Toujour Delacour escrita por Maga Clari


Capítulo 7
Epílogo: Rien de mieux que d'etre a la maison


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a quem chegou até aqui, escrever essa história foi super divertido e cheio de surtos de fanfiqueira. Conheci um pouco mais sobre o Bill e comecei a gostar mais dele do que antes (se é que isso é possível hahahaha).

Não sei se o capítulo ficou adequado, afinal, a história inteira acabou se transformando em algo totalmente diferente do que eu planejava. Mas gostei dessa versão também.

Espero que tenham conseguido captar a mensagem principal, já dita por uma velha amiga nossa, que visitou o mundo de Oz, há muitos e muitos anos: "Não há lugar como o lar". Ela só esqueceu de explicar que "lar" não é um espaço, é um sentimento. Fica aí a reflexão.

Bisous à tout le monde!



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É difícil mensurar com precisão quando foi o exato dia que o Chalé das Conchas se transformou numa versão praiana d’A Toca dos Weasley. A sensação lembra a de acordar de um sonho, de um dia para o outro. Não há tempo para acompanhar todas as estações do ano ocorrendo ao mesmo tempo com tantas pessoas. Parece tão recente o meu primeiro beijo apaixonado com aquela feiticeira francesa, a minha bruxa boa do Leste. Sou capaz de recordar com detalhes nossa primeira noite de amor. Consigo reviver todas as alegrias e tristezas, saúdes e doenças, riquezas e pobrezas e todos os contrastes que fazem parte da nossa história. Eu só não sou capaz de me lembrar há quanto tempo vivemos com a casa tão cheia e aconchegante, como se finalmente todas as barreiras de inseguranças tivessem sido derrubadas.

Ontem mesmo eu estava respondendo os porquês do Louis, hoje ele estuda medibruxaria. Ontem mesmo eu ensinava Dominique a nadar, hoje ela tem a sua própria sereia em seus braços. Ontem mesmo eu catava conchinhas com Victoire e hoje é o dia de seu casamento. Ah, é muita emoção para um velho hippie como eu!

O Chalé foi todo decorado do jeitinho aristocrático dela: do lado de fora, um jardim com cara de princesa. Flores por todos os cantos, o perfume exalando pela brisa do mar. Diferente de mim, Victoire era brisa porque era calma, delicada e confortável. Ela nunca saberia o que é ter uma tempestade correndo dentro de si. Parece que o simples fato de ter nascido no fim de uma guerra seja o suficiente para uma natureza tão serena e inocente.

― Queria falar comigo? ― a voz de Teddy sobressaiu-se à confusão do quintal. Eu havia pedido que Fleur o mandasse para dentro assim que terminassem de organizar a decoração.

― Sim. Tenho algo pra você.

Os olhos curiosos daquele velho-novo integrante da família foram direto para a caixinha vermelha que eu lhe entregava. 

― É um presente mais para Victoire do que para você, na verdade. Sinto muito.

― Eu sei. Hoje o dia é mais dela do que meu.

― Garoto esperto. Vai se adaptar rápido.

Ele demorou um pouco para compreender o que eu dizia nas entrelinhas, até abrir o presente e encontrar a pulseira de contas com duas pérolas e uma concha branca-dourada destacando-se como pingente principal.

E aí, Teddy sorriu, e eu percebi pela primeira vez que teria um novo Delacour arrancado do terreno de origem. Não que eu esteja sendo cafona e desconsiderando meus outros genros, mas casamento, casamento mesmo, com flores, véu e grinalda, esse é o primeiro. 

Em meu íntimo, pra ser sincero, a torcida era de que este fosse o primeiro dos muitos que viriam através de Dominique, Louis e de seus respectivos filhos e netos, caso eu ainda esteja aqui para escrever mais histórias. Enquanto esse dia não chega, aproveito para terminar de tomar nosso último chá da tarde como a família que construí com todo amor e carinho. 

Sei que Teddy vai adorar frequentar este Chalé mais e mais vezes. Logo, os Scamander e Longbottoms também poderão espalhar-se nessa areia branca e pedregosa, compartilhar receitas e risadas como nos velhos tempos. Confesso ter ficado um tanto chocado com o divórcio de Rolf e Luna, seguido por Neville e Hanna. Não pelo divórcio em si, mas pela confissão do amor de infância que precisava existir entre a adorável Di-Lua e o desajeitado Neville. E do mesmo modo que as quatro famílias permaneceram unidas entre si, o mesmo aconteceria ao acrescentar os Delacour nessa farofa conjugal.

Ah, é, acabei não falando. Lysander é o namoradinho do Louis. Ele é a perfeita mistura dos próprios pais, embora completamente diferente de seu irmão gêmeo, Lorcan. De algum modo, a presença deles aqui me lembra como costumava ser quando Fred estava vivo. Mas tento afastar o pensamento sempre que posso. No momento, minha atenção permanece em Teddy, até que ele deixe o cômodo. Do lado de fora, observo todos os meus garotos e garotas à mesa do chá. Dominique brincando com a primeira ruivinha da geração, fazendo cócegas em seu rostinho sardento.

― De onde é mesmo esse garoto, Nikki? ― perguntei, sentando-me à seu lado.

― Harold? ― suas sobrancelhas apertaram-se, curiosas pela questão ― Não sei, papa, achei indiscreto demais perguntar quando isso não importa muito. O tio Simas e o tio Dimas foram bondosos o bastante para adotá-lo.

― E quando vou poder conhecê-lo?

Eu poderia ter sido mais atento, mas somente quando Dominique sorriu, apontando na direção do Oceano é que fui perceber a presença quase ruidosa do garoto caminhando com uma prancha de surf embaixo do braço.  Ao se aproximar de mim, sem um traço de medo sequer, estendeu a mão e disse, em sua melhor tentativa de francês, provavelmente tentando me impressionar. 

― Salut, Monsieur Delacour. 

E por alguma razão, não soou errado. Eu não diria a ele para consertar. Apenas achei certa graça em notar seu empenho, então puxei-o para falar em particular:

― Está tudo bem, garoto. Não precisa se preocupar com um terceiro idioma.

― Terceiro idioma?

― Você não é daqui, não é?

― É claro que não. Conseguir conquistar Dominique não é para qualquer um. Eu sou brasileiro.

E aí, eu entendi tudo. Não são os olhos que atraem Delacour’s. É a coragem em tentar viver fora dos padrões, mesmo que, para isso, precisemos sair das raízes de origem, para então nos tornarmos como eles. 

De-la-cour. 

(que na verdade, significa excêntrico no idioma dos agregados da família).


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