Ronan observou o meu braço estendido, percebi que ele hesitou por um segundo.

Mas então, ele ajeitou a postura e encaixou o braço no meu.

— Senhorita.

Daquela vez não consegui conter um sorriso.

— Você é um cavalheiro, milorde.

Caminhamos até a varanda e nos apoiamos na beirada.

Era possível ouvir toda a comoção lá embaixo, mas surpreendentemente ninguém ousou vir atrás de mim.

O humor entre Ronan e eu, pelo que parecia, tinha sumido de vez.

Meu olhar pousou sobre minha mão direita aberta na minha frente — agora sem o anel chamativo — e se voltou ao horizonte.

— Sua amiga deixou uma carta para mim. — sussurrei, de repente.

— Rachel? — Ele virou o rosto para me encarar, e eu assenti com a cabeça.

— Eu estava prestes a me casar com um estranho. Dediquei os últimos anos da minha vida a um relacionamento de mentira. — Passei as mãos pelo rosto. Eu estava exausta, frustrada. — Olha tudo isso...

Gesticulei para todo o espaço à nossa volta.

— Estou numa das ilhas mais bonitas do mundo, num dos salões mais requisitados. Escolhi as melhores e maiores decorações. Coloquei minha pesquisa em pausa só para preparar tudo isso e eu nem fazia questão... — Meu tom de voz subiu um pouco. — Eu teria entrado na primeira capela que visse da minha cidade, comprado vinho, champanhe, um bolo pronto e é isso. Em vez disso, tive que ficar na frente de trezentos e poucos convidados e cancelar tudo. Eu tive que cancelar e eu fui a traída. Entende como isso é humilhante?

— A Rachel não queria que você passasse por tudo isso. Confie em mim. — Ronan disse cautelosamente, como se soubesse que provavelmente eu sabia que ele tinha grandes chances de não ser imparcial naquele momento.

Respirei fundo:

— Foi o que ela disse na carta. E depois de tudo o que descobri ontem, temo que tenha me precipitado em acusá-la de ter feito o que fez por maldade. Ainda acho que ela teria evitado muitas coisas se tivesse me contado desde o primeiro avanço, mas...eu compreendo.

Ronan pareceu ponderar sobre minhas palavras por um instante e então questionou:

— O que você descobriu?

•

Olhei para ele para conferir sua reação.

Porém, Ronan não demonstrava nada no rosto.

— E então?

O rapaz pareceu sair de uma espécie de transe.

— Isso tudo é... real?

— Por que eu inventaria tudo isso?

Ronan respirou fundo e passou uma mão nos fios de cabelo.

O cheiro do seu perfume exalou e era a fragrância mais exótica que eu já havia sentido.

Lembrei de ter pensado a mesma coisa na...primeira vez que nos vimos.

— E você está pronta para expor essas coisas na frente de todo mundo?

Aquilo era algo que eu não sabia responder, mas esperava que sim. Tinha de fazer aquilo.

Não por vingança, mas para mostrar, para quem quisesse tomar as dores do meu ex-noivo, o que ele era capaz.

Ronan ainda passava pela lista de mensagens que eu tinha encontrado.

Aquilo nem era o pior.

Não tinha contado a Ronan sobre o vídeo que Rachel havia escrito que ele vazara de propósito só para arruinar outro relacionamento dela na faculdade.

Embora, talvez, ele já soubesse. Ou talvez não.

Mesmo através da carta, percebi que aquele era um assunto delicado para ela. E, apesar de tudo, o que aconteceu nos últimos dias estarem em linhas borradas para mim, eu não podia ignorar o sentimento de empatia pelo que ela deveria ter passado na época do vídeo.

Então, como eu não tinha certeza de que ela deixou Ronan ciente, preferi não comentar nada.

O que não evitava que eu começasse a achar que o homem que eu amava, até alguns dias atrás, tinha virado asqueroso e doente na minha mente.

Quando estava prestes a responder a Ronan que eu não sabia se estava ou não pronta, vi por cima do seu ombro uma mensagem apitar no meu celular.

— Jenny. — ele leu o remetente e então o telefone começou a tocar.

Era o sinal.

— Acho que não vai fazer diferença o que eu iria responder agora. Pronta ou não, lá vou eu.

•

Ronan me desejou boa sorte e disse que se eu precisasse de qualquer coisa poderia procurá-lo.

Pelo menos, naquele dia eu talvez tivesse ganhado um colega improvável.

Me bati com Mary Ann na metade do caminho e ela parecia afobada.

— Meu Deus, J. Isso aqui tá uma loucura. Você vai pegar a palavra de novo agora? — ela disse ofegante quando eu pus a mão em seu ombro.

— Sim.

— Ah, que ótimo! Eu não estou em forma para andar de um lado para o outro nessa rapidez. Nem para segurar velhinhas desmaiando. Você acredita que a maioria das senhoras ainda levam sais de cheiro na bolsa?

Uma risada nervosa escapou da minha boca.

Eu poderia passar o resto do dia ouvindo Mary falar sem parar e me distrair, mas precisava acabar logo com aquilo.

Principalmente quando vi Logan vindo na nossa direção.

— Posso te pedir só mais um favor, Mary?

— Todos. — ela respondeu solícita.

— Tenta agrupar o pessoal que restou no salão? Eu vou descer porque preciso usar o projetor, mas prometo que vai ser rápido.

Ela assentiu rapidamente com a cabeça.

— Claro, vou chamar Paul para me ajudar. — Antes que ela pudesse se virar, segurei seus ombros e a puxei para um abraço.

— Obrigada por tudo.

— Ô, meu anjo, ainda é pouco para o que você merece. Melhores amigas para sempre.

Sorri para ela.

— Melhores amigas para sempre. — repeti genuinamente. Não importava quanto tempo eu passasse longe de Mary Ann, ela sempre teria um lugar mais do que especial no meu coração.

Ela finalmente saiu correndo atrás de Paul, não antes de lançar um olhar semicerrado para Logan.

Eu comecei a caminhar.

Antes que ele pudesse falar alguma coisa, me virei para as escadas.

— Jane! Espera. — sua mão segurou meu braço firmemente.

— Me larga.

— De jeito nenhum. Não até você me dizer que droga é essa?

Dei meu sorriso mais falso para ele.

— Não se preocupe, você vai entender direitinho quando eu explicar para todo mundo.

Estava me virando novamente quando seu toque apertou no meu braço e ele me puxou bruscamente, minha lateral colidindo com seu peito.

— Você está me machucando.

— Eu só quero entender que merda é essa! — Logan disse a centímetros do meu rosto com um tom desesperado.

— E eu quero que você me solte! — Eu estava surpresa em como minha voz conseguia soar firme naquele momento.

Ele não soltou.

— Então além de traidor, você também está no caminho de virar um agressor de mulheres, Logan?

A voz de Benjamim soou atrás de mim.

— Pelo o que eu me lembro, esse histórico pertencia ao seu pai, Benjamim. — Logan disse num tom amargo que eu nunca presenciara até o momento. Era perturbador, mas, pelo visto, ele não precisava mais de máscaras na minha presença — Dizem que essas coisas às vezes passam pela genética ou no mínimo pela convivência.

Pelo canto do olho, vi Ben cerrar os punhos, mas não mordeu a isca.

— Eu não preciso de traço genético ou suas palavras venenosas para definir meu caráter. E, ainda se fosse o caso, eu teria uma desculpa ridícula para tentar usar e você? O que te levou a ser esse cafajeste? — Benjamim perguntou firmemente.

Eu estava começando a ficar ciente que a cada segundo que passava mais pessoas prestavam atenção naquele show.

Puxei meu braço bruscamente quando Logan deu o mínimo sinal de que iria afrouxar o aperto.

— Eu não sei o que levou você a ser assim, mas também não me interessa. — me meti apontando o dedo para o rosto de Logan. — O importante é que todo mundo saiba o que você é de verdade. Não essa fachada ridícula que você tenta manter.

Logan inclinou a cabeça e disse num volume baixo para que só eu e Benjamim ouvíssemos, mas foi o suficiente para toda a humilhação que eu estava tentando conter, me inundar de novo:

— E ainda assim você caiu tão fácil, não foi? — Ele arqueou uma sobrancelha.

Levantei o olhar para encontrar seus olhos azuis, que um dia já haviam me cativado tanto mais que agora só me dava calafrios.

Pus minha máscara invisível de confiança:

— Vamos ver se essa sua atitude continua por muito tempo, que tal? Talvez você descubra, Logan, que não é tão fácil assim me abalar como você esperava.

Não esperei que ele respondesse e me virei para descer, puxando de leve a camisa de Benjamim para que não perdesse seu tempo, mas ele ficou grudado no lugar por alguns segundos:

— Eu já fui benevolente com a sua cara uma vez, Logan. Não me faça voltar a considerar tornar você irreconhecível. — ele apontou o indicador bem próximo ao rosto de Logan. — Eu não hesitaria um instante em usar "minhas tendências agressivas hereditárias" em você.

Meu ex-noivo tocou involuntariamente o nariz que ele havia me dito que havia batido na porta quando sua irmã abriu sem vê-lo atrás.

Sua voz era puro veneno quando disse:

— Não importa o quanto você tente sempre vai ser um perdedor.

Por um instante, eu tive vontade de empurrar Benjamim para o lado e eu mesma encher aquele homem de socos.

Benjamim balançou a cabeça e disse se virando para descer:

— Olhe em volta, Logan. Se reparar bem, vai perceber que não sou eu que estou perdendo tudo e todos a minha volta.

•

Eu sabia que grande parte do pessoal não tinha ouvido sequer uma palavra de quando estávamos lá em cima, mas nossa linguagem corporal era suficiente.

Um corredor se abriu quando eu passei em direção a parte do salão onde estava o projetor.

Todos me seguiram obedientemente.

— Sei que esse não é o final de viagem que vocês estavam esperando. — disse depois de me ajeitar. — Eu pelo menos não estava esperando nada disso.

O silêncio era tão afiado quanto as coisas que eu tinha a revelar.

Tentei não olhar para ninguém que parecesse estar com pena.

Eu não aguentaria.

Logan não estava em nenhum lugar visível.

— Acabei de descobrir recentemente que tudo o que vivi nos últimos anos foi uma mentira do pior tipo. Eu fui enganada, traída e desrespeitada quando achei que estava sendo amada, cuidada e adorada até. — respirei fundo, mostrando as primeiras imagens.

"Nos dois anos em que eu e Logan ficamos juntos, ele não me mostrou nada além de amor, ou o que eu achava que era amor. Não pensei que tinha achado uma pessoa igual a mim, mas uma que me completaria. Uma com a qual eu gostaria de dividir momentos. Três dessas fotos foram tiradas no último ano. As outras seis são do ano anterior. Vocês não estão vendo errado. Esse é Logan, mas nenhuma dessas garotas sou eu."

Minha voz falhou na última palavra e a maioria dos olhares direcionados a mim eram repletos de choque e revolta pelo que estavam vendo.

Eu não sabia se deveria continuar, mas continuei mesmo assim.

Não precisava me explicar para ninguém.

Mas eu o fiz.

Ninguém seria capaz de usar aquilo contra mim no futuro.

Eu já estava ciente de tudo.

Ninguém chegaria um dia e me revelaria: "ei, aquele seu ex noivo te traía para caramba" com o intuito de me machucar porque eu já teria descoberto.

E eu já estava machucada o suficiente para uma vida toda.

Foi no meio daquela apresentação que me permiti por um momento me colocar no lugar de Rachel.

Que descobriu da pior forma possível.

•

Algumas semanas antes

Acontece que nós dois estávamos impacientes demais para procurar um lugar no meio da neve e do frio.

A primeira lanchonete que confirmou que tinha aquecedor e um chocolate quente tamanho banheira de hotel de luxo foi onde entramos.

O humor de Logan tinha melhorado um pouquinho enquanto discutíamos sobre a nossa lista de convidados e ríamos do ultraje que alguns dos amigos da família dele tinham no rosto quando descobriram que apenas parentes e familiares próximos ficariam no casarão.

Abri algumas pastas nos arquivos do meu celular para que nós pudéssemos discutir sobre as decorações, paleta de cores e todas as outras coisas que faziam minha cabeça doer só de pensar.

É claro que na maior parte do tempo Logan não prestou a mínima atenção no que eu falava. Em vez disso, ele puxou minha cadeira para ficar impossivelmente mais próxima da sua. De uma maneira que eu estava praticamente em seu colo enquanto ele deixava uma trilha de beijos em meu pescoço.

Eu podia sentir meu rosto esquentando a cada segundo, principalmente quando vi a mulher atrás do balcão lançar um olhar um tanto malicioso para nós.

— Preciso ir ao banheiro. — disse, de repente, me ajeitando na cadeira. Uma das mãos de Logan estava na minha coxa sob a mesa acariciando de uma maneira que mesmo por cima de todo aquele tecido, eu era capaz de sentir seu toque.

Eu precisava jogar uma água no rosto e tirar pelo menos um dos meus casacos ou acabaria entrando em combustão.

Ele apenas deu um aperto mais demorado na minha coxa que me fez ficar arrepiada da cabeça aos pés e eu me levantei.

Parei no balcão apenas para perguntar onde era o banheiro e a moça indicou a parte de trás da lanchonete.

A maioria dos estabelecimentos ali não tinham um banheiro específico para clientes já que vários banheiros públicos ficavam espalhados pela ilha.

Mas só de pensar em ir lá fora e desbravar aquele frio novamente, meus órgãos congelavam.

Caminhei até onde tinha sido indicada, mas dei de cara com duas portas idênticas.

Seria o banheiro feminino e o masculino?

Testei abrir uma das portas e a maçaneta cedeu ao meu toque.

Abri com cuidado:

— Brian, você sabe se eles têm blusas mais limpas que essa...

Dei de cara com um tronco nu e uma expressão tão assustada quanto a que eu deveria ter no rosto.

— Por favor, não grite. — o homem disse com um tom de súplica. — É o meu primeiro dia.

Meus olhos passearam por seu rosto, sua pele não tinha nenhuma imperfeição e lembrava a de um bebê. Suas feições eram suaves e elegantes e contrastavam a estrutura bem marcada do seu rosto.

Meu olhar desceu por seu pescoço, sua clavícula — onde havia uma pintinha discreta que me fazia ter vontade de estender a mão e tocar, o que seria totalmente bizarro e inapropriado —, seus braço bem desenhados, o direito com uma tatuagem do que parecia o mapa-múndi, sua barriga definida mas nem tanto, com uma camada fina de pelos, o V de seu quadril e.... Meu Deus, ele estava apenas de cueca e eu estava parecendo uma doida varrida secando o menino.

Tentei me recompor.

— Não sou o tipo que grita. – rebati e percebi imediatamente o quão inapropriada aquela frase poderia soar. Ou talvez fosse apenas culpa da minha mente contaminada pelo pecado. Como diria minha amada bisavó.

Talvez o cara na minha frente também precisasse de um pouco de Deus na vida por que o canto de sua boca se ergueu um pouco quando ele disse:

— Bom saber.

Hm, espertinho...

O que era bem contraditório, ou pelo menos curioso, porque depois que ele percebeu meu olhar suas bochechas ficaram da cor de um tomate junto com suas orelhas.

Percebi ele ficar ainda mais envergonhado ao notar minha mão direita.

Claro, o anel de noivado.

Na verdade, eu nem deveria estar secando alguém considerando que eu estava noiva, mas olhar não tirava pedaço.

Não era como se eu tivesse com vontade de tocar aquela barriga retinha e...

Droga, agora minha mente estava mesmo pensando naquilo.

E meu olhar tinha baixado novamente.

— Hm, aqui não é o banheiro, é? — perguntei depois de ficarmos um tempo demais parados apenas nos encarando.

— Hm, não.... — Ele apontou para a segunda porta que agora, milagrosamente, tinha uma plaquinha no meio da parede escrita "banheiro".

— Oh... — Foi tudo que fui capaz de dizer por alguns instantes. — Perdão. Eu não tinha visto a...

— Tá tudo bem...

—...a placa e....

—...eu já deveria estar vestido e atendendo... — o rapaz passou uma toalha ao redor da cintura e mesmo que não estivesse mais com o foco naquela altura do corpo, senti meu coração bater mais calmo.

— Bem, até mais. — eu disse de repente e caminhei em direção ao banheiro certo, sem me incomodar de dar mais uma olhadela no corpo alheio.

Fechei a porta atrás de mim com mais brutalidade do que o necessário.

Encostei a porta na madeira e soltei a respiração.

O que havia sido aquilo?

Olhei no pequeno espelho que tinha ali e percebi que qualquer pessoa que me conhecesse bem perceberia que eu estava mais corada que o normal. Minhas bochechas estavam pegando fogo.

Por Deus, o que era aquilo?

O carinha que eu não havia pego o nome era bonito e muito...atraente, mas aquela reação do meu corpo era um pouco demais.

Ainda lembrava da primeira vez que vi Logan.

Para mim, foi mágico e um momento extremamente marcante, mas foi como uma sensação de euforia quando você consegue algo que quer muito.

Aquela sensação era.... eu não sabia dizer....

Como quando você descobre algo que nem sabia que estava desejando, minha mente acrescentou.

Minha irmã diria que era atração física e talvez eu devesse realmente escutá-la.

A poucos minutos atrás meu noivo estava me acariciando por debaixo da mesa e eu estava meio...abalada.

Então a visão de outro homem seminu tinha completamente transtornado meu dia.

Que vergonha.

Nos últimos tempos estava sendo tudo uma correria e eu e Logan mal tínhamos tempo para nós dois ficarmos juntos.

O trabalho estava me sobrecarregando, junto com todo aquele planejamento de uma festa de casamento que aparentemente teria o potencial de ser a união de um membro da família real com um plebeu.

Logan também estava fazendo de tudo para sua revista alcançar a fama nacional, então quando chegávamos em casa, na maioria das vezes, pensávamos apenas em um bom banho, deitar na cama e dormir em 3 segundos.

Certamente essa era toda a comoção do meu corpo ao ver um cara seminu.

Calma, pessoal, falei para meus hormônios, eu darei um jeito nessa situação ainda hoje.

•

— Sabia que você é a mulher mais linda que eu já vi? — Logan disse colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

Estávamos deitados um de frente para o outro com uma mão apoiando nossas cabeças.

Nossas respirações ainda eram difíceis e pesadas, nosso suor era visível na pele do outro.

— Vou fingir que acredito. — digo de brincadeira porque, apesar de tentar fingir para Logan que não, eu era uma romântica apaixonada por clichês.

E quando ele falava aquelas coisas para mim era impossível não me derreter.

Meus relacionamentos passados não foram pesadelos terríveis, mas também não foram nada fáceis de superar.

Eu gostava de pensar que era uma mulher segura, independente e bem sucedida.

Mas tinha uma insegurança que por mais que eu não quisesse, ou lutasse contra, sabia que ela estava ali.

A sociedade não era um lugar exatamente gentil com mulheres como eu: negras, bem resolvidas e que buscavam independência.

A pouca condição que meus pais tiveram para criar eu e meus irmãos nos dava certo privilégio, mas só até certo ponto.

Havia momentos em que nem o dinheiro conseguia vencer o preconceito.

Eu não gostava daquela parte de mim que se animava com meia palavra de validação, mas também não era muito chegada a outra parte que era cética sobre tudo de bom que falavam sobre mim.

Vários relacionamentos meus foram por água abaixo por causa do meu ceticismo.

Não foi automático nem de uma hora para outra que eu passei acreditar quando diziam que "me amavam" ou que eu era bonita.

Mas com o Logan foi tudo tão natural.

Parecia certo ficarmos juntos.

Logan segurou meu queixo:

— No que você tanto pensa?

Fechei os olhos me entregando a sensação das suas carícias em meu rosto. Quando os abri, Logan me encarava atentamente.

— Estou pensando no quanto eu te amo. — Minha voz não era mais alta do que um sussurro. — No quanto sou feliz por ter você...

Naquele momento, eu não me importava se estava deixando que Logan visse meu estado mais vulnerável.

Não me importava se a maioria das pessoas dissessem que era perigoso entregar o coração tão completamente para alguém.

Eu entreguei não só meu coração para Logan, mas também, minha alma, meus sonhos, minha esperança...

Ele não hesitou por um instante em pegar tudo isso.

E então jogar fora como se fosse uma caixa velha, ocupando um espaço em sua vida que ele nunca planejou me ceder de verdade.

✥✥✥