Suddenly You escrita por Little Alice


Capítulo 2
All by myself, don’t wanna be


Notas iniciais do capítulo

Oi, todo mundo! Como vocês estão?

Este capítulo é inspirado e tem como música tema “All By Myself”, da Céline Dion. (Bom, na verdade, essa é uma música de 1975, gravada por Eric Carmen, mas estou usando a regravação da Céline Dion, de 1997). Vocês podem ouvir pelo link: https://youtu.be/NGrLb6W5YOM

Boa leitura :)



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Hard to be sure
Sometimes I feel so insecure
And loves so distant and obscure
[…]
All by myself
Don’t wanna be
(All By Myself ― Céline Dion)
 

Victoire sempre teve muita certeza do que queria para a sua vida. Ela queria estudar Belas Artes em Beauxbatons, queria expor o seu trabalho nas melhores galerias da Europa (de preferência, desejava alcançar esse objetivo antes dos trinta anos de idade), queria ter o seu próprio apartamento em Mayfair¹ e um closet que não fosse tão apertado, mas espaçoso o suficiente para abrigar todas as suas compras e garimpos, queria ser não apenas um bom, mas um excelente exemplo para os irmãos e para os seus primos mais novos, e isso incluía tirar sempre notas boas (ou, ao menos, saber como negociá-las), fazer parte de atividades extraclasse, não transgredir nenhuma regra de conduta e ser uma filha exemplar.

Com certeza, se apaixonar não estava nessa lista. Pelo contrário, queria permanecer solteira. Quer dizer, ela supunha que algum dia aconteceria, quando fosse uma mulher madura e bem-sucedida, mas não agora, aos dezessete anos, e muito menos com os garotos da sua escola. Como se eles tivessem alguma chance com ela! De todo modo, mesmo que tivessem, mesmo que preenchessem todos os requisitos de homem ideal, qual o sentido de namorar alguém se não fosse para durar? Se tudo desse certo, em menos de um ano, Victoire estaria em Paris, andando pela Champs-Élysées e frequentando o Louvre todos os finais de semana.

Só que, aparentemente, tudo o que a garota desejava estava desmoronando pouco a pouco. Ela já não podia nem contar com o seu sucesso profissional. Certamente, não aconteceria antes dos trinta anos ― isso se acontecesse! Talvez, com um pouco de sorte, pudesse acontecer aos quarenta anos e isso a mortificava por dentro. Victoire tinha vontade de morrer sempre que pensava nessa possibilidade. Mas ainda era melhor do que não ter sucesso algum, ponderava. Do mesmo modo, no momento em que viu Logan Prescott entrar na turma de francês avançado, com sua pose de James Dean, seus olhos azuis profundos e cortantes e sua jaqueta de couro da Miu Miu, Victoire começou a considerar a ideia de ter um namorado. Não era uma ideia tão ruim assim, era? Ela tinha o direito de se divertir um pouquinho durante o Ensino Médio também. Além disso, não seria melhor chegar à faculdade com algum tipo de experiência naquela área? A resposta pareceu-lhe óbvia e o garoto novato, um ótimo pretendente.

Logan Prescott havia sido transferido de Londres para Hogsmeade por causa do emprego dos pais, o que significava que ele era um cosmopolita de nascença. Embora Hogsmeade fosse uma cidade universitária culturalmente agitada, não deixava de ser um tanto provinciana para os padrões de Victoire. Em nada se comparava com Londres. O rapaz naturalmente estava em outro patamar. Sabia apreciar artes, tinha um bom gosto estético para roupas e falava como se fosse um poeta da geração Beat ― essa parte soava um pouco brega às vezes, mas Victoire não se importava tanto. Uma parte dela gostava daquilo. Das poesias que Logan falava entre uma frase e outra. Ela sempre foi uma grande fã de alta literatura, afinal. Isso fazia dela própria um pouco brega? Que fosse!

Ela passou duas semanas inteiras tentando chamar a atenção dele, até o convidou para ir à sua casa e ao show d’As Esquisitonas, uma banda de rock local, bastante conhecida e apreciada. No entanto, todas as suas táticas de sedução e seus flertes foram por água abaixo ao descobrir que Logan se interessava por meninos. Ela sofreu um pouco por causa daquela quase-desilusão amorosa, mas, no fim, não foi tão ruim assim. Depois que o encanto passou, Victoire ganhou um amigo e pôde voltar à sua resolução antiga: não namorar enquanto estivesse no Ensino Médio. Era mais fácil e mais seguro assim. Além disso, precisava retornar ao que realmente importava: ser aceita em Beauxbatons.

Contudo, desde aquela conversa com Mabelle na semana anterior, Victoire sentia-se inquieta. Pensando, mais uma vez, na ideia de ter um namorado. Em como seria namorar Ted Lupin. Obviamente, aquilo era um absurdo sem tamanho! Ele era o seu amigo de infância, o seu Ted, o cara com quem ela assistia a Scooby-Doo nos fins da tarde, o idiota irritante com quem apostava o último pedaço de pizza nas noites de sextas-feiras. Porém, de repente… Ela não conseguia mais tirá-lo da cabeça. Até mesmo suas telas pareciam confusas. De repente, parecia errado Ted estar com alguém e esse alguém não ser ela. De repente, sempre que o amigo estava no Chalé das Conchas, Victoire não podia deixar de olhá-lo, de analisá-lo e de tentar entender se estava mesmo interessado em Mabelle.

Sentindo-se nervosa, exausta e muito caótica, Victoire colocou o travesseiro contra o rosto e gritou. Um grito que, graças a Deus, saiu abafado. No mesmo instante, porém, ouviu uma batida na porta.

― VAI EMBORA! ― berrou. Ela colocou o travesseiro no lugar e se virou para o lado oposto ao da porta. Seu pedido foi ignorado, é claro. Não demorou e sentiu a cama afundar um pouco. Alguém colocou a mão sobre o seu ombro.

― Você não quis descer para jantar. ― Era a voz de Dominique. ― Papai fez nhoque e mamãe deixou a gente tomar duas taças de sorvete na sobremesa.

― Eu disse para ir embora, Domi.

― Você está chorando? ― Ela a puxou com delicadeza e a encarou. Por mais que sua própria visão estivesse nublada, Victoire pôde vislumbrar o olhar de preocupação de Dominique. A irmã ainda usava suas roupas da escola, o vestido vinho, o coturno preto e as meias arrastão. Sinceramente, esperava que o estilo gótico que Dominique assumira no último semestre fosse apenas uma fase, mas não tinha tanta certeza… a irmã era mesmo diferente. ― E por que está ouvindo All By Myself? ― Dominique deu-se conta daquele fato, parecendo horrorizada. Ela caminhou até o som, que ficava sobre a penteadeira, e apertou o botão de stop. ― Esse é o tipo de música que eu vou ouvir daqui a vinte anos, quando me tornar a senhora dos gatos. Mas não você ― comentou, enquanto se aproximava novamente de Victoire.

― Dionne montou essa playlist quando terminou com Colin. Mas agora que eles voltaram, ela achou que não iria mais precisar e me deu.

― E você por acaso precisa?

― Eu sou patética ― revelou, sem conseguir deixar de escapar um soluço.

― Como é?! ― Dominique fez uma careta. ― Em que sentido você é patética? Porque acho que posso concordar com isso em algumas situações. Você é realmente patética quando passa mais de quarenta minutos no banheiro pela manhã, porque eu acabo tendo que ir para a escola sem tomar banho. E com certeza é patética quando come escondida os bombons que mamãe guarda no armário e não deixa nenhum para contar história…

― Ah, meu Deus! ― Victoire chorou ainda mais.

― Mas isso não significa que seja uma pessoa patética. Você é uma irmã maravilhosa na maior parte do tempo. Então, como eu disse, posso concordar em alguns aspectos, mas não nos aspectos que realmente importam.

― Eu sou mesmo uma irmã maravilhosa? ― fungou.

― Eu acho ― Dominique deu de ombros. ― Ao menos, eu não te odeio e eu odeio quase todo mundo.

Victoire animou-se um pouquinho. Limpou o rosto com as costas da mão e forçou um sorriso para a irmã. Nos últimos dias, vinha se sentindo tão mal. Todos os erros que cometeu, os enganos… Era difícil viver com Mabelle e não poder conversar com ela. Até mesmo Dionne, que era a paciência em pessoa, parecia cansada de ter que ficar entre as duas na escola. Às vezes, Victoire sentia que Mabelle daria o primeiro passo, mas logo em seguida se decepcionava. Outras vezes, achava que ela deveria dar esse passo, porém, sempre perdia a coragem de fazê-lo.  

― Mabelle gosta do Ted ― decidiu contar para Dominique.

― Gosta?

― Ela me disse.

― Eu não sei… eu acho que ela pensa que gosta, mas não gosta realmente. O Ted é o Ted, ele é mesmo uma pessoa bastante gostável e isso às vezes confunde a gente.

― Não sei se compreendo isso.

― Ele nos faz sentir como se fôssemos especiais. É o que eu chamo de “efeito Ted”. Mabelle passou por algumas decepções, além de ser bem insegura consigo mesma, e viu no Ted uma saída, já que ele é um rapaz único e completamente diferente. Mas não acho que esteja realmente apaixonada, só deslumbrada, meio como você ficou com Logan.

― E como a gente sabe…

― … Que está apaixonada?

Concordou com um movimento rápido. Era estranho receber conselhos da sua irmã mais nova. Deveria ser o contrário, não? Ela deveria aconselhar Dominique. No entanto, a garota de quinze anos parecia estranhamente mais madura que Victoire.   

― Você já se sentiu apaixonada, Domi?

― Ah, sim. Eu tenho certeza que sim.

― É mesmo? ― Isso deu um novo fôlego a Victoire, que se ajeitou na cama. ― E quem é o garoto?

― Não é um garoto.

― Ah! ― Sentiu-se murchar. Não pela declaração de Dominique, mas por nunca ter percebido. Ela não conseguiu enxergar nem a própria irmã, por Deus! ― Eu não sabia.

― Bom, eu também nunca disse nada a ninguém. Na verdade, você é a primeira para quem estou contando isso. Ela é da minha turma de literatura, entrou na escola ano passado. Nós meio que somos amigas agora, mas eu tenho certeza que gosto dela muito mais do que só como amiga. Não consigo tirá-la da minha cabeça, sabe? Nem gosto muito da ideia de vê-la saindo com outras pessoas. Todos os dias, eu tento criar coragem para convidá-la para um café ou sei lá, mas ainda não consegui…

― Quer que eu te ajude com isso?

― Não! Pelo amor de Deus, não! Eu mesma dou um jeito na minha vida amorosa!

― Eu posso ter falhado com Mabelle, mas deu certo com o professor Longbottom e a enfermeira Abbott. Eles estão felizes agora. É estranho, não acha? Os dois sempre trabalharam no mesmo local, sempre estiveram tão próximos um do outro e, mesmo assim, nunca perceberam o que poderiam ser. A vida é meio confusa mesmo. Se quiser, eu posso te ajudar.

― Eu prefiro não arriscar, quero fazer as coisas do meu jeito ― Dominique balançou a cabeça e ficou séria. ― Você nunca deveria ter tentando jogar a Mabelle para cima do O’Brian, o cara é um babaca! Ele com certeza se acha a última bolachinha do pacote, mas é só um idiota egocêntrico, que não sabe tratar mulher nenhuma com respeito. E antes de você sair por aí brincando de juntar casais, a Mabelle estava começando a se interessar pelo Greg Fletcher.

― Ah, não, nem vem! Todo mundo sabe que o Greg Fletcher é um péssimo aluno, ele já repetiu de ano duas vezes, Domi.

― E daí? Ele só não se encaixa muito bem no nosso sistema educacional, que, vamos combinar, é muito falho. Você não pode achar que todos serão como Victoire Weasley.

― O melhor amigo dele, o Anthony não-se-o-quê, foi suspenso por fumar maconha atrás da arquibancada ― insistiu.

― Primeiro, o Greg e o Anthony são duas pessoas diferentes, não necessariamente o que um faz o outro também faz só porque são amigos. E segundo, eu já fumei maconha atrás da arquibancada, a diferença é que não fui pega…

Você o quê?!

― Meu Deus! Como você é certinha, Vic! Foi só uma vez, ok? E não vou repetir.

― É bom mesmo, ou, você sabe, vou ter que contar para a mamãe e para o papai.

― Suponho que eu faria o mesmo se algum dia descobrisse algo parecido sobre o Louis.

― Ótimo!

As duas sorriram uma para a outra.

― E se Ted gostar da Mabelle? ― sussurrou. Aquele era um ponto especialmente doloroso, percebeu Victoire. Essa foi a razão pela qual se trancafiou no quarto e começou a ouvir músicas tristes: ver que Ted parecia próximo de Mabelle naquela tarde. Ele preferiu jogar Pega-varetas com a garota do que assistir desenhos com Victoire. Os dois tinham até suas próprias piadas internas. Quando isso começou a acontecer? ― Desde que ela passou a morar com a gente, ele não sai daqui.

― Mas sempre foi assim, ele sempre viveu aqui.

― É, só que agora é diferente, ele é universitário, deveria estar saindo com os amigos universitários dele, fazendo o que quer que universitários façam… Ele nem é mais o nosso vizinho, não mora mais com a avó. Não faz sentido continuar passando tanto tempo assim com a gente.

― Eu não acho que o Ted venha aqui para ver a Mabelle e, se você acha, então é realmente muito cega.

― Mas…

― Sem mas! Vamos, você precisa comer alguma coisa ― Dominique tentou puxar a irmã, porém não conseguiu. ― Se você não vir, eu vou ligar para o Ted.

― Não! ― Ele era a última pessoa que Victoire desejava ver no momento.

― Então venha logo.

Sem escolha, a garota calçou os sapatos, prendeu o cabelo em um rabo-de-cavalo e seguiu a irmã para fora do quarto.

― Eu posso não ligar hoje, mas saiba que vou ligar amanhã ― prometeu Dominique, enquanto desciam as escadas.


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Notas finais do capítulo

¹Elegante bairro em Londres.

E aí, o que vocês acharam? Me digam nos comentários. Eu nunca achei que usaria “All By Myself” como música tema de algum capítulo meu, porém me inspirei na cena do filme, quando a Cher percebe que gosta do Josh, essa música toca no fundo. Daí resolvi trazer isso para cá também. A Victoire é muito drama queen, né? Não estou acostumada a fazer personagens assim (os meus costumam ser mais sérios), mas até que foi divertido. Além disso, o drama dela tem um fundo de verdade bem grande HAHAHA. É muito difícil conseguir ser bem-sucedido antes dos trinta anos. O que acharam da Domi? Espero que tenham gostado dela. A briga entre a Victoire e a Mabelle pode não fazer sentido para alguns, pois elas estão morando na mesma casa e não estão se falando, mas eu juro por experiência própria que é totalmente possível algo assim acontecer HAHAHA.

Beijos e até a próxima:*



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