She escrita por Mavelle


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Não sei se todo mundo viu, mas terça-feira eu postei um capítulo de surpresa, então, se não tiverem visto, voltem e leiam o capítulo 16. Inclusive, eu sempre aviso no twitter quando posto capítulo, então, se quiserem, me sigam lá @mavelledejour
Não vou dizer o tradicional "espero que gostem do capítulo" porque não sei se essa é uma palavra que se aplique com a maior parte dos sentimentos e os acontecimentos, mas enfim né, boa leitura

Beijos,
Mavelle



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Pouco mais de uma semana depois, Benedict estava em seu ateliê, completamente focado, tentando fazer com que o quadro saísse como ele o tinha idealizado. Mal tinha conseguido trabalhar na exposição nas últimas semanas, já que o volume de encomendas tinha aumentado significativamente por causa do dia dos namorados, que seria em menos de duas semanas. 

Seu foco foi perdido quando viu o telefone vibrando na mesinha à sua frente. Agora que já tinha perdido a concentração, podia muito bem ir ver quem pedia sua atenção.

"Kate: Quando que eu vou poder começar a chamar a Sophie de cunhada? 

Kate: E não se faça de desentendido porque eu troquei informações reais com a Posy e com a Frannie dessa vez

Kate: AINDA BENEDICT

Benedict: Eu não acredito que a Frannie contou isso pra você

Kate: Ela se aguentou até ontem 

Benedict: Você sabe que eu sou emocionado

Benedict: A Sophie ainda não quer que ninguém saiba que estamos juntos porque pode prejudicar ela na empresa

Benedict: Do tipo as pessoas começarem a dizer que tudo o que acontecer de bom com ela é porque está comigo

Kate: A

Kate: Pior que eu entendo (bem demais) a situação dela

Benedict: Imaginei que sim

Kate: Mas assume ela pra gente

Kate: Quero outra cunhada

Benedict: Eu pensei que suas cunhadas seriam a namorada da sua irmã ou uma das várias irmãs do seu marido

Kate: Detalhes

Kate: Tecnicamente seria concunhada, mas dizer que ela é minha cunhada é mais legal

Kate: A Penelope não reclama e eu tenho certeza que a Sophie também não reclamaria

Kate: Mentira, a Penny reclama porque ela diz que ela merece o posto de irmã, não de cunhada

Benedict: E aí ela e o Colin começam a discutir quem dos dois seria seu irmão e quem seria cunhado?

Kate: Exatamente

Benedict: E o Anthony fica do lado com cara de bunda e a dois passos de dizer que ouvir discussão faz mal pro bebê

Kate: Se eu não soubesse o quão bem você conhece seus irmãos, eu acharia que você estava lá 

Kate: Mas enfim, direto ao ponto 

Kate: Você vem jantar aqui em casa na sexta

Benedict: Vou? 

Kate: Vai sim 

Kate: E você pode trazer mais alguém 

Kate: Talvez uma certa moça com quem você está saindo e com quem finge não estar saindo

Benedict: Ok 

Benedict: Vou ver se ela pode

Benedict: E você tá andando muito com o Colin, querendo dar uma de cupido

Kate: Primeiramente, eu já tô tentando dar uma de cupido pra cima de vocês dois desde outubro, respeita minha história

Kate: Segundo, quem você acha que ensinou ele a ser cupido? 

Kate: Nós dois somos dupla de cupidos desde os 13 anos

Kate: Engraçado que na época foi pra juntar o Anthony com a Danielle que morava na nossa rua KKKKKKKKKKKK 

Benedict: Aquilo foi feito de vocês dois? 

Kate: Considero o meu segundo maior erro como cupido

Kate: Logo atrás do Colin com a Cressida

Kate: Não sei o que eu tava na cabeça quando fiz isso

Benedict: Nem eu 

Kate: Enfim

Kate: Venham sexta

Benedict: Vou pensar no seu caso"

Ele iria jantar com eles, claro, mas irritar Kate era o mesmo que irritar uma de suas irmãs: hilário e algo que devia ser feito sempre que possível. Ia aproveitar que tinha dado uma pausa e mandar logo mensagem para Sophie, perguntando se ela queria ir ao jantar com ele, mas ela já havia mandado mensagem antes. 

"Sophie: Oi

Sophie: Quer fazer alguma coisa hoje de noite? 

Benedict: Querer eu queria, mas não sei se dá certo

Benedict: Tenho que terminar a encomenda que tô fazendo ainda hoje pra entregar amanhã de manhã e não tá fluindo muito bem

Benedict: Provavelmente vou ter que ficar trancado no ateliê até mais tarde

Sophie: Ah

Sophie: Tuuuuudo bem

Sophie: Boa sorte ❤️"

E de verdade, estava tudo bem, mas não mudava o fato de que ela queria vê-lo quando chegasse em casa, nem que fosse só para falarem sobre seus dias e jantar. Aquele tinha sido um dia particularmente cansativo, tanto física quanto psicologicamente. Por alguma razão, havia ocorrido uma reunião com os antigos integrantes do conselho de acionistas da Bridgerton, e ela tinha sido designada para limpar a sala antes que a reunião acontecesse. Quando já estava terminando de passar o limpador de vidros no tampo da mesa de reuniões, quase vinte minutos antes da hora marcada, a primeira pessoa que participaria da reunião chegou. 

E, com a sorte de Sophie, é claro que era Araminta. 

— Então é verdade mesmo que você está trabalhando aqui como faxineira. - Araminta disse, a voz cheia de deboche. - Sabe, eu podia ter te arranjado uma posição melhor, querida. Era só ter me dito. 

— Estou mais que satisfeita com a minha posição, Araminta, mas obrigada pela preocupação. - Sophie respondeu, já recolhendo suas coisas e se preparando para sair da sala. 

Enquanto se virava e colocava as coisas no carrinho da limpeza, ouviu o barulho de algo caindo no tampo de vidro da mesa (e provavelmente no chão acarpetado também). Ela respirou fundo e olhou para trás, apenas para ver Araminta muito bem acomodada em seu lugar à mesa e o que parecia ser meio quilo de granola espalhado no tampo e no carpete, como ela tinha suspeitado. 

— Ops, que desastrada. - Araminta disse, com um sorriso cínico no rosto, enquanto permanecia sentada no mesmo lugar, ainda segurando um pote gigante, que agora só tinha um dedo de granola, mas que ela suspeitava estar cheio 30 segundos antes. - Só estava indo fazer um lanchinho antes da reunião. E eu limparia a bagunça, mas fui na manicure ontem, sabe como é. E como é o seu trabalho, você pode limpar? 

Sophie sentiu o seu sangue ferver. Não tinha dúvidas de que ela tinha feito aquilo de propósito, mas não estava numa posição para apontar isso. Principalmente porque ela era sua superior e entrar num argumento com ela ali dentro era burrice. Não importava o quão nojenta ela fosse (e o quão cientes todos estavam disso) ainda seria a palavra de uma contra a da outra e a palavra de Araminta valia mais que a dela, por estar mais alto na hierarquia. 

— Claro. - ela respondeu. 

Então voltou a pegar o aspirador que já tinha usado para limpar o carpete, sendo que o aparelho, obviamente, era um trambolho gigante e pesado. De quem foi a ideia de botar um carpete aqui?, ela pensou consigo mesma. Definitivamente da mesma mente que decidiu que seria uma boa ideia comer granola aqui, já que só tem dois ambientes na empresa toda com carpete, essa sala e a dela. E sério mesmo? Granola? Não tinha nada que produzisse mais farelos não?

Ela primeiro tirou os pedaços de granola da mesa e teve que admitir que Araminta fez um ótimo trabalho jogando aquilo e tentando fazer parecer um acidente. Tinha granola espalhada pela mesa inteira e tinha caído em algumas cadeiras também, mas, com toda a paciência do mundo (que era muito mais maturidade que ela se considerava capaz de demonstrar), ela rapidamente limpou tudo da mesa e das cadeiras e foi se concentrar no chão, que seria uma tarefa muito mais difícil. Pegou o aspirador de pó e voltou a passar sobre o carpete. 

— Está faltando um pedaço ali. - Araminta apontou um ponto embaixo da mesa, e bem no meio. Sophie simplesmente a encarou, sabendo que não tinha nada naquele lugar. - É o seu trabalho limpar, não é? - ela respirou fundo e foi limpar o ponto que já estava limpo. 

Ou pelo menos tentar, já que Araminta estava no meio do caminho. 

— Pode se levantar? - Sophie pediu. 

— Minhas varizes estão doendo bastante hoje. Só melhora quando estou sentada. 

— Então pode pelo menos se afastar para que eu possa limpar aqui? 

Araminta afastou um pouco a cadeira, mas não o suficiente. Sophie teve que se abaixar para conseguir passar o aspirador, e, nesse momento, sentiu a pressão do par de saltos nas suas costas, empurrando e fazendo com que perdesse o equilíbrio. Ela só não caiu de cara no carpete (que pelo menos estava limpo, já que ela tinha aspirado 15 minutos antes e nenhuma granola tinha caído ali) porque sentia que algo do tipo ia acontecer e, graças aos anos de treinamento, tinha reflexos rápidos. Simplesmente apoiou o peso do corpo nas mãos, sentindo um pouco de dor no pulso esquerdo.

— Caso tenha se esquecido, esse é o seu lugar, bastarda ingrata.  

Engraçado as coisas que você se lembra quando está na merda, ela pensou, enquanto se sentava embaixo da mesa, a fim de se levantar com mais facilidade. No momento, a única coisa que vem na minha cabeça é “meu pai disse para nunca dar as costas pra um exilado!”, e, caramba, o Simba estava certo. Na maior parte das vezes a mensagem não é literal, mas eu também não posso virar as costas para a Zira da minha história e eu sempre soube disso, mas agora não tinha como evitar. Além disso, é bem mais útil para mim se parecer que eu não posso me defender ou revidar, apesar do quanto quebra minha alma me apresentar assim para ela de todas as pessoas.

Ela se levantou e ia soltar um “por que?” em alto e bom som quando ouviu os passos chegando no corredor. Aquele confronto com Araminta teria de esperar até… bom, até outro dia. Ou até nunca, o que ela honestamente preferia, apesar de saber que precisava saber por que Araminta a odiava tanto e o que ela tinha feito para ser merecedora de tanto ódio. 

— Boa tarde. - Anthony disse enquanto entrava na sala, notando a tensão palpável entre as duas. - Tudo certo? 

— Sim, claro. Sophie acabou perdendo a noção do tempo, mas agora já terminou de limpar, não é? - Araminta disse, com um sorriso estampado no rosto. 

— Sim. - ela disse, mordendo os dentes com tanta força que chegava a doer. Conseguiu olhar para o resto das pessoas que se reuniriam, mas, ao ver a preocupação nos olhos de Anthony e Daphne e a indiferença nos olhos dos outros dois homens, que não sabiam que havia acontecido um momento ali, decidiu que o melhor seria só sair dali. Às vezes é mais saudável fugir do que lutar. - Boa tarde. - ela disse, com um aceno para os outros participantes da reunião.  

Sophie queria conversar com alguém sobre aquele encontro (e obviamente não podia ser com Posy), então estava um pouco triste porque não o veria naquele dia, apesar de entender perfeitamente e querer que ele terminasse sua encomenda porque era o melhor que ele poderia fazer por ele no momento. 

Isso não quer dizer nada, certo?, ela se perguntou. Só quer dizer que eu gosto da companhia dele e que realmente não tem ninguém com quem eu prefira (ou até queira) conversar depois de um dia longo no trabalho. Não quer dizer nada e continuamos como duas pessoas que estão muito atraídas uma pela outra e que são boas de conversa e de cama. Não quer dizer nada.

Exceto que você disse “não quer dizer nada” três vezes seguidas, o que significa que definitivamente quer dizer alguma coisa.

"Benedict: Queria falar com você sobre algo

Sophie: Vish

Sophie: O que aconteceu? 

Benedict: Por que você sempre acha que é algo ruim quando eu digo que quero falar com você? 

Sophie: Me lembra de quando eu tinha trocado de escola e os professores diziam que queriam conversar comigo

Sophie: Isso eventualmente levava a "quero conversar com seus pais", que levava à conversa "não chame o conselho tutelar"

Sophie: Então eu sempre fico nervosa quando alguém diz isso

Benedict: Desculpe

Sophie: Tudo bem

Benedict: Das próximas vezes eu vou só dizer 

Sophie: Por favor

Sophie: Eita, meu tempo de pausa está acabando

Benedict: Droga

Benedict: Olha, eu não vou estar lá quando você chegar, mas se quiser ir lá pra casa hoje, fique à vontade 

Benedict: Você sabe onde tá a chave reserva, né?  

Sophie: Sim

Benedict: Então pronto

Sophie: Vou fazer alguma coisa para jantarmos

Benedict: Ok

Sophie: Eu deixei aquela minha blusa e a calça lá semana passada, né? 

Benedict: Deixou sim

Sophie: Preciso de um banho

Benedict: Como sempre, fique à vontade" 

Benedict bloqueou o telefone e ia finalmente voltar ao trabalho, mas esqueceu de colocar no silencioso, então o telefone começou a vibrar naquele momento. Ia ignorar, mas, quando pegou o telefone para colocar no silencioso, viu o nome de Sophie no meio de uma das mensagens que Anthony tinha mandado. 

"Anthony: Eu não sei se vocês já tem alguma coisa programada pra hoje

Anthony: Ou se você tem outra coisa pra fazer 

Anthony: Mas vai conversar com a Sophie

Benedict: Aconteceu alguma coisa? 

Anthony: Eu acho que sim

Anthony: Kate me disse que ela e Araminta nunca tiveram a melhor das relações e, quando chegamos hoje para a reunião com Martin e Roman, as duas estavam sozinhas na sala e o clima estava claramente tenso

Benedict: Eu sou um tapado, puta que pariu

Anthony: Sempre soube

Anthony: Mas o que você fez? 

Benedict: Ela tinha dito oi

Anthony: ?????

Benedict: Sophie só diz oi quando ela tá desconfortável, não tem intimidade ou tá com muito sono

Benedict: Ela tinha me dito oi e perguntado se a gente podia fazer algo hoje e eu tinha dito não 

Benedict: Só percebi que ela não tava bem depois, porque ela tinha colocado muitas letras em tudo e não em bem, então marcamos de nos ver hoje

Anthony: Caramba

Anthony: Eu não entendi uma palavra do que você disse, só que isso quer dizer que você conhece a Sophie a ponto de notar que ela não tava bem por mensagens que não dizem nada

Anthony: Benedict… 

Benedict: Eu sei"

***

Horas mais tarde, Sophie ainda estava sozinha no apartamento de Benedict, fazendo o jantar e esperando que ele chegasse. Engraçado como em tão pouco tempo ela tinha se acostumado com aquele lugar, se sentindo, por vezes, mais confortável lá do que em seu próprio apartamento. 

Deus sabia como ela se sentia confortável o suficiente para mexer nos armários e pegar o que precisasse para fazer o jantar, além de uma cerveja da geladeira. O dia não estava quente, afinal ainda estavam no meio do inverno, mas a cerveja gelada ajudou a acalmar a raiva que borbulhava dentro dela. 

Ela deixou o risoto num ponto em que só precisaria ligar mais dois minutos depois que Benedict chegasse e se sentou na sala para assistir um filme enquanto ele não aparecia. Era um drama bobo que estava passando num canal aleatório e estava ligado apenas para que houvesse algum barulho para lhe manter companhia. Tinha sido um longo dia e ela acabou adormecendo no sofá, coberta por uma manta. Por isso, não percebeu que, quando Benedict chegou, vinte minutos depois, não suspirou ao entrar em casa, mas ao vê-la dormindo no sofá. 

Ele contemplou se devia acordá-la ou simplesmente levá-la para o quarto, para que pudesse continuar dormindo, mas na cama, que a deixaria muito mais confortável. Acabou decidindo acordá-la. Ela com certeza não tinha jantado e os dois precisavam conversar.

— Soph. - ele chamou baixinho, enquanto se aproximava do sofá. 

— Hm? - ela resmungou, ainda dormindo, o que fez com que Benedict sorrisse. 

— Acorda, Sophie. - ele tocou o ombro dela de leve e ela acordou, piscando três vezes antes de perceber que era ele que estava na sua frente. E então sorriu. 

— Achei que fosse demorar mais.

— Eu também, mas fiquei bem motivado e terminei mais rápido do que pensava. 

— Eu me pergunto o que te motivou. 

O sorriso dele aumentou. 

— Uma pessoa disse que vinha para a minha casa e eu aprendi que é feio deixar as pessoas sozinhas na sua casa. 

— Se te servir de consolo, eu me sinto tão à vontade aqui que é como se eu estivesse em casa. - Sophie disse, sem pensar muito. Então olhou para Benedict e percebeu que seus olhos brilhavam, enquanto ele agradecia silenciosamente que seus corpos não estavam se tocando, porque ela definitivamente perceberia seu pulso acelerando. - Vamos jantar? 

Nesse momento, Sophie afastou a manta e ia se levantar, mas Benedict a impediu, fazendo com que ela ficasse sentada no sofá.

— O que aconteceu? - ele parecia levemente desesperado. 

— Como assim? 

— Seu punho está com uma tala. - ele disse, apontando para o pulso esquerdo dela. 

— Ah. Eu torci, nada demais. 

— Eu não colocaria essas duas coisas numa frase só. 

— Já tinha torcido esse punho antes, por isso que eu digo que não é nada demais. 

Ele pegou o braço dela com a maior delicadeza possível e depositou um beijo na tala, bem onde estaria o interior de seu pulso. 

— Ok. Mas o que diabos aconteceu para você torcer o punho? 

— Depois do jantar eu te digo. 

— Tem a ver com por que você estava mal hoje de tarde? 

— Como você sabe que eu estava mal? 

— Te explico depois do jantar. - ele sorriu para ela e estendeu uma mão para ajudá-la a se levantar. 

Os dois foram para a cozinha, onde o risoto foi concluído e servido. Durante o jantar, eles falaram principalmente do trabalho que Benedict tinha terminado naquela tarde, que era um assunto bem mais seguro do que o pedido que ele faria e do que a tarde de Sophie e, naquele momento, eles só queriam um pouco de paz. Quando acabaram de jantar, foram para a sala e se sentaram no sofá, 

— O jantar estava uma delícia. Obrigado, Soph. 

— Por nada. 

— Agora, o que aconteceu hoje de tarde? 

— Primeiramente, como você sabe que algo deu errado?

— Você me mandou oi. E depois mandou que tava tudo bem, mas com vários “u” ao invés de vários “m”. - Sophie olhou confusa para ele. - Lembra que eu te disse que todo mundo tinha manias enquanto mandava mensagem? 

— Você descobriu a minha? 

— Você tem duas. Uma delas também se aplica pra vida real, que é que você raramente diz “oi” se você se sente confortável com a pessoa. Só se estiver com muito sono, o que eu não acho que era o caso. 

— É, não era. Qual a outra?

— De vez em quando, pra ser mais assertiva, eu acho, você coloca letras demais no fim das palavras.

— Sim, eu faço isso exatamente por isso. 

— É. Hoje de tarde, você mandou que estava tuuuuudo bem, não tudo bemmmm. 

— Nossa. Eu sou tão previsível assim?

— Não diria que você é previsível. Previsível parece chato e você está tão longe disso quanto é possível, mas acho que eu comecei a te conhecer. Ou pelo menos a entender o que você diz sem dizer. 

— Isso conta como conhecer. É mais que conhecer, na verdade. - o coração dela apertou. - Por que você é assim? 

— Assim como? - ele perguntou, confuso. 

Assim. Simplesmente assim. Do jeito que você é. Eu sei que eu sempre disse que queria algo casual, mas não consegui evitar: gosto muito de você. De verdade. 

— Eu gosto muito de você também. - Benedict disse, mas não era toda a verdade. Sophie o olhava nos olhos e ele tinha certeza que ela conseguiria ver a verdade sobre seus sentimentos se quisesse. “Estou apaixonado por você” seria o termo mais correto, mas você se assustaria, ele pensou. - Muito mesmo. 

Ele se inclinou para a frente e a beijou, segurando seu rosto com uma das mãos. Então se sentou meio de lado, estendendo as pernas por cima do sofá. Sophie logo entendeu o que ele estava oferecendo e se sentou usando o peito dele como encosto, e colocando as pernas na mesma direção. 

— O que aconteceu hoje de tarde? - Benedict perguntou, pegando a mão direita dela e brincando com os dedos. 

— Eu encontrei com Araminta. - Sophie disse, depois de engolir em seco. 

— Ainda não tinha tido o desprazer, mesmo depois de todo esse tempo?

— Não. Tinha conseguido evitar ela até hoje, de alguma forma. Enfim, eu fui limpar a sala de reuniões e ela chegou cedo, então tentou me diminuir por causa do meu trabalho, que eu amo, por mais estranho que possa parecer para ela ou para qualquer um. 

— Não é estranho. É um trabalho como qualquer outro, e você pode ser feliz ou infeliz fazendo qualquer coisa.

— Exatamente. Enfim, depois disso, ela fez “sem querer” - Sophie fez aspas com os dedos - uma bagunça com granola em cima da mesa e do carpete e me obrigou a limpar porque “é o seu trabalho limpar, não é?” - ela sentiu Benedict passar os braços ao redor de seu corpo, a abraçando e passando a sensação de proteção que ela agora associava à proximidade com ele. Ela quase sorriu ao pensar nessa última parte. Dos dois, ela definitivamente seria a mais qualificada para proteger. 

— Teve algo depois disso, certo? - ele perguntou, encorajando que ela continuasse o relato.

— Sim. - Sophie engoliu em seco. - Ela me fez abaixar para limpar um lugar mais afastado embaixo da mesa e… ela me empurrou para o chão. Usando os pés.  

— Ela te chutou!? - Benedict perguntou, revoltado. Sophie simplesmente fechou os olhos e assentiu, enquanto sentia ele a abraçar com mais intensidade. 

— Eu tentei diminuir o impacto da queda apoiando o peso do corpo nas mãos, mas tudo o que consegui com isso foi uma torção no punho. Nessa hora, seus irmãos e o resto das pessoas que iria para a reunião chegou e ela deu a entender que eu ainda estava lá porque era incompetente. - ela sentiu as lágrimas correrem pela lateral do rosto. Deu uma risada amarga. - Ótimo, agora eu estou chorando.

— Meu bem, seria estranho se você não estivesse chorando. - Benedict disse, posicionando o corpo de forma a ficar com o rosto de frente para o dela. Ele secou as lágrimas dela com a ponta dos polegares, um toque tão suave que parecia mais uma carícia do que qualquer outra coisa. - Você é forte pra caralho e estar chorando depois que uma pessoa te fez mal não muda isso.  

— Eu sei. É só que eu tinha me prometido, depois que meu pai morreu, que jamais choraria por causa dela de novo. Mas a Sophie de 15 anos não tinha imaginado isso. Ela literalmente me chutou enquanto eu estava no chão. E eu só queria saber o que eu fiz pra fazer ela me odiar ao ponto de sair do caminho dela para me humilhar. 

— As pessoas raramente precisam de uma razão. - Benedict disse, ainda a abraçando forte. - O que você vai fazer?

— Nada. 

— Nada?

— Não. A sala não tem câmeras, então é a minha palavra contra a dela. E, mesmo que ninguém goste dela, a palavra dela ainda tem muito mais poder que a minha. Quem ficaria do lado da faxineira? 

— Eu ficaria. Ficaria do seu lado até se você estivesse errada nessa história. 

— Mas é diferente. Eu sei que quase todo mundo ficaria do meu lado, porque todo mundo conhece a peça, mas ela ainda tem mais poder que eu dentro da empresa, e o único jeito que eu poderia ganhar dela seria expondo nosso relacionamento. 

— E você ainda não está pronta para as consequências disso. 

— É. - ela entrelaçou os dedos nos dele. - Tudo bem? 

— Ela fez algo ruim contra você. Apesar do meu sangue estar fervendo por isso, é você quem tem que buscar algum tipo de justiça. Inclusive, se você quiser processar todo mundo, inclusive a empresa, eu não vou tirar sua razão. 

— Obrigada. Mas sério, eu não vou fazer nada. - Sophie reafirmou. Qualquer coisa que fizesse nesse sentido colocaria em risco seu trabalho infiltrado e isso não era uma opção.

— Você realmente quer que ela saia impune depois disso? 

— Eu acredito que a justiça divina vai fazer seu papel. Essa vem bem mais devagar do que a justiça comum, mas qualquer dia desses chega. - Estou me assegurando que ela vai chegar à justiça por algo muito pior do que me chutar, pode ficar tranquilo, Sophie pensou. E se eu processar ela por isso, vai atrasar todo o outro processo, que é muito mais importante. É muito maior que eu ou você e eu queria poder te falar sobre isso, mas não posso.

Benedict respirou fundo. 

— Tudo bem. 

— Vamos só esquecer isso, por favor? - ela pediu, olhando para ele, que ainda parecia preocupado. - Eu só quero fingir que o dia de hoje não aconteceu. 

— Ok. - ele pegou o controle da televisão. - Quer continuar vendo Beckington

— Caramba, você tá com muita pena de mim. 

— Um pouquinho, mas não tem a ver com isso. Eu quero saber se eles vão mesmo duelar. 

— Ficou investido na história? 

— Sim. É muito bom quando você quer esquecer do resto do planeta. 

— Do resto do planeta, é? - ela perguntou, recostando mais contra ele.

— Qualquer um que não esteja nessa sala não importa no momento. 

— Bom saber. - ela disse, puxando a manta sobre os dois e se aconchegando mais contra ele. 

Tinha sido um dia atribulado, mas, se era ali que acabaria, então tudo tinha valido à pena.


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Notas finais do capítulo

Não me perguntem o que eu tava usando quando escrevi isso



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