Partilhar escrita por WinnieCooper


Capítulo 7
Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada Felina e Lê Malfoy por favoritarem essa história. Gente esse capítulo era pra ser só felicidade, mas não podia deixar passar em branco os jantares. Temos algumas cenas que podem gerar certos desconfortos pelo tema depressão, mas nada muito detalhado.



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“Scorpius,

Ninguém sabe que estou te enviando essa carta, mas estou desesperado! Rose não fala comigo, não responde minhas mensagens, nem atende minhas ligações... Não sei nem se leu as cartas que enviei! Entenda, estou destroçado. Ela é a pessoa mais importante do mundo para mim, me vi uma pessoa melhor quando ela nasceu e a ver crescer e se tornar independente sem precisar mais de mim para lhe contar histórias antes de dormir, nem do meu abraço quando está com medo ou de um pote de sorvete de menta com chocolate quando está triste,  me deixa mais enciumado que o normal. Eu sei que você não é uma pessoa má. Me desculpe, mas quando olho para você, vejo o Draco e parte do que passei em minha adolescência vem à tona. Ele não era  a melhor pessoa naquela idade e cometeu erros, olhar para você me faz lembrar da guerra e da mulher que amo sendo torturada na mansão de seus avós só por ser nascida-trouxa. Ainda guardo mágoas, mas sei que não devia descontá-las em você.

    Você é um bom garoto, sei disso. Sei disso porque Rose te escolheu e graças aos céus nós a educamos para escolher o melhor homem que pudesse quando crescesse e se ela resolveu te apresentar para família é porque realmente te ama e enxergou o melhor em você. Cuide dela para mim e, se possível, a faça feliz. Sei que já decorou os jeitos dela, sei que já devia amá-la desde Hogwarts, é impossível não a amar.

Com certeza você deve ter se encantado por ela e seu jeito explosivo sempre querendo mostrar a todos que está certa (porque, acredite, ela realmente sempre está!). Já notou que ela ama demais as pessoas e o seu mundo e por isso quer ter voz e vez nos lugares? Já descobriu qual é o melhor jeito de fazer café para ela de manhã? E o quanto ela gosta de ler, mas ama assistir programas trouxas na TV em uma língua estranha? E, como ela ama o pior tipo de sabor de sorvete: menta com chocolate? O quanto ela se esforça diariamente em seu trabalho e às vezes volta triste de lá? Já percebeu que ela gosta de privacidade e se tranca dentro de si mesma para não preocupar os outros? Talvez você conheça outras faces dela que eu nunca vou ver, guarde elas com você, porque é privilegiado. 

Sei que talvez seja pedir demais considerando tudo o que fiz com você no jantar, mas, será que não poderia me ajudar para que ela me perdoe mais rápido? Acho que não tenho o direito de te pedir isso, mas mesmo assim o faço, o não já está garantido, não é? Quem sabe você consegue amolecer o coração dela e a convence a voltar a falar com este pobre velho…  

Me perdoe e boa sorte no próximo jogo. Confio em você para ganharmos mais uma vez. 

Ronald Weasley"

Scorpius recebeu a carta na segunda bem cedo, logo após voltar de sua corrida. Estava preparando café e ovos mexidos para Rose; já havia assimilado a rotina dela - ela realmente não gostava de acordar cedo. Sempre se levantava faltando literalmente meia hora para aparatar no jornal, mal havia tempo para se arrumar e tomar seu "elixir de sobrevivência".  A carta de Ron o havia feito refletir. Ele não estava nada feliz com o fato de Rose estar brigada com o pai e sentia que ele estava sendo sincero na carta, ainda assim, sabia que Rose podia ser muito difícil quando queria mesmo sendo dona de um coração enorme. Scorpius estava tão imerso em pensamentos que nem percebeu quando ela entrou na cozinha, pronta para pegar seu copo de café e partir. O bocejo dela lhe despertou a atenção. 

— Bom dia! — ela disse logo em seguida bocejando. 

Ele reparou que quando ela abria a boca, sua covinha esquerda aparecia. Ela combinava perfeitamente com as sardas salpicadas em seu rosto e, por um momento, um mísero momento, se imaginou tocando cada uma delas, ligando-as e formando constelações inteiras. 

— Você está bem? —  Rose voltou a perguntar, percebendo o olhar vago e a falta de resposta dele. 

Scorpius piscou algumas vezes voltando à Terra, impressionante o que um simples bocejo o fizera pensar. Assim que reparou nela tomando seu café, se lembrou da carta. 

— ...Eu estou bem, mas e a sua família? Falou com seu pai?

Era péssimo para iniciar assuntos delicados. Rose fez uma carranca a ele pela pergunta. 

— Céus, até você? Agora Deus e o mundo querem saber do meu pai! Minha mãe me ligou ontem umas quinhentas vezes para falar sobre ele, Hugo me mandou uma carta para parar de ignorá-lo e agora você! Francamente, Scorpius! — talvez ela estivesse de mau-humor, mas era segunda-feira de manhã e aquele assunto em particular já estava lhe cansando. Ela respirou fundo. — Ok, me desculpa. Eu não quis descontar em você... É que esse assunto me irrita! Ele foi péssimo com você, Scorpius! Não posso deixar ele te tratar desse jeito e agir como se nada tivesse acontecido! Não mesmo! Estou deixando ele de castigo por alguns dias. Vai ser bom para ele refletir. 

Scorpius havia ficado impressionado com tamanha determinação. Era incrível como Rose podia ser uma força da natureza. Achou melhor apenas concordar com a cabeça para evitar brigas. Ron teria que esperar 

— Bem, eu preciso ir. Hoje meu chefe seleciona as matérias que vão para o próximo jornal de sábado e talvez meu nome esteja na seção de opiniões! Tchau! — ela se levantou da onde estava sentada um pouco empolgada. Deu um beijo na bochecha de Scorpius e saiu com uma bolsa. 

Esperou que ela batesse a porta para relar no lugar que ela havia depositado o beijo. Agora ele tinha duas coisas para pensar. Num bocejo e num beijo na bochecha. Sentia-se um garoto de 11 anos novamente. 

xx

Rose estava empolgada, tão empolgada que nem respondeu às sucessivas tentativas de Kat de a fazer contar sobre os jantares. Resumiu tudo falando a palavra desastre a ela. 

— Ele não te falou nada sobre as matérias escolhidas para a seção de opiniões? — Rose sabia que a amiga era uma das responsáveis por diagramar algumas seções no jornal. 

— Só disse que entregará tudo até o final da manhã. 

Kat resumiu deixando a amiga com a cara triste. Rose sentiu seu celular vibrar e olhou para a tela. Era um número estranho, o mesmo que já havia ligado minutos antes e ela ignorou. Resolveu atender porque, afinal, podia ser algo importante e ela era curiosa. 

— Alô?

— Rose, tudo bem? Aqui é Astoria…

A jovem ficou muda diante da revelação, o que sua sogra poderia querer com ela? A palavra sogra pairou sobre ela. Agora Rose tinha uma sogra e, pensando bem, agora que fora apresentada formalmente como namorada, talvez tivesse que conviver com parentes de Scorpius fora de jantares ou datas comemorativas.

— Estou te ligando por causa de um assunto delicado. Você pode conversar? 

— Posso. — respondeu um pouco preocupada. 

— Draco internou. — sua boca se abriu em choque, foi incapaz de respondê-la — Ele sempre teve problemas de depressão, eles vêm e vão. O conheci numa das crises, ele melhorou e ficou curado por vários anos quando Scorpius nasceu… Ele tinha uma crise ou outra, mas nunca mais precisou internar. — Rose mantinha-se em silêncio durante a explicação dela. — Só que depois de sexta-feira ele começou a se cortar.

Rose abriu a boca chocada pela última coisa que ouviu, o peso da culpa a atingiu. 

— Me perdoe, isso tudo é minha culpa. Eu não devia ter falado o que falei do jeito que falei. — ela sentiu seu coração apertado.

— Não foi sua culpa, os pais dele nunca o ajudaram a se curar da dor, eles podiam ter contado o que você contou, mas preferiram ver o filho doente e se culpando. Eles são os culpados. — Astoria suspirou cansada ao telefone. — Só quero que entenda que não é você, esse peso não é seu. Narcisa está sabendo de tudo e está com ele no hospital, parece que Lucius está isolado na mansão, o que para ele é um grande passo desde que não estrague a recuperação do filho… Draco estava se cortando na sua tatuagem. 

— Tatuagem? 

— A marca negra. — Rose sabia as histórias sobre a marca negra, todos que compactuavam com Voldemort tinham uma, elas traziam diversos benefícios e deveres a se cumprir de quem as carregava. 

Depois de alguns segundos de reflexão, em que a jovem não sabia e não conseguia saber o que falar, a mãe de Scorpius voltou a se pronunciar. 

— Sei, só de observar os olhos do meu filho, que você é a pessoa que ele mais confia agora e… — A voz de Astoria estava receosa. — É horrível te pedir isso, mas eu preciso da sua ajuda. O Scorpius nunca viu o pai internado com depressão, não é algo bonito de se ver e eu sei que ele não vai reagir bem quando souber… Será que você consegue ir preparando o terreno para mim? Tentando acalmá-lo? 

— É claro! — afirmou rapidamente. Sentia-se culpada pelo que fizera e tentaria consertar. 

— Você sempre fez isso com ele, antes mesmo de namorarem, lá em Hogwarts você azarava qualquer um que o xingasse, que dissesse que era um comensal, ou que por ser um Malfoy ele tinha que pagar pelos erros de seu pai. Sou eternamente grata por ter mantido meu filho são quando estava longe de mim. — Rose não conseguia dizer nada, mas seus pensamentos estavam em anos atrás, quando conhecera o menino introspectivo e por vezes triste, nas crianças e adolescentes perversos de Hogwarts, dizendo o que queriam e pensavam da pior maneira, do pior jeito, só para vê-lo sofrer… Ela sentia vontade de azarar todos. Foi por isso que começou a conversar com Scorpius, queria o entender e acabaram grandes amigos. — Eu só não quero que ele saiba do pai através da imprensa. Vou marcar um almoço com ele amanhã e dizer, só queria que preparasse o terreno para mim hoje. Ou o fizesse feliz.

— Eu… Eu… — não sabia o que dizer a ela, mas sabia que nunca diria não a um pedido de Astoria, ainda mais quando ela tinha parte da culpa. — Eu vou conversar com ele. Fica tranquila. De algum jeito vou falar com ele. 

— Muito obrigada! Fico feliz que meu filho não esteja mais sozinho. 

Enquanto se despedia de sua suposta sogra, Rose percebeu que estava enfiada de cabeça nessa história de fingir um relacionamento e não havia como fugir de certas obrigações de namorada. 

— O que vou fazer? — perguntou a si mesma enquanto via sua amiga ser chamada na sala do chefe para receber as matérias para a diagramação. 

Quando concordou com a ideia de fingir um relacionamento, Rose jamais imaginou que teria que enfrentar momentos como aquele. Afinal, agora eles eram uma família; estavam juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. 

Observou Kat voltar da sala do senhor Pfeiffer olhando folhas e mais folhas quando se sentou ao seu lado. Apesar de seus pensamentos ainda estarem longe da redação, Rose sabia exatamente o que a amiga procurava entre os documentos: seu nome. Kat a olhou chateada e fez que não com a cabeça. A ruiva, mais chateada ainda, agiu sem pensar indo em direção a sala do chefe e abrindo a porta com tudo. 

— Qual o problema? – “com você?” completou mentalmente. – Pensei que tivesse me dado uma chance! 

— Exato, agora não pode dizer que não teve oportunidade. 

Seus olhos se encheram de lágrimas diante da resposta dele. Saiu de lá com raiva, mas também devastada. Correu para o banheiro. 

Kat observou o rosto triste de sua melhor amiga da redação quando saiu dos aposentos do chefe e a seguiu. Rose poderia estar chorando trancada em um dos boxes, mas ela não ouvia nada. Conhecia-a o suficiente para saber que a ruiva lançava o feitiço abafiato quando estava muito frustrada e precisava chorar. Esperou ela se acalmar. Esperou que ela descarregasse todas as suas frustrações e angústias que vivia guardando dentro de si e não contava a ninguém. Quando saiu do boxe e observou Kat com os olhos e nariz vermelhos sabia que precisava desabafar com alguém. 

— Vamos naquele restaurante perto da Floreios e Borrões almoçar hoje, ok? 

Rose confirmou com a cabeça, aceitaria o ombro amigo antes que enlouquecesse. 

xx

Gritos, muitos gritos. Por que tinham liberado o treino daquele dia para torcedores? Já estava difícil se concentrar nas jogadas ensaiadas, ainda mais depois do bocejo, do beijo na bochecha e do sogro sendo sincero consigo em carta (e ainda não era nem a hora do almoço!). Não que a torcida não o incentivasse a jogar melhor, eram os gritos que o impulsionava a querer fazer jogadas quase impossíveis, mas naquele dia, eles faziam arder seus tímpanos e errar as jogadas mais simples. 

Óbvio que a bronca veio no fim da manhã. Seu técnico estava especialmente nervoso e frases como "...Você errou aquela jogada simples!", "O que nossos patrocinadores vão pensar?", normalmente não o abalavam, mas aquele dia estava estranho, sentia que nada estava no seu eixo perfeito. 

Achou que estava liberado, iria almoçar em casa com Gryffin. Com certeza o carinho de seu companheiro canino o faria se alegrar naquele dia difícil, mas sua empresária apareceu confirmando que tudo ia piorar. 

— Vamos almoçar? Preciso conversar com você. 

xx

Foi uma garota de no máximo 13 anos que a reconheceu primeiro. "É a Rose!". Mas a garota era tímida e não se aproximou. Permaneceu no beco diagonal e encontraram o restaurante. Já na porta um garotinho que vestia um uniforme do Chuddley Canons gritou: "É a namorada do jogador Scorpius!", e foi a mãe desse garotinho que a pediu para tirar uma foto com ele. Aceitou sem saber muito o que fazer. 

Rose passara a infância vendo seus pais serem reconhecidos por outros bruxos como "Ron e Hermione, os melhores amigos de Harry Potter", ou "Aqueles que ajudaram Harry Potter a derrotar Voldemort", mas seu pai no máximo sorria e acenava dizendo que era famoso e que sua maior alegria era ter seu retrato nos  sapos de chocolate. Agora, adulta e naquela situação, Rose sabe que não fora só aquilo e que não era normal ser reconhecido desse jeito — seus pais apenas amenizavam a situação para que ela e seu irmão tivessem uma infância tranquila. 

Ficou perplexa por alguns segundos diante do ocorrido e foi puxada por Kat até a entrada do restaurante. 

— Bom dia, vão querer almoçar? — a moça da recepção sorriu a Rose, quando a reconheceu abriu a boca de surpresa. — Senhorita Weasley ou devo dizer Malfoy? — ela levantou as sobrancelhas. —  É um prazer ter a senhorita aqui. 

Rose olhou em pânico para Kat que abanou a cabeça. 

— Na verdade, mudamos de ideia. — Katherine puxou a amiga para a rua. 

— O que está acontecendo? 

— Aparentemente tenho uma amiga famosa. 

— É sério, Kat! Isso nunca aconteceu comigo antes.

Olharam em volta, os boatos já haviam sido repassados e várias pessoas apontavam para elas e indicavam que Rose estava presente. O auge foi quando uma mulher apareceu em sua frente, não disse absolutamente nada e tirou uma foto, sem sua permissão, fazendo-a ficar zonza alguns segundos devido ao flash. 

Estava desesperada, várias pessoas começaram a chamá-la querendo um autógrafo ou uma foto. Não sabia dizer não, ou como dizer não. Estavam muito próximos, e lhe sufocando cada vez mais, ela estava sem ar e sua cabeça girava. Quando achou que iria desmaiar ali mesmo, sentiu alguém a puxar pela mão enquanto "espantava" todos e levava-a para dentro de um local.

— Você está bem? 

Rose piscou algumas vezes até se situar na onde estava. Seu pai permanecia em sua frente a chamando e perguntando se estava tudo bem, observou em volta e reconheceu as Gemialidades Weasley. Suspirou aliviada por ser seu pai, não exitou em abraçá-lo quase chorando. 

— O que aconteceu? — perguntou a si mesma.

Kat entrou na loja após travar uma batalha para fechar a porta, observou a amiga, que já estava abalada antes, agora com o rosto branco de susto. 

— Está tudo bem, são só fãs de quadribol. — ela tentou apaziguar as coisas, o que deixou Rose mais apavorada.

 — Por isso que Scorpius me pedia para jantar em restaurantes trouxas com ele. — ela suspirou entendendo tudo. — Fãs podem ser horríveis. 

Ron apertou seus ombros tentando consolá-la. Seu tio George chegou perto deles e comentou: 

— Consegui despistar os clientes que estavam na porta e os outros que estavam aqui. O que pretende fazer Ron? 

— Vou levar ela para a Londres Trouxa. 

Ainda estava brigada com seu pai, mas, agora, nos seus braços, tinha momentaneamente esquecido o que havia feito com ela e Scorpius no último sábado. Agradecia ser seu pai, sempre a protegendo e resgatando. 

xx

— Sabe o que andam comentando por aí? Que seu namoro é falso! 

Scorpius amava sua agente, tinha total confiança nela em guiá-lo nas entrevistas: Elisa sempre sabia o melhor jeito de falar sobre assuntos delicados, o orientava a não se envolver em polêmicas e o deixava ser ele mesmo, no final. Só que, às vezes, Scorpius a achava um pouco incisiva E invasiva demais. 

— Eu tenho plena confiança de que é verdadeiro e não preciso provar nada a ninguém. — ele cruzou os braços em volta do corpo. 

— Acontece que ela nunca veio a nenhum jogo ou treino seu.

— Ela trabalha e não gosta de aparecer em locais públicos, não quero que ela seja massacrada pela imprensa. 

Como se fosse um ímã, uma mulher com um bloco de anotações e uma câmera fotográfica apareceu em sua frente. 

— Olá, senhor Malfoy, fiquei sabendo que almoçaria aqui! Gostaria de lhe fazer umas perguntas. Sou assistente da coluna de Rita Skeeter…

Scorpius fez uma careta para ela quando disse o nome da fofoqueira sem papas na língua número um do Profeta Diário. A mulher continuou a falar, mas Scorpius simplesmente a ignorou, havia treinado seu cérebro para filtrar o que queria ouvir, era melhor para sua sanidade mental.

— ...Queria saber apenas como está em relação à internação de seu pai. 

O loiro parou de tentar ignorá-la e a olhou chocado. 

— Internação?

— Segundo informações, sabemos que ele se internou ontem à noite devido à depressão. Queremos saber exatamente o que aconteceu e os tratamentos que vão fazer com ele. Há boatos que ele tentou se matar, é verdade? 

Seu estômago revirou pela última fala dela, queria vomitar, ele literalmente iria vomitar. 

Saiu da mesa e foi até o banheiro, onde despejou toda sua surpresa e desespero, além da angústia no vaso. Precisava falar com sua mãe. 

xx

Rose, Kat e Ron estavam em um restaurante trouxa. Era mais aconchegante, acolhedor, nada apavorante e Ron elogiava frequentemente a comida. 

— Pessoas trouxas tem minha eterna admiração. — exclamou ele com a boca lotada de comida.

Era fácil sorrir e sentir-se protegida quando estava com seu pai.

— Você me perdoou? — perguntou a filha, ainda angustiado. 

— Pai, isso realmente importa? — ela questionou pensando no turbilhão de problemas que ainda tinha para enfrentar naquele dia. 

— Se eu pudesse, mantinha você debaixo das minhas asas o resto da vida, mas não posso, sua mãe vive me dizendo que você deve voar, deve cair e aprender. Mas é mais forte que eu… Até mandei uma carta a Scorpius hoje bem cedo, não consegui dormir a noite toda…

— Mandou uma carta para ele? — Rose perguntou surpresa e também um pouco brava. — O que disse exatamente? Prometa que vai deixá-lo em paz! Ele vai sofrer tanto esses dias. 

Podia imaginar seu pai o ameaçando em palavras, agora teria mais uma coisa para lidar. 

— Só disse coisas sobre você e que ele era um bom rapaz … Também pedi desculpas. 

Rose suspirou um pouco aliviada ao mesmo tempo que lembrava de todas as informações malucas que fizeram sua manhã ser interminável e triste. 

— A mãe dele me informou hoje cedo que Draco internou. — Rose sussurrou a informação como se fosse difícil ouvir sair de si mesma. 

— Isso explica tudo… Por isso você estava tão abalada! — Kat exclamou imaginando o quão duro deve ter sido para a amiga os dois golpes logo na manhã de segunda-feira. 

— Draco internou com o quê? — Ron perguntou preocupado. 

— Depressão e a culpa é toda minha… — contou tudo aos dois, sobre o jantar desastroso e as informações jogadas por ela. — Eu não sabia que ela havia escondido essa informação por mais de 30 anos. Me senti um monstro. Me sinto um monstro. 

Rose chorava, o coração de Ron não podia olhar sua filha chorar e sofrer e não agir. 

— Eu preciso ir, cuide dela para mim? — ele olhou para Kat. 

— Onde o senhor vai? 

— Falar com sua mãe sobre tudo, precisamos conversar com os Malfoys. 

Dizendo isso ele deixou um pouco de dinheiro trouxa na mesa e saiu porta afora para aparatar em um lugar um pouco escuro e reservado. 

Katherine deixou que ela se acalmasse enquanto várias informações começavam a se juntar em seu cérebro. 

— Sua manhã não foi nada fácil. — comentou com Rose. 

A ruiva limpou uma lágrima solitária que havia caído de seus olhos quando lembrou da responsabilidade e do peso da culpa em seus ombros. 

— Eu preciso falar com ele hoje. Mesmo sem saber como falar,  sei que devo isso a ele. É horrível e desesperador. 

Katherine segurou a mão dela em cima da mesa tentando lhe dar um pouco de conforto. 

— E a gente achando que a pior parte de fingir um relacionamento seria andar de mãos dadas... 

Rose soltou um riso pelo nariz diante da fala da amiga. 

— Digamos que aprendi minha lição sobre o que é um relacionamento. Você não tem só uma pessoa para carregar, a família dele vem junto. — ela abanou a cabeça tentando espantar os pensamentos que a assombravam. — Talvez o senhor Pfeiffer tenha razão e eu esteja mesmo errada em meu texto... 

Era uma zero à esquerda com todos seus argumentos e estudos postos em prova. 

— Espere aí! Eu revisei seu texto, só achei que estava sendo um pouco fria demais e que tinha ausentado certas partes de um relacionamento. Mas dizer que tudo foi um erro também já é demais! Não se menospreze! Você é ótima escrevendo o que pensa. Não se esqueça disso. 

Rose sorriu fracamente para a amiga, agradecida. Falou:

— Sabe o que mais me machucou quando entrei na sala dele? Ele me disse que eu não poderia dizer que ele não tinha me dado oportunidade. Sabe o que isso significa? 

— Que não podem acusá-lo de nunca abrir caminhos para você e que você perdeu a oportunidade que lhe foi dada! — Kat bateu os punhos na mesa momentaneamente brava. — Mas é um cínico. 

— Talvez seja melhor eu aceitar meu destino de escrever sobre flores e rendas de casamentos... 

— O quê? — a voz final e perplexa de Kat foi ouvida por quase todos os lugares do restaurante. — Cadê a minha melhor amiga? A dona e proprietária da razão?  Você precisa dar uma lição nele!

— Me ajude, estou tão cansada!

— E se escrevesse com um pseudônimo? 

— Já pensei nisso uma vez, com um nome masculino, para provar a ele que não aceita meus textos por eu ser mulher e ele ser um machista! Mas aposto que ele não ligaria para os textos mesmos sendo escritos por um homem. Acredito que o assunto sobre o que escrevo não faz o estilo do jornal. 

Estilo do jornal, estilo do jornal… As últimas palavras de Rose ficaram martelando na cabeça de Kat. 

— É claro que ele nunca vai publicar, ele não gosta de textos críticos nessa intensidade à sociedade bruxa. O que quer dizer que deve partir para a concorrência. 

— O que está dizendo? — perguntou a amiga tentando entender seu raciocínio. 

— O problema é que não há nenhum outro jornal bruxo em…

— O PASQUIM! — Rose gritou de repente como se a melhor ideia tivesse se materializado na sua frente. — Posso mandar meus textos para O Pasquim publicar, com um pseudônimo! Conheço o Lorcan Scamander, ele era melhor amigo do meu irmão em Hogwarts! É o responsável pela revista atualmente, vou conversar com o Lorcan! 

— Isso! — Kat parecia empolgada com a ideia, assim como ela. — Mande todos os textos que já escreveu para o Profeta e que o senhor Pfeiffer ignorou, inclusive o dos preconceitos dos nascidos na época da guerra que sua mãe deu entrevista e esse do relacionamento…

— Não vou mudar uma vírgula do que escrevi! Vou explicar ao Lorcan o que quero fazer e pedir para ver se dá para encaixar meus textos em alguma matéria, mas com um pseudônimo! 

— Genial! — Kat comemorou. — Somos ótimas tramando vingança. Quero só ver a cara do Senhor Pfeiffer quando ver a matéria na revista bombando sobre um assunto que ele nunca quis publicar!

— Do jeito que é, aposto que ele nem sequer leu meus textos! Não vai nem reconhecer. 

— Aí é que está a melhor parte, ele vai ficar com inveja de ter tido a oportunidade de publicar e não o fez. Mesmo que ele não tenha lido, ele vai notar semelhanças nos temas. Vai ser ótimo assistir tudo de camarote. 

Terminaram de almoçar e voltaram a redação, passaram o resto da tarde conversando em mensagens no celular sobre o plano e arquitetaram tudo. Rose mandou uma carta a Lorcan Scamander e marcou um encontro com ele no dia seguinte. Foi quando às seis da tarde, recebeu um pergaminho. Quando viu o nome do remetente, seu mundo voltou a ficar nublado, como se o sol momentâneo que tivesse surgido no seu dia fosse encoberto pela nuvem de chuva que desabaria em sua cabeça assim que lesse as palavras da carta:

"Rose, 

Scorpius descobriu pela imprensa do pai, conversei com ele e pedi para não vir ainda aqui, mas ele pareceu muito abalado por telefone, tentamos o ajudar, mas não deu tempo. Quero te agradecer e dizer que seus pais estiveram aqui no período da tarde... Passaram um bom tempo conversando comigo, Narcisa e Draco, disseram coisas que ele precisava ouvir, e pude notar que ele melhorou levemente desde então, até sentiu fome e comeu um lanche agora. Um passo enorme para quem se recusava a comer. Peço que cuide do meu filho e me dê notícias. 

Obrigada, 

Astoria"

Chegou no apartamento e notou a sala vazia, sabia exatamente onde encontrá-lo. Encaminhou-se para seu quarto e o encontrou chorando, uma dor que parecia muito aguda, estava abraçado em um travesseiro e acariciava Gryffin com uma mão que lambia desesperado o rosto do dono tentando lhe dar um tipo de conforto. 

Ela não soube de onde havia tirado aquela atitude, mas deitou-se ao seu lado na cama. Scorpius ainda não havia notado a presença dela, mas quando sentiu a cama mexer, sabia que precisava de seu abraço. E foi o que Rose fez ao quebrar a distância entre eles e o abraçar.

Ele tentou explicar o que tinha acontecido entre soluços:

— Me.u.pa.i.in.ter…

— Eu sei… — ela passou seus dedos por todo rosto de Scorpius, contornou as sobrancelhas, limpou o suas lágrimas insistentes, acariciou suas bochechas. — Vai ficar tudo bem. Você não está mais sozinho. 

Rose nunca pensou que seu maior desafio ao fingir um relacionamento fosse passar por problemas familiares, ledo engano achar que seria talvez andar de mãos dadas e na pior das hipóteses se apaixonar. Mas ali estava ela, o consolando e querendo tirar toda dor de Scorpius de dentro de seu coração. 

Deixou que ele chorasse o resto da noite até dormirem abraçados na cama. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada Little Alice por me lembrar do Pasquim, gente eu juro que o próximo é só amor. Obrigada a todos que estão lendo e deixando suas palavras lindas por aqui. ❤️