Where We Belong escrita por Mad


Capítulo 1
Uma mente vazia é uma oficina Oseram.


Notas iniciais do capítulo

E sejam todos bem vindos a minha primeira fic! Os meus amigos me chamam de Areiko, então vocês podem me chamar assim também! Essa história está em produção a algum tempo, e finalmente tomei coragem para de fato começar a postar. Por isso agradeço a minha irmã incrível, Vanilla Sky, que tornou tudo isso possível de muitas maneiras. Te amo irmã ♥, por favor leiam as historias dela! São simplesmente incríveis. Eu tenho um carinho extremo por Horizon e a sua narrativa riquíssima, é um dos meus jogos favoritos. Tenho muito planejado para essa história, e espero de verdade que seja do agrado de todos. Enfim, vou sair do caminho de vocês xP Boa leitura, vejo vocês nas notas finais ♥.



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Aloy não sabia onde estava.

 

Sua consciência era uma incógnita: a visão se encontrava desfocada ao tentar abrir seus olhos, os movimentos aparentavam estar erráticos ao mover os braços para se levantar e sua audição era confusa, elucidados por um sono persistente e profundo. Aos poucos percebeu os sentidos voltando à suposta normalidade e se concentrou em fazer sentido de seu parecer, olhando ao redor e levantando ainda mais perguntas.

 

A princípio, viu-se sob um holofote em meio a absoluta escuridão e sobre um chão firme e liso. O ar gelado era diferente do clima nas terras sagradas ou até mesmo na região impiedosa do Corte, pois não advinha dos ventos gélidos ou da precipitação de neve. Era artificial, pesado e fez sua humilde forma estremecer desde a ponta dos pés até o último fio de cabelo ruivo trançado, de certa ajudando em seu despertar, e ao virar-se de costas buscando entender o que se passava, se deparou com uma visão relativamente familiar: um Arauto-da-Morte com três flechas fincadas em seus olhos, caído para frente e com peças e pedaços destruídos ao redor. Apesar do sorriso de canto, Aloy não se lembrava de tal batalha ou como havia chegado naquele lugar para início de conversa. Deu passos tímidos em direção a máquina abatida para examiná-la, notando o quão precisos foram os disparos enquanto tentava tirar uma das flechas. Ao pôr a mão no fino cabo de madeira, porém, se assustou quando notou o acender de três luzes amarelas na escuridão, no mesmo padrão dos olhos da máquina a sua frente seguido pelo barulho característico do robô F.A.R.O. Reagiu dando passos para trás e preparando seu arco com a mão não-dominante, pronta para tomar a distância segura para disparos. Talvez pudesse buscar cobertura na máquina destruída? Ou correr rápido na direção contrária se aproveitando da velocidade lenta do inimigo? Ou talvez...

 

Ou talvez?

 

Mais um trio de luzes, ao lado das demais, e então mais um. E mais um.

 

Aloy não pôde fazer ou pensar em nada antes de estar totalmente cercada por luzes amarelas, maliciosas em sua passividade e imponentes em seu significado. Fugiria, se houvesse uma saída. Contra-atacaria, se sua mão dominante não chegasse a uma aljava totalmente vazia. Sem flechas, sem opções. E então, como uma assinatura maligna, os olhos amarelos se alteraram para um definitivo vermelho e Aloy ouviu em uníssono o rugido de mil máquinas. 

 

Não havia mais um holofote.

 

Ao abrir seus olhos, a escuridão dava lugar aos raios de sol de uma recém-nascida manhã, iluminando em rastros o teto de madeira. O ar frio agora dava lugar a fina seda revestindo a cama, desnecessariamente espaçosa, aninhando seu corpo no material macio.

 

"Mais um daqueles…" 

 

Ao esfregar os olhos e vagarosamente sentar-se na beirada da cama, espreguiçando seus braços e ombros de forma jovial, a natureza pacata de sua vida na última semana lhe acertou como uma onda, o recordar de uma memória distante. Não havia mais a ameaça aterrorizante de uma segunda extinção, ou o medo de não ser capaz de conseguir deter HADES e o Eclipse. A natureza desesperadora de sua jornada, porém, não a prepararia para a vitória que veio após seus esforços e a realidade cruel de seu sucesso se mostrava através dos pesadelos e do descontentamento. Nem mesmo a casa de Olin, adornada e mobiliada com esmero, conseguia chamar positivamente sua atenção; os dois espaçosos pisos da casa comparados ao tamanho de Aloy contribuíam para uma inquietante sensação de solidão, havia uma diferença clara entre o espaço delimitado e a imensidão ilimitada do mundo afora.

 

Levantou-se em definitivo e se dirigiu para a cômoda no lado oposto ao quarto, próximo a lareira, mergulhando as mãos no recipiente cheio d'água e lavando seu rosto. Trocou suas vestimentas leves pela roupa usual provida pelos Nora, inquietantemente limpa, e tomou em mãos o seu arco padrão de caça, este adquirido no Werak Banuk do qual fora líder temporariamente. Despertada e pronta, se viu distraída com o fogo que queimava ao lado, olhando com certo desgosto, incomodada pelo estalar da lenha e o calor aconchegante. Sem pensar muito, despejou nas chamas a água que restava, apagando-as.

 

"Bem melhor."

Descendo as escadas largas, dando pouca atenção à casa que deixava mais uma vez, Aloy se deparou com o acordar da cidade de Meridiana. Mesmo cedo, o cantar chamativo dos comerciantes já soava através das paredes das casas e as ruas movimentadas com um ir e vir de materiais e trabalhadores prontos para continuar reparando a capital da terrível batalha que ocorrera dias antes, cicatrizando sua maior ferida desde a deposição do Rei-Sol Louco Jiran. Considerando toda a escala da destruição, era um alívio ver que não muitos civis haviam morrido, boa parte das casas já haviam sido recuperadas e a vida voltará ao normal na medida do possível. Consequências visíveis dos esforços de Avad, Marad Inocente e seus subordinados.

 

Não apenas isso aguardava a jovem Nora do lado de fora, porém. 

 

Pouco distante da porta da moradia, do outro lado da ruela, foi de encontro acidentalmente aos olhos cor de mel, familiares. E uma moça vestida em indumentária Carja, com penas de metal cruzando seu tronco acima do tecido verde delicado, revelou-se contra a luz do sol. A falta do elmo característico revelando os cabelos negros, o corpo encostado na parede virando-se para sua Tordo. Talanah Khane Padish, Aguia-Solar da Ordem de Caçadores.

 

A frente da sua Águia, Aloy não pôde esconder sua surpresa, arregalando sutilmente seus olhos e se aproximando da moça, vendo seus lábios escuros se abrirem para dizerem, no tom amigável de sempre:

 

"Com todo mundo acordando cedo eu não esperava menos de você, Aloy."

 

A Tordo por sua vez respondeu com certo atraso ao se aproximar mais alguns passos.

 

"Não é exatamente como eu costumo dormir... Isso facilita bastante. Olá, Talanah." Sorriu enfim, oferecendo toda a simpatia que conseguia à sua Águia e amiga. "Eu já ia indo para a Ordem ajudar, estava me esperando aqui?"

 

"Na verdade, sim." Disse Talanah, conduzindo a caminhada ao longo da praça em direção aos elevadores da cidade, estranhamente para longe da Ordem dos Caçadores. "O Rei-Sol redirecionou todos os carregamentos para a reconstrução das casas destruídas, e até mesmo a construção de moradias novas. Ele decretou ontem a tarde."

 

A notícia era ótima, e agora Aloy via o motivo exato da reconstrução da cidade estar indo tão bem. A garota porém ainda não entendia a situação pois não era comum Talanah estar esperando ou trazendo notícias. Na realidade ambas não haviam trocado mais que algumas frases desde a batalha de Meridiana. Tal confusão não pôde evitar transparecer no olhar da jovem Nora. Talanah notou e disse:

 

"Oh, não me entenda mal… Isso é ótimo, mas também significa que os reparos na Ordem vão atrasar um pouco. Não dá pra continuar essa manhã."

 

"A última coisa que eu queria era tempo livre… acho que você pensa o mesmo que eu." Aloy não escondeu sua insatisfação com a falta de atividades, bufando ao proferir aquelas palavras. E Talanah tinha exatamente o que precisavam: uma ideia.

 

"Você tem razão, e é por isso que nós vamos caçar agora."

 

Mais uma vez Aloy se viu surpresa. Era comum escutar que uma Águia que caça sem seu Tordo teria azar em suas caçadas seguintes e, crescendo em meio aos Nora, Aloy estava acostumada com superstições. Os gracejos do destino porém ainda não haviam permitido que ambas praticassem uma caça em conjunto, excluindo claro a derrubada do Tirânico Mandíbula algumas semanas antes.

 

Nas circunstâncias atuais, a escolha entre uma boa e velha caça e a quietude era óbvia.

 

"Seria ótimo!" Logo após falar, seu sorriso desmoronou, com a decepção tomando seu lugar. "Droga… Mas eu não posso demorar muito, justamente hoje…"

 

A expressão imediata de confusão no rosto da Águia Solar durou tão pouco quanto o sorriso de Aloy, entendendo o que a Nora quis dizer. "Oh, então é hoje… Céus, Aloy. Ainda não entendo por que não foi ao palácio falar com Avad de uma vez ao invés de toda essa burocracia com o Marad… Afinal vocês dois são… São..."

 

"Não vou dizer que não queira...mas você sabe que não seria justo. Depois de tanta destruição, muitos precisam dele mais que eu… Estou só seguindo a fila de audiências"

 

"É, no fim das contas, você está certa…" Talanah concordou enquanto entravam no grande elevador, ouvindo o som das engrenagens e sentindo o contrapeso iniciar a descida. "Na sua posição, muitos tirariam vantagem. Acho que a convivência com o Ahsis me deixou mal acostumada com a justiça."

 

Aloy não segurou uma leve risada, ficando quieta em seguida porém. Mais estranha que a quietude da moça mostrou-se a tentativa de quebrar o gelo por parte de Talanah, sem muito sucesso. Irredutível, e distante. E assim permaneceu da descida do elevador, através do movimentado mercado, até a saída da cidade com as duas atravessando a ponte de madeira sob o rio. Estavam agora nos campos externos além dos muros da capital, onde diversos Galopes pastavam. A mais velha ficou para trás uma dúzia de passos, sabendo exatamente que a próxima tarefa era a especialidade de Aloy, que por sua vez se esgueirou através da mata alta e, com passos suaves, se aproximou do despreocupado Galope longe de seu rebanho. Com a lança virada para o lado oposto a lâmina, cuidadosamente acoplou a peça do Corruptor a parte posterior da máquina, a convertendo em poucos segundos de espera. Agora seu aliado, o Galope apenas relinchou em resposta enquanto Aloy subia em suas costas, buscando Talanah logo em seguida.

 

"Certo domadora, faça mais da sua mágica" Talanah brincou, observando Aloy acionar o triangular dispositivo em seu ouvido.

 

"Tem um rebanho de Cortadores subindo o rio, sete ou nove deles, isso dá…"

 

"25 tanques se estivermos em um dia bom, vá em frente"

 

"E estou indo bem?" Uma clara brincadeira de Aloy visto que converter uma máquina e seguir rastros não era exatamente impressionante.

 

"É o que veremos, quem sabe você só é boa nas coisas difíceis", disse a Águia no mesmo tom.

 

De um lado o sorriso, do outro…

 

"O que um Tordo faz exatamente…?"

 

Talanah hesitou por alguns momentos. A pergunta era relativamente simples mas, tratando-se de Aloy, parou para pensar se era um resultado de suas próprias introspecções ou apenas um mero questionamento.

 

"Acompanha sua Águia, aprende com ela, aceita contratos, cresce na ordem. Esse tipo de coisa."

 

"Bem… E depois?"

 

Tiro e queda. Talvez ela estivesse certa em pensar sobre a origem do questionamento abrupto. Aloy definitivamente estava com sua mente em lugares não tão habituais, pelo menos levando em conta o tanto que Talanah a conhecia de fato. Seu Torto era muitas coisas, dentre elas não constava ser um livro aberto.

 

"Esquece, é idiota." Aloy interrompeu seus próprios devaneios e o galopar da máquina, apontando para o rebanho de Cortadores realizando suas pacatas tarefas. Mesmo querendo saber mais de seu prospecto futuro, não era hora de insistir no assunto, e ambas desceram do Galope como se concordassem mentalmente. 

 

O vasto campo ao leste de Meridiana se abriu aos olhos das duas, Talanah finalmente vestindo seu elmo e esgueirando-se através da mata alta sem perder tempo. O plano era simples, a progressão basilar de uma caçada: armar armadilhas explosivas em linha reta e guiar as máquinas para elas usando disparos de fogo. Conhecendo os passos como conheciam a palma de suas mãos, ambas dividiram suas tarefas. Aloy cuidadosamente posicionou as cordas explosivas usando a armadilheira em uma linha reta que subia rente ao rio. A Águia por sua vez tratou de acender as chamas nas pontas de flecha, aguardando o momento correto. 

 

Voltando à mata alta, ambas concordaram em dar início ao plano, mirando as flechas incendiadas e disparando em lados opostos do rebanho. Assustados, os Cortadores fizeram exatamente como sua programação lhes mandava, correndo na direção oposta às chamas e previsivelmente na direção das armadilhas. As explosões foram focadas e poderosas, derrubando todas exceto uma única máquina, salva pela falta de uma última corda explosiva. Correu subindo o rio e parando perto de um foco de floresta. 

 

"Oito de nove, eu diria que foi um sucesso" Talanah comemorou, porém Aloy ainda mantinha seu olhar determinado.

 

"Bem, eu concordo, mas não tem por que não pegar aquele último. Vamos." Aloy não deixava as coisas pela metade, sejam os mistérios no fundo da terra ou uma caçada matinal. Seu movimento através da mata era imperativo, prestando atenção nos movimentos da máquina solitária, essa com os olhos amarelos em alerta após a emboscada. Olhando de um lado para o outro, parecia saber que alguém lhe observava, e aguardava qualquer som ou vulto para atacar, agora que se via sem uma rota de fuga. A Nora responsável pela caça, porém, já havia feito essa mesma rotina centenas de vezes, uma única máquina cercada por água de um lado e uma mata traiçoeira do outro, o cenário perfeito: bastava empunhar a lança, manter o perfil baixo, se mover devagar e abater a máquina. A máquina com os olhos amarelos, alerta. A máquina cujo cada centímetro de engenharia havia sido pensado para a máxima eficiência e capacidade de defesa. 

 

Talanah, que estava atrás da mesma grande árvore esperando o momento certo, percebeu que nada dos básicos de uma caçada estava ocorrendo. Aloy não mantinha o perfil baixo, e, sim, estava de pé. Lentamente saindo da cobertura e olhando diretamente para o Cortador. Era possível ver o brilho em cor amarela refletido dos olhos da tordo.

 

"Ele está te vendo, ainda não." A Águia sussurrou prontamente. Era normal a ocorrência de certos deslizes até mesmo para caçadoras experientes como Aloy, nenhum erro era exatamente terminal nesse estágio de uma caçada. O que não era normal, porém, era o olhar da tordo.

 

A geralmente focada moça ruiva encontrava-se em um transe inexplicável, como se a verdade universal e a resposta para todos os mistérios da vida estivessem estampados nos olhos daquele Cortador. Se Talanah havia dito algo ou não era incerto, boa parte de sua consciência adoraria simplesmente voltar a si e buscar cobertura mais uma vez. Irrelevante. A maior parte queria alguma outra coisa, intangível, metafísico. Após alguns segundos de confusão, o Cortador finalmente identificou-a como uma ameaça e, em uma sincronia impossível de explicar, Aloy abriu um sorriso orgulhoso ao passo que os olhos da máquina se tornaram vermelhos. Sem o atraso de uma forma de vida orgânica, não houve pausa entre a detecção do perigo e o avanço mortal à frente, usando suas galhadas cortantes. 

 

"Pra trás!" Talanah disse em vão, pois Aloy estava em outra dimensão agora. Apenas ela e a máquina. Percebendo o perigo, a Águia preparou suas flechas e mirou nas pernas da máquina, momentaneamente entrando no mesmo caminho mortal de seu ataque. A máquina hesitou com os disparos mas não caiu, ainda prosseguindo com as galhadas posicionadas à frente. Em um último momento, a última janela possível para uma decisão, Talanah se viu no chão à esquerda, empurrada por uma Aloy já em rolamento, desviando com destreza do caminho e com o arco já retesado em mãos. Logo quando se viu ajoelhada na posição certa - a máquina acertando apenas o ar e agora vulnerável - a flecha foi disparada com precisão nos cabos musculares posteriores, colapsando-a no chão. Aloy, então, correu agora com a lança em mãos, pulou em suas costas e fincou a lâmina profundamente em seu corpo, causando danos terminais e enfim desativando o Cortador.

 

"Agora sim nós terminamos" 

 

Era uma voz diferente que saia da boca de Aloy. Uma voz que Talanah ouviu quando se conheceram, quando cassaram o Tirânico, quando estavam em seu momento derradeiro na batalha de Meridiana. Uma voz viva, satisfeita, orgulhosa, ecoando das paredes do palácio as montanhas da Mãe-de-Todos. A Águia-Solar deveria repreendê-la, dizer que foi perigoso, um risco desnecessário, um sermão que a própria já havia escutado algumas vezes. A visão da jovem com os cabelos esvoaçantes, o sorriso no rosto e uma máquina abatida aos seus pés não permitiria isso. Apenas observou, a visão que gostaria de ter visto assim que a garota saiu de sua casa. Talanah havia tomado sua decisão. 

 

"Vamos coletar esses tanques de flama e voltar. Você tem um compromisso."

 

No caminho de volta, apenas perturbado pelo som da bolsa cheia de tanques e outras peças arrastando no chão, o sol já fazia seu caminho para o ponto mais alto do céu. A cidade de Meridiana ficava ainda mais bonita quando o símbolo de suas crenças fazia a luz chover dessa posição, iluminando cada pedaço de cada construção.

 

"Belo trabalho lá fora, Aloy"

 

A Nora sorriu antes de responder: "Fizemos um bom trabalho. Eu não cacei sozinha."

 

"Você com certeza não viu o mesmo que eu. Estava tentando me impressionar?"

 

"Talvez eu quisesse me impressionar… Acho que não posso ficar longe de máquinas tanto tempo assim"

 

As duas riram da situação. Uma caçada sem grandes compromissos após tantas tragédias e batalhas. Isso para Talanah. Para Aloy era sinal de algo mais, algo que não conseguia descrever e nem perceber ainda, mas que deveria ser enfrentado cedo ou tarde.

 

Havia uma última coisa a fazer, porém.

 

"Então você vai partir."

 

Aloy havia comentado vagamente sobre suas intenções alguns dias antes, durante os esforços de reconstrução da Ordem dos Caçadores. E mesmo agora prestes a ir, não sabia muito bem como explicar. Apenas assentiu com a cabeça.

 

"Olha, as pessoas não costumam voltar de lá… Mas se você quer ir, deve ser algo importante. E se tem alguém que pode encarar aquelas terras é você."

 

Aloy não esperava ficar tão feliz e orgulhosa por um elogio. Mesmo para alguém que raramente temia algo, o fato de um reino inteiro decretar toda uma região como proibida era com certeza o suficiente para levantar algumas preocupações. A vontade de fechar pontas soltas porém superava esses medos por uma margem considerável.

 

"É só algo que eu preciso fazer. Vou voltar em breve."

 

"Bem... Talvez tenha uma surpresa te esperando quando voltar."

 

"E não posso nem espiar?"

 

"Digamos que não dá pra ver com os olhos." 

 

As duas riram juntas uma última vez, antes de Aloy enfim se pôr no caminho para o palácio de Meridiana. Não antes, porém, de se despedir:

 

"Até logo, Talanah."

 

"Se cuide lá fora, Aloy! Você vai ficar bem popular quando voltar."

 

Atrair atenções, até agora, não havia sido muito positivo; o Eclipse a caçando, os Nora a adorando, os habitantes de Meridiana a ovacionando. Era demais, e não compatível com o que Aloy viveu durante toda a sua vida. Agora era tarde demais. Ninguém traria aqueles 18 anos de volta e cabia a ela lidar com as consequências disso.

 

Mesmo sem saber como.

 

O Palácio de Meridiana

 

"Está cansado, Vossa Luminescência?" A voz de Marad Inocente ecoou pelo pátio relativamente quieto, apesar do número considerável de pessoas e suas requisições. Consequência da natureza sagrada do Palácio do Sol, nenhuma voz soava alto sem ser autorizada.

 

"Estou apenas fazendo uma pausa. Não é o trabalho mais interessante, mas é necessário." Avad respondeu, tomando um gole d'água a partir de seu cálice logo depois. 

 

"Bem, se estiver pronto para continuar, imagino que irá gostar da próxima audiência."

 

"Hum. E quem seria?"

 

Sorrindo para escadaria que dava acesso ao pátio, e movendo sua mão como indicação, Marad anunciou:

 

"Aloy, dos Nora. A salvadora de Meridiana."

 

E assim a garota subiu as escadas, sorrindo ao ver Avad.

 

"Apenas Aloy já está bom, Marad. Obrigada."

 

"Ora como quiser, senhorita. Sinta-se à vontade. Estávamos mesmo lhe aguardando."

 

Ficando a uma relativa distância dos dois, o Rei-Sol sentado em seu trono e Marad logo ao seu lado, Aloy não queria perder muito tempo.

 

"Serei breve. Tenho um pedido a fazer."

 

"Sabe que estou em dívida eterna com você, Aloy. Peça o que precisar."

 

Tomando uma certa coragem, ela enfim disse:

 

"Eu preciso ir ao Oeste Proibido, tem alguém que preciso encontrar. O acesso mais fácil é pelo portão em Pôr do Sol, então preciso que me dê o aval."

 

Avad e Marad se olharam imediatamente, como se buscassem um no outro a resposta para o pedido inusitado da caçadora e em seguida olharam para Aloy. Sua expressão estava séria, e o Rei Sol não conseguia lembrar da última vez que ela havia feito uma piada em sua presença. Era de fato um pedido sério.

 

"Certo, eu disse o que precisar mas...acho que achamos uma exceção. O Sexto Rei-Sol…"

 

"Irid, comandou quatro expedições para o Oeste para seguir o sol, ele e seus homens nunca mais foram vistos. Seu irmão Basadid declarou as terras além de Pôr do Sol como Proibidas." Aloy se sentiu no direito de interromper o sermão, o que ela precisava saber já estava em sua cabeça. Marad, principalmente, se espantou com a precisão das informações.

 

"Fiz meu dever de casa… E estou ciente dos perigos. Mas eu realmente preciso ir."

 

"Diga-me Aloy, quem você conhece que está além do território Carja? Certamente devo conhecer também, ou pelo menos alguém da corte."

 

E enfim a pergunta. Desde quando decidiu falar com Avad sobre sua jornada, seu maior medo era justamente ter que responder quem era a pessoa que buscava além do Solar. Teve algumas ideias, entretanto: alguém valioso para os Carja, para a ordem dos caçadores, alguém em perigo, algo relacionado às máquinas, até mesmo uma simples expedição como tantos outros tentaram. Temia, porém, que nenhum desses motivos fosse convincente o suficiente, e tendo em vista o fácil acesso que o portão de Pôr do Sol daria a ela, era necessário convencê-lo. 

 

"Minha mãe."

 

Buscou em seu íntimo então uma meia verdade. Pessoal o suficiente para um apelo mas vaga o suficiente para não ter que dar satisfações. Avad certamente se via em uma sinuca assim que ouviu a declaração de Aloy. Sabia, não em detalhes, do fato da Nora não ter uma mãe desde que nasceu, e de seu exílio em meio a tribo justamente por esse motivo. Lembrando das tantas tantas mães, filhos, pais e amigos sofrendo com os Ataques Rubros e a batalha de dias atrás, seu coração pulou algumas batidas. Aloy tinha um motivo nobre para se aventurar em terras tão perigosas. Não queria, porém, arriscar alguém tão valioso, não ainda.

 

"Aloy, devo pensar na segurança de alguém que fez tanto por mim e pelo povo Carja. Proponho um intermediário, alguém de minha total confiança para buscar sua mãe. Erend e a Vanguarda por exemplo? Seus homens são fortes e…"

 

"Escute, Avad." Dando passos para frente, estando agora no mesmo nível do Rei-Sol, sua falta de decoro havia sido totalmente proposital. Aloy estava cansada de argumentar e queria agora deixar claras suas intenções.

 

"Eu não sou cidadã Carja. Não estou lhe pedindo permissão, irei com ou sem sua benção. O portão não é o único acesso ao Oeste Proibido, e se eu tive a boa vontade de vir aqui lhe avisar, é por que confio que me entende. Estou errada?"

 

O rei-sol, em situações normais, ponderaria por alguns minutos, talvez junto de Marad, ou outros conselheiros. Aloy não era uma situação normal todavia, era alguém que havia mudado toda a história do Solar Carja com suas ações. Não teria o luxo de ponderar agora, e nem mesmo de argumentar, dentro de si sabia que a moça estava correta em seu raciocínio.

 

"Marad, convoque a Vanguarda. Iremos amanhã, ao amanhecer, acompanhar Aloy até Pôr do Sol e abrir o grande portão." 

 

"Certamente, Vossa Luminescência." O conselheiro se retirou prontamente para cumprir a ordem, saudando Aloy com a cabeça. A garota por sua vez abriu um sorriso para seu amigo, mais uma vez a ajudando.

 

"Obrigada, Avad."

 

"Minha confiança em você supera o medo de que se machuque. E você tem algo importante a fazer."

 

"Eu… Eu nem sei se ela está viva, talvez só esteja atrás de minha origem" Uma mentira, porque Aloy sabia que Elisabet já havia partido há mais de mil anos. Havia verdade, porém, na outra metade da sentença, tendo em vista as recentes descobertas da moça. Aquela que deu a vida uma segunda chance, e deu a chance da vida para Aloy, morreu antes de ver os resultados de seu árduo trabalho. Seu dever como legado vivo da Doutora Elisabet Sobeck era prestar respeito em seu local de descanso. 

 

"Assim como fiz com Rost", ela repetia em sua mente. 


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Notas finais do capítulo

Rumo ao Oeste Proibido! Lugar que vamos todos explorar quando o próximo jogo lançar. Estão ansiosos? Eu estou, bastante! Lembro de ter chorado quando o trailer foi lançado xP. E o que acharam do capitulo? Muito rápido? Muito lento? Seja lá o que for eu quero MUITO ouvir! Cada crítica vai valer ouro pra mim, podem apostar. Agradeço novamente a minha irmã pelo apoio imenso que ela tem me dado! Vamos ver o que aguarda a Aloy no Oeste em breve, até lá, muito obrigado pela leitura! "...and I will be ready!"



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