(In)Definidos escrita por Siaht


Capítulo 2
II. Colegas de Detenção


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, abril acabou e com ele o Delacour's Month. Acabei ficando muito ocupada nesses últimos dias e não consegui atualizar essa fanfic, enquanto ainda estávamos no mês quatro, porém não tenho nenhuma intenção de desistir dela. Então, teremos que continuar durante maio mesmo haha
Espero que me perdoem pelo atraso e que gostem do capítulo! ♥



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II

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{colegas de detenção}

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Colega. Substantivo de dois gêneros. Pessoa que, em relação a outra(s), pertence à mesma corporação, comunidade, profissão, etc. Companheiro.

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Os melhores amigos de Louis Weasley eram os fones de ouvido. Pelo menos, era isso o que Frida supunha. Havia pouco mais de uma semana que o castigo começara e ela não o havia visto sem aquelas coisas enfiadas nas orelhas uma única vez. Não que fosse um problema. Pelo contrário, qualquer coisa que diminuísse as interações entre eles seria uma bênção. Após aquele primeiro dia desastroso, os dois haviam decidido dividir a biblioteca. A garota ficara com o lado esquerdo e o rapaz com o lado direito. Ficara definido, então, que só se comunicariam quando fosse estritamente necessário. Ainda trocavam farpas e disparavam olhares afiados sempre que possível, a inimizade podia ser sentida pelo ar, no entanto, estavam conseguindo manter algum grau de civilidade. O que era uma vitória. Se havia algo que Frida McLaggen sabia, era que pequenas vitórias deviam ser celebradas. 

Passar horas de seu dia trancada em uma sala com Louis Weasley, entretanto, fizera com que a menina percebesse certas coisas sobre o rapaz. Não fora nada deliberado e ela adoraria não ter coletado nenhuma daquelas informações, porém, era uma tarefa inevitável. A presença constante dos fones fora o primeiro detalhe a ser notado. No começo, a garota achara que era apenas uma forma de evitá-la, contudo, começou a observar que eles também estavam presentes sempre que via o garoto fora do castigo. Nos corredores, no refeitório, às vezes até mesmo em sala de aula – em um sinal claro da pouca importância que o Weasley dava a sua educação e do total desrespeito pelos professores. Ela não fazia ideia do que ele tanto escutava, mas deveria ser algo interessante. Ou talvez ele apenas gostasse muito de música. 

Frida gostava de música – que tipo de pessoa não gostava? –, ainda assim, era algo que reservava para os momentos em que estava sozinha. Quando podia se conectar a uma letra e a uma melodia de forma íntima e pessoal. Ou apenas dançar desajeitadamente sem qualquer julgamento. Para ela, música sempre fora algo bastante privado. Por mais estranho que pudesse parecer, não achava que possuía a habilidade de  realmente apreciar canções em público.  Louis claramente não tinha esse problema. Ele apenas ficava ali, com seus fones de ouvido, parecendo completamente alheio ao mundo. Distante. Impassível. 

Aliás, parecer impassível era uma habilidade que o rapaz dominava muito bem. Tudo em sua aparência parecia milimetricamente planejado para mostrar ao mundo que não se importava. Só que, se você olhasse bem, isso não parecia real. Os cabelos loiros estavam sempre bagunçados, porém de um modo “legal” e sempre lavados e penteados. O uniforme estava sempre limpo e passado, mas ele deixava alguns botões da camisa aberta, a gravata frouxa e eventualmente substituía o blazer cinza e sem graça do colégio por uma jaqueta de couro. Frida nunca havia reparado antes em como tudo isso soava inorgânico.  Em como as pessoas podiam se esforçar em parecer que não se esforçavam. Era um tanto patético, na concepção da menina. Não que ela esperasse algo diferente de “patético” vindo do Weasley. 

De uma forma ou de outra, Frida também nunca havia reparado em como parecia tão desleixada perto do rapaz. Havia uma mancha de café em sua blusa, o esmalte preto das unhas descascava, seus coturnos estavam um tanto gastos e os cabelos presos, com uma caneta vermelha,  em um coque. Nada de maquiagem. Mas quem tinha paciência para se dedicar a algo – além da higiene básica, é claro – às 6h da manhã? Ela certamente não. Acordar cedo era seu tormento e se arrumar para assistir às aulas parecia absurdo demais. Além disso, não era como se ela estivesse tentando impressionar alguém com sua aparência. Será que deveria estar tentando impressionar os colegas? Balançou a cabeça, se irritando com o teor estúpido de seus pensamentos. Os colegas podiam se impressionar com seu cérebro. Eram pessoas como o Weasley que precisavam se importar tão metodicamente com a aparência, já que não tinham muito além dela para oferecer. 

Se sentindo satisfeita consigo mesmo, Frida voltou para seu trabalho, tentando distinguir quais dos livros da pilha a sua frente poderiam ser salvos. Louis permaneceu no seu canto da biblioteca, ainda com os fones no ouvido, fazendo pouco ou nenhum barulho. Ele era silencioso de uma forma inquietante. Não parecia inclinado a dizer mais do que uma ou duas sílabas por dia e se movia de forma tão graciosa que praticamente não gerava som. Vez  ou outra, a menina o ouvia tamborilar os dedos em algum lugar, não fosse por isso, seria como dividir a sala com um fantasma. Frida, que não conseguia fazer nada de forma graciosa ou silenciosa, sentia arrepios com tal constatação. Era esquisito e incômodo. Mas, bom, tudo sobre Louis Weasley era.

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Frida McLaggen usava pulseiras demais. Arcos de metal, fitas coloridas, miçangas grandes e pequenas que se uniam de forma caótica em seus pulsos e tilintavam irritantemente a cada mínimo movimento. Era como ter pequenos sinos amarrados a ela, sempre anunciando sua presença. Louis Weasley costumava levar seus fones de ouvido para onde ia e mantê-los bem firmes a suas orelhas, bloqueando tudo e todos, mantendo o mundo afastado. No entanto, naqueles breves instantes em que uma música ou álbum chegava o fim, ele podia ouvir o tilintar. Um som tão agudo e persistente que lhe chegava ao cérebro como pontadas. Não que fosse novidade, a menina era barulhenta de forma geral. Falava alto, andava alto, respirava alto, pensava alto.

Ocasionalmente, ele via os lábios dela se movendo, enquanto ela trabalhava em seu canto da biblioteca. Às vezes, quando a curiosidade vencia o bom-senso, o rapaz pausava o que quer que estivesse tocando em sua playlist, para ouvir o que ela dizia. Na maioria das vezes, a garota estava falando muito rápido e em outro idioma, que ele presumia que fosse espanhol ou alguma outra língua derivada do latim. Quando falava em inglês, contudo, costumava apenas resmungar de forma sem sentido ou tecer considerações sobre os livros que separava. Em resumo, estava apenas falando consigo mesma, como se não conseguisse suportar o silêncio. 

De todo modo, quando a menina não estava usando sua boca para falar sozinha, a estava usando para consumir cafeína ou doces. Frida chegava à biblioteca todos os dias com um copo imenso de café, que bebia inteiro em poucos minutos, algo que sempre surpreendia o Weasley, que nunca fora fã de café. Nesse aspecto, ele era bastante britânico e sempre exaltaria a superioridade de um bom chá. Ao longo da tarde, no entanto, a garota ia tirando vários doces dos bolsos. E sua maioria balas e chicletes, mas eventualmente você poderia ver algum chocolate ou até mesmo um pirulito. Louis gostava de doces como qualquer pessoa, porém, nada jamais se compararia à McLaggen. A garota era quase uma personificação do Willy Wonka. 

Nada disso era da conta dele, o menino, entretanto, era um bom observador. Pelo menos, era quando queria ser. Com certa frequência se prendia deliberadamente em seu mundinho, se fixando de forma obsessiva em músicas ou pinturas, correndo ou apenas se perdendo em sua própria mente – Merlin sabia que não era difícil se perder dentro daquele caos. Ainda assim, quando se afastava do conforto de sua bolha protetora, passava a analisar as pessoas de forma instintiva. Fora um hábito que adquira ao crescer como um aborto.  Ninguém falava sobre isso, mas existir sem magia em um mundo de bruxos era, acima de qualquer coisa, assustador. 

As pessoas costumavam presumir que a pior parte de ser um aborto estava em sua própria definição. Ou seja, na incapacidade de produzir mágica. E, bom, isso definitivamente era parte do problema, porém, não ele em sua totalidade. Para Louis, a pior parte de ser um aborto era o medo constante que estava associado a não poder fazer mágica, quando todos ao seu redor podiam. A consciência desse fato trazia com ela uma sensação de vulnerabilidade que era impossível combater. Ele era mais fraco, era mais frágil, era indefeso. Estava totalmente desamparado e dependia da boa vontade dos bruxos para não ser ferido. Ou coisa pior. Conhecendo a história recente do mundo da magia, contar com a boa vontade de bruxos para não machucarem aqueles que estavam abaixo deles, não era uma boa ideia. 

Era por isso que a paranoia e o pânico se agitavam com frequência pela mente e o corpo do Weasley, se transformando em espirais, que o levavam para lugares muito sombrios, e roubando seu fôlego. Fora por isso também que Louis se forçara a se tornar um bom observador, a se tornar consciente de cada gesto, expressão ou movimento das pessoas ao seu redor, especialmente quando estava em meio a bruxos. Tentando antecipar uma agressão, um feitiço ou uma ofensa. Era a única forma que conhecia de se proteger. Mas também era algo absurdamente exaustivo. Na Shoreline, ao menos, ele podia descansar um pouco.

Ainda assim, às vezes seus talentos de observador se tornavam necessários ali, principalmente quando se transferira para aquela escola aos 13 anos. Três anos depois, e após dominar o território e se torar o rei do lugar, ele julgava que relaxar era quase possível. Exceto quando Frida McLaggen estava por perto. A menina fazia todos os seus alarmes soarem, disparava seus gatilhos, o deixava atento e preparado para batalha. Porque havia algo de perigoso e ameaçador nela, Louis apenas não sabia dizer o que. Pelo menos, ainda não. 

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Um livro atingiu o rosto de Louis Weasley no instante em que ele passou pela porta da biblioteca. Era quinta-feira e, para variar, estava chovendo. 

— Que… caralho! —  ele ofegou, tentando se recuperar do susto. Observou a sala atônito e encontrou Frida o encarando com uma expressão feroz —  Você pirou de vez, McLaggen? Anda jogando coisas nas pessoas agora? Qual a porra do seu problema? 

—  Qual a porra do meu problema? Qual a porra do seu problema, Weasley? Onde você estava ontem e por que não se deu ao trabalho de aparecer ou avisar que não vinha?  — dizer que Frida estava irritada seria um eufemismo. Irritada ela estivera na tarde anterior, tendo que fazer todo trabalho sozinha, enquanto aquele idiota se divertia, fazendo sabe-se lá o que. Hoje ela estava furiosa. Pelo trabalho, a falta de consideração e principalmente pela ousadia de aparecer ali tranquilamente, como se nada houvesse acontecido. Abusado dos infernos!

Louis suspirou, enquanto passava a mão pelo nariz dolorido. Aquela louca poderia tê-lo quebrado! De fato, ele não havia aparecido para cumprir a detenção no dia anterior, porém, não tinha qualquer intenção de falar sobre o assunto. Os motivos dele não diziam respeito àquela garota. 

— Foi mal. —  ele disse, dando de ombros. 

Os olhos escuros de Frida faiscaram, enquanto a boca dela se abria em choque. 

—  Foi mal? É tudo o que você tem a dizer? —  ela indagou, cruzando os braços sobre o peito. 

Toda a linguagem corporal da menina informava que aquela havia sido uma resposta errada, mas Louis apenas deu de ombros novamente. 

—  Sim. —  era tudo o que ele tinha a dizer. Ou, pelo menos, tudo o que iria dizer. 

Frida ergueu uma sobrancelha. 

—  Olha, eu não te devo satisfações, McLaggen. 

—  Na verdade, sobre isso especificamente, você deve. Porque, gostando ou não, nós temos que trabalhar juntos e se você for me deixar trabalhando sozinha, eu tenho que saber. Eu menti para o senhor Dempsey ontem, quando ele veio aqui supervisionar, para te proteger. Sabia disso? Não foi algo que gostei de fazer. 

—  E não foi algo que eu te pedi para fazer. Nunca pedi para que me protegesse. 

— Não, não pediu, mas algum vestígio de lealdade para com as pessoas com quem trabalhamos, mesmo quando não gostamos delas,  é o mínimo que se espera. Não que você seja do tipo que se importa com isso, é claro. — não era uma mentira. Frida não gostava do Weasley (desgostava ainda mais naquele momento), mas, no fim do dia, ele ainda era um aborto e o senhor Dempsey ainda era um bruxo. Ela já havia aceitado que não precisava gostar de Louis, porém, sabia para onde sua lealdade se inclinava e sempre se inclinaria.  

— Definitivamente não me importo. E que bom que você é esperta o suficiente para não esperar que eu minta ou faça qualquer coisa por você. 

—  Eu não espero nada de você, Weasley. 

—  Isso não é verdade, McLaggen. Você esperava que eu aparecesse ontem.  —  Louis abriu um sorriso debochado, Frida poderia socá-lo. 

— Certo, me expressei mal. Já não espero nada de você. Especialmente algo positivo.

Ele deu de ombros novamente, apenas para irritá-la um pouco mais. 

— Bom para você, porque de fato não deveria.  — dizendo isso, o garoto tirou os fones dos bolsos e os colocou no ouvido, encerrando aquela discursão e caminhando para seu lado da biblioteca. 

Sentiu outro livro atingir suas costas pouco depois de passar por Frida. Filha da puta! Ainda assim, resolveu ignorar aquele segundo ato de covardia. Aquela menina era louca e mais do que nunca ele não estava com cabeça nenhuma para discutir com ela. Tudo o que queria era que aquele dia acabasse logo, para que pudesse voltar rastejando para sua cama. Frida McLaggen, sua insanidade e seus olhares mal humorados teriam que ficar para outro dia. 

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— Ei, você está jogando toda essa sujeira para o meu lado.  — Louis reclamou, tirando os fones do ouvido, enquanto Frida varria o chão. 

— Não estou, não! —  a garota protestou, quase abandonando a vassoura. 

— Está sim! Olha isso. — ele andou até a linha invisível que delimitava os lados dos dois na biblioteca. 

A menina estreitou os olhos. Os cabelos negros, se soltando do coque, que fizera em torno de uma caneta rosa, e caindo em seu rosto. 

— Ainda está do meu lado. Você só está tentando atrapalhar o meu trabalho. 

— Você que está tentando me prejudicar e me dar mais trabalho. 

— Te prejudicar? Me poupe, não sou desonesta como você, Weasley. 

— Desonesto? — aquele adjetivo realmente irritou o garoto. Louis podia ser muita coisas e talvez tivesse mesmo uma tendência a ocultar a verdade, porém, nunca havia sido desonesto com aquela menina. 

— Sim, foi exatamente o que eu disse. — McLaggen abandonou a vassoura e cruzou os braços sobre o peito. 

O grande problema de Louis e Frida era que existia muito desgosto e tensão entre os dois. Sendo assim, a menor fagulha era capaz de provocar um incêndio. 

— Quando eu fui desonesto com você, McLaggen? — o Weasley indagou, imitando a postura da moça, ao cruzar os braços sobre o peito e a encarar com um olhar furioso. 

— Quando não apareceu na semana passada, me deixando fazer todo o trabalho sozinha, e não me dando nenhum aviso. — o olhar irritado dela era muito eficiente. 

— Pelo amor de Deus, você ainda está remoendo isso! — Louis foi obrigado a desfazer a pose e jogar os braços para cima. Aquela garota era absurda. 

— Sim, ainda estou remoendo isso, porque você nunca se desculpou ou deu qualquer explicação. — o sotaque de Frida se intensificou nesse momento, mostrando que ela havia realmente perdido a paciência. 

— Porque eu não te devo nenhuma satisfação, McLaggen! — ele elevou o tom de voz. 

— Deve sim! Embora seja lógico que uma pessoa tão egoísta e sem qualquer senso de coletividade como você, não vá entender algo tão básico. — ela ergueu o queixo ao dizer tais palavras, o senso de superioridade evidente em toda sua postura. 

Louis riu sem humor. 

— A única coisa lógica aqui é que você é uma  egocêntrica futriqueira que acha que tudo tem a ver com você. E que adora transformar as menores coisas em um espetáculo patético. — cada palavra saia mais alta que a anterior. 

Frida descruzou os braços e cerrou os punhos. 

— Não grite comigo, seu babaca! — ela disse gritando. 

— Eu grito se eu quiser. — ele gritou de volta.

— Não grita, não!

— Grito sim!

— Não grita, não!

Os dois continuaram a berrar um com o outro. Era uma discussão patética, infantil e bastante irracional. Eles, porém, já haviam passado do ponto da racionalidade e estavam apenas descontando a frustração que sentiam um do outro.  A troca de gritos sem sentido continuou por um longo tempo, até que Frida finalmente se cansou. 

— Chega! Isso é ridículo. 

— Você é ridícula. — Louis retrucou, atingindo o ápice de sua imaturidade. 

A McLaggen se sentiu muito tentada a contra argumentar, dizendo que ele era ridículo, mas alguém precisava ser a melhor pessoa ali e claramente era ela. 

— Que seja, Weasley. Você pode continuar gritando sozinho, se quiser. Eu tenho mais o que fazer. 

O rapaz adoraria continuar gritando com ela, no entanto, até ele era capaz de reconhecer uma guerra perdida. O fato de Frida ter lhe dado as costas, pegado a maldita vassoura e voltado a varrer o chão, como se nada houvesse acontecido, o irritou mais do que qualquer outra coisa. Porém não adiantaria discutir. Pisando fundo, ele voltou para seu canto da biblioteca e passou o resto da tarde descontando sua raiva em uma pilha de livros inocentes e na exclamação de alguns palavrões em francês. Ter aprendido o primeiro idioma de sua mãe nunca antes lhe parecera tão útil. 

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— O que diabos você pensa que está fazendo com esses livros? — Frida esbravejou, fazendo Louis se assustar e derrubar a pilha que trazia em mãos. 

Havia mais de uma semana que os dois não trocavam uma única palavra. Os adolescentes se limitavam a lançar olhares de raiva ou nojo na direção um do outro e trabalhar da forma mais silenciosa possível. A tensão no ar  podia ser sentida como estática. Frida jamais odiara Louis com tanta intensidade e a recíproca era verdadeira. Sendo assim, o rapaz nem se deu ao trabalho de responder e apenas revirou os olhos. A garota poderia ter arrancado aqueles olhos azuis idiotas das orbes dele. 

— Eu estou falando com você, Weasley! — ela bateu os coturnos no chão. Louis sempre achava que ela se assemelhava a uma criança birrenta quando fazia aquilo. 

O garoto suspirou. 

— Indo jogar esses livros na pilha de coisas que devem ser descartadas, McLaggen. Não é óbvio? — ele revirou os olhos novamente, apenas para evidenciar quão estúpida e insignificante a colega lhe parecia naquele momento. E porque já havia percebido que ela sempre ficava ainda mais incomodada quando ele fazia aquilo. 

Daquela vez, Frida resolveu ignorar deliberadamente a conduta lamentável do rapaz. Havia algo mais importante em que se concentrar. 

— Você mal passou os olhos por esses livros, pode ter algo que dê para salvar. 

— Nah, eu te garanto, McLaggen, não há nada aqui que possa ser salvo. Essa biblioteca inteira, na verdade, poderia ser descartada. Não há nada minimante importante aqui. É tudo lixo. 

— Não é não! — Frida protestou. 

— Por favor, essa biblioteca está condenada. Se alguém a incendiasse estaria fazendo um favor. O senhor Dempsey só nos deu o trabalho de organizá-la, porque sabe que é uma tarefa impossível. Ele está brincando com a gente, nos punindo de uma forma quase sádica. Vai nos obrigar a lidar com essa atividade inútil até se cansar e cancelar nosso castigo. Não há salvação para nada aqui dentro, McLaggen. 

Frida teve a impressão de que o “nada aqui dentro” também incluía os dois, sentiu um arrepio com a constatação, porém, não tinha tempo para se concentrar nisso. Não quando havia uma causa muito maior a sua frente. 

— Essa é a única biblioteca que nós temos. Não podemos simplesmente deixar que morra. — havia um leve tom de desespero em sua voz que Louis nunca havia ouvido antes, era quase desconfortante. 

— Por favor, McLaggen, você pode ser muitas coisas, mas é inteligente o suficiente para ter percebido que essa é uma causa perdida, um castigo impossível de ser cumprido. 

A garota, de fato, já havia compreendido as intenções do diretor. Louis estava certo quanto a isso. O senhor Dempsey queria puni-los de forma exemplar, os obrigando a realizar uma tarefa que julgava incapaz de ser concluída. Frida, entretanto, nunca se importara muito com o que o diretor julgava ou não possível. Ela se importava com aquela biblioteca e acreditava que poderia – ou pelo menos deveria tentar – salvar um dos poucos bastiões de informação e conhecimento que aquela escola decadente possuía. 

— Eu não dou a mínima para as intenções do senhor Dempsey. Não é como se aquele projeto de diretor soubesse de muita coisa. O que me importa é essa biblioteca. Se nós a perdermos, talvez nunca tenhamos outra. Então, o que vamos fazer? 

Louis deu de ombros. 

— Você já ouviu falar de uma pequena ferramenta chamada “Google”? 

A garota o olhou como se ele fosse inquestionavelmente a pessoa mais burra com quem já conversara. 

— E por caso vamos encontrar no Google informações sobre a comunidade mágica ou os poucos textos escritos por abortos que essa escola se deu ao trabalho de disponibilizar? Além disso, o descaso e a  destruição de um reduto de conhecimento é sempre algo assustador e preocupante. 

—  Se você diz…

—  Por favor, Weasley, você não pode ser tão abjeto! 

—  Olha, McLaggen, eu vou deixar claro uma coisa que você parece não ter percebido ainda: eu não estou nem aí para essa escola, essa biblioteca patética e principalmente o que você pensa de mim. 

Frida riu sem humor. Aquele garoto era tão ridículo. 

—  Sabe, Weasley, toda essa sua postura de “eu sou muito legal para me importar com qualquer coisa” está realmente começando a ficar velha. Sem falar que ela é deprimente e falsa, mesmo nos melhores dias. 

Aquele comentário realmente atingiu Louis, mas ele não estava disposto a deixar que a garota percebesse. 

— O que está começando a ficar velho e exaustivo é essa sua postura de “eu me importo com todas as coisas o tempo todo, mesmo quando elas claramente não valem a pena”. 

— Não valem a pena? Qual a droga do seu problema? Você acha que nossa educação não vale a pena? Acha que se importar com o descaso, no melhor dos casos, com que somos tratados não vale a pena? Acha que querer que tenhamos direitos básicos não vale a pena? Sinceramente, Weasley, eu não sei se sua cabeça vive em alguma realidade paralela ou se você é apenas muito mais burro que eu imaginava, mas caso não tenha percebido: você é um aborto. Independente de quem sejam seus pais, seus tios, ou sei lá quem da sua gloriosa família: você é um aborto. — Frida estava muito irritada naquele momento, todo seu incomodo com o colega explodindo em um monólogo carregado de ira e paixão. 

— Cala a boca! — Louis gritou com ela, não queria ouvir nada daquilo. E quem aquela menina pensava que era para lhe dizer tudo aquilo? — Cala a porra da sua boca, McLaggen! 

— Não! — ela berrou de volta — Não é minha culpa se você não aguenta ouvir verdades, seu mimadinho estúpido. Estúpido, estúpido, estúpido!

— Você não sabe nada sobre mim ou sobre a minha família, sua arrogante insuportável. — o rapaz nunca sentira tanto ódio em sua vida — Você quer verdades, McLaggen? Pois bem, você se acha uma grande revolucionária, mas não passa de uma chacota. A grande piada da escola. Ninguém te leva a sério ou escuta uma palavra que você fala, porque ninguém gosta de você. Todo mundo te acha louca e não é como se estivessem errados. 

Lágrimas brilharam nos olhos de Frida, mas ela se recusou a deixar que caíssem. Queria gritar para que aquele desgraçado jamais ousasse chamá-la de louca novamente. Queria estapeá-lo. Queria chorar, porque uma parte dela sempre soubera que não era querida e ser confrontada com aquele fato doía. Não fez nada disso. 

— Tudo bem, Weasley. Eu posso ser uma chacota, posso ser a piada da escola, posso até ser louca, mas, pelo menos, eu sei quem eu sou. Pelo menos, vivo pela minha verdade. O que é muito melhor do que você, que está sempre fingindo ser alguém melhor ou mais interessante do que realmente é. As pessoas não gostam de você, gostam dessa fachada vazia de garoto popular e descolado. A maioria, na verdade, sequer se importa com isso, gostam mesmo é do seu sobrenome. Gostam de ter um Weasley entre eles. Gostam de saber que há um aborto entre os Weasley. Acho que faz com que se sintam melhores consigo mesmos ou mais importantes. Mas não se engane, julgando que há afeto por você como pessoa. Tanto faz ser você ou qualquer outro da sua família. Sem seu sobrenome e conexões familiares, você não é nada. No fim do dia, você não passa de um garotinho patético e assustado que é incapaz de lidar com o fato de que é um aborto. 

Louis deu um passo para trás como se houvesse levado um tapa. O misto de incredulidade e dor em seu rosto agradou a menina. 

— Aborto, aborto, aborto, aborto. — ela continuou a gritar, porque estava se sentindo especialmente cruel e vingativa naquela tarde. Louis Weasley a havia atingido em um lugar sensível, um lugar que ainda doía, e ela queria que ele sentisse o mesmo. Para o inferno toda aquela baboseira de ser uma pessoa superior e oferecer a outra face. Frida havia atingido seu limite. 

O garoto a olhou cheio de ódio e abriu a boca para dizer alguma coisa, porém, as palavras nunca saíram. A encarou por mais meio minuto com uma intensidade assustadora, então passou por ela pisando fundo e saiu da biblioteca, se lembrando de bater a porta com força atrás de si. Frida esperou cinco minutos inteiros, apenas para garantir que ele não retornaria, e então finalmente chorou. 

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Era bom que a Academia Shoreline para Abortos tivesse dormitórios individuais, Frida McLaggen pensou, enquanto se revirava na cama pela décima vez em pouco mais de cinco minutos. Isso fazia com que os quartos fossem pequenos, é claro, mas garantia que nenhuma colega ficasse incomodada com sua inquietação. O que era bom, já que a menina sempre fora agitada nos momentos que antecediam o sono. E durante o sono. E acordada. Aquilo certamente irritaria uma colega de quarto, especialmente naquela noite em que ela estava mais irrequieta do que de costume. Contudo, talvez não fizesse tanta diferença, já que mesmo as pessoas que não precisavam dormir no mesmo local que ela, a odiavam. 

E ali estava o problema. A discussão que tivera com Louis ainda martelando em sua cabeça. O que era ridículo, uma vez que a simples ideia de considerar algo que saísse da boca do Weasley deveria ser proibida. Ele era um idiota. Um ignóbil sórdido. Um patife pífio. Um abjeto torpe. Um canalha deplorável. Alguém tão insignificante e execrável que sequer deveria importar. E, ainda assim, ela estava perdendo o sono por causa das coisas que ele lhe dissera. Pelas que havia dito a ele também. 

Frida havia se sentindo bem no momento da discussão. Havia visto que o atingira como uma adaga e adorara ver o sangue escorrer. Agora, no entanto, já não se sentia tão bem assim. Normalmente a menina tentava ser uma criatura racional. Se esforçava para se prender a lógica e agir de forma calma e analítica. Ainda assim, seu temperamento muitas vezes levava a melhor, a fazendo explodir de forma devastadora. Havia tantas emoções conflitantes coexistindo dentro de Frida McLagen, em um dia normal, que ela se surpreendia por não explodir de forma literal. 

A culpa pesava em sua consciência, mesmo que uma parte dela lhe dissesse que não tinha motivos para isso. Louis também havia dito coisas bem desagradáveis e ela duvidava que o rapaz estivesse perdendo o sono por isso. Ela era uma tola. Uma tola que machucava pessoas. Uma tola de quem ninguém gostava. 

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As palavras de Frida McLaggen ecoavam pela cabeça do rapaz como um disco arranhado. Um disco que ele adoraria arrancar da vitrola e partir ao meio. Talvez até mesmo incendiar. Louis Weasley não costumava ser o tipo de pessoa que se exaltava ou gritava. Na maior parte do tempo, ficava bastante satisfeito em permanecer em silêncio ou falar o mínimo possível em cada situação social na qual se encontrava. Com certeza não era do tipo que entrava em brigas. Detestava conflitos. Ainda assim, bastava a McLaggen entrar em cena para que todo seu autocontrole fosse esquecido e o Weasley se tornasse alguém sedento por sangue. Não conseguia evitar, cada frase dita por aquela menina fazia seu sangue ferver. Até a forma como ela respirava o irritava. Era completamente irracional, ele sabia. E também não gostava nenhum pouco disso. Não gostava daquela ebulição de sentimentos, não gostava de se descontrolar. 

Não gostava especialmente de estar ali, muitas horas depois, ainda remoendo aquela discussão. Cada maldita palavra passando por seu cérebro de novo, de novo e de novo. Já era tarde da noite e o garoto não conseguia dormir. Toda sua frustração sendo descontada em uma tela inocente, na qual jogava tintas – especialmente preta e vermelha – sem qualquer técnica ou objetivo claro. Era algo instintivo, quase animalesco. Irracional. Uma perfeita representação da raiva. Ou do que seria raiva na visão do rapaz. Era sempre assim, quando os sentimentos ameaçavam consumi-lo ou quando seu cérebro dava nós complexos demais para serem desatados por uma corrida, Louis pintava. Às vezes pintava apenas porque era algo que gostava de fazer, é claro. No entanto, a pintura costumava ser seu refúgio. O lugar no qual se acolhia, quando fugir não era suficiente ou nem mesmo uma possibilidade. E ele definitivamente não conseguia fugir de Frida McLaggen. 

Havia sido um grande otário com a menina, ele percebia agora. Na verdade, estava sempre sendo um babaca com ela. Não se orgulhava disso, porém, não conseguia evitar. Ela o tirava do sério de um jeito único. De qualquer forma, sua conduta recriminável não era o que estava lhe tirando o sono, embora devesse ser, se ele fosse uma pessoa decente. O grande problema estava nas palavras de Frida. Ou melhor, no fato delas serem verdadeiras.  O rapaz  detestava admitir, mas a garota estava certa sobre ele. Louis era uma farsa, um grande  mentiroso e o único motivo para as pessoas gostarem dele era o seu sobrenome. Antes da Shoreline havia experimentado estudar em um colégio trouxa, dessa forma, sabia muito bem que a vida em um local onde o nome Weasley não significava nada, não lhe fora tão favorável. Na verdade, fora um pesadelo e a última coisa que o menino queria era se lembrar desses dias. 

Refletindo sobre isso agora, o rapaz percebia que isso era algo que Frida fazia com ele com bastante frequência: o obrigar a pensar em coisas que não queria pensar e a sentir as coisas que não queria sentir. Nos últimos três anos, Louis havia criado uma bolha em torno de si mesmo. Mesmo nessa bolha, nem sempre estava confortável, porém, ainda era o lugar mais seguro e reconfortante no qual já se encontrara. Era fácil se manter nessa bolha, enquanto estava na Shoreline, longe de bruxos e trouxas. E ele definitivamente não queria sair dela. Não achava que sobreviveria se saísse.

Frida estava certa quando afirmara que ele era um aborto e nunca conseguira lidar de verdade com tudo o que isso implicava. Com todos os sentimentos que despertava. Eram coisas nas quais o garoto evitava pensar e evitava sentir, porque era doloroso demais. Ele, então, apenas engolia seus sentimentos e corria para longe de tudo o que parecesse uma ameaça. Era mais fácil não se importar, era mais não sentir, era mais fácil fugir. Era mais seguro também e Louis apreciava bastante a segurança. 

Frida, no entanto, o empurrava para longe de  tudo o que era seguro e minimamente confortável. Não permitia que ele se esquecesse por um único segundo de tudo o que era e tudo o que não era. Mais do que isso, ela vestia as próprias cores com um orgulho apaixonado e andava pela vida gritando com uma confiança absurda que era uma aborto. Apontando tudo o que estava errado e tudo o que deveria mudar. Era demais. Apavorante. Desconfortável. A simples existência de Frida McLaggen parecia feita para obrigá-lo a sair de sua zona de conforto. E talvez fosse por isso, Louis percebeu, que ele a odiasse tanto. 

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Louis já estava na biblioteca no instante em que Frida entrou ali, na segunda-feira. Um fato que a surpreendeu. Ele sempre chegava depois dela e normalmente com vários minutos de atraso. Nunca chegava na hora e definitivamente não se  adiantava. A menina não podia dizer que ficava feliz por o rapaz ter resolvido cumprir suas obrigações corretamente  justamente naquele dia. O fim de semana fora um inferno, no qual ela passara metade do tempo se deglutindo pela culpa e a outra metade se sentindo péssima pelas afirmações feitas pelo Weasley. Ela sabia que não era exatamente querida, mas ter esse fato jogado em sua cara nunca era algo positivo. A única vantagem fora pode evitar, por dois dias inteiros, o causador de todo aquele caos interno. 

E então ali estava ele. A última pessoa que ela gostaria de ver. É claro que o havia visto durante as aulas naquela manhã, mas era diferente. Louis normalmente se sentava no fundo da sala e não dizia uma única palavra. Para Frida, que estava sempre na primeira cadeira da fila do meio, era bastante fácil ignorá-lo. Sozinha com ele na biblioteca, no entanto, isso se tornava bem mais difícil. 

— Oi. — o garoto disse constrangido,  no momento em que percebeu a presença da menina. 

A primeira coisa que Frida realmente percebeu foi que ele estava sem seus malditos fones de ouvido. A segunda foi que mantinha as mãos nos bolsos na calça e batia os pés repetidamente no chão, parecendo inquieto. Havia algo diferente no rosto dele também, porém, a garota não conseguia definir o que. 

— Oi. — ela respondeu incerta, porque não sabia o que mais poderia dizer e estava exausta de brigar com Louis Weasley. 

Os dois se encararam em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. O garoto continuou batendo os pés no chão. A menina enrolou uma mecha de cabelo escuro nos dedos. Aquilo era muito constrangedor. Foi o Weasley quem finalmente quebrou o silêncio, com um suspiro cansado. 

— Eu queria te pedir desculpas, McLaggen. — disse abaixando a cabeça e fitando os pés agitados. 

Frida foi pega de surpresa pela segunda vez naquela tarde. A última coisa que esperava era um pedido de desculpa do rapaz. Não que ele não lhe devesse um, apenas porque não parecia ser do tipo de pessoa que se desculpava. Ou tinha consciência. Ou uma alma. Ela se recriminou pelos pensamentos. Lá estava ela se deixando levar pelos sentimentos de inimizade de novo… 

— Eu fui um idiota com você na sexta passada e falei muitas coisas que não devia. Sinto muito por isso. 

O remorso na voz dele parecia sincero, assim como todo seu desconcerto. Frida nunca o havia visto parecer tão desconcertado. Tão real.

— Tudo bem. — ela concedeu  — Eu também disse algumas coisas das quais me arrependo. Sinto muito por isso. 

— Sem problemas. — ele ainda encarava os próprios pés com as mãos nos bolsos das calças. Frida ainda enrolava o cabelo no dedo. O silêncio ameaçava cair sobre eles novamente, mas então o garoto continuou. — Realmente tenho sido um péssimo companheiro de detenções e te deixado fazer as coisas sozinha. Também sinto muito por isso. Não vai se repetir. 

Frida teve que se conter para não deixar sua surpresa transparecer ainda mais. Só haviam duas explicações possíveis para tamanha mudança de comportamento: Louis Weasley havia morrido e sido substituído. Ou havia caído e batido a cabeça gravemente naquela manhã. Ela apostava suas fichas na primeira. 

— Ok. Eu acho. — e garota concordou, porque não sabia o que dizer. O que, por si só, já era um fenômeno raro. Frida McLaggen não costumava ficar sem palavras. Aquele estava sendo um dia estranho. Muito estranho. 

—  Ah, eu trouxe isso para você. —  ele finalmente tirou as mãos dos bolsos e pegou um copo grande, que a menina ainda não havia percebido, de uma das mesas. E entregou a ela. —  É uma oferta de paz. — deu de ombros. 

A garota aceitou o copo, sentindo um misto de choque e suspeita. Talvez ele estivesse apenas fingindo ser legal para envenená-la e se livrar de uma vez por todas dela. Algum canto de seu cérebro gritou que ela precisava parar de assistir telenovelas com urgência. Ainda assim, no instante em que tirou a tampa do copo e sentiu o cheiro da bebida a envolvê-la, Frida esqueceu todas as paranoias absurdas. 

—  Café! Eu amo café! —  exclamou como uma criança feliz. 

—  Eu sei. —  o menino respondeu, passando uma das mãos pelos cabelos. Ele parecia estar com dificuldade de deixá-las quietas também. 

Louis Weasley e o curioso caso dos membros agitados. Com aquilo Frida conseguia se solidarizar.  De qualquer forma, o que realmente importava era que o garoto sabia que ela gostava de café. A menina nunca havia lhe dito tal coisa, então ele deveria ter aprendido pela observação, o que, Frida admitia, não seria difícil. Não era que ela fosse uma pessoa que podia ser facilmente comprada por cafeína (na verdade, era sim), a questão era que o gesto realmente a tocara. Louis podia ser um grande idiota e a McLaggen ainda não gostava dele, porém, o rapaz estava fazendo um esforço genuíno para uma trégua. Frida se sentiu um pouco mal por não ter pensando em algo desse tipo primeiro, por não ter sido a pessoa “superior” daquela vez. Então, sorriu para ele. Não o seu melhor sorriso. Ainda assim, um sorriso. 

 — Obrigada. —  agradeceu — Acho que posso aceitar sua oferta de paz. 

Ele apenas acenou com a cabeça. Não era muita coisa, mas era um começo. 

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As coisas entre Louis Weasley e Frida McLaggen melhoram a partir dali. Não foi como se se tornassem melhores amigos ou mesmo começassem a gostar de fato um do outro. Porém, passaram a conseguir se tolerar mutuamente e a se tratar com algum respeito. Perceberam que a divisão geográfica da biblioteca mais atrapalhava do que ajudava e decidiram realmente trabalhar juntos. Louis até mesmo fazia algum esforço para evitar atrasos e ajudar de verdade. Não conversavam muito e o menino ainda mantinha os fones de ouvido pela maior parte do tempo, enquanto a menina preferia conversar sozinha, mas conseguiam trocar algumas trivialidades. Vez por outra as faíscas ainda apareciam, no entanto, ambos tentavam conter as explosões. 

Louis ainda achava Frida estranha, barulhenta, irritantemente sabe-tudo e cheia de ideias com as quais não queria se envolver. Frida ainda achava Louis arrogante, egocêntrico, levemente estúpido e indiferente ao mundo que habitava de uma forma insuportável. Então, não, não eram amigos. Duvidavam que algum dia algo assim pudesse acontecer. No entanto, passaram a se suportar e até mesmo a se costumar com a companhia um do outro. Aquilo teria que bastar.


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Notas finais do capítulo

E depois de muita tempestade (literal e figurada) alguma paz reinou entre esses dois. Ainda não são amigos, mas estamos progredindo haha
Bom, eu tenho muita dificuldade em escrever cenas de brigas, então, esse capítulo foi bem difícil para mim. Espero que as coisas tenham parecido orgânicas e que as discussões não tenham ficado muito ruins. Espero também que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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