Immortals: O Livro da Magia escrita por Ariri


Capítulo 8
Espelho de Ojesed


Notas iniciais do capítulo

Confesso que sempre fico com lágrimas nos olhos nessa parte.
Vejo vocês lá embaixo
Boa leitura!



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Os dias voltaram a passar rapidamente.

Assim que voltou ao dormitório, Maxine colocou a foto da mãe no relicário e ao fechá-lo em seu pescoço, sentiu um estranho arrepio percorrer seu corpo e o local onde ele tocava sua pele, esquentou. Ela achou curioso, mas logo se acostumou àquela sensação e não o tirou mais, satisfeita com o presente mais belo que já tinha recebido.

Ela foi dormir na véspera de natal, finalmente satisfeita com sua decisão de ficar no castelo, pois estava criando as melhores lembranças de sua vida, ainda mais feliz ao ser surpreendida no dia seguinte; acordou esperando um único presente que sempre recebia das Irmãs do Orfanato, mas além dele, encontrou também uma variedade deles.

― Olha bebê. – Max disse para Nyx, deitado de barriga para cima na cama dela, aproveitando o calor para dormir mais um pouco – Nós ganhamos presentes!

Max pulou da cama para o chão, do lado da pilha de presentes e começou a abri-los, um por um. O primeiro embrulho tinha as estampas de sinos e anjos, ela facilmente identificou como enviado das Irmãs, e ao abri-lo, eles se desmancharam em mais de um pacote.

“Feliz aniversário Max, você disse que aí é muito frio, então fizemos especialmente para você e para a fera que você chama de gato” Era a letra de Irmã Nora, e pelo fizemos, ela entendeu na mesma hora que apenas ela tinha feito. Era um cachecol tricotado em verde e prata, e um gorro no mesmo estilo. Ela prontamente os colocou, animada, e desembrulhou os petiscos que a Irmã também havia mandado para Nyx, o qual sentiu o cheiro e imediatamente acordou, pulando da cama para o colo dela para pedir pela comida.

Maxine deu o primeiro dos biscoitos ao gato e abriu o segundo embrulho, menor, com a letra de Hermione. “Vi esse livro e pensei em você”. Um livro de fantasia novo, ela deslacrou o livro e o cheirou, amava cheiro de livro novo. O pacote seguinte estava envolto em papel pardo, com um cartão simples de Theo: “Feliz aniversário E feliz natal. Nott”; Era um boné das Harpias – time de quadribol que a garota conheceu e se apaixonou por ser composto exclusivamente por garotas – e sapos de chocolate. Em dúvida se usava o boné ou o gorro, pôs o boné por cima do gorro, alegre pelos dois.

Draco também enviou presentes, um diagrama de quadribol, interativo e doces de abóbora caseiros, acompanhados do cartão “Depois não diga que nunca te dei nada”. Ela riu alto, e Nyx resmungou, esticando-se na perna dela. Só mesmo Draco para escrever uma coisa daquelas. Daphne não sabia que era seu aniversário, portanto mandou apenas um bolo de caldeirão bem recheado, de natal, algo que fez Maxine se sentir muito bem, pois não esperava nada da loira.

Sua maior surpresa veio dos professores, Minerva e Snape. A primeira entregou a ela mais presentes; dois livros – um de transfiguração e um de contos de Beedle, o bardo – e uma roupinha para Nyx passar o inverno; de acordo com a professora, o gato dela tinha a péssima mania de vaguear pelos terrenos do castelo além do horário permitido. Snape deu a ela um caldeirão novo – de maior qualidade do que o dela, usado – e uma balança nova, bem boa, sem nenhum bilhete.

Max se levantou em um pulo, vestiu a roupa e subiu as escadas com uma parte dos presentes. Theo já estava ali em cima, elegante em seu suéter verde esmeralda, e sorriu ao vê-la aparecer na porta dos dormitórios. Max jogou os presentes no sofá e correu para abraçar o amigo, que constrangido, se distanciou.

― Obrigada.

― Não precisava agradecer. Vamos descer? Você levantou tarde.

― É natal. Tenho o direito de levantar o quão tarde eu quiser.

― Você não diria isso se tivesse perdido o almoço.

― Eu não perdi o almoço, perdi?! – Perguntou em pânico e Theo riu.

― Não, não perdeu.

Maxine deu um tapa nas costas de Theo. Os dois subiram até o Grande Salão. Ela nunca viu um almoço de natal como aquele, mesmo no Orfanato onde eram tantas. Cem perus gordos assados, montanhas de batatas assadas e cozidas, travessas de salsichas, terrinas de ervilhas passadas na manteiga, molheiras com uva-do-monte em molho espesso e bem temperado – e, a pequenos intervalos sobre a mesa, pilhas de bombinhas de bruxo.

Max se sentou ao lado de Theo e os dois brincaram entre si com as bombinhas. Na mesa principal, Dumbledore tinha trocado o chapéu de bruxo por um toucado florido e ria alegremente de uma piada que o Prof. Flitwick acabara de ler para ele; Hagrid ficava cada vez mais vermelho à medida que pedia mais vinho e acabou beijando a bochecha da Profa. Minerva, a qual, rira e corara, o chapéu de bruxa enviesado na cabeça.

Quando o almoço terminou, Max quase deitou no chão e pediu para que Theo a rolasse para as masmorras, mas acabou por pular de cavalinhos nas costas do menino, que em meio a gargalhadas, saiu galopando com ela pelo castelo, para a diversão de Minerva e o diretor. Os dois correram pelo terreno do colégio, brincando de pega, e a menina conseguiu contrabandear duas vassouras para brincarem em voo baixo. O frio era terrível, cortava suas bochechas, mas estava tão feliz e animada que nem se importou. Só quando fugiram de Filch, para as masmorras, que o frio os pegou.

Chegaram tremendo ao Salão Comunal, onde deitaram-se em frente à lareira e comeram juntos os doces que ganharam de natal. Max começou a montar sua coleção de figurinhas de sapos de chocolate e soltou um muxoxo quando seu sapo saiu pulando pela sala, desesperado por não encontrar uma saída. Ela pegou o diagrama em formato de estádio e começou a brincar com ele e Theo, movendo seus jogadores de forma aleatória. Os dois lancharam juntos, e outros três alunos se juntaram a eles para o lanche. Enfim cansados e empanturrados, deitaram lado no tapete e leram juntos. Com a noite chegando, ela deitou no peito de Theo em busca de conforto, e pouco a pouco o sono foi chegando, com a sensação de que faziam cafuné em sua cabeça...

Max acabou adormecendo, e acordou sem saber que horas eram, enrolada em uma grossa manta verde, travesseiro sob a cabeça, ainda de frente a lareira. Ela se sentou confusa, coçando os olhos e sobre seu livro ao lado, estava um papel diferente. Era uma foto, uma multidão de pessoas, e bem entre elas, com um sorriso de orelha a orelha, estava a mãe de Max. Virando o verso da foto, encontrou escrito “A Ordem da Fênix, espero que encontre quem deseja aí”; Ela sorriu, abraçou a foto e fechou os olhos, agradecendo aos deuses por aquela benção.

― Olhe Nyx, é a mamãe! – Maxine apontou a foto para o gato que dormia ao seu lado, mas ele já não estava mais ali. De pé, Max procurou o felino pela sala, e o viu já atravessando a passagem, para fora da Masmorra. – Nyx! Está tarde!

Praguejando alto, Max seguiu atrás do gato, agasalhando-se com a manta verde.

Indiferente aos seus chamados, Nyx seguiu pelos corredores do Castelo, próximo o suficiente para ser visto, mas rápido o bastante para não ser pego. Maxine mais de uma vez xingou a si mesma por ter tido a estúpida ideia de seguir o gato, quando era muito mais do que óbvio que ele saberia se virar, ao contrário dela, que estremecia dos pés à cabeça com o frio que se agravava por descer cada vez mais.

― Nyx, por favor, onde está indo?!

O gato miou em resposta e continuou a leva-la para baixo, até parar por fim, ao lado de uma armadura alta, grande e refinada. Ele ficou cutucando uma porta na parede e quando Max enfim se aproximou, ele miou alto indicando a porta com a cabeça. Levemente ciente de que seu gato estranho queria que ela entrasse ali, Max abriu a porta velha e entrou na sala, seguida por Nyx.

 Lumus. – Ela sussurrou com a voz fraca e a ponta de sua varinha se acendeu – Onde me trouxe?

Ela olhou ao redor, para a câmara escura ao seu redor. Parecia uma sala de aula fechada. Os vultos escuros das mesas e cadeiras se amontoavam contra as paredes e havia uma cesta de papéis virada – mas escorada na parede à sua frente havia uma coisa que não parecia pertencer ao lugar, alguma coisa que parecia que alguém acabara de pôr ali para tirá-la do caminho.

Era um magnífico espelho, da altura do teto, com uma moldura de talha dourada, aprumado sobre dois pés em garra. Havia uma inscrição entalhada no alto: Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn.

Max se aproximou, encantada. Nyx já estava encostado no Espelho, sentado de frente a ele e encarando Max de forma penetrante. Ela não ligou, pois ao chegar perto o suficiente do reflexo para conseguir ver, seu grito ecoou pela sala vazia.

Ela se virou, abismada, mas estava sozinha na sala, com a companhia apenas de Nyx, que continuava a observá-la, silencioso. Com a respiração difícil, Max voltou para o espelho, com medo crescente.

Lá estava ela, refletida, parecendo branca e assustada, e lá estavam, refletidos às suas costas, várias outras pessoas. Maxine espiou por cima do ombro – mas continuava a não haver ninguém mais. Ou será que eram todos invisíveis também? Será que estava de fato em um aposento cheio de gente invisível e o truque desse espelho é que ele refletia tudo, invisível ou não?

Olhou para o espelho outra vez. Uma mulher parada logo atrás de sua imagem estava feliz e lhe acenava com um sorriso que Max já havia memorizado. Ela esticou a mão e sentiu o ar atrás dele. Se ela estivesse realmente ali, a tocaria, pois suas imagens estavam muito próximas, mas Maxine pegou apenas ar – sua mãe e os outros só existiam no espelho.

Marlene era tão linda quanto a foto mostrava.

Seu cabelo, idêntico ao de Max, caía por ondas por suas costas, e ao seu redor estavam principalmente homens, extremamente parecidos com ela, o mesmo tom castanho dos olhos e das madeixas. Todos eles pareciam animados em vê-la, principalmente um casal mais velho atrás dela; ambos sorriam amorosamente para Max, e era da senhora loira que vinha os olhos amendoados herdados por todos os homens ao redor, e por Marlene. Enquanto os fios mais escuros vinham do bruxo mais velho de olhar bondoso.

Mas a atenção de Max foi roubada pelo homem ao lado de Marlene, o homem que tinha os olhos cinzentos iguais ao de Maxine e cabelos negros lustrosos, que praticamente brilhavam como um céu estrelado. Ele sorria de canto, e acenava com a cabeça para ela. Max deu um passo à frente, tocando o espelho com dor.

― Pai.

Ele sorriu tristemente, e acenou para Max, junto aos outros. Ela retribuiu o olhar, carente, as mãos comprimindo o espelho como se esperasse entrar por dentro dele e alcançá-los. Sentiu uma dor muito forte no peito, em que se misturavam a alegria e uma terrível tristeza.

Quanto tempo esteve parada ali, ela não sabia. As imagens não esmaeceram e Max continuou mirando-as até que um ruído distante a trouxe de volta ao presente. Não podia ficar ali, tinha de encontrar o caminho de volta para a cama. Com esforço, desviou os olhos do rosto de seus pais, sussurrando “Eu volto” e saiu depressa do aposento.

Aquilo não era real, ela sabia muito bem que não era, mas não perderia a chance de estar com sua família, pela primeira vez na vida.

 

― Não sei não, Max. – Theo murmurou entre uma mordida e outra de seu sanduíche – Seus pais estão mortos.

Eles estavam no almoço, onde Maxine contava em sussurros ao amigo sobre o que tinha visto naquela sala escura. Theo estava cético o tempo inteiro, e continuava mantendo a razão quando tudo que Max sentia era emoção diante do que havia visto.

― Eu sei disso. – Maxine retrucou, raspando a unha na mesa vazia – Mas Theo...

― Deixe isso para lá. – Theo continuou, mantendo os olhos em Max – Você deve ter sonhado com a foto e com a carta e acabou vendo isso.

― Theo, eu nunca vi meu pai, não faço ideia de como ele é, como poderia sonhar com ele?

― Não sei. Mas não acho que isso seja real. – Maxine não contestou o amigo, pois também não achava possível ter visto sua família daquela forma – Deixe isso pra lá, deve ter sido um sonho, só isso.

Max não respondeu, deu de ombros e continuou seu almoço. Ela tentou tirar o espelho da cabeça durante todo o dia, mas ao deitar para dormir à noite, não conseguiu fingir que não era real.

Com Nyx desbravando o caminho na sua frente, Max seguiu com passos leves até o espelho. Ela estava entreaberta, então sem fazer muito barulho, Maxine terminou de entrar e a fechou com cuidado. Foi só se aproximar do espelho que os viu novamente, ainda mais felizes do que a noite anterior, ela se sentou na frente deles e apenas ficou ali, tocando sua mãe, como se pudesse senti-la através do espelho. Acabou adormecendo ali, colada na moldura, abraçada ao próprio corpo.

Na noite seguinte, ela repetiu a missão, mais desolada do que entusiasmada, mas sem conseguir resistir ao desejo de vê-los novamente. Nyx fazia seu trabalho novamente, cuidando para que Maxine tivesse o caminho livre, e quando entrou na sala, ronronou alto.

Com surpresa, Maxine encontrou Harry Potter sentado na frente do espelho.

Tão chocado quanto ela.

Harry se levantou em um pulo.

― Eu...

Maxine ficou parada, constrangida, apertando a manta que a envolvia enquanto Nyx ronronava ao redor de Harry, esfregando-se em suas pernas, pedindo por atenção. Mas os olhos verdes de Harry estavam presos em Max, que por sua vez, também não tirava os olhos dele. O que ele estava fazendo aqui?

― Está tarde. – Ela disse simplesmente, como uma idiota.

― É. – Harry disse baixinho – Deveríamos estar dormindo.

― Sim. – Max confirmou, sem saber como se mover, observando a forma com que Harry olhava repetidamente para o espelho, com medo de se afastar dele – Veio ver o Espelho? Eu também.

Surpreso, Harry abriu a boca, sem nada dizer. Maxine sorriu, encolhendo os ombros, e se aproximou dele, a passos cautelosos. Ela parou na frente do espelho, ao lado de Harry, e viu o reflexo dos dois ali, viu sua família onde estava na noite anterior, sorrindo, felizes.

― O que você vê? – Harry perguntou, após alguns segundos imersivo.

Max se sentou no chão, e Harry a seguiu, abraçando as pernas. Ela jogou a manta ao redor dele também, e o menino agradeceu, ambos aninhados um no outro, olhando para seus reflexos no espelho.

― Minha mãe... – ela disse com um sorriso triste, percebendo o olhar surpreso de Harry para ela – Acho que o resto da minha família também.

― Você não sabe? – Maxine balançou a cabeça em negação, sem conseguir tirar os olhos da mulher que sorria com candura para Harry.

― E você?

― Meus pais, minha família. – Maxine olhou para o menino, que sorria para ela.

― Acha que o Espelho mostra nossa família?

― Não. – Harry negou com um suspiro – Rony não viu nada disso, os meus ou os dele, achou até que fosse uma visão do futuro.

O ânimo de Max esmoreceu, e com dor, ela voltou a olhar para o espelho. Quer dizer que poderia não ser quem ela pensava, seu pai, seus avós, sua família...

― Como eles são? – Maxine perguntou a Harry, que sorriu antes de começar a falar.

A mãe dele tinha cabelo cor de acaju e olhos verdes, iguaizinhos aos dele. E seu pai, era com ele que se parecia, o cabelo idêntico. Max riu quando Harry contou dos joelhos ossudos do velho, que eram parecidos e brincou com isso, falando que deveriam ter encontrado algum tipo de cura. Harry perguntou a ela também, e Max descreveu o sorriso gentil de sua mãe, o olhar sempre triste de seu pai, a forma que aqueles que acreditava serem seus tios se pareciam, e como sua avó tinha uma única pintinha na maçã do rosto igual a dela. Um sinal.

Harry ruborizou ao dizer que achava a pinta bonita. E Max agradeceu com o beijo em sua bochecha.

Os dois perderam a hora ali, e quando Max despertou, horas depois, percebeu que Harry a havia escorado em seu colo, e descansando a cabeça no cabelo dela, a abraçou para dormirem ali. Com um sorriso sincero e largo, a menina sozinha com seu amigo no espelho sorriu de volta, e fechou os olhos novamente para dormir em paz.

Max não voltou na noite seguinte.

E quando no outro dia, Harry a puxou de lado e contou do encontro de Dumbledore e tudo que ele havia dito, que o espelho refletia os maiores desejos dos bruxos, ela apenas sorriu e o tranquilizou.

― Eu sei.

― Como você sabe?

Max deu de ombros, tocando o relicário em seu pescoço e balançando o corpo.

― Eu sempre quis uma bota de galocha, e quando olhava no espelho, eu estava com essa bota. – Harry olhou embasbacado para ela, e Max segurou sua mão com carinho.

― Não vai procurar ele mais?

― Não. Eu não preciso dele mais.

Eles não voltaram a tocar no assunto.

E ao ver Harry se distanciar mais uma vez dela, Maxine percebeu que talvez Harry não tenha entendido o que ela quis dizer.


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Notas finais do capítulo

Comentem, avaliem, digam o que se sentiram!
Beijos na bunda!
Até logo!



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