Eu sou a Protagonista escrita por Vatrushka


Capítulo 2
Encontro




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Dora estava bastante cansada da viagem, preferiu dar um cochilo em nosso quarto assim que chegamos.

Mas logicamente não dei conta de fazer o mesmo. Elétrica como sempre, fui correndo para explorar cada cantinho diferente daquela imensa nave. Tinha que honrar minha fama de futriqueira, claro. Vai que eu já descobria alguma coisa no primeiro dia?

—Denise?! — Ouvi uma voz familiar me chamando.

Fechei os olhos e respirei fundo. Quem sabe, se eu fingisse que não ouvi, a pessoa não acharia ter se enganado.

Adotei a estratégia. Continuei a andar.

— Denise! — A pessoa veio correndo até mim. Inferno. Me virei, forçando um sorriso:

— Aninha! — A abracei, fingindo surpresa. — Menina, você por aqui!

Eu sei, eu sei o que vocês estão pensando. “Qual o seu problema com a Aninha?” Nenhum em específico contra ela, na verdade.

A minha implicância é mais a ideia de que eu nunca posso ir a lugar nenhum sem encontrar com alguém da turma. Impressionante.

Era pra essa ser a minha história. Minha, de como eu sozinha — no máximo com Dora, ela é a única exceção que eu estava disposta a abrir — descubro e soluciono o mistério, e acabo levando os louros também.

Só isso, Maurício. É te pedir demais?

Já faz 2 anos desde que me formei do Colégio Limoeiro. Sonhei ingenuamente que as tramas centradas só nos mesmos protagonistas de sempre seriam deixadas para trás.

“Mas Denise, você está exagerando.” Alguém pode questionar. “A Aninha também sempre foi uma personagem secundária.”

Há há há, jovem amiguinho. Deixa eu te ensinar um negócio que aprendi a duras penas: toda vez, eu repito, toda vez em que nós personagens secundários nos reunimos demais em um mesmo espaço é porque algum dos protagonistas vai aparecer despretensiosamente e roubar a cena.

Duvida? Cê que sabe.

Minha experiência contra a sua.

— Que saudade! — Menti. Deus sabe que tudo o que fiz nestes últimos anos foi tentar viver minha vida não esbarrando com ninguém do Limoeiro. O que era um pouco complicado, afinal, eu ainda moro lá. Chutei: — Você tá trabalhando aqui?

— Sim! — Ela respondeu, sorrindo. Incrível. De todos os lugares no universo...

— Que coisa boa! — Minha própria cara de pau me assusta. Workaholic do caralho. — Tem mais alguém da nossa turma aqui?

— Sim também! — Ela riu. — Como descobriu?

Nem um pouco previsível! Pensei em responder. — Nossa, que incrível! Quem? Precisamos fazer uma reunião, então! Dora também está aqui!

— Gente, que ótimo! Faz tanto tempo que não vejo a Dorinha! — Lógico que não, respondi eu meus pensamentos. E sequer fez questão de ir atrás, não é mesmo? Desde que ela cumpra o papel de figurante para representar pessoas com deficiência sem realmente qualquer papel de representatividade, foda-se pelo o quê pode ela pode estar passando ou não, certo? Forcei tanto o meu sorriso que as minhas bochechas começaram a doer. Ela complementou: — Ah, a Xabéu também trabalha aqui, o Franja veio estagiar há pouco tempo.... E claro, a Carmem também, mas essa você já deve saber.

Ergui a sobrancelha. — É mesmo?

Ana franziu o cenho. — Não sabia?

Dei de ombros. — Não conversamos a algum tempo. Mas tenho certeza que nos esbarraremos eventualmente.

Sempre nos esbarramos.

Aninha assentiu, compreensiva. — Preciso voltar para o trabalho... Mas de qualquer forma, foi ótimo te encontrar. E... Vê se aparece mais. As coisas não são mais as mesmas sem você.

Sorri, me despedindo. Tá certo.

Quando ela saiu de minha vista, suspirei, murchando os ombros. E ali, na minha frente, meus planos de liberdade e independência desceram água abaixo.

Por que eu tinha essa leve impressão que estava repetindo o mesmo enredo de O Brilho de um Pulsar?

Bufei, olhando para o teto. Talvez eu devesse desistir de uma vez. Já sabia pra onde aquilo tudo estava indo, e não era pra nenhum lugar que eu gostasse.

Chega! Me corrigi mentalmente. Chega desse derrotismo! Eu não vou aceitar menos do que eu mereço! Essa história é minha, e ai de quem tentar tirar ela de mim!

E assim, me incentivei a continuar procurando.


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