Pontos Cardeais escrita por Coffee


Capítulo 2
Dois: Sul


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que comentaram no primeiro capítulo! Boa leitura ♥



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PONTOS CARDEAIS

Escrita por Coffee

Dois: Sul

 

Sasuke não podia acreditar no que seus olhos viam.

Um ponto cor-de-rosa em meio ao azul do País do Mar, no extremo sul.

Há exatos um ano e três meses do reencontro anterior.

Não que ele tivesse contado.

Mais uma vez, lá estava ela. Distante do País do Fogo, cruzando outro maldito oceano.

Não era possível. Ele olhou duas vezes, desviou o olhar, e depois olhou de novo como forma de confirmar que aquilo era real.

E lá estava, Haruno Sakura, sentada em um balcão de bar, acompanhada por um homem que ele não conhecia e que obviamente não era Naruto nem Kakashi.

A risada dela passou por ele feito uma flecha.

Certamente parecia um pouco alegre demais. Embriagada? Ele não tinha certeza.

O homem estava absurdamente próximo, virando um copo de bebida após o outro e ele a observou sutilmente mover-se mais para beirada do banco como forma de afastar-se dele.

Seu sangue ferveu.

Imediatamente ela se virou, como se de algum modo percebesse — novamente — que ele estava ali, embora seu chakra estivesse oculto. Os olhos verdes feito grama movimentaram-se rapidamente na órbita ocular, vasculhando o local feito o olhar de um ninja bem treinado, o que realmente era.

Até que o encontrou. Há cinco ou seis metros, perto de algumas árvores na praça central da vila. Já estava escuro, mas mesmo assim ela o reconheceu, assim como ele a ela.

Os olhos verdes desviaram o olhar, dando atenção ao homem a sua frente, e depois, quando o homem voltou para sua bebida, os olhos verdes o encararam de novo.

Não.

Foi o que o sutil movimento com a cabeça quis dizer.

O que diabos aquilo significava?

Não o que?

Não se aproximar? Não a cumprimentar? Não atacar o homem?

Ele não fazia ideia.

Sasuke permaneceu parado feito a árvore ao seu lado. Havia poucas pessoas no centro da vila essa noite. Alguns casais passeando, alguns pais brincando com suas crianças, e claro, Sakura sentada em um bar próximo com um homem que ele não fazia a mínima ideia de quem fosse.

Um novo companheiro de time?

Ele não parecia um ninja. Usava calça jeans, um sapato fechado, uma blusa verde escura, tinha a pele bronzeada, cabelos castanhos. Era claramente mais alto do que Sakura, e o que mais lhe chamou atenção: tinha dois braços.

Imediatamente Sasuke se sentiu inferior àquele homem que ele nem conhecia. Porque o homem ao lado dela era inteiro tanto fisicamente, quanto provavelmente emocionalmente. Não devia ser um homem cheio de pecados, de medos, de angústias e de inseguranças. E mesmo que fosse ridículo que ele se sentisse inferior a alguém que ele nem conhecia, e que nem era ninja, Sasuke não pode deixar de sentir-se.

Ele deu dois passos para trás, querendo se afastar daquela cena, com o coração batendo acelerado sem ele nem ao menos saber por que, mas não conseguia. Não conseguia, do mesmo modo que não conseguira um ano e três meses atrás (não que ele tivesse contado).

Embora nunca tenha sido uma pessoa curiosa, agora Sasuke queria saber por que Sakura estava ali, acompanhada, e tão longe da sua vila natal. Queria saber quem era aquele homem, como ela estava, e por mais que não quisesse admitir, tinha receio de deixá-la ali, sozinha com aquele homem, embora tivesse plena consciência que Sakura podia muito bem se defender sozinha.

Sakura não se virou novamente para ele, manteve suas atenções voltadas ao homem a sua frente, que falava sem parar. Sasuke permaneceu ali, feito uma estátua, observando tudo aquilo com um gosto amargo na boca.

Algum tempo depois, que poderiam ter sido minutos, ou horas, ou dias, eles se levantaram. Sakura pagou a conta, e depois virou-se discretamente para onde ele estava, enquanto o homem conversava com quem ele supôs ser o dono do estabelecimento.

Os olhos verdes miraram a praça, no exato ponto onde ele ainda estava, parado feito um idiota, como se quisesse confirmar que ele ainda estava ali. Depois a cabeça rósea moveu-se em um movimento afirmativo, que mais uma vez ele não soube interpretar.

Diabos.

Sakura achava que todos eram tão bons em interpretar silêncios quanto ela.

Mexeu-se incomodado, colocando as mãos suadas nos bolsos no momento em que ela se virou para o seu acompanhante, e eles começaram a andar pelas ruas de terra. Sasuke continuou-os mirando com os olhos de falcão.

O homem estava claramente embriagado, tropeçou três vezes durante o curto percurso, e Sakura o amparou como se estivesse cuidando de uma criança. Pararam há alguns metros dali, em frente a uma pousada, trocaram algumas palavras, que ele não conseguiu distinguir e o homem se despediu com um beijo na bochecha, antes de entrar.

Inferno.

Sakura permaneceu parada durante alguns minutos, observando seu acompanhante entrar na estalagem, e quando pareceu ter certeza de que o mesmo estava seguro, ela virou-se para onde ele estava, mais uma vez certificando-se com o olhar que ele realmente ainda estava ali, e começou a andar em sua direção.

O coração de Sasuke bateu forte feito um imbecil.

Ela não estava tão diferente da última vez que a vira, os cabelos pareciam um pouco mais longos, presos em uma trança, e ela usava um vestido vermelho, aberto nas laterais, com um short branco por baixo, e uma pequena bolsa também branca, presa em sua lateral.

Era uma usual vestimenta ninja, que permitia mobilidade, e Sasuke desviou o olhar, pensando no porquê diabos ele estava reparando no que ela vestia.

— Sasuke-kun!

Ela disse como forma de cumprimento, quando já estava perto o suficiente para que ele a ouvisse.

Quem é ele?

Ele quis perguntar como cumprimento, mas engoliu a frase, e anuiu com a cabeça uma única vez.

Sakura aproximou-se mais, e parou a cerca de um metro dele, como se soubesse que ele não era fã de afetos e proximidades. Mas, por algum motivo, ele desejou que ela estivesse um pouquinho mais próxima.

— É tão bom vê-lo!

Ela continuou claramente tentando manter um diálogo entre eles, e Sasuke percebeu que ele tinha que falar alguma coisa para ajudá-la.

Mas, mais uma vez, nada saiu.

Sakura mudou o peso de uma perna para outra. E eles ficaram alguns segundos em silêncio, antes dela tentar novamente.

— Como está seu braço?

Ela apontou para onde deveria estar o resto do braço dele. É claro, ela tinha que lembrá-lo que ele não era inteiro como o homem que estava ao seu lado minutos atrás.

— Está bem.

Sua voz saiu rouca, como se ele não falasse há muito tempo — o que realmente acontecera.

— Você gostaria que eu desse uma olhada nele?

— Não.

Ele foi tão ríspido que ela deu dois passos para trás.

Idiota.

Idiota.

Idiota.

Não era sua intenção. Era ridículo, ele sabia, mas ele estava envergonhado que ela visse o seu braço mutilado, embora ela já tivesse visto — e curado — inúmeras vezes.

Mas daquela vez, aquela parte faltava, aquela cicatriz, parecia uma fraqueza.

Os olhos verdes desviaram-se para o chão, e ele notou o quanto aquela recusa fria tinha a afetado.

— Em outro local, talvez.

Ele disse, tentando concertar a situação.

A kunoichi desviou o olhar para a pousada onde provavelmente estava hospedada, em dúvida, como se a ideia de o chamar para lá fosse íntima demais. Tão desconfortável quanto ela, ele começou a andar, como forma de afastá-los um pouco daquele lugar.

Ela o acompanhou, sem perguntar nada, e quando já caminhavam há alguns minutos, ela disse:

— Só não posso demorar muito.

Mais uma vez seu sangue fervilhou. E ele quis fazer outra pergunta invasiva, que novamente ficou presa nas suas cordas vocais.

Andaram algum tempo, afastando-se do centro da cidade, até chegarem a uma área mais deserta. Era um calçadão, que acompanhava toda a beira do mar, feito de madeira, já gasta pelo tempo.

Sakura parou, observando o oceano a sua frente com admiração. Os cabelos róseos pareceram sentir a presença do mar, arrepiando-se um pouco mesmo dentro da trança, e ela ergueu o rosto, fechando os olhos, sentindo o cheiro da maresia.

Sasuke pensou que aquele momento poderia virar uma poesia.

O silêncio perdurou alguns instantes, antes que ela voltasse para realidade — seja lá no que estivesse pensando — e se virasse para ele. Ela apontou para um dos muitos banquinhos fixados há alguns metros antes do início da areia, escolhendo um embaixo de um poste de luz, o que a garantiria melhor visão.

Como um bom paciente, ele sentou-se, e subiu a manga da blusa, oferecendo-a o que sobrara de seu braço mutilado, pela sua própria ganância, loucura e medo. Ela mexeu na pequena bolsa acoplada ao seu vestido, tirando um pequeno frasco do que ele imaginou ser álcool, e um par de luvas.

Ainda em silêncio (ele imaginou nunca ter visto Sakura tão quieta), ela se dispôs a desenfaixar seu braço, que estava com um curativo bem melhor do que a última vez que se encontraram.

Ela analisou a cicatriz e a pele em silêncio, e ao toque das mãos experientes, ele até esqueceu da vergonha e do embaraço de minutos atrás, quando sentiu-se inferior por lhe faltar uma parte do corpo.

— Está ótimo Sasuke-kun! A pele está bem firme, sem feridas, sem infecções, a cicatriz está bem fechada, sem queloides, estou impressionada!

A médica lhe ofereceu um sorriso, expressando o seu alívio em vê-lo bem.

— Tem sentido dores?

Demorou alguns segundos para que ele desviasse o olhar da sua boca e processasse a pergunta.

— Às vezes.

— Você tem mais faixas? Deixei a minha mochila na hospedaria.

Ele apontou para a bolsa roxa que carregava consigo, que tirara antes de sentar-se no banco, e abriu com a única mão puxando um material de curativo de dentro dela. Tinha o comprado em uma vila há duas semanas, que seria suficiente para o próximo mês.

Os olhos verdes brilharam, como se estivessem orgulhosos de vê-lo cuidando de si mesmo. De dentro da própria bolsinha, ela tirou um potinho marrom, e abriu-o, pegando um pouco da pomada dentro dele.

As mãos fizeram uma suave massagem no seu braço, e ele resistiu a vontade de fechar os olhos e apreciar o contato. Por fim, ela abriu o material que ele pegara, e enfaixou o seu braço com destreza e rapidez.

— E como está sua saúde? Sentiu alguma coisa? Ficou doente recentemente?

— Estou bem, Sakura.

Ela acenou positivamente, andando até uma lixeira há alguns passos de onde eles estavam, e jogando o material utilizado fora, assim como as luvas. Depois, passou novamente o que ele imaginou ser álcool nas mãos, e voltou até onde ele continuava sentado.

— Quer andar um pouco?

Pela segunda vez, ele notou-a tímida, e acenou afirmativamente com a cabeça para não a constranger. Ela retirou as sandálias que usava, segurando-as nos em dois dedos, e caminhou até a areia, como se fosse um prazer sentir os pequenos grãos nos dedos.

Ele olhou para os pequenos pés descalços, e ruborizou-se, antes de se levantar e segui-la.

Sakura aproximou-se cada vez mais da água, até que seus pés descalços tocassem a maré. Foi aquele caminho que ela continuou seguindo, com ele do lado, mas sem molhar seus sapatos gastos.

— Faz tempo que está aqui? No País do Mar?

Acenou com a cabeça.

— Estava na Ilha Tarō há duas semanas. Cheguei aqui na Ilha Mãe hoje.

Ele quis perguntar sobre ela, mas não sabia como, sem ser rude ou invasivo demais.

— Naruto está bem. Kakashi-sensei também.

Ela o contou, mesmo sem que ele perguntasse. Ainda com os pés pequenos sendo agraciados com o contato da água, eles andaram alguns metros, com ela contando sobre as últimas novidades dos amigos e de Konoha.

Quando parou, ele finalmente perguntou:

— E você?

Ela olhou para ele sem entender, o que era previsível.

— Faz tempo que está aqui?

Completou, e ela maneou a cabeça ao entender.

— Chegamos ontem. Na verdade, vamos para o País do Ferro, mas um conflito está instalado no País da Água e os barcos não estão passando por lá. Tivemos que dar toda essa volta porque foi o único barco que aceitou viajar com uma iminência de guerra marítima. Paramos aqui somente por hoje, para que o navio seja reabastecido.

Falar sobre o País do Ferro o deixava desconfortável, e ele não teve coragem de perguntar o que ela faria lá. Caminharam com o mar sendo o único som por alguns minutos, as ondas indo e vindo em um movimento suave, até chegarem em uma área mais perto do centro.

— Preciso voltar para a estalagem.

Ela tirou os pés do mar, andando até a areia, e depois calçou os sapatos, não se importando com os pés molhados e sujos.

Sasuke a seguiu.

— Estou muito feliz de tê-lo encontrado Sasuke-kun, vamos partir nessa madrugada, e eu sei que você também não quer manter contato, mas Naruto ficará muito alegre de receber notícias suas.

Quando ele cogitou que ela fosse se despedir, finalmente perguntou:

— Quem é ele?

A médica pareceu pensar durante alguns minutos, antes de responder.

— É filho do Daimyō do País do Fogo.

Mais uma vez o poderoso senhor de terras era o motivo pelo qual tinham se encontrado.

— Está indo até o País do Ferro fazer um acordo para o pai.

— E por que você está o acompanhando?

Praguejou mentalmente pela própria pergunta, mas ao contrário do que imaginou, Sakura não ficou incomodada, mas sim abriu um pequeno sorriso no canto da boca, que ele — mais uma vez — não soube interpretar o significado.

— Quando mais jovem, quando sua mãe ainda era viva, Tzuo viajou muito, e contraiu uma doença chamada malária. Ele tem conseguido controlá-la bem, mas às vezes tem episódios de febres e outros sintomas, o que demanda que ele esteja sempre acompanhado de um médico. Não é recomendável que ele viaje, nem que tome álcool, nem que faça muitas coisas que ele faz, mas... Ele ainda é jovem, e tem uma doença que ainda não temos a cura... Ele quer aproveitar o quanto pode e provar ao pai que a enfermidade não o impede de ajudá-lo a governar suas terras.

Por mais que tivesse uma história triste, Sasuke quis mandar Tzuo para o inferno. Sakura estava do outro lado continente por causa dos caprichos de um herdeiro. Ela pareceu perceber seus pensamentos, e disse:

— Mas é bom, poder viajar, agora vejo por que você gosta tanto disso, conhecer outros lugares, outras culturas, outras pessoas... É muito enriquecedor.

Viu-a olhar para o centro da cidade em dúvida.

— Realmente tenho que ir, não posso deixá-lo tanto tempo sem verificar seus sinais vitais. Há alguns dias, no barco, ele teve um episódio de febre, e tenho que estar atenta para recidivas.

Ele quis dizer para que ela deixasse o acompanhante derreter de febre, mas achou que não fosse adequado. Seu olhar endureceu quando ela se voltou para ele.

— Está tudo bem?

A kunoichi perguntou, como se percebesse o seu incomodo e os seus pensamentos.

Não ele não estava bem. Embora não soubesse por que estava tão incomodado, o atormentava vê-la preocupada com outro. Vê-la observando o trajeto da lua, e calculando quanto tempo teria passado, e cogitando se o seu paciente estava precisando dela.

Inferno.

Antes que ele respondesse, mais uma vez o sorriso voltou aos lábios finos.

Ela se aproximou, nas pontas dos pés, feito uma bailarina e encostou seu corpo no dele. Não foi bem um abraço, Sakura sempre soubera sua aversão por contato, mas ela encostou a cabeça no peito dele, como se ouvisse seu coração e ali permaneceu por alguns segundos. Depois, esticou-se mais alguns milímetros, e confidenciou no seu ouvido.

— É só você, Sasuke-kun.

Outro sorriso, e ela se foi sumindo pelas ruas da vila, deixando-o ali, com mais um enigma, a boca seca e os pés sujos de areia.


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Notas finais do capítulo

Sasuke dizendo que "não sabe o que é isso que está sentindo" e a gente querendo dar um chacoalhão nele e gritar "é ciúmes, seu idiota", HAHHAHA, até Sakurinha percebeu. Espero que tenham gostado, até o próximo!
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