceu e, dessa vez, foi o bastante para que Hugo desistisse, embora não parecesse nem um pouco contente.

Jane ficou do lado de fora, enquanto Rose entrava com o pai no escritório dele, um ambiente bem iluminado, que ela costumava visitar com frequência para conversar com o ele. Porém, naquele momento, não conseguia sentir o conforto de sempre.

Hermione já estava lá, andando de um lado para o outro, muito nervosa.

Rose tinha certeza de que aquele não poderia ser um bom sinal.

Assim que viu a filha fez o possível para se acalmar.

— Rose, querida — disse com um sorriso forçado no rosto.

Ron pigarreou para chamar a atenção das duas.

— Vamos nos sentar.

Os três se sentaram nos sofás azuis no canto da sala, os pais de frente para ela.

Rose apertou as mãos no colo, seu coração batia rápido demais e ela sentia-se prestes a desmaiar de ansiedade.

— Bom, vou direto ao ponto — anunciou Ron. — Você não vai para Durmstrang.

Os olhos de Rose se arregalaram, incrédula com a notícia.

— O quê?

— Conversei com Harry e ele também não é a favor de te mandar para Durmstrang — contou. — Mas também não queríamos enfurecer os nossos vizinhos. Então, Harry chamou aquela mulher para conversar...

Hermione revirou os olhos.

— Você não deveria se referir a esposa de nosso futuro Rei assim.

O Duque era uma das muitas pessoas que não aprovava o casamento do Príncipe James Sirius com Rhiannon Greengrass. Havia até mesmo implorado para o Rei mandar a menina de volta quando ela chegou.

Rose sabia que agora o pai deveria entender melhor a situação que James havia passado.

— Como estava dizendo — continuou sem dar ouvidos ao comentário da esposa. — Ela troca correspondências com a família, e Harry perguntou se havia algo fora do normal nas cartas, sem explicar a sua situação. Não confio nela, mas Harry parece confiar. Deve tê-lo enfeitiçado assim como a tia...

— Ron! — interrompeu Hermione, horrorizada com a fala do marido, e decidindo tomar as rédeas daquela conversa. — O que seu pai está tentando dizer, é que a Princesa Rhiannon não parece saber nada sobre a alma gêmea do primo, e o rei Harry acredita que eles não vão pedir para que você se case com o Príncipe.

Rose suspirou aliviada, sentindo seu coração acalmar pela primeira vez naquele dia. Mas mesmo assim ainda possuía muitas dúvidas.

— Como podem ter certeza disso? — perguntou, insegura. — E se ele mandar uma carta depois? Pedindo pelo nosso casamento.

— Pensamos nisso — respondeu o pai. — Vamos esperar por um mês. E caso nada aconteça é melhor que você se case o mais rápido possível.

— Casar?!

Rose não conseguia imaginar alguém querendo se casar com ela sabendo do nome em sua coxa.

Ron estava tranquilo enquanto explicava, deveria ter discutido muito aquele plano com Harry.

— Não podemos correr o risco de Durmstrang mudar de ideia.

— Mas quem iria se casar comigo? — questionou. — Não teria como esconder a marca.

— Sim, por isso você vai se casar com alguém que podemos confiar — explicou. — E, para todas as outras pessoas, você não possuiu alma gêmea.

Rose assentiu, tentando assimilar toda a situação.

— E você já sabe quem é essa pessoa — era para ser uma pergunta, porém, saiu mais como uma afirmação.

— Sim — respondeu Ron. — Lorcan Scamander.

Os Scamander eram antigos amigos da família real, nobres que o Rei confiava muito. Luna Scamander, a mãe de Lorcan, era uma amiga muito querida da Rainha, tão querida que a Princesa se chamava Lily Luna em sua homenagem. Luna tinha dois filhos gêmeos: Lorcan e Lysander, nenhum dos meninos possuía alma gêmea, o que havia sido o assunto do momento no reino alguns meses atrás.

Rose os conhecia apenas de passagem, mas não tinha nada contra eles, sabia que seus primos eram amigos próximos dos irmãos.

E Lorcan era melhor que Scorpius Malfoy. E, se ele podia aceitar Rose mesmo com a marca em seu corpo, aquilo era o bastante para ela.

Não esperava que fosse se apaixonar por Lorcan, contudo sabia que ele era alguém que ela podia confiar. E talvez sua única chance de mudar aquele futuro horrível que o destino havia criado para ela.

— Você deve partir para capital em alguns dias — continuou Ron, tirando Rose de seus pensamentos. — Hugo irá acompanhá-la, e você terá mais chances de conhecer Lorcan melhor antes do noivado.

Hermione chegou o corpo para frente, alcançando as mãos de Rose e as apertando de leve.

— Rose, não queríamos que fosse assim — admitiu, sentindo-se culpada pelo destino da filha. — Mas estamos fazendo o possível para que você tenha uma vida boa.

Rose sorriu de leve para a mãe, esperando fazê-la se sentir menos culpada.

— Está tudo bem — disse e ela realmente acreditava em suas palavras.

Iria se casar com Lorcan Scamander, e não Scorpius Malfoy. Poderia ter uma vida boa no país que amava. Rose realmente sentiu que poderia chegar o dia que a marca não a afetasse mais, e que os pesadelos finalmente acabassem.

Não demorou nem mesmo uma semana para que Rose estivesse pronta para partir. Enquanto entrava na carruagem, na qual iria viajar ao lado de Hugo, Rose já estava ansiosa com o começo de sua nova vida.

Ela tinha um mês ainda para se preocupar e rezava todas as noites para uma carta de Durmstrang nunca chegar.

— Não acredito que você vai se casar tão rápido — murmurava Hugo, nada feliz, assim que a carruagem começou a andar.

Ele não sabia sobre a marca e, provavelmente, só iria descobrir quando fosse o Duque. Por enquanto, Hugo achava que a irmã não tinha uma marca, e sabia apenas que Rose iria anunciar o noivado com Lorcan no próximo mês.

E não conseguia entender a pressa dos pais em fazer Rose se casar com outra pessoa sem uma marca.

Normalmente, pessoas que não tinham marca demoravam para casar, ou passavam o resto da vida solteiros. Pessoas sem alma gêmea se casavam entre si, ou com filhos de nobres que os pais não haviam aceitado bem a alma gêmea deles, como era o caso de Rose.

Por mais que isso geralmente acontecesse quando a alma gêmea desses nobres era alguém de outra classe social, e não quando era o Príncipe do reino mais temido.

— Eu concordei com o casamento — retrucou Rose, sabendo o quanto Hugo poderia ser insistente quando queria.

— Mas você mal conhece esse Lorcan — protestou, revoltado. — Não sabe que tipo de pessoa ele é. Como pode concordar em se casar com alguém assim? — perguntou e depois abaixou o tom de voz para acrescentar: — Não é só porque você não tem marca que tenha que correr para se casar com alguém que também não tem uma.

Hugo sempre parecia se sentir culpado ao falar sobre Rose não ter uma alma gêmea, mesmo que não fosse culpa de nenhum dos dois. Aquele era um assunto muito sensível para toda a população. Muitos até tentavam evitar falar com quem não tinha marca, como se fosse despertar um gatilho. Rose tinha notado que até suas criadas de anos agora a encaravam com pena.

Talvez, se ela realmente não tivesse uma alma gêmea, aquelas atitudes poderiam magoá-la, mas na situação que ela estava, preferia que as pessoas sentissem pena dela por não ter uma alma gêmea, do terem pena dela porque sabiam quem era a sua alma gêmea.

— Hugo, você não precisa se preocupar com isso — assegurou Rose. — Foi uma escolha minha. E os Scamander são amigos próximos do Rei, e do nosso pai.

Hugo havia ficado sem argumentos, e Rose aproveitou esse meio tempo para abrir um livro que havia trazido consigo, esperando que tal atitude deixasse claro que ela não queria mais falar sobre o assunto.

O restante da viagem seguiu tranquila. Hugo não falou mais nada, o que facilitou muito o trajeto para Rose.

Quando chegaram, os irmãos mal tiveram tempo de descansar ou olhar a residência do Duque na capital, fazia pelo menos um ano desde a última vez que Rose esteve ali, pois eles precisavam ir até o castelo para cumprimentar o Rei.

As ruas da capital eram muito mais movimentadas que a da cidade de Rose, ela sempre ficava maravilhada ao ver aquele lugar. Tão animado, colorido e cheio de vida. E, depois do casamento, seria o novo lar dela.

O castelo era imenso, tudo parecia brilhar, e a maioria dos objetos era vermelho e dourado, as cores da família real. Era fácil alguém se perder na imensidão de corredores. Felizmente, Rose já havia estado lá vezes o suficiente para conhecer o caminho até a sala do trono.

O Rei Harry e a Rainha Ginny já estavam sentados em seus tronos quando os irmãos chegaram. Rose e Hugo fizeram uma longa reverência.

 — Levantem-se, crianças — pediu o Rei. — Somos seus tios, não precisam dessas formalidades.

O Rei Harry e os pais deles eram amigos de infância, e a Rainha Ginny, irmã mais nova de Ron Weasley. Harry sempre disse que os via como se fossem seus filhos, mas os dois ainda sentiam a necessidade de serem formais, principalmente com a quantidade considerável de guardas em volta.

— É bom vê-los de novo — disse Ginny sorrindo para os sobrinhos. — A viagem foi tranquila?

Hugo endireitou a postura para responder:

— Sim, Vossa... — começou, mas foi interrompido pelo um pigarreio descontente de Ginny. — Quero dizer, tia.

A Rainha sorriu vitoriosa e o Rei riu da cena.

— Vocês podem ir agora, aposto que seus primos estão esperando — disse.

Antes que pudessem sair, Rose sentiu que precisava agradecer ao tio, mesmo que Hugo não fosse entender nada.

— Obrigada — falou, tímida. — Pelo o que você fez por mim, tio Harry.

Harry sorriu, bondoso.

— Não precisa agradecer, Rose. Fiz isso pela nossa família também.

Assim que ele terminou de falar, a porta do salão abriu e uma garota ruiva, muito parecida com a Rainha, entrou quase que saltitando.

— Rose! Hugo! — exclamou a princesa Lily Luna, contente em ver os primos.

— Viu — disse Harry, rindo. — Falei que seus primos estavam esperando.

Lily caminhou até os primos e os pegou pelo braço, arrastando-os para fora do salão, sem que eles nem ao menos pudessem se despedir do Rei e da Rainha.

— Vocês demoraram muito para chegar — reclamou quando estavam de volta no corredor. — Achei que iriam chegar ontem!

Rose sorriu para prima.

— Também senti sua falta, Lily — disse, envolvendo a menina mais nova em um abraço. Lily protestou primeiro, mas depois correspondeu.

— Talvez você não sentisse minha falta se visitasse mais a capital — murmurou.

Lily Luna era uma menina com o temperamento um pouco forte, não se dava bem com quase ninguém, e não tinha paciência para interagir com outras filhas de nobres, como era esperado dela.

Só parecia gostar de passar tempo com os primos e principalmente com Rose, Dominique e Roxanne. No entanto, Rose morava relativamente longe, Dominique estava morando em outro país como dama de companhia de uma princesa, e Roxanne passava tempo demais estudando para ter tempo para Lily.

E, por mais que a prima não admitisse, Rose conseguia ver o quanto ela precisava de uma companhia.

— Então — começou Hugo animado, ele adorava estar no castelo. — Para onde vamos?

Lily respondeu rápido:

— Você eu não sei. Eu vou conversar com Rose.

Hugo a encarou ofendido.

— Se não queria me ver por que me arrastou para fora do salão?

Ela deu de ombros em resposta.

— Seria estranho se eu te deixasse lá sozinho com meus pais — disse como se fosse óbvio. — Por que você não vai procurar Albus ou James? — sugeriu e, em seguida, entrelaçou o braço com o de Rose. — Vamos, Rose!

Assim que se afastaram de Hugo, Lily começou a contar sobre como estava a vida no palácio, e de todas as meninas insuportáveis da nobreza que ela tinha que aguentar. Rose apenas ouvia, sem ter muito o que comentar. A falação de Lily era uma ótima maneira de distraí-la do caos que estava sua vida.

Precisava admitir que gostava de estar com a prima, e era bom falar sobre alguma coisa que não envolvesse marca de alma gêmea, parecia até mesmo que as pessoas achavam impossível falar de outro assunto com Rose.

Enquanto caminhavam sem rumo pelos corredores, passaram por um dos vários jardins do palácio. Aquele era provavelmente um dos menores, mas nem parecia com tantas flores e tanta cor, era sem dúvida o mais bonito. Contudo, Rose nunca se aproximava.

E de longe ela conseguia avistar a razão. A Princesa Rhiannon estava cuidando das flores calmamente, enquanto suas criadas pareciam apreensivas em ver uma princesa agindo como uma jardineira.

Rose não tinha nada contra Rhiannon, no entanto sempre a evitava como todos os outros nobres. Ela havia nascido e crescido no reino que tantos temiam, sua tia vista como bruxa e seu primo como um demônio. Era natural que as pessoas a evitassem.

Porém, sempre notou que Rhiannon não parecia nada com a imagem que ela tinha da família real de Durmstrang e, agora mais ainda, notava que ela era muito diferente do monstro Scorpius Malfoy que não deixava Rose dormir.

Ela era bonita, com os cabelos longos e loiros, levemente ondulados, seu corpo também era lindo e ela era bem alta. Rose se lembrava do dia do casamento de Rhiannon e James Sirius, muitos cochichavam que pelo menos ela era bonita, apesar de ser quem era.

Lily notou para onde Rose olhava e comentou:

— Ela passa o dia com essas flores — explicou. — São flores de Durmstrang, ninguém achou que ela fosse conseguir fazer com que elas crescessem aqui. Talvez tenha sido magia.

— Lily! — advertiu Rose, tinham muitos rumores sobre Rhiannon, seu pai mesmo vivia a chamando de bruxa, mas ela ainda era a futura Rainha.

Lily revirou os olhos.

— Só estou falando o que eu acho — disse. — Parece mais uma jardineira do que a futura Rainha. Mas a mãe e a tia dela não nasceram na nobreza, talvez esteja no sangue.

Rose decidiu não repreender a prima de novo, duvidava que fosse adiantar. Ao invés disso, perguntou:

— E o que James diz disso?

Lily riu, como se Rose tivesse feito uma piada.

— James nem ao menos olha para ela — respondeu. — Sinto pena do meu irmão.

Rose não sentia pena de James, ele estava em seu país, com a sua família e o seu povo. Sentia pena de Rhiannon, porque via na futura Rainha a vida que poderia ter sido a dela. Enviada para um país desconhecido, para se casar com um homem que nunca seria capaz de amá-la.

Perguntava-se o que Rhiannon achava sobre James, se ela era capaz de amá-lo. Todos achavam que ter uma alma gêmea significava que você amaria aquela pessoa pelo resto da vida. Mas Rose já havia escutado várias histórias que provavam que aquilo era uma mentira.

Algumas pessoas não eram capazes de amar, e ter uma alma gêmea não mudava aquilo.

***

Rose gostava da vida na capital e de poder passar mais tempo com seus familiares. Porém, o constante medo de uma carta de Durmstrang, impedia-a de aproveitar totalmente o seu tempo.

E, caso desse tudo certo, ela ainda iria se casar com alguém que mal conhecia.

Alguns dias depois, Lorcan Scamander apareceu na casa dela para que eles pudessem conversar. A ideia de conversar com Lorcan deixava Rose ansiosa, ele era a primeira pessoa tirando Jane e a sua família a saber sobre a marca de Rose, e havia aceitado aquele noivado mesmo assim. E ela não conseguia entender o motivo.

Rapidamente descobriu que aquela conversa seria uma bem difícil de ter, porque Hugo recusava-se a deixar os dois sozinhos na sala.

— Como posso permitir isso? Vocês ainda não são casados! — protestou, irritado.

Rose revirou os olhos e, em seguida, virou-se para Lorcan, lançando um sorriso envergonhado.

A última vez que ela o viu havia sido no casamento de James, dois anos atrás. Lorcan não havia mudado muito, continuava alto e bem magro. Ele era educado, e Rose tinha tido uma boa impressão dele. Esperava que pelo menos pudessem ser bons amigos.

— Hugo, tenho assuntos pessoais para tratar com Lorcan — disse, tentando não perder a paciência. — Não vamos demorar.

Hugo bufou.

— Que assuntos você tem para conversar que eu não posso escutar? Como futuro Duque tenho direito de saber esses assuntos.

Lorcan pigarreou, desconfortável.

— Com licença — chamou fazendo com que a atenção dos irmãos se voltasse para ele. — Prometo que será rápido. São assuntos que o próprio Duque pediu para que eu tratasse com sua irmã. Em particular.

Hugo odiava ser deixado de fora de assuntos relevantes para o pai deles. Porém, ele odiava mais ainda que as pessoas soubessem que seu pai o excluía de muitas coisas. E Lorcan parecia saber que havia algum assunto que Hugo não tinha conhecimento, o que o irritava mais ainda.

Ele endireitou a postura para se mostrar mais maduro e disse:

— Tudo bem — admitiu a derrota. — Mas permitirei que conversem por dez minutos, e estarei de volta assim que o tempo acabar.

Sem esperar por uma resposta Hugo saiu, visivelmente mal-humorado.

Rose sorriu envergonhada para Lorcan e apontou para uma poltrona que ele podia se sentar. Ela também se sentou em um sofá ao lado.

Aquele momento era ainda mais desconfortável do que tinha imaginado. Estava sozinha com o seu futuro noivo, como queria. Mas como iniciar a conversa com alguém que mal conhecia?

E Lorcan não ajudava em nada, ele parecia tão desconfortável e perdido quanto ela.

Rose notou que teria que iniciar aquela conversa, ou os dez minutos não serviriam de nada.

— Muito obrigada — disse. — Por ter aceitado esse casamento. Sei que deve ter sido difícil, principalmente com a minha...

Rose não conseguiu completar a frase, era sempre mais difícil falar sobre a marca em voz alta. Entretanto, Lorcan não precisou que ela terminasse.

— Não foi difícil! — falou, rápido. E antes de continuar sorriu para tranquilizá-la. — Quando eu acordei sem receber uma marca, mesmo já esperando por isso, soube na mesma hora que passaria o resto da minha vida sozinho — contou. — Aceitei esse casamento não só por você, mas também por mim.

Rose entendia bem como era importante para sociedade em que eles viviam o casamento. Lorcan e Lysander eram os únicos filhos e herdeiros, e nenhum deles tinha uma alma gêmea, se quisessem se casar dificilmente poderiam com alguém da nobreza. Lorcan com certeza não esperava receber uma proposta do Duque.

Contudo, o nome no corpo de Rose não era de qualquer outra pessoa de outro reino, pertencia a alguém que a maioria da população descrevia como monstro, e alguns tinham até mesmo medo de pronunciar aquele nome.

— Você não tem medo? — perguntou curiosa, mas também receosa pela resposta dele. Ainda insegura que ele pudesse estar totalmente confiante daquele casamento.

— Eu tenho medo — admitiu, e Rose sentiu sua respirar falhar. — Quem não teria medo de Scorpius Malfoy? Mas também tenho medo do meu futuro se não aproveitar essa chance do destino. Não irei desistir de nós, Rose.

Ela conseguia ouvir a sinceridade em sua voz, o que a deixou mais calma e confiante.

— Também não vou desistir — confessou confiante.

A carta do Durmstrang nunca chegaria, Rose precisava ter esperanças. Ela poderia se casar com Lorcan, poderia esquecer sua marca e poderia ser feliz.

Lorcan também parecia estar refletindo sobre algo. E depois encarou Rose, determinado:

— Eu posso não ser sua alma gêmea, e talvez você nunca me ame como esperam que uma esposa ame seu marido — disse, sincero. — Mas espero ser alguém que você possa confiar.

Rose sorriu, sentindo-se realmente feliz em estar tendo aquela conversa. No fim, ela tinha dado sorte. Lorcan poderia ser um bom amigo e companheiro para a vida toda.

No fim do mês, ela iria descobrir que a sua sensação de sorte não duraria muito.

O Rei havia enviado um comunicado para sua residência, ele tinha recebido uma carta de Durmstrang. Pediu para que Rose não se alarmasse, a carta não falava nada sobre ela, almas gêmeas ou, até mesmo, do Príncipe Scorpius.

A carta era do próprio Rei Draco, informando que haviam ocorrido alguns conflitos entre os dois povos na fronteira dos países. E que ele queria enviar um embaixador de Durmstrang para que pudessem discutir melhor a fronteira.

O problema era que esses conflitos sempre ocorreram, e por décadas os vizinhos ignoraram completamente os pedidos de Hogwarts para resolverem a situação. Então, por que queriam justo agora? Quase um mês depois que Rose tinha descoberto que sua alma gêmea era o Príncipe deles.

O tio havia pedido para que ela não se estressasse cedo demais, mas também até que aquele embaixador chegasse não teria como Rose saber qual era a verdadeira intenção de Durmstrang.

Sentiu toda a esperança que tinha para um futuro feliz se esvair do seu corpo. Era como se estivesse mais uma vez vivendo o dia do seu aniversário de dezoito anos, o pior dia da sua vida.

A marca na sua coxa esquerda coçava e ardia, uma lembrança constante do nome de Scorpius Malfoy tatuado para sempre no seu corpo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram de primeiro capítulo? Aceitando comentários ;)
Sei que o Scorpius não apareceu, mas prometo que ele aparece no próximo!
Posto semana que vem de novo
Beijos, Violet