Partilhar escrita por WinnieCooper


Capítulo 8
Lado a lado


Notas iniciais do capítulo

Tá depois do angstizinho merecemos um fluffyzinho.



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Dias depois, Draco já apresentava uma melhora considerável. Scorpius o visitava  praticamente todos os dias, passavam horas conversando. Draco se abria com o filho sobre histórias, arrependimentos e dores que eram impossíveis de esquecer. Após a visita de Ron e Hermione, as coisas começaram a caminhar bem: apesar de ainda estar muito fragilizado, Draco  recebeu o perdão de ambos. Mesmo após anos terem se passado, os três nunca haviam conversado ou tocado no assunto até aquele momento; havia conversado com Harry anos atrás, mas nunca com o casal. Depois de conversar e colocar a situação em pratos limpos, Draco se sentiu, de certa forma, aliviado. Era mais um passo em direção a recuperação. 

— Então, quer dizer que agora somos parentes. — Ron concluiu enquanto lembrava da época de escola, dos erros e acertos de ambos, da peça que a vida pregara neles. — Já pensou se a professora Trelawney tivesse lido nas borras de café que íamos ter que conviver o resto da vida e que dividiríamos netos? Eu ia dar tanta risada.

— Eu não acreditaria em nenhuma palavra seja qual fosse. Imagina se ela contasse que eu iria me casar com você? — Hermione comentou. 

— É bom você melhorar, porque logo logo teremos netos! Hermione já intimou Rose e a única disputa que quero ter com você é sobre eles preferirem a mim como avô. Porque é claro que eu serei o avô preferido. — Ron terminou.

Astória sentiu que todo aquele diálogo distraído e o fato de falarem de um futuro, acendeu a vontade de Draco se reerguer. No dia seguinte, quando se viu com o filho, não foi fácil, mas, ao mesmo tempo, foi sincero com ele como jamais fora um dia.

— ... Hoje você já é adulto, um dia terá filhos... Lembro do dia em que você nasceu, era um dia chuvoso e tempestuoso, mas, quando ouvi seu choro, o céu se abriu num sol quente e caloroso, como se a vida estivesse me mostrando que eu estava tendo uma segunda chance com você…

Scorpius se permitiu chorar ouvindo o relato dele, não era capaz de dizer nada, mas ouvia com atenção, guardava os detalhes da fala dele, imaginava seu pai jovem com medo do futuro. 

— ...Nunca quis ter filhos, tudo para não vê-los carregar meu sobrenome. Quando Astória apareceu grávida, me senti péssimo, como se estivesse transferindo um fardo que era somente meu e que jamais deveria ser passado adiante. No dia que tivemos alta do hospital e voltamos para casa, sua mãe deitou exausta e apagou, estava tão cansada que não viu e nem ouviu nada por quatro horas. Você acordou nesse meio tempo e começou a chorar, eu me vi desesperado sem saber o que fazer. Te peguei no colo e automaticamente você se acalmou, prometi naquele dia que você não precisava ter medo e nem chorar, que eu ia te proteger de todo mal. Seus olhos azuis-acinzentados me encaravam e eu vi a força para lutar por mim, para lutar por você, para lutar por nós.

Draco estava com o braço esticado, as marcas dos cortes da faca na marca negra, estavam vermelhas e cicatrizando.

— ...Eu pedi para não cicatrizar com magia. Quero deixar a cicatriz rasgando e mudando a tatuagem. 

É claro que o desempenho de Scorpius no time havia caído, o que rendeu três partidas perdidas em cinco, mas ainda estavam nas fases iniciais, os jogos perdidos não tinham tanta relevância. 

Rose conversou com Lorcan Scamander, atual dono do Pasquim desde que Xenofílio Lovegood havia se aposentado para cuidar de seu jardim exótico. Tudo com os Lovegood-Scamander girava em torno das plantas e da revista. No caso de Lorcan, eram as palavras que o seduziam. O jovem sempre gostara de escrever e foi graças a esse talento que passou a liderar o jornal que havia sido implantado por Rose em Hogwarts.

— O seu chefe não aceitou isso? — ele perguntou a Rose após ler a matéria sobre os nascidos-trouxas que levara a ele, mais de 10 mil palavras com denúncias de tortura psicológica e física a eles na época. — Se me autorizar faço uma edição especial da revista com essa reportagem na capa, posso conseguir uns arquivos de fotos antigas e ilustrar seu escrito. Seu primo Albus, trabalhando no departamento de Auror, deve saber de alguns arquivos de imagens daquela época. Vou falar com ele. 

— Nossa, eu ficaria muito feliz se fizesse isso. Mas, por favor, coloque um pseudônimo para mim.

— Por quê? Não quer perder seu emprego no Profeta Diário? — Lorcan estava curioso, sabia que a revista chamaria a atenção assim que publicasse o texto. — Qual pseudônimo quer que eu coloque? 

— Ethan McGawer. Diga que sou um entusiasta dos Estados Unidos e que vim fazer uma pesquisa. Estou fazendo isso como vingança,  Lorcan — explicou. 

O clima pesado estava se esvaindo aos poucos, Scorpius já estava mais leve e voltando a sorrir. Ela se comprometeu a fazer sempre um jantar para eles e ele sempre a auxiliava na cozinha. Em algumas noites, pediam comida por delivery o que rendia algumas risadas porque o loiro ainda não havia se acostumado com a incrível ideia de se enviar comida pronta e maravilhosa como correio.

E ele amava enchê-la quando estava concentrada assistindo suas novelas. Scorpius sempre achou tudo muito dramático, mas ela amava, havia algumas cenas horríveis, como a que ela assistia agora. A vilã, tipicamente loira, estava em cima de uma escada longa toda em espiral, parecia em pânico por suas expressões e agarrava a amiga. Sua suposta amiga tentava se livrar de suas mãos enquanto vociferava contra ela diversas palavras que ele não entendia devido à língua estranha, mas Rose estava concentradíssima. Não resistiu. 

 — Ela vai empurrar ela de cima da escada! — definiu quando viu que as emoções das duas estavam cada vez mais afloradas. 

— Shiiii! — ela olhou brava para ele entredentes. 

— Eu quero que ela caia da escada! — ele comentou na defensiva. — Vai! Empurra ela da escada! Empurra ela da escada! Empurra ela da escada! — Scorpius estava com os braços levantados como se estivesse num estádio de quadribol vibrando com seu time. Torcendo para que o desfecho fosse o que ele queria. 

Rose pegou a almofada mais próxima e tacou nele.

Isso só o motivou a enchê-la ainda mais. Ele arriscou um diálogo, já que não entendia absolutamente nada do que elas falavam e sabia que isso deixaria Rose ainda mais nervosa. 

— Por que você comeu todo o jantar, sua vagabunda?! — ele fez uma voz dramática imitando a amiga.

A vilã na novela foi empurrada e caiu no chão. Enquanto outra falava com os dedos apontados para ela. Scorpius imitou:

— Tomara que pegue uma infecção alimentar e passe mal ao ponto de morrer!

Então a amiga dá alguns passos para trás até cair da escada, morta. A vilã senta ao seu lado dando risadas malignas. 

Rose pegou o controle e pausou encarando seu companheiro de apartamento que rolava no sofá dando risada. 

— Saiba que está ofendendo um clássico! — ela estava carrancuda com os braços cruzados. — Nazaré Tedesco é uma das maiores vilãs da teledramaturgia brasileira, e é um meme de respeito. 

Scorpius sentou-se no sofá e a encarou tentando entender suas últimas palavras, parecia outra língua para ele. 

— Eu amei esse clássico! E, a propósito, o que é meme? 

Rose sacudiu a cabeça negativamente sorrindo. 

— Oh, querido, você ainda tem tanto o que aprender... 

Rose amava vê-lo relaxado e despreocupado; sabia o quanto a situação de Draco o afetava e que ele andava preocupado não só com o pai, mas como emprego também — afinal, apesar de ainda estarem no início da temporada, jogos foram perdidos. Naquele dia em especial, Scorpius estava feliz e tranquilo: o pai enfim receberia alta e continuaria com o tratamento em casa. Narcisa estava ajudando como podia e até mesmo Lucius havia aparecido no hospital. Disse apenas uma frase: "Erramos quando exigimos uma atitude que não devia ser responsabilidade sua". A visita foi tão importante que no dia seguinte ele já pôde voltar para casa. 

Nesse meio tempo, decidiram enfim pintar a parede do aparador do apartamento. Haviam comprado junto com a TV e os outros equipamentos trouxas; Rose havia escolhido azul-petróleo e insistira que deveriam fazer a moda trouxa, com rolos e pincéis. A jovem, sempre muito metódica com limpeza, agora usava magia encobrindo o piso com uma camada transparente para impedir que respingos de tinta manchassem o chão.

— Você sabe que a gente já poderia ter feito isso usando magia há semanas, não sabe? – Scorpius dizia enquanto abria as latas de tinta.

— É claro que eu sei! Mas, que graça teria?

— Mas você ‘tá usando magia agora... – ele alfinetou entregando um pincel a ela.

— Mas, isso aqui é diferente! Se você soubesse o trabalho que dá para tirar tinta do chão iria concordar comigo. – concluiu com um último floreio. – Pronto! Agora nosso piso está protegido! Nada de respingos!

E, de fato, o chão estava mesmo protegido. Não se podia dizer o mesmo dos pintores.

— Está com uma mancha no seu nariz. — ele apontou para o nariz dela. Automaticamente a jovem ruiva esfregou os dedos, mas não percebeu mancha nenhuma. Observando o rosto confuso e prestes a dizer “Onde?”, Scorpius pegou o pincel e passou no nariz dela.

— Ahhhh! —  Rose abriu a boca espantada com a audácia dele. 

— Você tinha razão, Rose! Assim é bem mais divertido mesmo! – ele respondeu gargalhando dando mais uma pincelada de tinta nela, só que dessa vez no braço. 

—  Pois agora você vai me pagar! – ela disse e a guerra estava instaurada.

Ela jogou o resto da tinta que estava na lata em seu cabelo, ele passou a mão pelos fios encharcados de líquido azul e passou pela bochecha dela. Nem Gryffin escapou de algumas pinceladas acidentais. Ficaram rindo durante a guerra de tinta, tudo estava leve e Scorpius sentia-se feliz e completo, como nunca havia se sentido na vida.

 

— Então quer dizer que agora vocês brigam por causa de programas de TV, pintam a casa juntos, se apoiam quando estão tristes, cozinham juntos e cuidam de um cachorro... Aí ai, eu shippo muito e não nego. — Kat adorava quando ela estava relaxada e contava seu dia-a-dia com Scorpius. — Você sabe que eu escrevo fanfics, não é? 

— Fanfics? 

— Quando você ama muito uma obra, seja livro, filme, série e não quer que aquilo acabe ou acha que tem algo que o autor não explorou, você escreve uma fanfic, ou seja, ficção feita por fãs. Eu tenho amigas nesse ramo e contei para elas a sua história... Achamos que daria um bom plot de fanfic! Ah! E definimos que o nome do ship de vocês é Scorose. 

Rose começou a dar gargalhadas diante do que ouvia da amiga. 

— Scorose? Por Merlin, Kat, isso parece nome de doença! Você sabe que não entendi quase nada, mas percebi que você juntou meu nome com o de Scorpius! — ela voltou a rir. 

— Shippo muito e não nego, já disse. No batizado dos seus filhos a gente conversa. — a ruiva riu mais ainda.  

Era tão bom ver Rose feliz e relaxada, esperava que ela percebesse logo que merecia tudo o que quisesse, inclusive viver seu romance por inteiro. 

— Mas, enfim, como anda sua vingança? — Kat sussurrou quando pararam de rir. Seu chefe estava com a porta aberta sem contar os fofoqueiros e puxa-sacos que viviam ao redor, tinham que ser discretas ao falar no assunto. 

— A edição está ficando maravilhosa! Até semana que vem ele publica. Lorcan disse que pegou um depoimento com a mãe dele sobre o que viu naquela época quando esteve presa com Dean Thomas, outro nascido-trouxa. Vai ser uma revista inteira só desse assunto e você não sabe o melhor. 

Estava tão empolgada que quase se esqueceu de dizer tudo sussurrando. 

— Eu vou receber uma parte da venda das revistas. Sabe o que isso significa? 

— Que está se libertando desse tirano! 

Levantaram a palma das mãos e bateram uma na outra comemorando.  

— Eu só não entendi uma coisa. — comentou Kat um pouco depois quando voltaram a atenção aos papéis que mexiam. — Se só está com Scorpius para subir na carreira e já sabemos que isso definitivamente não vai acontecer por causa do nosso chefe, por que ainda está morando com ele? 

Rose olhou para ela sem saber o que responder.

Mas, ela sabia que também estava o ajudando. Afinal, era uma troca de favores, certo? Ela não podia simplesmente desistir de tudo porque descobriu que nunca teria uma chance de subir de cargo no Profeta Diário. 

Decidiu que o melhor a fazer era ocultar essa informação de Scorpius; não queria que ele se sentisse ainda mais pressionado. Especialmente agora que as famílias começavam a se entender. Agora, sem segredos entre os patriarcas da família Malfoy, havia esperanças de que a família conseguisse alcançar certa medida de normalidade — apesar de Rose acreditar que isso não fosse possível entre eles, sentia que agora Lucius e Narcisa pensariam duas vezes antes de falar qualquer coisa para o neto ou o filho. E ainda tinha a carreira dele, que estava um pouco bagunçada no momento. Rose não podia simplesmente ir embora e deixá-lo sozinho em meio a tantos problemas. Não seria justo com ele.  

— Seria muito eu te pedir para assistir ao jogo no estádio amanhã? 

Como ela poderia dizer não? Com aqueles olhos esperançosos e seus lábios quase formando um bico. 

Ela pegou seu uniforme do time, tinha o kit completo já que seu pai sempre os educou para torcer para os Cannons. 

— Então, Gryffin, você não vai ao estádio, mas vai torcer! 

Ela colocou uma bandana laranja em seu pescoço, tinha um pequeno brasão do Chudley Cannons na frente. 

— Você que fez? — Scorpius perguntou surpreendido. Com Rose era sempre assim, eram os detalhes que a definiam. — Talvez eu consiga autorização para levar ele. 

— Será que eu posso levar meu pai também? Ele sempre quis assistir ao jogo no estádio na área vip.

E lá estava ela com seu pai e o cão, berrando a plenos pulmões, torcendo para o amigo em cada lance de suas jogadas: ela gritava, sofria pelos gols que ele errava e berrava feliz e saltitava pelos gols que acertava. Chamava toda a atenção do estádio para si, todos apontavam e diziam que ela era a namorada do artilheiro do campeonato. Gryffin ao seu lado se comportava bem, latia toda vez que ela gritava e batia palmas comemorando. Seu pai não tinha crises de ciúmes; muito pelo contrário, vibrava e cantava o hino do time. Tudo estava perfeito. As pessoas no estádio quase olhavam mais para a dupla ruiva de Scorpius, junto com seu sogro, também ruivo, do que para o jogo. 

Ganharam muito rápido e em larga vantagem. Ron vibrava a abraçando e exigindo que comparecesse em todos os jogos, já que agora acreditava que a filha era o “amuleto do time”. A jovem apenas riu enquanto retribuía o abraço. Ela também não se importou com a chuva de fotografias, até posou com o cachorro enquanto seu pai corria para os jornalistas e avisava ser "Ronald Weasley, aquele das figurinhas dos sapos de chocolate e também sogro do artilheiro do campeonato". Ela estava tão feliz que não se importou no fato da agente dele a puxar para conversar a sós enquanto Scorpius dava entrevistas. 

— Sinceramente, pensei que não fosse real. Achei que ele tinha inventado essa história de que namorava você só por causa do seu sobrenome e para eu parar de o intimidar a limpar o nome da família dele.

Apesar de estar bem feliz e radiante aqueles dias, a velha Rose ainda estava lá, e ela não ouviria aquelas palavras e permaneceria calada. 

— Francamente, não entendo como o sobrenome pode ser um problema na carreira dele. Me diga o que é! Não o chamam para fazer todas as propagandas? Ele perde grandes oportunidades de ganhar dinheiro? Ou é só o velho preconceito? Pelo que vejo ele não passa fome por causa do sobrenome, talvez seja a cabeça das pessoas, não é? Não buscam se informar, apenas repercutem o que os outros falam. Eu sou uma Granger-Weasley, minha mãe foi torturada na mansão Malfoy, meu pai recebeu represálias do pai dele por causa de sua condição social e,  mesmo assim, nunca o maltratei nem exigi que ele se retratasse por causa do sobrenome, por um erro que ele não cometeu. 

Elisa não soube se ela falava com ela ou com as pessoas ao redor, que prestavam atenção. 

— Ora, se eu mesmo nunca tive preconceito nenhum com o sobrenome do namorado, quase noivo, da minha filha, por que vocês teriam? — Ron virou seu olhar para a agente de Scorpius, enquanto flashes eram disparados. 

Scorpius se aproximou dos três. Sua agente ainda permanecia sem falas. O loiro nunca havia visto aquilo na vida, já que Elisa amava discursar sobre os bons valores e costumes para uma boa recompensa dos patrocinadores, mas o efeito Rose/Ron Weasley foi realizado com sucesso. 

Ele depositou um beijo na testa da ruiva como agradecimento, o que gerou mais flashes disparados e uma careta de seu pai.

Scorpius sentia-se em dívida com ela. Como se precisasse fazer algo em troca por causa das inúmeras vezes que ela já havia lhe ajudado enquanto ele não fazia nada por ela. Assim, sugeriu que jantassem fora aquela noite. 

— ...E eu faço questão de pagar tudo, inclusive a sobremesa, e podemos pedir vinho. — ele lhe entregou um sorriso após a sugestão. 

Rose fez uma careta, pensou um pouco e mudou sua expressão para animada:

— Podemos ir para o cinema antes, e aí depois te apresento um dos melhores restaurantes. Te apresentarei a melhor bebida do mundo e ela nem tem álcool. 

E lá estavam ambos no cinema. Scorpius observava tudo com os olhos arregalados de empolgação, fazia perguntas a Rose do tipo: "Vendem pipocas desse tamanho?", quando observou o enorme pacote que ela comprou para ambos dividirem; "Essa tela é tipo uma televisão?" quando observou o tamanho da tela ao sentarem na cadeira e ao começar o trailer; e "Uau! Você jura que não tem magia nisso?", quando a junção do som potente, com as imagens nítidas e os efeitos especiais em 3D preencheram a sala de cinema. 

Eles estavam com óculos para verem as imagens 3D. Scorpius mergulhado nos costumes trouxas, comeu quase toda pipoca sozinho enquanto levava vários sustos com a imagem e o som alto, apesar de não ser filme de terror e sim de heróis. 

— São um dos tipos de filmes favoritos do meu irmão e da minha cunhada, eu não entendo muita coisa… — ela confessou.

O jovem estava de fato assustado com a magia dos trouxas e pulava sempre nas cenas de ação, numa dessas segurou a mão de Rose que estava depositada ao seu lado esquerdo.

— ... É só para saber que está aqui do meu lado nessas cenas horripilantes. 

Rose sorriu enquanto retribuía o aperto de mão pensando que estava vivendo pela primeira vez seu clichê numa sala de cinema. Um clichê nada romântico. 

Quando saíram para jantar Scorpius não parava de dizer que os trouxas sabiam sim como fazer magia. 

— Talvez eu tenha te iniciado no cinema de forma muito drástica. Um filme de animação ou uma comédia romântica da próxima vez. 

— Vai ter próxima vez? — ele perguntou com um sorriso amarelo de medo ao mesmo tempo desejando uma segunda experiência.

Foram andando pela Londres trouxa de braços dados. A nova intimidade atingida com ele permitia que Rose se aproximasse sem nenhum tipo de constrangimento. Era bom andar por lá sem nenhum paparazzi ou fã maluca indo atrás dos dois. 

Pararam em frente a uma loja toda vermelha e amarela com um clássico "M" anunciando ser o restaurante escolhido por ela. 

— Esse é o restaurante? O "M" é em minha homenagem?

— É claro, o mundo gira em torno do sobrenome Malfoy. — ela brincou. 

Entraram. Rose pediu o clássico: hambúrguer, batata frita, refrigerante, e, é claro, milkshake de morango. 

Ele se esbaldou com a comida e repetia constantemente que nunca havia comido iguaria mais deliciosa.

— ...E viciante. — Rose completou. — Vantagens e desvantagens do capitalismo. 

A amiga tirou algumas fotos descontraídas de ambos pelo celular. 

— Como colocou o Gryffin no seu celular? — ele apontou para a tela do aparelho quando observou o cão lá. 

— Ah! Você gostou? — ela fez alguns comandos e mostrou a foto inteira para ele do cachorro que mostrava a língua num sorriso para a câmera. — Coloquei de papel de parede. 

— Você me ensina a fazer isso? Pode colocar essa foto que tirou nossa no meu celular? Tem como? 

— Tem sim. — ela concordou. — Mas enquanto faço isso, experimente a bebida preta. 

Ela pegou o celular dele para editar o papel de parede — que continuava a ser de fábrica em seu celular — enquanto Scorpius tomava a bebida sugerida por ela. 

— Essa bebida é estranha, salpica na língua, era essa que falou ser melhor que qualquer bebida alcoólica? 

— Está menosprezando o refrigerante de cola? Hum… Mas a bebida que falei ser melhor é essa aqui. — ela colocou o milkshake em sua frente. 

— Essa rosa? — Scorpius fez uma careta. 

— Dê uma chance, é feita com leite e morangos, por isso a cor. 

Ele não estava muito convencido. Mas, como Rose sempre tinha razão no quesito melhores coisas que os trouxas têm a oferecer — menos cinema, estava um pouco traumatizado — resolveu dar uma chance.  

Bebericou a iguaria e logo estava elogiando e falando que era a melhor coisa que havia bebido na vida. 

— Pronto! — Rose entregou o celular para ele e Scorpius observou agora a foto de ambos no plano de fundo do celular. 

— De fato, os bruxos precisam aprender tanto com os trouxas no quesito comida. Imagine comprar isso a suco de abóbora? Cerveja amanteigada? 

A noite terminou entre risadas e mais fotos tiradas. Ao mesmo tempo, a sensação de não ter agradecido a amiga o suficiente surgiu de novo para ele e teve que correr para sugestões de amigos.

— Eu queria fazer algo em troca por ela. — o loiro confessou a Albus. Pediu para encontrar o amigo no dia seguinte, ele estava um pouco ocupado com a rotina de uma casa, então acabou indo fazer compras num mercado com ele. 

— E com esse em troca você quer dizer o quê? — Albus olhou sua lista enquanto colocava no carrinho doze litros de leite. 

— Bem, é que ela está me ajudando tanto com a minha família… Faz até comida para mim em casa! E eu nem sabia que existia delivery de comida e tem essas séries que ela me apresentou e também adoro implicar com ela quando está assistindo uma novela… Ah!  E ela foi até o estádio assistir a um jogo o que é muito, levando em consideração que tem plateia e ontem me apresentou o cinema e os benefícios e malefícios dos fast-foods...

Albus parou de andar no corredor e encarou o amigo que parecia um pouco encabulado ao se confessar para ele enquanto despejava tudo muito rápido e atropeladamente. 

— Está apaixonado por ela. 

Não era uma pergunta. Scorpius parou para pensar um minuto e refletir o que o amigo jogava em seu colo. 

— Não, estou agradecido. Quer dizer, preciso de alguma forma retribuir tudo. 

É claro que ele negaria, mas Albus era esperto e resolveu sugerir ações que o fariam perceber que estava de fato apaixonado por ela. 

— Você podia retribuir levando ela para um jantar fora. Já tentou um piquenique naquele parque que corre com o Gryffin? 

O jovem loiro refletiu e achou a ideia do melhor amigo excelente. O mais difícil era convencer Rose a acordar cedo. Foi isso o que explanou ao amigo enquanto o via procurar por ofertas de cosméticos para bebês.

— Mas é um piquenique Scorpius, não precisa ser necessariamente de manhã cedo. Vocês podem combinar de ir à tarde,  aproveitar o pôr-do-sol… Imagina só: o sol está se pondo, o astro está tão baixo no céu que ele fica numa mescla de cores laranjas, do seu lado uma cesta de piquenique, do outro, as madeixas ruivas da Rose combinando com o céu enquanto ela sorri brincando com o Gryffin. É perfeito para vocês se ap… para que Rose se sinta agradecida por você.

Ele anotou essa dica mentalmente e também pesquisou qual seria a melhor forma de se organizar um piquenique. Montou uma cesta com frutas e outros snacks, colocou uma coleira em Gryffin e esperou ela chegar do trabalho naquele dia. 

Quando ele sugeriu o passeio Rose fez automaticamente uma careta. Estava cansada, exausta, só queria um bom banho e deitar no sofá acompanhada de sua maratona de novelas, um bom prato de comida e o carinho de Gryffin ao seu lado, já que descobriu que o cão era um grande entusiasta de produções brasileiras. Mas ao ver os olhos brilhantes de Scorpius, como uma criança ganhando um presente, e sua vontade de dar um passeio com ela, não resistiu. 

Logo estavam sentados no parque, com a típica toalha quadriculada estirada na grama. Pessoas caminhavam ao redor, outros passeavam com seus filhos, alguns casais namoravam em um canto, e eles curtiam a companhia um do outro. Scorpius jogava um disco (sem magia) para que Gryffin corresse, pegasse e trouxesse de volta ao dono. Foi quando Rose reparou em algo pela primeira vez. 

— Por que ele se chama Gryffin? 

Bom, ela sabia que tinha relação com a Grifinória, mas o amigo nunca pertencera à casa e sim ela. 

Scorpius parou um momento de brincar com ele e olhou Rose que estava curiosa. 

— Ele é grande, como um leão e bom… — ele desviou seu olhar nesse ponto. — sua pelagem é um marrom-alaranjado. Me lembrou um pouco.. 

O jovem parou de falar nesse ponto. Rose começou a juntar as dicas que ele havia lançado em seu cérebro. Certamente sua conclusão estava errada. 

 — Você lembrou de mim quando deu o nome a ele! 

Não era uma pergunta, Scorpius coçou seus cabelos da nuca numa clara vergonha da conclusão dela. 

— Não foi proposital, só… — ele suspirou sem ter como fugir das afirmações dela. Tentava imaginar qual seria a reação de Rose quando soubesse suas razões para o nome do cachorro, em todas que pensou, durante todos aqueles meses, nenhuma chegou perto do que ela fez. 

Rose chegou perto de Gryffin, acariciou seu rosto com a mão e sussurrou ao cão:

— Eu sabia que tínhamos uma relação mais forte do que melhores amigos do Scorpius. 

Se levantou e deu um abraço no jovem, que a essa altura estava sem reação e não sabia o que fazer com seus braços que estavam parados no ar. Ouviu ela dizer com a voz abafada em seu peito:

— Fico feliz em saber que queria minha companhia antes mesmo de iniciarmos essa loucura toda. 

É claro que nada fora consciente ou proposital. O nome do cachorro surgiu e ele gostara da ideia, e quanto a se reaproximar da amiga, essa foi certamente a melhor ideia que teve naquele ano. O abraço inesperado ao mesmo tempo em que o céu se mesclava de laranja também não era proposital. Pensou no seu emprego com um time de cores laranjas. Concluiu:

— Posso dizer que laranja é minha cor favorita. 

Ele finalmente retribuiu o abraço a enlaçando tão apertado junto a si, que tinha certeza que Rose podia escutar seu coração descompassado em seu peito. 

— A minha é azul-acinzentada.

Ficaram alguns minutos assim. Ao sair do abraço, tentou parecer um pouco descontraída para ele. 

— Essa cor de céu é perfeita, mas a minha é melhor. Aquele céu azul-acinzentado, frio, com chuva o dia todo... Um dia em que eu posso ficar em casa, com minha xícara de café assistindo minhas novelas debaixo das cobertas? Melhor dia!

E, como mágica, o universo conspirou a seu favor: no dia seguinte, sábado, o céu nebuloso e chuvoso não permitiu que Scorpius saísse para treinar. Tudo foi cancelado e ele pode curtir o dia todo com ela no sofá enquanto dividiam uma coberta, bebericavam café e ele finalmente dava uma chance às novelas. 

Algumas eram bem menos dramáticas e mais leves, ela ria o tempo todo, e ele amava ver aquele sorriso. Quando percebeu estava prestando mais atenção nela do que na tela da TV. 

— ...Essa novela retrata uma época muito importante, o seu avô devia assistir, já que fala da importância das vacinas. Isso aí é em 1920 no Brasil, já estamos em 2034 e seu avô ainda não aceita o fato das vacinas serem importantes desde o nascimento da criança, tanto bruxa quanto trouxa…

Ele estava hipnotizado. É claro que ela falava, sua boca se mexia e saíam sons dela. Mas ele não conseguia tirar os olhos de suas expressões, sua testa levemente enrugada quando falava empolgada, sua covinha esquerda que se sobressaia todas as vezes que ela abria e fechava a boca muito rápido e em suas mãos, que gesticulavam e explicavam junto com sua boca um ponto muito importante na trama e na sociedade da época. Ele não resistiu. 

Elas estavam lá, chamando sua atenção, praticamente pedindo para serem tocadas. Desde o cinema não conseguia parar de pensar no quanto eram macias e delicadas. Segurou-as. 

Rose parou de falar no mesmo instante e se afastou um pouco dele tirando suas mãos da dele, receosa. 

— Deixa só eu segurar a sua mão? 

Sua pergunta a ela foi tão baixinha que Rose se perguntou por um instante se podia ignorá-la. 

— Só segurar a sua mão… — ele continuou, tomou coragem e procurou novamente a mão dela por cima da coberta, começou a acariciar sua palma. — Me senti sozinho durante tanto tempo, não quero mais me sentir assim. 

Ela encarou os olhos dele um pouco receosa, mas se permitiu entrelaçar seus dedos aos dedos dele. 

Não falaram nada sobre isso, Rose passou o resto da noite assistindo e comentando a novela com ele e suas mãos entrelaçadas. Scorpius fazia pequenos movimentos com os dedos acariciando sua palma, não prestando atenção em nada do que ela dizia. 

No fim da noite, quando foi dormir, mandou uma mensagem no celular de Albus desesperado:

"Estou apaixonado pela Rose!"


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Notas finais do capítulo

O que mais gosto desse capítulo é o fato de que não ia colocar o Rony pra ir assistir a partida do Chuddley Canons, mas aí a Paty pediu e quando coloquei o Rony tudo se encaixou kkkk aí gente eu amo o Rony desculpa. Eu vou responder os reviews em breve, agradecer demais quem está lendo e comentando ❤️



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