Toujour Delacour escrita por Maga Clari


Capítulo 6
Heureux pour toujours


Notas iniciais do capítulo

Era pra esse ser o último, mas ia ficar muito longo, então planejei outro :3
Logo, logo ele sai!



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Nas histórias infantis, existe uma frase que desde garoto me chamou atenção. É o famoso “felizes para sempre”. Como assim para sempre? É possível ser feliz para sempre?

Esse questionamento vem me corroendo ano após ano, de maneira nem um pouco saudável. Apesar de aproveitar cada dia como se fosse o último, algo meu estômago se habituou a acionar aquele temor covarde, cheio de paranóia, que me dizia “ei, cara, isso não é para sempre”. Quando seria a próxima briga? Quanto tempo esperaria até Fleur se cansar de mim? E quando as crianças crescessem e formassem as próprias famílias? Permaneceríamos todos juntos, felizes para sempre?

Não demorou muito para que esta última parte dos questionamentos viesse à tona, só para me assombrar. Naquele tempo, Victoire já namorava Teddy e Louis havia arrumado um namoradinho. Mas não era com eles que me preocupava nesta ocasião específica, era com minha pequena sereia, que já havia se transformado numa jovem adulta muito parecida comigo. Dominique moldou-se com os genes de Fleur e com a personalidade de seu velho pai. Na beleza de seus dezoito anos, exibia algumas tatuagens pelo corpo, uma tornozeleira de margaridas, e vários furos pelas orelhas. Olhar para ela era como voltar ao passado, e embora seja legal perceber tantas semelhanças entre nós, sinto certo conforto ao perceber que certas coisas nunca mudariam. As queimaduras de sol, os cachos loiros e cheios embaraçados pela ventania litorânea. 

O pensamento veio nesse exato instante, aquele dito no início deste último relato. O medo, o receio, o pânico do desconhecido. Quanto tempo até Dominique se tornar totalmente diferente do que eu estou acostumado? Seria tudo aquilo uma fase, um jeito freudiano de se aproximar de mim? Ou seu jeitinho permaneceria o mesmo, por longos e longos anos? Meus devaneios foram interrompidos quando minha petite sirène empurrou a porta de madeira branca ruidosamente e aos prantos, importando-se o mínimo pelo barulho ou pelos maus modos. Nem atreveu-se a perguntar por Fleur. Ao me ver na cozinha, atirou-se na mesa, o soluço deixando-me mais e mais agoniado.

― Eu sou um desastre, papa!

― Não, não é. Bem, eu… Eu não faço ideia de qual seja o contexto, mas você não é um desastre, Nikki. 

Ela começou a choramingar em francês e eu desejei que Fleur chegasse o mais rápido o possível para nos resgatar. Entretanto, a casa estava vazia daquela vez.

― Onde está todo mundo? ― Dominique finalmente reparou. Em situações usuais, a cozinha já teria se transformado numa feira livre.

― No centro. Hoje é dia de…

― ...De desconto no cinema, eu sei, não me esqueci. 

Nos encaramos por um tempo, a pergunta muda que nem me dei ao trabalho de fazer instantaneamente respondida, pois Dominique nunca foi boa em esconder coisas de mim.

― Me perdoe, papa ― e veio aquele choro de novo, seguido por um papel dobrado e tirado de sua jaqueta jeans, deslizando até o outro lado da mesa. Oh, céus, ela não conseguia nem falar... ― Foram os olhos dele, olhos tão bonitos, papa… Estou tão assustada! Eu arruinei tudo!

A compreensão aos poucos veio. Minha garotinha teria outra garotinha. Com sorte (e com a surpreendente genética Weasley), uma garotinha ruiva, traidora de sangue como nós, trajando as melhores vestes herdadas por gerações. Ela saberia de onde veio, saberia que era amada e teria orgulho de ser quem é. Talvez contasse aos amigos, com certo entusiasmo, sobre o seu avô que sobreviveu a um ataque de lobisomem, que sobreviveu a uma guerra muito mais profunda do que a de supremacia de sangue. Talvez espalhasse sobre o pequeno milagre que foi se render ao amor em momento tão obscuro. Sobre as pérolas e conchas geradas pela grandmère Fleur. Sobre nossa primeira vitória, que não demoraria a transformar nossas vidas num eterno dia de domingo ensolarado, cheio de luz, flores, com os altos e baixos de todo conto de fadas. E como todo conto de fadas tem um “felizes para sempre”, eu soube, somente naquele específico momento, que era bobagem me preocupar com uma felicidade inabalável e ficcional quando o que eu tinha era infinitamente melhor.

― O que vão pensar de mim, papa? ― minha petite sirène revelou sua principal preocupação, e eu achei tão bobo diante de tudo.

― Não há motivo de vergonha em ser tomada pelo amor, Nikki.

E eu acho que ela entendeu o que eu quis dizer, porque ao invés de chorar de novo, seu rosto iluminou-se por minha aprovação.

Oh, Dominique! Se você soubesse o quão fácil foi perder-se nos olhos de sua mãe...


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