Até meu último dia escrita por NatynhaNachan


Capítulo 11
Cap 11 - Epílogo - Captura


Notas iniciais do capítulo

Agora sim partimos ao final.
Vamos acompanhar?
Boa leitura!



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A luz do luar iluminava o campo.Os sons noturnos de besouros, grilos e o farfalhar das folhas das árvores compunham o cenário calmo.As folhas de cerejeira da propriedade chegavam ao chão ao sabor da brisa de primavera.

Os ouvidos apurados guiavam as passadas cuidadosas, praticamente inaudíveis; os olhos azuis examinavam cada detalhe. Até mesmo sua respiração estava controlada ao extremo, técnica que o mestre de seu marido havia passado a ela ; agora estava diminuindo até mesmo seus batimentos cardíacos para evitar ser notada. Tinha que vencer e sabia estar cada minuto mais próxima disso.

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Quatro dias antes….

—Eu ainda acho que posso melhorar minhas técnicas e vou te alcançar muito mais rápido daqui pra frente. -  A moça apontava o hashi para o companheiro ruivo. - Você me ensinou bastante coisa e eu andei praticando. - Ela se empertigou, peito estufado e olhar confiante. -  Sou até capaz de escapar de você , se quiser saber. - E arqueou uma sobrancelha quase arrogante, o encarando .

—Então a senhora minha esposa acha que pode passar indetectada por mim? - Ele apoiou os cotovelos na mesa , a encarando com ar paciente. - Pois me orgulho muito de tê-la ensinado muito do que eu sei ...E sem sombra de dúvidas você é uma excelente aluna. - Ele a acariciou em seu queixo, levemente. - Mas não te ensinei tudo. - Ele se arrumou em seu lugar, as costas eretas, o olhar persuasivo preso no dela. - Não acho justo uma competição entre nós quando passei metade de minha vida aperfeiçoando minhas habilidades. - Ele suspirou, segurando seu próprio queixo e a olhando com carinho.

— Resumindo: você me capturaria em pouco tempo. Certo? - Ela cruzou os braços em frente ao tronco.  - Desafio aceito, digníssimo esposo. - Ela o olhou de esgueio e se levantou num rompante , animada. - Podemos escolher um local e colocar a perseguição em prática. - Ela começou a retirar a louça enquanto falava.

Ele riu baixo antes de se levantar e auxiliá-la com a cozinha.

—Pois bem, eu não me oponho, mas não quero deixar de tornar isso mais divertido para nós dois, koishii. - Ele a segurou pela cintura, seu queixo repousando na curva do pescoço dela. - O que ganho se te capturar? - A voz rouca já era claramente um sinal de que ele estava levando as coisas para rumos mais interessantes.

Ela se virou de frente para ele.

—Bom, se você me capturar em menos de meia hora, para ser mais exata. - Ela tocou a ponta do nariz dele com seu dedo indicador em riste, rindo. - Você terá direito a um pedido realizado e vice-versa. Que tal? - Ela ergueu ambas as sobrancelhas triunfantes.

Quando ele parecia rumar para um sim, ela o interrompeu, seu indicador agora nos lábios dele, o impedindo de falar.

—Mas tenho 2 condições, para equilibrar os fatores.... - Ela tinha mais que a sombra de um sorriso triunfante estampada em sua face.

— Sou totalmente a favor do equilíbrio. -  Ele segurou a mão dela que estava perto dos lábios dele , aguardando o que viria com um misto de excitação, expectativa e curiosidade. 

Ver uma Kaoru tão triunfante e com ideias mirabolantes mexia profundamente com os desejos dele.

—Ótimo, nesse caso “nãos” cancelarão nosso trato. - Ela olhou com uma seriedade desafiadora no olhar. 

Ele já estava acenando afirmativamente com a cabeça.

“Ah, Kaoru, se não acabar logo vou ter que liberar a mesa da cozinha para usar de modos mais agradáveis com você aqui e agora” . O lado B de Kenshin gritava para se soltar das amarras da racionalidade .

—Pois vamos ter mais 3 dias de preparação. - Ela fez o número com os dedos, ele aquiesceu. - E não vamos dividir a cama ou ter qualquer tipo de contato físico  até depois do desafio da perseguição.Começando hoje mesmo.

O Quê? E seu plano de tomá-la ali mesmo depois dessas palavras?

Kaoru observava o samurai contorcer sua face numa expressão preocupada e desgostosa. Ela mesma não estava muito empolgada com as restrições, mas sabia que devia focar todas suas energias em suas habilidades para vencer esse desafio.

—Então, aceita? - Ela tinha um sorriso invencível na face.

Ele a observou por alguns segundos, se aproximou,cercou-a contra a parede e a tomou em seus braços, a beijando o mais calorosamente que conseguia por longos minutos.

Depois de se afastarem aos poucos, como que saída de um transe, a moça o olhou como se fosse reclamar, ele a parou.

— Precisava de algum tipo de despedida. - Eles se olharam com meios sorrisos. - Koishii, você está certa sobre essas condições? - Ele a olhou como se a desafiasse.

— Cem por cento certa , Kenshin, meu querido. - Ela acabou de encher a pia com a louça . - Eu estou certa de que sua concentração irá decair consideravelmente , me trazendo a vitória. - E terminou essa fala num sussurro no ouvido dele.

Ele teve que suspirar um pouco mais fundo. Emendou um riso seco e rouco.

—Agora que já está tudo acordado e não tem mais volta... - Ele se aproximou do ouvido dela vagarosamente. - ...Cometeu um erro primário , aumentando consideravelmente meu desejo de tê-la em meus braços…Vou te encontrar com todos os recursos que tenho, o mais rápido que conseguir. - E a voz rouca finalizou. - E depois você vai ser minha até depois do sol raiar, Kaoru.

Ela se desvencilhou dele e não evitou engolir seco. Com um belo sorriso desafiador na face.

—Veremos, meu amado. - Ela se ocupou em esperar pela louça que ele começava a lavar, com um pano de secar em mãos.

Parecia uma batalha muda de vontades.

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Os próximos dias se passaram com um casal que parecia trocar olhares como quem troca provocações; continuaram suas rotinas, treinos e afazeres domésticos, com muito mais vontade.

Kaoru passou a deixar o dojo sempre no mesmo horário, depois de suas aulas da tarde, voltando para casa exausta e faminta no começo da noite.Obviamente Kenshin notou e a questionou no segundo dia em que isso se repetia.

—Não vai mesmo me dizer o porquê dessas suas saídas exaustivas, não é? - Ele a olhava como se a examinasse tentando pegar alguma dica em qualquer gestual dela.

Claro que a Kamiya sabia das habilidades do ruivo e tentou parecer o mais neutra possível. 

—Não está em nosso combinado qualquer direito à interrogatório, meu amor. - Ela conversava com ele enquanto secava os cabelos, acabando de sair de um relaxante banho. - Eu não pergunto sobre as longas meditações, certo? - Ela deu um sorriso sabichão.

—Não tenho segredo nenhum - Ele ergueu os ombros inocente, enquanto acabava de retirar mais uma peça de roupa do varal. - Você sempre soube que nunca dormi muito bem; depois que passamos a dormir juntos isso estava começando a melhorar cada vez mais… - Ele a olhou com carinho; já ela não conseguiu deixar de exibir olhos preocupados com a fala dele. - Mas agora, parece que regredi totalmente; preciso encontrar um meio de dormir melhor.

Ele não conseguiu segurar uma mínima expressão de riso no olhar, que teria passado despercebida por uma Kaoru destreinada.

Mas não por essa Kaoru.

—Ora, seu! - Ela deu um audível tapa no ombro do marido. - Não ouse tentar trapacear para dormir comigo , entendeu?

Ele a encarava genuinamente surpreso.

—Você... Notou…? - A pergunta ficou no ar, como se ele concluísse sozinho.

— Não me subestime, Kenshin. -Ela sorriu triunfante. - Eu dou tudo de mim para vencer, incluindo saber ler ainda melhor as intenções de meu muito bem treinado esposo. - Ela pendurou a toalha que estava no cabelo no varal do local, próximo a ele.

—Por isso continuo meu treino, agora meditando intensamente para não descumprir a parte do acordo de ficar sem contato físico… - Ele se aproximou dela, milimetricamente, sem tocá-la, porém sorrindo com malícia no olhar; ela começou a recuar delicadamente, olhando para os lados, medindo o terreno. 

—Que bom para você, faz muito bem em manter sua parte no acordo. - Kaoru tomava a direção de um dos pilares de sustentação do dojo, um sorriso sem graça tomava sua face. - Não seria justo de outro modo, apesar de não ser muito fácil.

— Nem fácil nem prudente . - Ele continuava a caminhar para perto dela. - Resistir à imensa e constante tentação de … - E o olhar dele adquiriu novo brilho , praticamente animalesco. - ...Te beijar sem descanso,  levá-la para o futon e te fazer amar cada prazeroso segundo comigo. - E pousou a mão no pilar, mantendo Kaoru com as costas pressionadas, o olhar de exaspero na face dela; ele estava se aproximando dela e parando à uma ínfima distância de acessar seus lábios. - O que acha de uma trégua, só por hoje, cara esposa? - Ele mirava as íris dela com insistência, os lábios contorcidos num mínimo sorriso atrevido.

— Hmmm, boa ideia, essa de meditar; faz tempo que estou precisando retornar … - Ela se desvencilhou rapidamente por baixo do braço dele e saiu quase correndo para o quarto que ocupava quando solteira. - Obrigada pela dica. - Piscou brincalhona já muitos passos longe dele, virou as costas e fechou a shoji atrás de si.

Kenshin ficou olhando de longe, rindo baixo. Passou os dedos por entre suas mechas de cabelo ruivo, suspirando fundo. Estava sentindo na pele o impacto de ter que ficar longe de sua amada e não saberia até quando aguentaria o impulso de invadir o quarto e acabar com o joguinho da esposa...

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O cenário escolhido era o de um campo aberto com matas e bosques, nada muito longe da civilização; um lugar familiar a Sano, porém não à Kaoru ou Kenshin; o brigão também  havia gentilmente também arranjado local para que o casal se hospedasse, com direito à águas termais particulares, após o lendário jogo de gato e rato ter final.

Além disso Yahiko, Sano e Megumi se organizaram e decidiram adentrar o jogo como obstáculos extra , ajudando minimamente Kaoru e deixando o jogo mais equilibrado.Obviamente Kenshin já conhecia a presença de todos eles e não se deixaria enganar, porém eles também poderiam fazer barulhos que distraíssem os ouvidos do ex-battoussai.

Como um passo extra , Hiko-sensei havia sido chamado para participar de tudo por Sano e Yahiko que, explicaram sobre  o desafio do casal ao mestre espadachim; eles sabiam muito bem que se havia alguém que gostaria de atrapalhar Kenshin seria seu ex-mestre. Sedento por testar e punir Kenshin por ser seu eterno aluno idiota, o próprio espadachim lendário tinha cuidado da instrução de Kaoru nos últimos dias, fora do dojo, sem o conhecimento do ruivo. Nada mais justo para colocar os dois em pé de igualdade.

—Ela está  à beira da perfeição na arte da indetecção; torço pela moça. - Ele disse à Sano e Megumi entre um gole e outro de sake quando se encontraram algumas horas antes do evento, no jantar num restaurante local. - Se há alguém que tem chance de  vencê-lo é ela; se esforçou pra isso. - E virou o recipiente de uma vez, concluindo. - Esse idiota não sabe que não se desafia mulheres decididas.

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Haviam combinado que tudo aconteceria à noite, no local escolhido pelos amigos.

Kenshin já havia sentido seu sensei nas redondezas.Não podia parar e se preocupar com isso nesse momento; havia a deixado escapar de suas mãos por muito pouco, já pela terceira vez, em suas contas. Imperdoável.

Os pensamentos predadores de Kenshin haviam tomado toda sua persona; um “q” de ex-hittokiri o havia feito levar tudo muito mais a sério do que planejado anteriormente; as longas noites sem ter sua amada haviam feito os sentidos dele ficarem à flor da pele. Precisava dela em seus braços, e a teria. Muito em breve.

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Os ouvidos apurados guiavam as passadas cuidadosas, praticamente inaudíveis; os olhos azuis examinavam cada detalhe. Até mesmo sua respiração estava controlada ao extremo, técnica que o mestre de seu marido havia passado a ela ; agora estava diminuindo até mesmo seus batimentos cardíacos para evitar ser notada. Tinha que vencer e sabia estar cada minuto mais próxima disso.

Tinha que usar toda sua concentração para conter seu nervosismo; precisava andar se escondendo em árvores, arbustos e rochedos, o que tornava tudo mais difícil. Ela sentia a presença dele a se esgueirar e , por muito pouco , não alcança-la. O esposo já havia passado muito perto de vencer por três vezes e não havia ido nem metade do tempo combinado.

 Adicionada a parte física, vinham pensamentos de como um lado de seu marido ruivo havia sido despertado durante os últimos dias, como não acontecia há tempos; a quase selvageria do olhar dele para ela no dia anterior denunciava o quanto ele estava precisando dela. Não negava que gostava desse lado voluptuoso e praticamente irracional dele, de ser o alvo de seus desejos...Um calafrio percorreu a espinha dela; era como se temesse e quisesse que ele a encontrasse ao mesmo tempo.

“Nada de se entregar , Kaoru;  você vai superá-lo, ganhar dele .Então dê o melhor de si!”

Um barulho à direita no bosque, perto do riacho; olhos atentos, sentido afiados. “Megumi; obrigada por passar tão longe à direita…” . A Kamiya não escondeu um semi-sorriso ao notar o ki de  Kenshin se deter poucos segundos. O suficiente pra ela mudar de rota.

 De modo algum jogaria fora as horas que havia sofrido com Hiko-sensei; foi depois desses dias que ela entendeu tamanha expertise nos sentidos aguçados de Kenshin. Hiko era muito mais sério e exigente do que aparentava e ela deu valor a isso, aprendendo o máximo possível seu intensivo de indetecção. Não sem algum sofrimento com a dureza das palavras e técnicas dele, mas ela, como boa e teimosa espadachim , passou por cada etapa sem desistir por um minuto sequer.

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Estava perto, sentia o ki dela; muito mais sutil e controlado, quase um fio imperceptível. Ia precisar ser o mais cuidadoso e concentrado possível para não perder outra chance.Certamente havia sido a arte de seu sensei que conseguiu deixá-la o mais afiada possível em somente 3 dias de treinamento.

“Não é de se esperar menos dela, sempre cabeça dura ; deve ter se dado bem com outro teimoso.” - Um ligeiro meio sorriso veio depois desse pensamento.

A mata era iluminada o suficiente para ninguém se perder, os barulhos mínimos :  rãs, um córrego, grilos...Um ki rápido à direita, depois do riacho, acima, pela trilha.

“Primeiro Megumi, agora Yahiko.Estão se esforçando para me distrair e ajudá-la." Kenshin mal virou a cabeça, continuou em sua rota, mudando um pouco a direção, como aparentemente Kaoru havia feito pela segunda vez.

Kenshin admitia a si mesmo que estava se divertindo e agradecia internamente a ideia da esposa; estava direcionando uma habilidade sua que inicialmente tinha aplicações nada admiráveis para um jogo divertido e provocante.Seu ser estava imerso na caçada, mas não executaria uma vida; nos final das contas abraçaria a mulher que havia dado novo sentido à sua própria jornada nesse mundo.

E mal podia esperar por isso.

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Estava andando rapidamente, correndo, se escondendo há mais de vinte minutos, estava certa disso.

O grupo havia combinado lançar um sinal de fumaça a cada dez minutos passados e , depois da marca dos 20 minutos, fariam mais dois sinais . O último e derradeiro sinal seria no local de encontro, a alguns metros da casa  em que o grupo festejaria e que abrigaria o casal para uma noite privada.

Quarto e último sinal de fumaça a alguns metros na direção nordeste. Só tinha mais cinco minutos.

Seu coração havia decidido traí-la e bater forte alguns segundos.

“Droga! Cabeça fria Kaoru; foco no entorno, respire só o necessário...Só mais 5 minutos!

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Um pulso breve, rápido e alegre.Ele notou o ritmo caloroso do coração dela, animada e temerosa, logo à sua frente. Ia conseguir, por muito pouco, alcançá-la. Se concentrou em abordá-la por trás.

Ela, por sua vez, não deixou de detectar o pulso do ki dele : preciso e poderoso.

Já estavam em frente à casa. Uma Kaoru surpresa estava sendo abraçada pelas costas por um Kenshin sorrindo e respirando contra seu pescoço.

—Capturada, minha Kaoru. - Os lábios dele roçavam vagarosamente no pescoço dela. Os pelos arrepiados da nuca dela só o fizeram querer provocá-la ainda mais - Senti tanto sua  falta que não sei se consigo te soltar.

Ela deu um suspiro e  se virou devagar, já afagando os braços dele; expressão cansada, mas suavemente alegre.

—Venceu, meu marido, capturada finalmente. - Ela afagou a bochecha dele. - Mas por muito pouco. - O olhou com desafio, sorriso torto nos lábios.

—Você foi excelente. - Ele a mantinha próximo de si, a segurando levemente pela cintura com uma mão e alisando o cabelo dela com a outra. 

— Muito bem , pombinhos! - Sano gritava a uma curta distância, acompanhado de Yahiko e Megumi. - Foi a mais lendária partida de esconde-esconde que já presenciei! - Ele sorria largamente.

—Eeeeee, finalmente ! - Yahiko correu de encontro ao casal, animado. - Vocês dois conseguiram nos deixar nervosos para saber quem ia ganhar. - Yahiko se colocou no meio dos dois , com um largo sorriso no rosto. - Venham, vamos entrando. - Ele os guiava para a casa, onde encontraram Hiko-sensei aguardando do lado de fora.

— Bom trabalho, menina. - Hiko mantinha os braços cruzados, expressão facial neutra. O que poderia ser considerado quase um sorriso , se tratando dele. - E você, aluno estúpido, quase foi vencido por sua habilidosa esposa. - O mestre se aproximou do pupilo, o punindo com um audível tapa na nuca.

—Sensei, agradeço por tê-la treinado. - Ele se curvou respeitosamente ao mestre, ainda acariciando a nuca pela dor. -Me descuidei por motivos de privação extrema, por isso quase perdi a presença dela. - Nesse momento ele olhou de esgueio para a esposa, que tossiu alto para disfarçar.

 -Não me importa mais; preciso ir agora. - Curvou-se minimamente para os presentes e voltou sua atenção para seu aprendiz. - Uma dessas é uma em um milhão. - O grande dedo em riste cutucou o peitoral do samurai ruivo. -  Nunca desafie uma mulher poderosa e com habilidades, seu idiota. - E desferiu um tapa final no ombro dele. - Ela merecia ter ganhado, pela competência maior que a sua, que se distraiu com a presença de pessoas que já conhecia tão bem. - E deu as costas ao grupo, indo embora e acenando um “adeus” com uma mão erguida ao longe.

Todos o olharam ir-se embora, logo sumindo nas sombras.

—Sempre uma figura esse Hiko; não sei como sobreviveu tantos anos depois de tanta bifa, Kenshin, honestamente. - Sano abraçou o amigo de lado.

—Venha Kaoru, vou te ajudar a se limpar,  trocar essa sua roupa e arrumar esse cabelo para ser mais rápido; meninos pra lá, cuidem do Kenshin, sim?- Megumi deu um sorriso amedrontado , se virou para Kaoru e pegou a amiga pela mão, a guiando para um quarto interno.

Os grupos se separaram com Kaoru e Kenshin trocando olhares significativos.

Sano e Yahiko levaram Kenshin a outro cômodo, para que fizesse o mesmo.

Ambos tiveram tempo para um breve banho.

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—Caramba, seu olhar está de amedrontar mesmo. - Sano mostrava a pilha de roupas ao amigo, que estava enrolado em toalhas , acabando de se secar. - O que aconteceu ? Ativou seu modo “battoussai” e não consegue desligar? - O brincalhão coçou a nuca, ligeiramente preocupado.

Kenshin acabava de se secar  após ter se banhado brevemente.

—Não sei do que você está falando . - Logo se olhou num pequeno espelho e viu o brilho dourado de suas pupilas, a expressão predadora de sua face. - Ah sim, entendo. - Apoiou a testa na mãos, respirando fundo. - Fizemos uma aposta que envolveu não dormirmos juntos nos últimos quatro dias. - O samurai já estava de volta em suas vestes . - Isso já me tirou a paz e me  equipou com meus instintos mais irracionais. - Agora secava e arrumava os cabelos novamente. - Logo volto ao normal, talvez depois de relaxar um pouco. - O sorriso pacífico estava quase em seu natural.

 Yahiko também estava na porta do cômodo, ouvindo a conversa e observando o amigo mais velho. 

—Bem, ela realmente quase ganhou de você nessa. - Yahiko cutucou o ruivo com o cotovelo. - Mas uma vez Kenshin, sempre Kenshin, não?

Os três levaram seus risos para o local do mini festejo.

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—  Não acho que foi sábio você provocá-lo a ponto de nem trocarem qualquer tipo de contato físico, Kaoru. - Megumi ajudava a moça a se pentear. - Você endoideceu o homem! Viu a cara dele, o instinto de caça ainda no olhar? - A médica havia se afastado, deixando Kaoru terminar o penteado. - Não sabia que você gostava de brincar com fogo….E desse modo vai ter uma longa noite colhendo os frutos dessa brincadeirinha inocente. - E cobriu parcialmente um riso malicioso com a palma da mão.

—Megumi, eu precisava de todo foco , atenção e energia, não ia ter outro jeito; numa outra vida ele foi um hitokiri, esqueceu? - A espadachim baixou consideravelmente o volume de sua voz nesse ponto.  -  E também isso me deu algumas vantagens, atrapalhando o foco dele.Não tenho com o que me preocupar. - Kaoru sorriu satisfeita na frente do espelho, se levantando. - E o olhar dele é maravilhosamente hipnotizante para mim, seja de que jeito for. - A moça e abanou de leve. - Me faz sentir umas coisas que… - E esfregou os braços, já consideravelmente arrepiados.

Ambas se  olharam,sorrisos discretos em suas faces, se dirigindo para o restante do grupo.

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A noite se passava entre comentários animados, como se fosse uma narração de todos do grupo, relembrando os melhores lances da noite.

—Eu não achei que seria de grande ajuda, sinceramente. - Megumi entornava mais um gole de sake. - Só entrei no jogo para aumentar, mesmo que infimamente, as chances de Kaoru. - E piscou alegre para a amiga, voltando a beber.

—Ah, ajudou sim, Megumi . - A mais jovem se abanava de leve com um leque, observada pelo marido. - Qualquer segundo de distração me ajudou, pode ter certeza. - Ela petiscou mais um bolinho, contente. - Agradeço muito o empenho de todos.

— Devia agradecer mesmo, mocinha, aquelas fogueiras foram um atraso de vida! Coisa mais difícil foi acender tudo no horário , o que me diz moleque? - Sano cutucou as costelas do jovem que estava ao seu lado.

— Precisava me cutucar assim? Estou bem do seu lado! - Yahiko massageava a parte machucada enquanto ambos começavam a entrar em argumentos infantis.

Kenshin parecia ainda um tanto alheio; periodicamente se obrigava a conversar com os amigos mirando seu olhar para outra pessoa que não fosse Kaoru; a expressão do rosto dele havia se suavizado, mas não desaparecido completamente.

Já Kaoru parecia feliz em conversar com todos e ainda mais interessada na atenção do olhar do marido quase exclusivamente para si; sorria um tanto encabulada ao encontrar o olhar dele.

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Logo o encontro acabou; Sano e Yahiko acompanharam Megumi para uma hospedagem próxima que havia sido agendada pelo grupo.

O cômodo do casal estava pronto e arrumado. Um levíssimo incenso queimava, deixando o cheiro do ar levemente amadeirado.

Ambos estavam sentados juntos na varanda próxima ao quarto, admirando a lua cheia e os vagalumes que circulavam por ali, sem dizer quase nada .Somente apreciando a companhia um do outro. 

Era muito bom sentir que todo o clima de competição havia deixado de existir, levando consigo a tensão.Foi Kaoru quem decidiu se pronunciar primeiro.

—Bem,  foi muito divertido pra mim, apesar de só quase ter ganhado. - Ela riu, satisfeita. -  Espero que para você também…? - Ela estava curiosa para ter a opinião dele.

—Concordo, me diverti muito também. - Ele estava ainda relaxando em seu lugar, de braços para trás, suportando o peso de seu corpo. - Foi um bom exercício e você praticamente conseguiu me superar. - Ele riu baixo. 

—Não sem um esforço extremo treinando com seu mestre. - Ela bufou, se virando melhor para ele. - Sério, como você conseguiu? Ele é tão….seco. - Ela parecia incerta com o uso de palavras.

—Bom, eu não tive opção e também não fiquei sob a tutela dele tanto tempo assim. - Ele se arrumou para encará-la também; seus olhos ainda a medindo. -Mas nada comparado ao que você me fez passar, meu amor. - Ele a trouxe mais para perto de si, acariciando levemente um dos braços dela. - Você me fez te ver como meu único objetivo de vida pelos últimos dias, e isso não me ajudou em absolutamente nada. - Ele suspirou, afagando sua própria nuca, meio nervoso. - Estou obcecado em ter você comigo desde a noite quando você me falou do desafio da captura.

A intensidade dele fez com que ela tivesse um nó na garganta; estava nervosa e ao mesmo tempo lisonjeada. Era difícil explicar...Só sabia que não era nada ruim.

—Kenshin, estamos casados já tem algum tempo, não entendo porque essa urgência toda...- Ela estava genuinamente curiosa, o examinando atentamente agora.

Ele se endireitou, a olhando comicamente,  como se estivesse prestes a explicar a coisa mais óbvia do mundo. A colocou delicadamente em seu colo.

—Quanto mais fico junto a você, menos quero ficar longe. - Ele explicava com o queixo apoiado no ombro dela enquanto tinha as mãos dela nas suas, recebendo massagem dele. - A obsessão veio do seu joguinho. - Uma voz rouca atingiu os ouvidos dela . - Sorte sua  não ser nada perigoso . - Ele tocou os lábios na lateral do pescoço dela, a fazendo rir.

—Acho bom não ser, sendo que estou te devendo algo que ainda não sei …- Ela se mostrou um tanto vulnerável nesse ponto.  - Espero que tenha pensado direito nesse seu desejo . - Ela o olhou de lado, acariciando as mãos dele de volta.

Ele suspirou e deu um riso que fez questão que ela notasse.

—O meu desejo, amada minha. - Ele afagou delicadamente a face dela, se colocando de modo a ver corretamente o rosto dela agora. - É que você me peça mais. - E parou para observar o efeito de suas palavras no semblante dela.

— Pedir mais… ? - Ela pensou alguns instantes. As sobrancelhas esforçaram-se para se unir no meio da testa dela. - O que você quer… - E a compreensão a atingiu.

As bochechas avermelharam-se rapidamente.Ela sentia sua temperatura subir, incapaz de argumentar. A jovem ainda não havia extinguido totalmente sua timidez mesmo já estando casada há algumas semanas.

Kenshin foi se reaproximando e começou a beijá-la delicadamente, indo se aprofundar aos poucos, tomando o corpo dela mais junto ao seu, sentindo as unhas dela já arranhando levemente seus ombros, respirações se alterando.

A ergueu e começou a caminhar rumo ao quarto ,a levando ao amplo futon, lábios ininterruptamente em contato.

—Nunca mais dormiremos separados, me prometa. - Ele parou o contato para fazê-la sentir a seriedade do pedido dele. - Não importa o porquê. - Ele, de cima dela,  entrelaçou os dedos das mãos dele com os dela. -  Não consigo mais ter paz sem você ao meu lado , Kaoru.

Ela sorriu e foi buscar mais um beijo dele, entendendo que ele a queria de todos os modos, não só fisicamente. Sorriu ao notar que ela sentia o mesmo.

—Sempre dormiremos um ao lado do outro, até meu último dia...Prometo. - Ela brincou com as mechas do cabelo dele. - Agora, estou precisando de você, Kenshin, meu amor. - Ela caprichou no olhar e mordeu levemente o lábio inferior, o puxando levemente para cima de si. 

Ele imediatamente retirou a parte de cima de suas roupas, desamarrando as roupas dela também.

—Seus pedidos são uma ordem, minha Kaoru . - E o sussurro no ouvido dela deu lugar a uma noite de cada vez mais numerosos pedidos por mais e mais.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da jornada. Amei escrever sobre esse casal. Quem sabe logo não parto para outro? rs
Agradeço todos os leitores e espero ter colaborado para distrair você nesses tempos em que o que mais precisamos é desligar um pouco nosso cérebro da realidade e divagar em coisas mais amenas.
Grande beijo, se cuidem e até a próxima :)



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