O tempo passou e o torneio tribruxo voltou à boca dos estudantes de Hogwarts e seus convidados, a primeira prova seria em alguns dias, todos estavam animados e cheios de expectativas do que teria na primeira prova, outros iam além e já realizavam apostas.

— Eu não acredito que nossa casa esteja realizando apostas junto dos Gêmeos Weasley, eu esperava mais dignidade dos nossos alunos. – Reclamou Olivia em quanto passeava pela área externa do castelo junto de suas amigas Luna e Ava.

— Isso acontece em todas as escolas, mon chéri— Comentou Ava se aconchegando no braço da amiga de infância. Seu sotaque era perceptível, às vezes até trocava algumas palavras que não sabia em inglês pelo francês, o que deixava algumas frases incompreensíveis. – Algumas das minhas colegas estão apostando qual dos campeões sairá com menos lesões na primeira prova.

— O Harry vai precisar se cuidar. – Comentou Luna preocupada.

— Gostaria de saber como ele se meteu nessa confusão. – Falou Ava pensativa.

Olivia pensava o mesmo, mas não sobre o Potter, o protegido de Dumbledore. Como tinha se metido na maior confusão histórica? Como seus antecessores não conseguiram realizar essa missão antes desse dever cair em seus ombros, agora tinha o peso de dezenas de almas nas costas cheias de expectativas para sua liberdade.

Deveria se apresentar a Dumbledore e pedir sua ajuda com a missão? No meio de um torneio tribruxo seria difícil conciliar seus problemas, talvez pudesse consulta-lo depois do evento, mas será mesmo que deveria pedir sua ajuda, pelo que pesquisou Morgana nunca foi bem retratada nos livros que leu até mesmo nos desenhos trouxas do Rei Arthur, provavelmente seria vista como vilã, ainda mais se contasse sobre o problema do anel e que a única solução é a morte do herdeiro de Merlin, definitivamente não poderia contar esse segredo para ninguém, ainda mais com funcionários do ministério da magia andando pelo castelo.

Dois dias atrás...

Antes do toque de recolher foi ver as estrelas na torre de astronomia, para sua infelicidade o céu estava infestado de nuvens carregadas, aquela noite choveria. O vento estava gelado e batia em sua face de forma violenta, era impossível apreciar a paisagem noturna naquelas condições, então se virou para ir embora, foi quando algo inusitado aconteceu, um anel flutuava a sua frente em uma nevoa roxa que gradativamente mudava para um vermelho escarlate.

— O guardião da herdeira de Morgana se apresenta a nova combatente. – A voz parecia vir de todos os lados, era uma voz suave e melódica, que seduzia seus ouvidos com suas palavras. A nevoa vermelha se expandia em sua direção, ficando mais espessa e tomando uma forma mais intimidadora, antes que pudesse dar um passo para trás foi pega pela nevoa escarlate e todo o poder dela invadiu seu corpo.

Viu-se em meio a sombras vermelhas passando na frente de seus olhos, não parecia estar no castelo, como se sua mente estivesse em outro lugar, outro plano. As sombras tinham formato humanoide, mas não conseguia ver mais que sua silhueta, umas eram grandes e fortes, outras eram magras e esguias. A maioria estava de pé e imóvel, algumas estavam jogadas no chão ou sentadas, mas uma sombra estava em movimento, e estava indo em sua direção.

Seu corpo estava imóvel, não conseguia mover um dedo sequer, só conseguia respirar fundo e observar a sombra escarlate vindo em sua direção através da fumaça de sua respiração.

— Finalmente a hora chegou um novo escolhido, pronto para ser lapidado e dar um fim ao nosso tormento. – Sua voz era de um homem velho, mesmo não vendo sua face conseguia imaginar uma expressão maliciosa vinda dele.

— Sua orientação pode ser transmitida pelo sistema guardião ou por um dos combatentes anteriores, faça sua escolha e receba sua orientação, qual será sua escolha? – Aquela voz novamente, vinda de nenhum lugar e de todos os lugares ao mesmo tempo.

— A decisão é sua. – Disse a sombra escarlate parando de andar, com sua aproximação pode ver melhor sua imagem, um homem velho que já tinha vivido muito, suas costas estavam curvadas e era um dos únicos além de si mesma que soltava fumaça ao respirar. – Mas somente aquele que já viveu o que você vai passar pode lhe transmitir vividamente.

— Pessoas mentem. – Seu pensamento saiu por sua boca sem que percebe-se – O sistema é imparcial.

— Verdade, pessoas mentem e confundem a sua mente, jamais deve confiar em alguém verdadeiramente, mas pode dizer com convicção que todo o sistema é imparcial? – Ele era bom com as palavras, isso tinha que admitir.

— Eu ouvi a história da guerra de Morgana contra Merlin, a canção dos herdeiros..

— Uma canção contando nossa história de vida, cantada pela primeira combatente a filha de sangue de Morgana, que recebeu o dom de prever o futuro. Todos que carregam o sangue da feiticeira possuem a canção gravada em seus corações. – Falou o velho, sua voz parecia ansiosa.

— O que eu devo escolher? – Se perguntou Olivia.

— Escute meu conselho e nunca confie em ninguém. – Falou o velho dando lhe as costas.

— Eu escolho a orientação do Sistema. – Decidiu Olivia.

Atualmente...

Havia muito barulho nas arquibancadas, a primeira prova iria começar a qualquer instante, os alunos estavam ansiosos, gritavam de animação e os fãs clubes dos campeões gritavam seus nomes na torcida. Ava estava com a torcida da Fleur e Luna olhava ao redor procurando Olivia pela torcida da Corvinal.

— Não acho que ela tenha vindo torcer pelo Potter ou pelo Diggory, Olivia não gosta de esportes sem sentido. – Falou Ava para a Lovegood.

— Em pouco tempo você sabe bastante sobre a Oli. – Comentou Luna com um sorriso animado se contagiando pelo espírito esportivo.

— Somos amigas de infância, éramos praticamente irmãs... – Luna não havia percebido, mas os olhos verdes de Ava perderam a luz e por um instante poderia se dizer que sua alma havia saído de seu corpo.

— Olivia não fala muito sobre sua infância, acho que dói falar sobre assunto, então não perguntei. – Continuou Luna alheia ao estado da colega.

Ava piscou varias vezes e olhou para os lados com receio, ninguém a encarava, todos tinham seus olhos no dragão na arena.

— Vou procurar a Olivia. – Falou Ava, suas mãos tremiam, seu coração batia em seu peito como se desejasse sair de sua pele, precisava de ar fresco.

Quando encostou as mãos na parede do castelo e sentiu o frio da parede foi que percebeu o quanto tinha andado em um curto período de tempo.

— Aconteceu de novo? – Olhou para os lados procurando algo, mas seus olhos não captaram nada anormal. – Não, esta tudo bem a senhora Baker falou que os episódios nunca mais voltariam acontecer, e não tem nada quebrado Ava, recomponha-se!

Arrastou seus pés e caminhou pelo corredor escuro com a varinha em punhos.

— Um, dois... Não olhe pra trás... – Cantarolou Ava.