Toujour Delacour escrita por Maga Clari


Capítulo 4
Prince Enchanté




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Acredito que ninguém está preparado para deixar de ser o príncipe encantado da família. Não, não me refiro à Fleur (almas gêmeas não se separam assim tão fácil), mas às crianças que já começaram a crescer.

É provável que o primeiro sinal tenha sido naquela vez que estávamos todos reunidos na sala de televisão, assistindo produções muggles, algo que lentamente se tornou rotina entre nós. Pensei que me sentiria menos esquisito quando Louis crescesse, já que definitivamente não sei o que fazer quando minhas garotas babam pelos astros de cinema a cada cinco minutos, quando eles fazem “o olhar”, ou quando mexem o chapéu, quando cortam em close, ou simplesmente quando tiram a camisa. Como foi o caso daquele tal de Crepúsculo.

Imaginem a minha surpresa quando, pela primeira vez, Louis manifestou algo que não fosse incompreensão ou piada. Ele olhou para mim de soslaio e parecia tão desconfortável quanto eu. Só que por motivos bem diferentes.

 

― Esse cara tem que tirar a camisa toda hora mesmo? Isso nem faz sentido! Vocês não estão aprendendo nada na escola? Na minha época…

― Papai, é só um filme ― Victoire revirou os olhos, mas sem desviar do garoto sem camisa.

― Lobisomens são perigosos!

― Papai, relaxa um pouco. ― foi a vez de Nikki, que parecia levemente entediada ― Fora os muggles que fizeram isso, eles não entendem nada de criaturas mágicas. Dá um desconto pra eles.

― É, e parece bem coerente para o universo deles. ― Victoire retomou a palavra, olhando para a gente finalmente ― Não é, Louis?

― Quê?

― Diz pro papai que ele está sendo um bobo por reclamar tanto.

― As meninas tem razão ― foi tudo que ele disse, voltando a assistir.

― Oh, mon petit prince! ― Fleur exclamou, chegando com dois baldes enormes de pipoca, procurando espaço entre nós ― Tão novo e já aprendeu a maior lição da vida. ― e aí, brincou com o cabelo dele, que pela primeira vez não reclamou ― Ei, está tudo bem?

― O papai estragou a noite do filme, de novo. Tá feliz, pai? Você aborreceu o Louis! ― Dominique se levantou do chão, impaciente, e puxando o irmão para fora da sala ― Vem, vamos fazer outra coisa.

― Não! ― Fleur desligou a televisão, querendo entender o que havia acontecido ― Abram o bico. Agora.

― Tudo bem ― Dominique respirou fundo, controlando-se ― Estávamos assistindo Crepúsculo…

― Oh, não ― os olhos de Fleur encontraram os meus. Como se dissessem “sinto muito” ―  Bill…

― Tudo bem, acho que já está na hora de contar.

― Contar o quê? ― Louis soltou, em alerta.

― O pai de vocês foi atacado por um lobisomem.

Silêncio. O silêncio que tentei evitar por tantos anos.

― É por isso que você implica com o Teddy? ― Louis soltou, e eu quis rir, lembrando-me da fase das perguntas.

― Seu pai não implica com Teddy.

― Eu não implico com Teddy.

― Implica sim ― retrucou Victoire, agora irritada ― Pai. Sinto muito pelo lobisomem que te atacou, mas Teddy não é assim. E ele nem é lobisomem!

Fleur percebeu que a conversa estava prestes a passar dos limites então recolheu as crianças para continuá-la distante de mim. Mas Louis ficou. Ele esperou que as três estivessem longe o bastante e sentou do meu lado. Ficamos aguardando o mais corajoso falar primeiro, e é óbvio que foi o meu menino. Mon garçon.

― Papai, quero te falar uma coisa. 

― Qualquer coisa, meu querido ― sorri, orgulhoso da doçura que havia saído dos meus próprios genes.

― Talvez o senhor se sinta até melhor não sendo o único exposto hoje.

― Se for sobre suas irmãs…

― Não, eu não sou fofoqueiro! ― ele juntou as sobrancelhas, igualzinho a Fleur, me fazendo rir ― É sobre mim papai. Talvez nem seja grande coisa, mas é tão esquisito para mim quanto é pra você ter sido mordido por um lobisomem.

― Você gosta das cenas do Jacob sem camisa, não é? ― antecipei-me, porque era meio óbvio. Louis arregalou os olhos e suas bochechas coraram ― Está tudo bem, Lou, a sua história é ainda mais maneira que a minha.

E foi a partir daí que entendi. Talvez, cada um em seu próprio mundo tenha inseguranças, como flores atoladas no estômago. Que não servem pra nada, afinal. No futuro, Louis teria coragem para me tornar seu confidente. Um posto muito melhor do que o cafona príncipe encantado cujo encanto nunca seria quebrado.


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