A Saga E - A pirâmide Colossal escrita por Diego Farias


Capítulo 36
Correntes




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A amazona de Águia aproveitava a brisa fresca daquela manhã quente. Já havia se acostumado ao balanço do barco, portanto, não sentia mais o enjôo dos primeiros dias. Então, aproveitava a bela vista do horizonte do oceano atlântico e as gaivotas que sobrevoavam o navio.

  Em algum momento, tocou o seu pingente que contia o seu cristal de armadura. Sua mente voou ao burburinho que ouvira sobre a mestra de sua mestra Pavlin e antiga portadora de sua armadura, estar servindo como receptáculo para um dos deuses egípicos.

   ― Yuna! ― ela lembrou-se das instruções do grande mestre. ― Você irá sozinha a nova ilha de Andrômeda. Minha esposa a reconstruiu com os cavaleiros e soldados rasos remanescentes. Você que sobreviveu a guerra contra Marte e Pallas é mais do que suficiente para devolver a minha antiga armadura ao seu lar. É necessário que um novo guerreiro carregue o peso dessas correntes. Meu tempo já acabou. Eu confio em você, Yuna de Águia.

   A jovem guerreira levou a mão ao bolso de sua saia de pregas e retirou de lá, um estojo de jóias. Ao abrí-lo, ela sentiu a responsabilidade pesar em seus ombros, pois carregava, nada mais, nada menos, que o cristal de armadura de um dos guerreiros lendários que protegeu e salvou a deusa Athena em diversas batalhas mortais.

   ― Ilha de Andrômeda a vista, Srta Yuna! ― um soldado raso a avisou.

 

  Yuna sorriu para a fina camada de terra que se projetava ao horizonte e guardando aquele cristal de armadura, ela respirou fundo e jurou que levaria a armadura para casa, nem que isso custasse sua própria vida.

  A amazona de Águia ainda demorou cerca de quarenta minutos até chegar a uma zona segura que ainda ficava longe da praia. Ela foi escoltada por mais três soldados rasos, nativos da ilha num bote, pois os mesmos conheciam bem aquelas águas. A chance de desavisados baterem em recifes de corais e nas rochas pontiagudas era enorme e o cristal da armadura de Andrômeda precisava chegar intacto às mãos da chefe de treinamento da ilha.

  Yuna aproveitou o percurso para molhar-se um pouco com a água gelada do mar. O guia turístico que leu, dizia que aquela localidade era absurdamente abissal climáticamente. De dia, temperaturas elevadíssimas como num deserto e a noite, a temperatura caía drasticamente. Foi inevitável pensar em como, Shun - O grande mestre que sempre se mostrou muito frágil e sensível, conseguiu sobreviver a estas condições, treinamento e ainda conquistou a sua armadura? Então, ela se auto-repreendeu já que se ele é o grande mestre hoje, é porque é o ser humano mais competente para isso.

   ― Seja bem vinda, amazona de Águia! ― a loira foi retirada de seus pensamentos por aquela voz feminina. ― É uma honra conhecer uma heroína, feminina!

   Yuna encarou a praia e notou que havia uma mulher ali. Loira, alta, com um corpo escultural, coberto por um corpete de pano fino e a sua armadura de bronze. A tradicional máscara das amazonas cobria o seu rosto e, por um momento, Yuna sentiu vergonha de não usar uma.

  Os soldados rasos ajudaram a loira a descer do barco e ela se aproximou daquela amazona adulta com temor e tremor. Ela ajoelhou-se sobre a areia quente da praia e ofereceu a caixa de jóias contendo o cristal da armadura de Andrômeda.

   ― Eu sou Yuna de Águia e vim trazer o cristal da armadura de Andrômeda de volta para casa. ― ela viu uma mão estendida rente ao seu rosto e aceitou a ajuda para colocar-se de pé. ― É uma honra para mim...

  ― Não precisa ter vergonha de ter o seu rosto descoberto, Yuna. Você não é menos famosa que Shun e os outros cavaleiros de bronze lendários. Acho que você foi importante para a libertação de todas as amazonas que servem a Athena... ― para a surpresa de Yuna, a mulher tirou a sua máscara. ― Eu mesma aboli todas as mulheres da ilha a cobrirem o seu rosto.

   Yuna olhou nos olhos azuis daquela bela mulher. Ainda muito bela, mesma com todas as marcas de idade no rosto. Uma lágrima correu pelo seu rosto e a chefe da ilha riu.

   ― Vamos! Vou te mostrar o lugar! Ah! Onde está a minha cabeça? ― ela coçou a nuca, envergonhada. ― Eu sou June de Camaleão.

 

  June foi na frente e Yuna demorou um pouco para seguí-la pela ilha. Que não era tão gigantesca como a anterior. A nova ilha de Andrômeda tinha a costa, onde ficavam os recifes de corais, vastas áreas pedregosas e desérticas, e no alto de um grande morro, ficava o acampamento, local de descanso e treinamento dos aspirantes a cavaleiro.

  Yuna olhou para algumas pessoas que faziam treinos de combate e basicamente todos se vestiam da mesma forma. Um roupão de pano surrado com ombreiras, cinturões e correias de couro para protegerem-se de ataques leves.

 

  ― Todos são especialistas em luta com correntes? ― disse a amazona de Águia notando que todos tinham um pedaço de corrente com a ponta pontiaguda, enrolada no braço dominante. ― Eu achava que...

  ― Só a corrente de Andrômeda possuía correntes? Não, não... Eu possuo o chicote do camaleão e algumas armaduras da patente prata também usam tipos de corrente diferente.

  ― Como eu!

   Yuna olhou para cima, mas a luz do sol não permitiu ver quem estava saltando de uma parte mais alta do morro. Quando o estranho aterrissou à frente das duas, os olhos da Águia se arregalaram para o jovem de físico invejável, cabelos loiros lisos, pontiaguas e picotados, com olhos inocentes num tom de castanho que brilhava com o sol.

 

  June notou que a amazona de Águia estava hipnotizada pela beleza do jovem que deveria ter uns dezesseis anos aproximadamente e resolveu quebrar o clima, atingindo o garoto com seu chicote.

   ― Eu já disse para não me interromper! ― ela vociferou, deixando o menino vermelho de vergonha. ― Não se gabe, porque seu pai lhe entregou uma armadura de prata. Eu ainda sou sua mãe, July.

  ― Mãe? ― a visitante ficou alternando o seu olhar entre o belo jovem e a mestra da ilha de andrômeda e notou as semelhanças nos traços de rosto. ― Então, você é...

  ― Eu sou July de Cérberos— filho do grande mestre do Santuário e futuro mestre de... ― Yuna tapou a boca de pavor ao ver que o lindo jovem foi lançado contra a chapada de rocha, graças ao golpe do chicote da camaleoa. ― DESNECESSÁRIO, MÃE!

   June recolheu o seu chicote e o guardou pendurado em seu cinturão. Ela fez um sinal para que Yuna a seguisse até o acampamento no ponto mais alto da ilha.

   ― Como estão as defesas do santuário?

  ― Nada boas. ― a menina baixou a cabeça, sentindo-se culpada. ― Tivemos muitos cavaleiros mortos em todas as patentes, inclusive entre os cavaleiros de ouro. O grande mestre tem motivos para acreditar que temos pouco menos de um mês até o solstício de inverno, onde Rá carregará a Pirâmide Colossal com a energia de Athena e os outros representantes de deuses da Terra.

  ― Então, precisamos agendar o sacrifício para amanhã.

  ― Sacrifício?

   June parecia preocupada e nem deu atenção a dúvida da jovem águia. Yuna resolveu não questionar e apenas seguiu a mestra da ilha até a sua tenda. Havia uma mesa posta com alguns frutos frescos e espetos com peixes e carangueijos assados.

  A camaleoa explicou que a alimentação era bem restrita na ilha e que eles tiveram tempo de pescar, mas nos dias mais frios ou com o mar de ressaca, eles precisavam se contentar com os lagartos, escorpiões e serpentes. A jovem águia resolveu agradecer e comeu a iguaria do dia de fartura.

   ― Hum? ― exclamou ela de boca cheia ao notar uma jovem, talvez da sua idade, de pé em cima de um rochedo. ― Que linda!

   Ela era magra, tinha cabelos esverdeados chanéis e parecia olhar compenetradamente para o mar. June acompanhou o olhar da amazona de Águia e chamou a sua atenção para um pergaminho antigo. Ela explicou que aquele mapa foi uma herança do antigo mestre da ilha que treinou tanto ela, como o próprio shun. Um cavaleiro de prata que foi capaz de dar trabalho a um cavaleiro de ouro: Albion de Cefeu.

   ― Esse mapa mostra a exata localização da armadura de Andrômeda. Devemos devolvê-la a bacia na qual as correntes hidrataram-se desde a época mitológica.

  ― Será lá que vai ocorrer o tal sacrifício?

  ― Sim... ― June riu ao notar a preocupação de Yuna. ― Sacrifício é apenas um nome. Shun venceu o sacrifício, por isso, ele foi capaz de receber a armadura de Andrômeda.

  ― O que acontece durante o sacrifício?

  ― O pretende a armadura de Andrômeda é acorrentado com as próprias correntes da armadura a um rochedo, enquanto a maré está baixa. Para sobreviver ao sacrifício é necessário que o pretenso cavaleiro queime seu cosmo até o limite para que as correntes sejam quebradas e o reconheçam como seu parceiro.

  ― E se a pessoa não...

  ― Se a pessoa não se livrar das correntes até a maré subir, ela morrerá. ― Yuna arregalou os olhos. ― Na verdade... Shun foi a primeira a pessoa a vencer o sacrifício, mas agora que ele assumiu o manto de Virgem, está na hora de outra pessoa usar esta armadura, assumir as correntes e reforçar o exército de Athena!

  ― Você faz ideia de quem deve assumir a armadura de Andrômeda?

  ― Não! ― Yuna estranhou o desconforto de June. ― Eu promoverei um torneio está noite e amanhã mesmo teremos o sacrifício. Agora, precisarei me ausentar para falar com os aspirantes a cavaleiro, Yuna. Pode ficar aqui e descansar.

   A camaleoa saiu apressada e a pequena Águia olhou pela fenda da tenda e continuou a admirar aquela jovem que olhava atentamente o mar.

   ― Olá! ― a garota levou um susto e quase desequilibrou-se. ― Desculpa! Eu não...

  ― Você é a Yuna? ― ela saltou e aterrissou com uma perfeita acrobacia diante da Águia. ― É uma honra ter uma garota tão lendária nesse inferno.

  ― É... ― a loira ficou sem graça. ― Eu te vi olhando atentamente para o horizonte e fiquei curiosa.

   A garota tinha pele bem branca, mesmo com o sol sobre a sua cabeça todos os dias, mas ela acabou ficando bem corada com o apontamento da águia. Automaticamente, ela encarou o horizonte marítimo e seus olhos mui verdes, brilharam com grande tristeza.

   ― Eu todos os dias tento imaginar como seria a minha vida longe daqui! ― Yuna foi pega de surpresa. ― Você já sentiu como se esitvesse presa por correntes inquebráveis?

   Yuna levou o punho esquerdo até o seu peito, sintonizando com a dor daquela garota, mesmo sem conhecê-la.

   ― Hoje a noite! ― ela encarou a loira sem entender. ― Hoje a noite acontecerá um torneio para ver quem será escolhido para enfrentar o sacrifício pela manhã. Pode ser a sua chance de se tornar a amazona de Andrômeda e sair daqui.

   A garota cerrou o punho e fechou o cenho. Yuna sentiu o ódio dela transbordar pelo olhar, aponto de se preparar para lutar, mas tudo que a garota fez, foi socar o rochedo e rachar a chapada no local do golpe.

   ― Ser uma amazona de Athena? É isso? ― lágrimas começaram a correr pelo rosto dela. ― Athena me tirou tudo que eu tinha! Eu a odeio! Eu, Eu.. ESPERO QUE ELA MORRA!

   Yuna ficou imóvel e sem reação. Só pode observar aquela jovem de cabelos esverdeados correr na direção oposta, derramando suas lágrimas pelo solo pedregoso e quente. Em seguida, ela se perguntou que correntes eram essas que eram ainda piores que as correntes do sacrifício de andrômeda?


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