Headle escrita por Fénix Fanfics


Capítulo 8
Eu não preciso das palavras


Notas iniciais do capítulo

Desfrutem ♥



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Sem ideia para onde ir e sem poder trabalhar, novamente se encontrava mergulhada no café na sala de convivência. Fechou os olhos por alguns segundos. Respirando profundamente. Tentava manter a calma e o foco, assim como pôde ajudar ela uma vez, talvez se mantivesse a calma, poderia ser útil novamente. Todos estavam trabalhando duro para ajudar Heather, e ela sabia que a sua equipe era a melhor. Ainda sim, já estavam fechando quarenta e oito horas sem notícias.

De olhos fechados, cansada, ela se recordava de alguns momentos juntos com ela. As duas jantando, assistindo filmes, jogando conversa fora. O relacionamento delas era muito mais do que sexo, como a maioria imaginava, Heather tinha muito mais a oferecer que somente aquilo que a pintavam. A forma que ela mesma um dia a viu. As coisas agora eram diferentes. Ela via a essência de Heather e entendia cada vez mais o que ela significava em sua vida. 

— Hey Baby, não tem problema. – Heather havia colocado a mão sob o queixo de Sara. – Logo você vai se sentir assim também. 

Sara se sentia mal, sabia que a havia magoado. Heather, depois de muitos anos mantendo isso em segredo, havia dito a Sara que a amava, e não havia tido resposta. A perita amava estar com a dominatrix, adorava as conversas, os jogos sexuais, os carinhos e toda a parceria que tinham juntas. Ainda sim, não sabia se a amava, e ainda que a amasse, ainda não conseguia expressar. Não pode retribuir o "te amo".

— Eu não sei quando vou estar confortável com essas sensações e esses sentimentos. 

— Eu não preciso das palavras Sara. 

Era mentira. Precisava. Pela primeira vez em muito tempo estava se entregando de corpo e alma a alguém. Claro que precisava que ela também estivesse aberta a esse amor. Sara sabia como ela se sentia. No entanto, não queria enganar ela ou enganar a si mesma. 

Sara sofria com a lembrança. Eram somente três palavras. Três palavras. E não havia dito. Ela amava Heather, sabia disso, e agora se sentia culpada por não ter demonstrado da maneira que ela merecia. Cada vez que pensava que podia perdê-la sem ter a oportunidade de dizer o que realmente sentia, a enchia de tristeza.

— Um dólar pelos seus pensamentos.

Grissom entrava na sala, e observava a ex mulher triste, realmente triste. Estava visivelmente preocupada. Se antes ele tinha alguma dúvida sobre o envolvimento de Heather e Sara, agora ele tinha certeza que existia, e que era forte.

— Estava pensando em Heather. E em como fui idiota de tê-la feito esperar por tanto tempo. Eu era tão dominada pelo medo, pelo medo de quem eu estava me tornando, e pelo medo do que os outros iriam pensar disso, que a única pessoa que realmente se importava comigo, que tinha paciência para mim, foi, no fim das contas, quem mais sofreu.

— Acho que foi muito tempo convivendo comigo. – Ele sorriu, tentando amenizar a culpa que ela estava sentindo. – Mas quando encontrarmos ela, você vai poder fazer diferente de mim, e falar como se sente.

— Pois é. – Sara sorriu.

— Ainda sim, confesso, que vocês são o casal mais improvável que eu poderia pensar. – Ele brincou. – Você não pode trabalhar, eu não posso trabalhar. Então, ao menos pode me dizer como isso começou?

— Hmmm… – Ela puxava na memória aquele dia na masmorra, em que Heather e ela começaram a conversar. – Estávamos no caso da dominatrix, ficamos sozinhas, e começamos a falar mal de ti. – Ela riu, Grissom se espantou, mas deixou que a morena continuasse. – Foi tudo meio confuso, depois de umas quatro taças de vinho eu já nem me lembro direito o que aconteceu, mas Kessy disse que a iniciativa foi minha. – Ela deu os ombros, sorrindo com a lembrança. – Foi meio difícil no começo, entrei em negação, mas depois de um tempo passei a estar mais na casa dela que na nossa. 

— Eu fico feliz se vocês estiverem felizes. Vocês são importantes para mim. 

— Eu não posso falar por ela, mas eu, bem, quando eu estou com ela, eu realmente me sinto feliz. Me sinto bem. E agora que ela foi sequestrada, sem nem saber o que ela está passando. Eu sinto tanto medo. Eu estou preocupada com ela.

— Você sabe que a equipe é boa Sara, logo vão achar a Heather.

E como se alguém tivesse ouvido o que o Grissom falava, Greg chegou na sala de convivência esbaforido.

— Acho que localizamos o cativeiro de Heather.

Sara quase deu um salto ao ouvir o Greg.

— O filho do Smith, que atropelou a neta de Heather, tem uma propriedade perto do deserto. Algumas partículas de solo encontradas na cena do crime parecem ser compatíveis com a região da casa. Nós estamos aguardando o mandado, mas já vamos nos deslocar para lá. O carro também bate.

— Eu vou junto. – Sara falou de forma que logo Greg e Grissom entenderam que ela não estava aberta a discussões.

Sara foi de helicóptero, juntamente com a equipe tática e Julie. Outros membros da equipe iriam por terra. Apesar de estar ansiosa, foi a primeira vez que manteve seus sentimentos sob controle e conseguiu ser cem por cento racional. Precisava disso, se quisesse sair viva de tudo isso, e que Heather saísse também, precisava agir como a profissional que era, e para ser profissional, era necessário que colocasse seus sentimentos em segundo plano.

Eles pousaram alguns quilômetros de distância afastados da casa alvo, e seguiram o caminho a pé. Tudo estava acontecendo rápido, mas ao mesmo tempo, ela tinha a sensação que demorava uma eternidade.

Estavam quase chegando, quando Julie pegou Sara no braço.

— Hey, preciso saber, você está bem? Pode fazer isso?

— Sim. – Sara afirmou com convicção e sinceridade. – Eu sei que é necessário ser mais racional agora e não agir pelo impulso.

— Ótimo.

Demorou horas até chegarem e cercarem toda casa. Precisavam ter certeza que o suspeito estava dentro e principalmente identificar se a vítima estava lá e onde. Era a única maneira de conseguir mantê-la a salvo, se ainda estivesse viva.

Sem muita movimentação, eles decidiram entrar com cautela. Primeiro entrou a equipe um, policiais da força tática, juntamente com Nick Stokes, entraram pelos fundos. A equipe dois começou a se movimentar então para ir pela porta da frente, junto com essa equipe estavam Julie Finlay e Sara Sidle.

Eles investigaram toda a casa, e ela parecia vazia. O coração de Sara apertou, tinha certeza, sentia, que Heather estava ali em algum lugar. O que era estranho, aquilo não era ciência empírica, era somente uma sensação, um instinto, e ainda sim, confiava nele. A casa seguia sendo revisada, era um chalé de dois pisos.

— Não encontramos nada aqui em cima. – Afirmou um policial.

— Nada aqui embaixo também. – Respondeu o outro.

— Ela tem que estar aqui. – Sara murmurou baixo para Finlay. 

Ela tinha muito medo de sua intuição estar errada, se estivesse, Heather podia estar muito longe dali, talvez nem viva estivesse mais. E talvez ela estivesse ali, perdendo tempo. Ainda sim, ela tinha aquela sensação tão forte e tão viva dentro de si, que precisou novamente recordar-se em ser profissional e deixar os sentimentos de lado um pouco. Fechou os olhos por alguns segundos, pensando no que poderia ter deixado passar. 

— Sótãos e porões. – Sara falou em tom claro assim que abrir os olhos. – Procurem sótãos e porões. Portas escondidas. As provas apontam para essa casa. Vamos olhar mais uma vez.

Nesse momento, olhando para sala, algo reluziu embaixo do sofá.

— Hey, Jul… Olha aquilo. – Ela apontou ao objeto.

A perita loira foi até lá, já vestia as luvas, e pegou o objeto. Sara se aproximou em seguida. Reconheceria aquilo mesmo se tivesse há quilômetros de distância. Era o anel de Heather, um deles. Heather sempre usava vários anéis e tinha certeza que aquele fazia parte da sua coleção.

— É da Kessy. Eu tenho certeza.

Arrastando os sofás e puxando o tapete, achou uma porta escondida que levava a um porão. Estava certa, tinha certeza que ela estava ali, sendo mantida presa ali. Abriu e entrou na frente, seguida de Julie que já chamava a equipe tática para acompanhar. Sara empunhava a arma em uma não, com a outra pegou e ligou a lanterna, utilizando a mão que segurava a lanterna como apoio da arma e começou a procurar. 

Apesar de ser perto do deserto, o porão era úmido e cheirava a mofo. Também era bastante escuro. Sua lanterna percorreu o ambiente, até que iluminou o rosto de Heather Kessler. Ela estava desacordada. 

— Heather. – Sara gritou correndo até ela.

Guardou a arma e antes mesmo de qualquer coisa, ela sentiu o pulso. Suspirou aliviada quando percebeu que ela estava viva e respirava. Em seguida passou a lanterna pelo seu corpo e pode vê-la ferida, amarrada, subjugada, tratada como um animal. Seu coração apertou. Heather era forte, mas parecia que quem quer que tivesse feito isso com ela não queria somente matá-la, queria tirar tudo que ela era, incluindo algo que ela prezava muito: seu poder. Havia tirado sua dominância e seu poder de escolha, de modo que não restasse mais nada.

— Finn, me ajude a soltá-la. – Sara pediu apoio a amiga.

Julie logo puxou um canivete suiço de um dos seus bolsos, e ajudou a cortar as amarras de Heather, que ainda não havia recobrado a consciência. Um dos policiais ajudou a levar Heather até a ambulância, enquanto os demais ainda buscavam o suspeito pela casa. Já na ambulância, Heather demorou alguns minutos até recobrar a consciência, porém ao acordar, seus olhos verdes encontraram os castanhos de Sara.

— Hey Baby, você está bem?

— Hey Kessy… Como você está? – Sara falou logo que percebeu que ela havia acordado.

— Eu achei que depois que ele tinha me nocauteado, que ele havia machucado você. Ele queria machucar você. – A voz de Heather estava rouca e fraca.

— Eu estou bem. Só estava preocupada com você. Mas agora estou bem, você está aqui comigo. E vai ficar tudo bem. – Sara pegou a mão de Heather entre as suas.

Vê-la tão fraca e fragilizada, a machucava muito. Ainda sim, ela sempre, mesmo nos piores momentos de fraqueza, demonstrava ser uma mulher forte. Mesmo estando totalmente machucada, e até há pouco desacordada, contrariando o pedido dos médicos, Heather se sentou na maca da ambulância.

— Kessy, eu tenho que…

— Odeio quando me chama assim. – Heather riu.

— Eu tenho que descer um pouco e ver se há pistas do suspeito. – Ela levou a mão até o rosto de Heather, acariciando com delicadeza. – Depois nós vamos direto para o hospital. Ok?

Heather apenas acenou com a cabeça.

Sara pediu para a ambulância aguardar uns minutos, enquanto descia. Grissom havia chegado, e vinha em direção a morena. 

— Como ela está?

— Bastante ferida, mas vai ficar bem. – Sara sorriu, estava aliviada. – Você fica com ela um pouco? Vou entrar na casa, ver se encontraram o suspeito. 

— Claro. 

Enquanto Sara se afastava, Grissom entrou na ambulância para ver Heather. Ela ainda estava sentada, pode notar seus machucados e em quanto estava frágil, não apenas fisicamente. Aquilo realmente a tinha abalado.

— Oi. – Ele sorriu enquanto sentava na frente dela.

— Oi Grissom. – Ela devolveu o sorriso. – Você aqui?

— Quando você foi levada, a Sara me chamou para ajudar.

— A Sara? – Heather percebeu que ainda não tinha tomado consciência de uma coisa. Será que ele sabia? Será que todos sabiam?

— Ela ficou bastante preocupada. E eu confesso que estou um pouco surpreso. Você e Sara. Quem imaginaria? – Ele sorriu. 

Certo. Ele sabia. E agora tudo havia ficado realmente estranho.

— Eu deveria ter te contado. – Admitiu. – Somos amigos, ela é sua ex e eu sei que ainda tem sentimentos por ela. – Seu tom era de quem pedia desculpas, o que não era comum para Heather, provavelmente agia assim por estar fragilizada.

— Está tudo bem. Ela está tão feliz com você, de uma maneira que nunca pode ser comigo. Eu nunca consegui me abrir e oferecer para ela o que ela merecia, mas parece que você sim. E ainda que meu coração doa todos os dias por perder ela, eu fico feliz em saber que ela está feliz, que vocês duas estão. Você ama ela e ela te ama, isso que importa.

— Bom… – Heather desviou o olhar. – Eu não sei se ela me ama. Ela nunca disse isso.

— Ela disse para mim, e para toda a equipe. – Ele pode perceber que o olhar de Heather era surpreso. – Acho que ela gosta de você, mais do que você pode imaginar.

Alguns momentos mais tarde Sara voltou para perto da ambulância. Não haviam encontrado o suspeito. Ela estava ansiosa para levar Heather para o hospital.

— Nick. – Sara gritou de longe. – Estou indo com Heather para o hospital, qualquer coisa me avisa.

— Sem sinal dele ainda. Estamos enviando algumas patrulhas para procurar ele. Qualquer coisa te aviso. – Ele respondeu no mesmo tom para que ela pudesse ouvir. 

A polícia começava a dispersar para procurar o suspeito, e ficava apenas a equipe da perícia ali e alguns poucos agentes. Sara terminava de organizar suas coisas para poder ir junto com Heather, não queria deixar ela ir sozinha. 

— Pronto. Agora podemos ir. – Disse Sara enquanto pegava suas coisas e se preparava para subir na ambulância.

Ela não viu de onde veio, mas de repente um homem armado chegou por trás, chamando sua atenção. Foi tudo muito rápido, tentou desarmar ele, mas ele empurrou Sara, fazendo ela bater com as costas na porta, ainda aberta, da ambulância. O homem então empunhando a arma, apontou para ela. Heather, ainda cansada, demorou alguns segundos para entender o que acontecia.

Sara ergueu as mãos em sinal de rendição. Heather queria ir para cima dele, mas Sara a freou somente com o olhar.  Era muito arriscado. O paramédico que estava na ambulância estava completamente paralisado. A perita o reconheceu imediatamente.

— Ei, você deve ser Nicolas Smith, certo? Filho de Thomas. – O tom de Sara era amigável, precisava de tempo enquanto pensava em um plano. 

Utilizou a sua visão periférica para procurar sua equipe ou policiais. Era realmente irônico que o local estava tomado de agentes até dois minutos agora, e agora não tinha ao menos um no campo de visão.

— Isso mesmo, e ela. – Ele apontou a arma para Heather. – É a assassina que matou meu pai, e que ninguém fez nada. – Ele falava em um tom descompensado.

— Nicolas. – Ela falou em um tom mais alto para que ele desviasse a arma de Heather e voltasse a apontar para si. – Eu… Eu sei como é isso. – Ela tentava se aproximar. – Cresci sem pais, em um ambiente desestruturado, e perdendo pessoas que eu amava. E eu sei que é duro perder alguém e não ter respostas, mas não é assim que vai achar as respostas, nem descobrir quem matou seu pai.

— Eu já sei quem matou meu pai, foi ela. – Ele cuspiu com ódio. – O que aconteceu com a menina foi um acidente e ele se culpava todos os dias, ele era um bom homem e não merecia morrer. Você acha que ela é inocente porque gosta dela não é? Mas eu pesquisei sobre a vida dela, e eu sei a vida que ela leva, ela não é capaz de amar você.

— Então você pesquisou errado. – Sara disse por fim, ainda mantendo o controle do tom de voz. – Tudo que você viu sobre ela é tão superficial, você não sabe a pessoa doce, amável, divertida que ela é. É alguém que realmente se importa e, sim, eu gosto dela. Aliás, eu amo ela. – Ela afirmou com convicção. – E é justamente por conhecer esse lado dela que você desconhece, que eu tenho certeza que ela não fez isso, que ela não matou ninguém. 

Heather naquele momento se sentiu tocada. Lembrou do que Grissom havia falado antes, mas ouvir essas palavras da boca de Sara, era algo indescritível.

— Você está cega. Você está mentindo.

— Nicolas, tem muitos policiais aqui hoje, uma hora ou outra alguém vai acabar nos vendo. Se você machucar a Heather ou a mim, isso não vai acabar bem pra você. Por que não se entrega? As coisas podem ser mais fáceis assim.

— Realmente, você está certa. Logo pode chegar alguém. Então, melhor eu parar de enrolar e fazer as coisas mais rápido. Se ela gosta tanto assim de você, vou poupar a vida dela, e acabar com a sua. – Ele disse olhando fixo para Sara, em tom ameaçador.

Os momentos após foram confusos e assustadores. Smith puxou o gatilho. Heather gritou enquanto se jogava em direção a Sara na intenção de tirar ela da mira. Sara caiu ao chão. Havia muito sangue. Smith correu para longe deixando a arma cair no meio do caminho. Os policiais e CSIs que ainda estavam no local correram em direção a ambulância quando ouviram o disparo.


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