Quando Rose Weasley disse que tinha arrumado um namorado, definitivamente não passou pela cabeça de nenhum Weasley que seria um Malfoy. Primeiro porque as duas famílias tinha uma rivalidade quase histórica, segundo, porque a ruivinha convenientemente escondeu esse fato, e apenas apareceu de surpresa com ele ao seu lado. Os cabelos loiros e olhos acinzentados denunciavam o seu sobrenome sem que ele sequer precisasse se apresentar. Todos que estavam na sala pareceram sem reação por alguns segundos, exceto por Albus Potter, que prendia o riso, justamente por já saber de toda a história.

Molly Weasley foi a primeira a reagir. Ela se levantou da poltrona em que estava sentada e caminhou até a porta, puxando tanto a neta, quanto o Malfoy para dentro. Hermione Granger estava surpresa, mas Ronald Weasley parecia estar prestes a entrar em um colapso. Por isso, a senhora Weasley imaginou que seria melhor se ela assumisse as rédeas a partir dali.

— Entre, querido, entre — ela falou e sorriu um pouco sem graça. — Eu sou a Molly. Molly Weasley. É um prazer conhecê-lo.

— Eu sou o Scorpius. — Preferiu omitir o seu sobrenome, apenas para evitar reboliço, embora tivesse certeza que eles soubessem qual era. — E o prazer é meu.

— Bem, essa é a nossa família — disse, e apontou para a quantidade de pessoas amontoada na sala de estar. — Entre, fique a vontade e sinta-se em casa. Tenho certeza de que vai decorar os nomes mais rápido do que pensa!

— Acho que sim, a Rosie fala muito de vocês. — Sorriu, um pouco tímido.

— Rosie? — Rony repetiu o apelido, fingindo não ter ouvido direito.

— Pai! — ela o repreendeu. — Pare com isso — murmurou, um pouco irritada.

Ao lado dele, Hermione e Molly se entreolharam e, em seguida, riram, ao mesmo tempo em que escondiam seus respectivos lábios com as mãos, tentando parecer discretas.

— Querido, sente-se, o almoço está quase pronto. — Molly segurou um dos ombros de Scorpius e o guiou até a mesa de jantar, enquanto toda a família ainda parecia encará-lo, perplexa. — Não se preocupe com eles, vão se acostumar logo. — Ela sussurrou, tentando parecer discreta.

O Malfoy conseguiu respirar tranquilo pela primeira vez desde que chegara àquela residência. Discreta, Molly piscou para Scorpius, que lhe dirigiu um sorriso, antes de caminhar até a pia.

— Vocês não vão almoçar? — Rose falou, impaciente. Já estava ficando irritada com a reação exagerada da sua família. — Ótimo, sobra mais bolo de carne para mim, então — disse, com um sorriso vitorioso nos lábios. — A vovó faz o melhor bolo de carne do mundo, você vai ver — proferiu e, logo, sorriu para o namorado. Tudo o que ela queria era fazê-lo se sentir confortável.

— Tenho certeza, você já me falou, lembra? E da torta de morango também. — Scorpius falou, animado.

— Nem vem, Rose Granger-Weasley! — Albus finalmente se pronunciou e correu para a mesa, sentando-se de frente para Scorpius. — Ninguém, absolutamente ninguém dessa casa gosta mais do bolo de carne do que eu, e se você acha que eu vou deixar tudo para vocês dois, estão muito enganados!

— Certo, certo, eu desisto. — Lily Luna ergueu as mãos ao ar, rendida. — Nada vence do bolo e de carne e da torta de morango, eu me rendo.

— Droga, a Lily está certa. — James concordou e sentou-se à mesa, logo ao lado da irmã, Lily.

Pouco a pouco, todos os Weasley, que antes pareciam receosos, se juntaram à mesa, graças à brincadeira boba dos Potter. Molly sentiu-se aliviada ao ver a mesa cheia. Gostava de como todos os seus netos eram tão unidos e sempre ajudavam uns aos outros.

— Bem, o bolo de carne está pronto, já podemos almoçar. — Molly falou, ao mesmo tempo em que levava o astro da refeição para a mesa. Albus já estava pronto para retirar o primeiro pedaço, quando foi abruptamente interrompido por Molly. — Não seja mal educado, Albus! O Scorpius pega o primeiro pedaço, ele é nosso convidado.

Rose riu do puxão do orelha bem dado da sua avó, mas Albus ficou sem reação por um instante.

— É, tira a mão. — Rose deu um tapinha fraco na mão do primo, que se afastou do prato principal, indignado.

 — Realmente, Albus, você é uma decepção. — Lily Luna comentou, movendo a cabeça de um lado para o outro, em negação.

— E ainda dizem que eu sou o mais teimoso. — James se pronunciou.

— E as pessoas que disseram isso definitivamente não mentiram. — Victoire falou.

— Olha só quem fala. — disse Roxanne.

No canto da mesa, Louis ria da conversa. Já Scorpius, tentava acompanhar cada um que falava com os olhos, que moviam-se constante. Por fim, ele caiu na gargalhada, o que acabou atraindo todos os olhares para ele, que ficou visivelmente constrangido.

— Desculpa! — tratou-se de se retratar rapidamente. — É que... Isso é tão engraçado! — disse, ainda em meio à própria risada.

Rose, por sua vez, não pôde evitar em deixar um sorriso escapar. Estava se sentindo aliviada em saber que Scorpius havia se livrado da tensão e, finalmente, estava se divertindo.

— Nós é que pedimos desculpas, o clima aqui é sempre caótico assim — Molly disse, brincalhona. — Espero que não se importe. Não vai demorar muito a se acostumar, você vai ver, logo, logo, estará no meio dessas confusões.

— Está brincando? Eu estou achando isso incrível! — disse, um pouco bobo. — Bom, eu sou filho único, não tive a oportunidade de crescer em uma família tão grande. Então eu estou achando o máximo ver como vocês são divertidos. Quero dizer, a Rose sempre me contou histórias, e o Albus também, mas poder ver tudo isso ao vivo e a cores é simplesmente incrível! — completou, completamente afobado.

— Bem, então ficamos feliz que esteja se sentindo tão confortável, não é mesmo, Ronald? — Molly falou, ao mesmo tempo em que arqueava as suas sobrancelhas, como se pressionasse o próprio filho a dar uma resposta positiva.

— Ah, é. — Assentiu com um movimento de cabeça. — Estamos muito felizes. Muito. — Sorriu, um pouco sem jeito.

Definitivamente, ele ainda não estava sabendo lidar com o fato de sua filha estar namorando um Malfoy.

— Anda, querido, experimente o bolo de carne.

Molly cortou um pedaço do bolo e colocou sobre o prato de Scorpius. Todos da mesa encararam o rapaz, apreensivos. De fato, o Malfoy se sentiu levemente pressionado, mas fingiu ignorar os olhares insistentes. Por fim, ele deu a primeira garfada.

— Por Merlim, isso aqui está ótimo! — Ele elogiou. — É o melhor bolo de carne que eu já comi.

De repente, foi como se todos na cozinha pudessem respirar novamente.

— Isso porque você não experimentou a torta de morango ainda. — disse Hugo.

— É verdade, a torta de morango também é ótima. — Rose concordou.

— Bem, andem, sirvam-se logo. — Molly falou, conforme gesticulava. — Todos vocês.

O resto de tarde foi completamente agradável. Scorpius passou o dia inteiro conversando com os primos de Rose e descobriu coisas extraordinárias. Scorpius e Louis, por exemplo, torciam para o mesmo time de quadribol. James e ele costumavam pregar as mesmas peças em Albus. Lily Luna Potter era a maior admiradora de chocolates de toda a família e Victorie Weasley estava no último ano de Hogwarts e era a melhor aluna da turma dela.

Com relação aos pais de Rose, não podia mentir, estava completamente assustado, mas, no fim, tudo acabou dando certo. Apesar de uma recusa inicial da parte de Ron, logo ele conseguiu tornar o clima descontraído, quando começaram a conversar sobre as figurinhas dos sapos de chocolate. A namorada já havia comentado que seu pai era um grande colecionador, e Scorpius, coincidentemente, também gostava de guardar todas as suas cartas.

A verdade é que, depois da tensão inicial, foi bem fácil aproveitar o dia. Cada membro da família Weasley era único, mas, ainda assim, completamente agradável. Especialmente Molly Weasley. Mesmo quando os outros ainda o olhavam torto e estavam receosos, exceto por Albus e pela própria Rose, ela não hesitou em acolhê-lo, nem mesmo por um único segundo. Muito pelo contrário, passou o dia todo tentando paparicá-lo, porque, segundo ela, queria que ele se sentisse em casa. Mas a verdade era que, mesmo que ainda fosse cedo, Scorpius já se sentia em casa, porque estar com os Weasley trazia toda a sensação de aconchego e amor de um lar.

Com a chegada do fim da tarde, Scorpius se despediu da família Weasley, um por um. Molly acabou sendo a última das pessoas com a qual ele falou.

— Espero que tenha se divertido hoje — Molly disse, com um sorriso nos lábios.

 — Fazia tempo que eu não me divertia tanto, para ser sincero. Desde que a minha mãe ficou doente, eu... — ele próprio se interrompeu. — Desculpe, eu prometi que não ia falar sobre isso.

— Não precisa se desculpar por uma coisa dessas. — Ela suspirou, com pesar. — Eu soube de Astoria, Andromeda Black me contou, mas não achei que fosse querer que eu tocasse no assunto. Como ela está, querido?

— Ela está... bem — suas palavras não soaram nem um pouco convincentes, mas Molly não queria insistir naquele assunto. Não gostaria que ele deixasse a sua casa se sentindo triste e, muito menos, que aquilo apagasse todas as memórias boas que havia criado naquele dia. — Quero dizer, na medida do possível, está bem.

— Ela é uma pessoa forte, eu tenho certeza — respondeu, com um sorriso, a fim de tentar encorajá-lo.

— Sim, ela é. — Concordou com um aceno de cabeça. — Muito forte.

— Tenho certeza disso — reafirmou. — Bem, eu espero que tenha gostado da nossa família e que tenha se sentido em casa.

— Eu tive um dia incrível, senhora Weasley. Eu não poderia estar mais feliz — falou, sorridente. — Eu adorei conhecer cada um de vocês. E, bem, eu me senti em casa.

O coração de Molly se aqueceu ao ouvir aquelas palavras, e um sorriso radiante surgiu nos seus lábios. Saber que ele havia se sentido acolhido a ponto de afirmar se sentir em casa a fazia se preencher de felicidade. Era completamente gratificante, uma sensação pura de alegria.

— Eu espero que volte logo de novo, viu? Venha nos visitar quantas vezes quiser — ela pediu.

— Obrigado, senhora Weasley — agradeceu, animado. — E pode ter certeza de que eu virei muitas outras vezes — garantiu. A verdade é que ele mal podia esperar para retornar. — Então... Até a próxima? — repetiu, um pouco inseguro.

Molly deixou uma risadinha baixa escapar, achando engraçada aquela sensação de insegurança nele, mesmo depois do diálogo leve que haviam acabado de ter.

— Certamente. Até a próxima. — Quando ela falou aquelas palavras, o rapaz deu meia-volta, prestes a ir para casa, mas logo ela chamou a sua atenção novamente. — Ah, e... Bem-vindo à família, Scorpius. — Molly sorriu, singela.

Scorpius, por sua vez, não pôde evitar em retribuí-la com um sorriso repleto de felicidade.