Race in Heels - Corrida em saltos escrita por badgalkel


Capítulo 19
Dix-huit




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800733/chapter/19

2 de Julho

Circuito Silverstone – Inglaterra

— Que porra Manen!

Max gira nos calcanhares a tempo de ver Eliza andar em sua direção com passadas firmes e uma expressão de fúria na face.

— Que merda foi aquela? – ela questiona quase derrubando o capacete da mão quando aponta simbolicamente para a pista atrás de si.

— Você me não me deu passagem, eu forcei o vácuo. – ele dá de ombros e cruza os braços.

As pessoas ao redor dos dois prestam atenção na conversa atentamente. Eles estavam nas margens das garagens e o carro da pilota vinha sendo trazido em cima de um guincho, com a lateral completamente destruída.

— Você não forçou um vácuo, você me pressionou contra a porra do guard rail! – ela esbraveja.

— Foi uma manobra agressiva, já devia estar acostumada com meu modo de direção. Se não quisesse ter escapado a zebra era só ter reduzido a porra da marcha. – ele diz com um sorriso cínico nos lábios.

— Não estamos na corrida, é o caralho de um treino livre, seu imbecil! - ela grunhe e esbarra forte no braço do piloto para continuar caminhando até o boxe da McDraguen.

Lá o seu carro com o número 13 arranhado é colocado em suspensão para os técnicos avaliarem o estrago.

— O treino classificatório é amanhã de manhã. – ela lamenta e se aproxima de Andy – Foi muito grave?

O homem coça a barba castanha no queixo e analisa a lateral do carro de longe. Os mecânicos já providenciavam a retirada das peças para avaliações mais apuradas.

— Aparentemente foi superficial. – Andy diz sorrindo de lado. – Vamos ter um pouco te trabalho, mas a maior prejudicada foi a lataria. Não se preocupe, vai estar pronto para amanhã.

Ela respira aliviada e entrega o capacete ao seu tio, que está a encarar Max fixamente com olhos raivosos.

— Esse cara... – ele diz entre dentes.

— Eu sei. – ela revira os olhos respirando fundo. – Ele consegue me tirar do sério.

Fábio dispersa o olhar do piloto e solta ar pelas ventas antes de se direcionar à sobrinha, preocupado: - Você está bem?

— Estou. Não foi nada demais. – ela diz sentando-se na banqueta de frente ao painel de controle da engenharia. – É só que... – ela tira as luvas das mãos, uma por vez – Já estamos na casa da escuderia, indiretamente há mais pressão nessa corrida que em qualquer outra. – ela dá de ombros – Há o dobro de fãs, de público e esse cara ainda fica...

— Ei, ei, ei. – Fábio a interrompe, chamando sua atenção. – É uma corrida como qualquer outra. Você só precisa se concentrar mais e não deixar ninguém tirar o seu foco. – ele se aproxima para falar mais baixo: - Por que, tem alguém te pressionando? Se tiver é só falar que eu preparo as minhas ferramentas de tortura.

— Não. - ela faz um careta e ri fraco – Eu só estou incomodada porque estamos na décima corrida e eu ainda não cheguei a um pódio. Estando aqui esse incômodo triplica.

Fábio sorri docemente e acaricia o ombro dela.

— Você sabe que não pode comparar a sua temporada na F2 com essa, certo? – ele questiona arqueando uma sobrancelha.

— Eu sei. – ela assente. – Mas, imaginei que a essa altura do campeonato já teria pego um segundo lugar, no mínimo um terceiro.

— Lizzie. – ele olha diretamente em seus olhos – O nível de dificuldade deste campeonato é o dobro do que estava acostumada. Estes aqui são os melhores carros, engenheiros e pilotos do mundo, incluindo você. – Fábio sorri – Você já chegou em quarto lugar umas duas vezes, como em quinto e o mais tardar em oitavo, e isso na Fórmula 1 são posições muito boas. Na classificação geral você está entre os cinco primeiros, ficando acima até do Weber, que já foi bicampeão mundial.

— Eu sei, mas...

— O Gonzáles só alcançou a vitória de uma corrida depois de competir cento e noventa corridas, sabia? – Fábio a interrompe e ela franze a testa, incerta.

— De onde tirou isso?

— Da página da Fórmula 1 que fala sobre algumas curiosidades. – o tio informa. – A primeira vitória dele foi ano passado e ele já tem dez anos de carreira.

— Ele é um piloto muito bom. – ela assente, refletindo.

— Muito bom. – Fábio concorda. – Assim como Noward, que também não alcançou o pódio na temporada de estreia e o Mike, que sequer chegou a pontuar ainda.

— O carro do Mike é uma droga, até ele concorda com isso. – ela diz e eles riem, descontraindo o clima. – Ele é muito bom para a Homes.

— Sim, mas a questão também é o nível da concorrência. – Fábio persiste. – Leva-se um tempo para pegar tanta experiência quanto os demais que já estão aqui. É um processo que todos têm que passar.

Ela suspira.

— Tem razão. – ela sorri fraco e abraça o tio de lado. – Obrigada por sempre me colocar nos trilhos. – Liza diz verdadeiramente – Você sempre diz que não tem vocação para ser pai, mas tem sido uma figura inspiradora desde sempre. Eu te amo e tenho muito orgulho do que nos tornamos.

 - Eita, ganhei uma declaração assim, de graça?

Liza ri.

— Eu estou tentando trabalhar mais esse negócio do Charlie de falar mais o que eu sinto pelas pessoas com quem me importo. – ela explica.

— Sendo assim, sempre ás ordens. – Ele bate continência. – Também te amo, pequena.

Eles se abraçam por alguns instantes e se afastam.

Como um furacão, Cris entra na garagem à passadas rápidas com o rosto vermelho. Ela passa os olhos por todo o ambiente e ao encontrar a cliente, segue em sua direção.

— Eita, - Liza diz à Fábio quando vê a loira vir ao seu encontro com um olhar psicótico – coisa boa não deve ser.

— Não vem com notícia ruim agora, não. – Fábio resmunga quando ela os alcança. – Eu acabei de colocar ela para cima.

Liza sorri.

— Sinto muito, mas isso é importante. – Cris declara e vira-se para Eliza, que murcha o sorriso do rosto. – Perdemos o caso contra a FIA.

A pilota sente o estômago gelar.

— O que? – ela indaga levantando-se da banqueta.

— Não. – Fábio cruza os braços e balança a cabeça em negativa – Isso é impossível. Os caras demitiram toda a gestão que estava envolvida com o esquema, praticamente se declararam culpados.

— O júri voltou atrás quando o Felipe se recusou a prestar o depoimento à nosso favor como única testemunha que tínhamos. Sem ele não temos provas além de especulações de Angél, René e toda a diretoria, o que não representam nada. – Cris revela e os dois suspiram surpresos. – Os advogados da FIA conseguiram contornar a situação e anularam o caso. – ela engole em seco – Segundo o júri, há casos mais agravantes para se tratar em um tribunal.

— O que? – Fábio indaga chocado. - Ela podia ter se machucado!

— Por que o Felipe deu para trás? – Liza indaga à Cris. – Ele não estava sob proteção judicial? Não tem como eles terem ameaçado ele de novo.

— Não, não acho que eles tenham o ameaçado. – Cris suspira. – Ele deixou o caso por livre e espontânea vontade. Nosso erro foi não ter feito um acordo benéfico para ele.

— Mas ele não tinha te prometido que seria testemunha?

— Sim, mas há pouco tempo saiu na mídia que ele vai ser um dos pilotos da Carlin Carsport na temporada que vem. – a loira fala – Contrato com uma construtora em ascensão, o garoto não quer estar envolvido em polêmicas.

Filho da puta!— Eliza bate na mesa, atraindo a atenção de seus mecânicos. – Como ele pôde?

— O moleque não é lá flor que se cheire, Lizzie. – Fábio diz cuidadosamente – Devíamos desconfiar que ele não cumpriria com a palavra só por estar se sentindo culpado.

— Mas e os outros, a gestão, o Afonso? – ela questiona. – Vão voltar normalmente, como se nada tivesse acontecido?

— A gestão antiga não vai voltar, ao menos para a FIA mostrar ao público que eliminou o mal pela raiz. Coisa que nós aqui sabemos que não é verdade. A podridão vem lá de cima, dos magnatas. – Cris diz – Já o Pessoa... Também não tínhamos provas contra ele então a superlicença dele não vai ser suspensa... – ela respira fundo – Teremos que torcer para que ele simplesmente amadureça.

— Não acredito. – ela ri inconformada. – Eu não acredito que eles conseguiram sair ilesos. – ela volta á empresária. – Não tínhamos outra testemunha?

Cris se aproxima para falar mais baixo, mesmo que os demais na garagem já tivessem voltado aos seus afazeres: - Tínhamos o Charlie. Mas envolver ele judicialmente num processo que tem o seu nome, poderia levar a FIA acreditar em vínculo entre...

— Não, claro. – ela a interrompe. – Envolver ele está completamente fora de questão.

O silêncio cobre o trio.

Cris olha copiosamente à Liza, vendo os olhos da cliente ficarem cada vez mais úmidos.

— Eu sinto muito, mon cherri. — ela diz sentida. – Eu fiz tudo que estava ao meu alcance...

Ela levanta a mão para interromper a mulher e assente com um sorriso tristonho no rosto.

— Não foi culpa sua, Cris. Obrigada por tudo o que fez. Eu só... – ela limpa a garganta, a voz fanha. – Me deem licença, por favor.

Dito isso ela sai rapidamente da garagem, com a visão embaçada e um nó na garganta.

(...)

Eliza está limpando o rosto quando sai do vestiário do autódromo, aquela fora a primeira porta aberta que ela havia encontrado para se fechar e liberar toda a sua frustração em lágrimas.

Não sabia quanto tempo havia passado ali uma vez que não estava com seu celular ou um relógio qualquer, mas considerou ser um longo período já que as luzes artificiais haviam sido ligadas e o céu ao lado de fora passava a adquirir a cor alaranjada.

Ela anda pelo corredor vazio. Quando passa pelo a primeira abertura lateral encontra Charlie que assim que a vê, caminha rapidamente ao seu encontro.

— Ei, você sumiu. – ele diz com a voz preocupada.

— Precisava de um tempo sozinha. – ela diz com a voz rouca.

O monegasco olha ao seu redor e ao checar que estavam sozinhos naquela encruzilhada de corredores, ele a toma em seus braços.

— Fábio me contou sobre o julgamento. – ele diz acariciando os cabelos da mulher – Eu sinto muito, ma belle.

— Eu estava tão confiante. – ela lamenta envolvendo os braços na cintura dele e afundado o rosto na curvatura de seu pescoço. – Já havíamos até comprovado que a punição que eles me deram havia sido injusta, a gestão foi demitida... – ela se interrompe num suspiro – Eu realmente pensei que iria ter justiça.

— Talvez eu possa ir até o tribunal e...

Ela balança a cabeça em negativa de imediato.

— Não. – ela afasta o rosto minimamente para olhar em seus olhos – Eu não deixaria você arriscar a sua vaga. Já falamos sobre isso. – seus olhos verdes tem a sombra de compaixão – Já foi. O caso foi anulado e arquivado, não temos mais o que fazer. O que me resta é aceitar. Eu só... – ela solta o ar pesado de dentro de seus pulmões – Não consigo ficar cem por cento tranquila e simplesmente seguir em frente. Esse constante medo de que a qualquer momento alguma coisa pode acontecer está cada vez mais difícil de ir embora.

Charlie a aperta ainda mais em seus braços e beija o topo de sua cabeça.

— Queria poder fazer isso passar. – o monegasco enuncia – Eu realmente queria poder evitar que você passasse por isso.

Os dois estavam em um momento tão íntimo e entrosado que sequer percebem que ao final do corredor a figura corpulenta de Max Vandemanen assistia a cena com o olhar perverso e sorriso maldoso nos lábios.

Ele percebe que ali tinha muito mais que uma simples amizade e sabia que poderia se aproveitar dessa informação preciosa.

 

(...)

4 de Julho

— Isso foi um pódio, Andy? – Liza indaga com a garganta seca, ainda com as mãos no volante e percorrendo o trajeto final após o show de fogos e algazarra em celebração depois que ela passara pela faixa quadriculada pela última vez.

“P3, porra. P3, garota!” – o engenheiro fala através do rádio. – “Parabéns, você mereceu. Que corrida!”.

Puta que o que pariu, garotos! – ela grita emocionada. – Porra! Nós conseguimos! Conseguimos!

“Parabéns, Lizzie!” – ela ouve a voz de Zach soar em seus ouvidos – “Foi uma corrida do caralho!” – ele vibra.

Yeeeeeeeeeeeeah! – ela comemora a plenos pulmões. – Parabéns rapazes, vocês foram incríveis!

“Primeiro pódio na Fórmula 1!” — Andy diz. – “Muito, muito, muito bom!”.

Eliza ainda está radiante quando desce do carro e é ovacionada por um público gigantesco. Diversas pessoas com cartazes e faixas com seu nome festejavam por ela.

Depois de um péssimo final de semana, com batidas e notícias desastrosas, ela não poderia estar mais que satisfeita com a sua conquista.

A sensação de subir o degrau no palco, em frente aquele mar de fãs do seu esporte do coração, não poderia ser descrito em palavras. Ela só tinha de aproveitar.

Ao soar a música tema Liza com um sorriso no rosto abre o champanhe e joga o líquido contra Houston, que havia chego em primeiro, e Daniel como segundo.

Eles gritam e se molham com sorrisos radiantes no rosto. Quando os jatos acabam eles se abraçam e acenam ao público.

Era uma imagem bonita de se ver.

Histórica.

A primeira mulher à alcançar um pódio na Fórmula 1.

Apesar de uma grande conquista, a sensação de dever cumprido ainda não estava completa, para isso ela teria que ganhar. E gastaria até a última gota do seu suor para tornar aquilo realidade.

Depois que é encerrada a apresentação e eles descem do palco, o trio entra nos bastidores, já se secando com toalhas e saldando suas equipes. Liza está a abraçar o parceiro de escuderia animadamente quando um pelotão da Rang Blue com Max à frente invade a sala pós-pódio.

Aquilo não podia significar boa coisa.

O rosto do holandês estava vermelho e ele parecia zangado, sequer esperou Orlando se afastar da pilota para esbravejar na direção dela: - Sua pilotinha de merda.

Liza automaticamente franze a testa e se vira em sua direção.

— O que está acontecendo aqui?

— Vencer trapaceando é fácil. – Max diz. – Aquela ultrapassagem na última curva foi completamente ilegal.

— Calma, Vandemanen. – Houston diz sério.

Liza ameniza o rosto, finalmente entendendo sobre o que o holandês falava.

— Você diz o drible que fiz em você e tomei a sua posição de terceiro lugar?

— Você me jogou contra a zebra! – ele esbraveja. – Meu carro rodou nas britas!

— Era só você ter reduzido a marcha. – ela repete a fala do piloto com um sorriso convencido o rosto. – Se fosse tão bom quanto fala, não teria rodado.

— Sua filha da... – ele fecha a mão e antes que pensasse em se aproximar da pilota é impedido pela própria equipe, enquanto os colegas da McDraguen e o próprio Orlando entram na frente de Liza de forma protetora.

— Tá maluco? – ela esbraveja incrédula por cima do ombro do parceiro – Você ia me bater?

Um suspiro audível de surpresa corre por cada um presente na sala.

— Não, eu não ia... – ele tenta se explicar, já mais retraído.

— Covarde! – ela o interrompe, apontando o dedo na cara dele e sendo barrada por Andy e Orlando de se aproximar mais. – Seu moleque mimado do caralho!

— Eu não ia bater nela! – o holandês esbraveja aos homens que ainda o seguravam. – Foi uma reação involuntária, eu ia socar o ar!

— Max, não faz isso cara. – seu engenheiro diz à ele. – Você perde a razão deste jeito.

— Mas eu não ia... – ele se interrompe, respirando fundo. – Foda-se. Eu nunca bateria nela.

De repente o ambiente está em combustão, uma tremenda falação de ambos os lados para discutir o acontecimento.

— Calma, Lizzie. – Orlando pede, a segurando pelos ombros.

Daniel que até então estava quieto, fato que era extremamente raro, comenta: - Ele vai dar uma de Manen de novo. – o australiano se vira para a pilota – Na temporada passada ele pediu a revisão em cinco corridas de toques mínimos, apenas um deles eram ilegais.

— Esse cara é um palhaço. – Liza xinga depois de respirar fundo e se controlar, afastando-se da mão de Andy que ainda estava em sua barriga e sendo amparada pelo parceiro.

Quando os ânimos se acalmam, a sala fica em silêncio.

— Me desculpem por isso, foi um mal entendido. Foi só o calor do momento, não vai se repetir – um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis apaziguadores, vestido com o uniforme da Rang Blue, diz. – Mas nós ainda queremos recorrer aos fiscais sobre aquela última ultrapassagem. Acreditamos que seja ilegal e, sendo assim, o pódio pertence ao Max.

— Chame o fiscal que quiser, Robertt. – Andy toma a frente. – Nós sabemos que não teve nada de ilegal naquela manobra. Foi puro jogo de cintura e maestria de uma pilota talentosa.

— Nicolas, por favor. – o engenheiro chefe da escuderia azul chama a atenção do supervisor da FIA, que simplesmente dá de ombros.

— Todas as manobras são analisadas em tempo ao pódio e essa última ultrapassagem em específico foi reanalisada algumas vezes por causar o escape de um carro da pista. – o homem diz. – Mas não há nada de ilegal ali, Robertt. A garota agiu dentro da regulamentação.

Andy se vira para Christian com a face satisfeita e cruza os braços.

— Mais alguma coisa?

O homem suspira e nega de cabeça baixa.

— Vê se controla o seu piloto. – Andy torna à falar para Robertt – Da próxima vez ele pode não ter a sorte de ser parado antes de fazer besteira. Agressão não causa só a expulsão do campeonato, se ele encostar um dedo nela vai para a prisão.

As explosões raivosas de Max já eram conhecidas de longa data pelo público da Fórmula 1. Muitos já presenciaram momentos em que o piloto perdera a calma e descontara em chutes nos muros ou pneus, socos no próprio carro e empurrões agressivos em colegas. Mas tudo fora levado como puro estrelismo e a fama de arrogante ficou estampada no rapaz.

No entanto agredir uma mulher estava fora de seus princípios e ele jamais sequer pensaria em fazer algo do tipo. E por fazer com que pensassem que ele fosse esse tipo de pessoa Max fica ainda mais irritado com Liza.

De semblante duro ele encarava a pilota. No entanto antes que ele pudesse falar qualquer coisa o pelotão da Rang Blue finalmente se retira, arrastando o piloto junto de si, e é quando Liza respira aliviada.

— Eu tinha plena certeza que não tinha feito nada de errado, mas como já tiraram isso de mim uma vez... – ela suspira. – O importante é que o troféu ainda é meu. – Liza sorri e ergue o monumento requintado em mãos.

A equipe celebra.

Mais tarde naquela mesma noite Liza está a comemorar em seu quarto de hotel na companhia do namorado. Eles haviam combinado de pedir comida nos aposentos e passariam a última noite em Baku da maneira mais romântica e depravada que poderiam, com direito a muito sexo, peças de roupas rasgadas e posições inusitadas.

Charlie havia acabado de chegar ao quarto e encontrou a mulher seminua, vestida apenas com um lingerie de renda preta, com ligas na perna, meia calça e saltos altos que ressaltavam o volume do seu bumbum brasileiro.

Délicieux. – ele diz rouco aproximando-se vagarosamente dela enquanto já despia de sua jaqueta e tirava a camisa por sua cabeça.

Liza sorri e se senta na cama atrás de si, esperando que o homem chegasse até ela e a deitasse por inteira na cama, ficando por cima de seu corpo.

— Estou tão orgulhoso. – ele diz sorridente – Soube que o Manen deu uma de Manen com você, sinto muito por isso, mas isso só aumenta o seu grau de visibilidade. Foi um terceiro lugar justo.

Ela faz uma careta.

— Por favor, não vamos falar sobre esse cara agora.

— Tá certo. – Charlie assente. – Só me avise se ele fizer alguma coisa assim de novo para eu ter mais um motivo para socar a cara dele.

Liza ri.

— E eu não duvido que faça isso. – ela diz relembrando do acontecimento no hospital com Afonso.

— Você é minha musa. – ele diz voltando a mirar aqueles olhos avelã. –

Ma princesse. E eu seria capaz de tudo por você.

— Fico tão excitada quando diz isso. – ela sorri e desabotoa o botão da calça Johns do monegasco vagarosamente.

— E você me deixa louco só de respirar. Temos uma clara desvantagem aqui.

Liza sorri e para por um instante, subindo as mãos para acariciar o rosto de Charlie suspenso acima do seu.

Ela olha fundo em seus olhos, se agraciando por cada tom diferente de verde já decorado que dançava por sua íris – que depois de reparada mais atentamente, notou-se ter uma tonificação próximo ao amarelo perto das pupilas. Os olhos dele eram uma perfeita aquarela que ela se deliciava em explorar.

A jovem nota os cílios compridos, que mesmo sem terem nenhum cuidado eram maiores que os seus; passa os dedos pelas mínimas pintas nas bochechas, cada uma em um lugar específico e único e, por ultimo, porém não menos importante, repara a boca do monegasco. Apesar de não muito carnuda, era tão bela e doce, que a fazia se derreter por inteira tanto com palavras quanto pelo seu toque macio em sua pele.

Charlie sorri ao perceber que ela admirava-o com olhos apaixonados, no entanto ainda se arrebata quando ela declara em alto e bom tom: - Eu acho que te amo.

— O que seria “achar”? – ele questiona franzindo a testa.

Liza ri fraco.

— Eu tenho quase certeza, mas como nunca me senti assim por ninguém antes... – ela admite aos sopros. – Preciso de dados da sensação para confirmar as minha suspeitas.

O monegasco gargalha de forma doce.

— Isso soou tão equipe tática. – ele diz aos risos.

— Não foi você quem disse que pilotos trabalhavam com estatísticas e informações concretas? – ela arqueia uma sobrancelha rindo zombeteira, recordando-se da fala do namorado no começo do ano no aeroporto de Mônaco.

Charlie sorri docemente e suspira antes de relatar:- Todo o conceito de amar é muito amplo. Pode ser descrito de diversas formas. – ele umedece os lábios – Minha mãe fala que para se ter um amor saudável é preciso que se estabeleça respeito e reconheça os limites de cada um. Que tenha admiração, honestidade sobre seus desejos e sentimentos, acato do espaço e as amizades individuais, interesse pela vida e projetos um do outro e esclarecimento sobre as divergências na relação. – ele sorri – Amar incita a ação de estar perto, de estar na companhia do outro e se sentir completo e satisfeito. Tem-se paixão, intimidade, comprometimento... – ele dá de ombros – resumidamente é isso.

Liza sorri abertamente.

— Dados identificados e confirmados. – declara acariciando o rosto do namorado, que ri fraco – Eu te amo, Charl.

Charlie abre um sorriso radiante.

Ele já sabia que amava Liza há algum tempo e sentia que era tão recíproco quanto se podia ser, dizer em voz alta tornava tudo mais real e intenso, por mais clichê ou bobo que isso soasse. E eles sentiam que aquela era a hora certa.

Como o bom francês que era, não podia negar que adorava um romantismo e ele poderia declarar com exatidão que aquele era um dos momentos mais felizes de sua vida.

— Independente da variedade de línguas existentes, nenhuma delas vai conseguir expressar o quanto eu te amo. – ele diz e beija a ponta do nariz de Liza. – Je t’aime pour toute ma vie (te amo por toda a minha vida).

— Você acabou de deixar e minha declaração no chinelo. – eles riem e aproximam os rostos.

Antes que selassem o beijo, porém, escutam batidas na porta de entrada do quarto.

Liza ri da expressão frustrada de Charlie.

— Como é que você diz mesmo? – ele questiona com a testa franzida – O próprio “empata foda”?

— É a comida. – ela ri se desvencilhando do corpo dele, que cai ao seu lado, e se levanta. – Pedi comida japonesa de um restaurante que o Lando encontrou no Instagram. Eles têm umas fotos muito bonitas de uns combinados que eu nunca tinha visto. – ela diz procurando por seu robe e vestindo-o rapidamente assim que o encontra sobre a poltrona ao lado da cama. – Eles têm uma barca enorme e eu tive que pedir ela. Vamos ver se assim você não mata essa vontade de comida japonesa que fala há semanas.

Ela dá um nó da frente do robe que batia na metade de suas coxas e pega sua carteira enquanto Charlie aos risos segue na direção do banheiro.

— Vou mijar. – ele anuncia e em poucos minutos ela escuta o jato sendo disparado no fundo do vaso.

Ela ri.

— Pelo menos fecha a porta. – ela fala alto.

— Eu já te peguei fazendo coisa pior. – ele diz do banheiro e ela gargalha recordando-se do momento embaraçoso.

— A intimidade é um caminho sem volta. – Liza comenta seguindo na direção da porta de entrada.

Ela a abre, já com água na boca pensando no jantar, mas seu rosto se contorce em choque quando vê Max Vandemanen parado em sua frente com o mesmo sorriso cínico no rosto.

Ele corre os olhos da cabeça aos pés de Liza, notando a alça do sutiã de renda que não era coberta pelo robe caído no ombro, os saltos extravagantes e as meias características. Ela se encolhe inconscientemente.

— Noite romântica? – ele questiona.

— O que você quer aqui Max? – ela rebate a pergunta, seu humor muda drasticamente.

— Confirmar uma suspeita. – ele diz e seus olhos seguem pela fresta aberta da porta, onde ele consegue visualizar um descontraído Charlie sem camisa sair do banheiro e se jogar na cama pouco desarrumada.

Liza rapidamente fecha a porta atrás de si, saindo do quarto. Mas era tarde demais.

— Para alguém que me disse para repassar o regulamento para assimilar as regras, você mesma não prestou atenção em alguns detalhes. – ele pronuncia com o canto dos lábios levantados.

 Eliza engole em seco.

— Eu sabia que você não é a boa moça que finge ser.

— Tá legal. – ela sopra impaciente. – Sabe sobre nós. E agora, o stalker vai fazer o que?

— Não vou te chantagear, se é isso que pensa que vou fazer. – ele informa. – Não sou esse tipo de pessoa.

— Então que tipo de pessoa você é?

— Do tipo que não aceita hipocrisia. – Ele diz e se afasta da pilota.

— Max... – ela sopra, mas o rapaz já havia lhe dado às costas e seguia corredor afora.

Liza respira fundo, controlando o surto de ansiedade que previu que viria. Em movimentos automáticos volta para dentro do quarto vagarosamente.

Quando ela se reaproxima da cama, Charlie nota seu olhar avoado e pergunta preocupado: - Ma belle, está tudo bem?

Liza pisca algumas vezes e foca a visão no rapaz, já ereto na cama, e em seguida sorri fraco.

— Sim, está.

— Não era a comida na porta? – ele questiona.

— Não. – ela se senta na cama vagarosamente.

— Então quem era?

A cabeça de Eliza estava um pandemônio, já se calculando todas as possibilidades de atitudes esperadas vindas de Max. Que ele era encrenqueiro ela sabia, mas não sabia o quão baixo ele poderia ser por uma vingança.

Claro que ele estava com as dores pelo acontecimento de mais cedo, e somado à circunstância de que eles não se suportavam, aquela parecia ter sido a gota d’água para o holandês.

O fato era que ali a prejudicada não seria somente Eliza e ela jamais se perdoaria se Charlie acabasse levando o tiro pela culatra por consequência de uma briga de pista.

Quanta infantilidade.

— Lizzie?!

Ela olha em seus olhos. A sua perdição.

Não teria coragem para falar à ele.

Não, não agora.

Não depois de falar que o amava incondicionalmente.

Porque se ela realmente amava-o, faria de tudo para protegê-lo. E tinha certeza sobre o seu sentimento como nunca antes.

— Ninguém de importante. – ela diz e sorri doce – Foi um engano.

 A jogada genial de Max, mesmo que ele não soubesse quão agravante poderia ser, foi não ameaçar somente ela e sim o amor da sua vida.

Porque ela também faria qualquer coisa por Charlie, inclusive jogar-se aos leões para protegê-lo se preciso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostou desse capítulo considere deixar o seu comentário.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Race in Heels - Corrida em saltos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.