Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 38
Capítulo 35




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Matar ou Morrer

Dominic

Abro os olhos e sou instantaneamente cegado por uma luz branca. Uma dor de cabeça latejante me atinge, forçando-me a fechar os olhos e cair de volta para onde eu estava deitado. O travesseiro fofo e macio abraça a minha cabeça, centralizando-me. Demoro alguns segundos para me acostumar com a claridade, entendendo onde eu estava.

Na enfermaria real, mais precisamente no cômodo reservado para minha família. Não havia ninguém ali, apenas eu. Não conseguia deixar de lado nem a dor de cabeça nem a dor na lateral do meu corpo. Eu estava certo, era apenas um sonho, mas por que ainda sentia a dor de ter sido baleado pelo meu próprio irmão?

Pelo menos não tinha sido a Kyanite.

Me levanto com dificuldade, arrastando-me até a janela. Se minha memória não estivesse falhando, Elvenore estava prestes a entrar em guerra com Acqua. Observando pela janela do quarto eu pude ver o pátio da parte sul do castelo, havia muito mais homens do que o costume. Meu pai devia estar organizando o exército e eu estava perdendo tempo.

Saio da enfermaria a passos rápido, ignorando os conselhos das enfermeiras. Precisava achar Casper e Delilah urgentemente. Certamente ela não estaria no palácio, afinal ela não era da nobreza pelo jeito que se comportava e logo seria descoberta pelos guardas de Evander. Se Casper fosse esperto a levaria para o farol, o único lugar que ele deveria estar durante a explosão.

Acelero até os estábulos com uma capa para cobrir o meu rosto e uma pequena mochila com mantimentos. Demorei alguns minutos para passar por todos aqueles soldados, mentindo que ficaria no farol e estava levando mantimentos para passar a noite observando a costa e todos os navios que atracassem. Pedi também para um mensageiro real avisar o rei de estaria no farol, esperando notícias de meu irmão.

Os cavalos estavam agitados, principalmente Rasdir, a égua de Kyanite. Ela relinchou ao me ver, dessa vez não parecia tão irritada com a minha presença. Sua cabeça comprida e malhada se aproximou da minha cintura, cheirando o lenço verde de sua dona. Relichando mais uma vez, Rasdir aproximou se rosto da minha mão.

— O que houve com você, garota? — Indaguei baixinho, fazendo carinho — Não me odeia mais…

Rasdir fica em silêncio, aceitando o carinho.

— Também está com saudades dela, não é? — Ela relinchou em resposta — O que acha de andar um pouco?

Eu e Rasdir saímos do castelo pelo caminho entre a floresta, uma trilha quieta e refrescante e que dava bem na parte de trás do farol. Não demoramos muito e assim que chegamos eu subi as escadas correndo. Não tinha tempo a perder, pois eu sabia que meu pai daria o próximo passo logo.

— Casper? — Gritei procurando por ele.

— Dominic! — Ele respondeu correndo até mim, abraçando-me — Cara, que susto você nos deu ontem! O que diabos aconteceu no baile?

— Quem atirou aquela bomba? — Delilah perguntou, vestida com algumas roupas masculinas que pareciam engolir todo o seu corpo.

— Não foram vocês? — Casper indagou, estressado.

— Eu já disse que não foi, cabeçudo! — Ela rosnou de volta cruzando os braços — Eu vim sozinha e Ciana me prometeu que só agiria quando eu voltasse, seu idiota! Quer que eu repita para ver se consegue processar a informação.

— Humpf — Ele resmungou, revirando os olhos.

— Delilah está falando a verdade, Casper — Disse, aproximando-me da janela enorme do farol — Acho que foi meu pai… Ele deve ter planejado isso para ter um motivo para atacar Acqua. Não temos notícia de meu irmão a muito tempo…

— Isso é porque Nicholas desapareceu com Kyanite — Delilah resmungou — Os dois sumiram do mapa. Skander disse que foram sedados, exceto Phyx, que estava nos jardins quando viu Nicholas sumindo na mata em cima de um cavalo, com Kyanite apagada.

Contraio o maxilar, Nicholas estava ficando louco.

— E isso foi a quantos dias?

— Fomos avisados no dia em que Novak chegou em Acqua, uns sete dias talvez… — Ela trocou o peso do corpo de um pé para o outro.

— Então não temos muito tempo a perder — Casper murmurou indo para a janela ficar ao meu lado — O que faremos?

Me viro para Delilah, encarando seus olhos verdes e felino.

— Precisamos ir para Acqua.

— Você deve estar louco! — Delilah falou, franzindo a testa — Se sair de Elvenore vai ser considera um inimigo real! Nunca mais vai poder colocar os pés nessa terra, Dominic! — “Errada ela não está”, pensei mordendo o interior da minha boca — Fora que Ciana pediu para que ficasse fora de toda essa confusão!

— Eu não sigo as ordens dela, Delilah.

— Ah, mas essa você precisa seguir — Vociferou, fuzilando-me com o olhar — Kyanite está disposta a matá-lo. Ela mesma disse.

Engulo em seco, sentindo meu coração despencar até o meu estômago.

— Eu realmente esperava não ter que te falar isso, Majestade, mas se não ouvisse iria nessa cruzada maluca atrás de Kyanite. Precisamos de você vivo se quisermos impedir o rei de destruir não só Acqua mas também Elvenore! — Ela explicou, cruzando os braços, obviamente irritada — Você é nosso aliado desse lado do mundo.

— Kyanite está em perigo — Rosnei, cerrando o maxilar.

— Sim, mas Ciana colocou seus melhores homens na busca por ela.

— Pessoal… — Casper tentou falar, mas eu o cortei.

— Eu vou atrás dela, Delilah, nem tente me impedir!

— Use seu cérebro e não seu traseiro real para pensar, Majestade! — Retrucou, aproximando-se de mim — Ciana vai achar a Kyanite! Nicholas está em um território que ele não conhece, é obvio que ele não tem chances!

— Pessoal…

— Não agora, Casper — Esbravejei — Até onde eu sei ele poder ter matado ela, Delilah. Como está tão certa de que ela está viva?!

— Ciana… — Murmurou, desviando o olhar — O coração de uma mãe nunca mente.

Engoli em seco.

— Pessoal.

— O que foi, Casper? — Vociferei, virando-me para ele.

— Acho que vão gostar de ver isso — Ele disse, apontando para o porto.

Eu e Delilah nos aproximando da janela do farol e dou um passo para trás quando meus olhos finalmente captam a imagem.

— Você só pode estar de brincadeira… — Delilah gemeu, cansada e surpresa.

Meu coração despenca, praticamente estilhaçando-se em milhares de pedaços.

— Isso é… — Gaguejei, lutando contra mim mesmo para não descer as escadas — Impossível…

Tudo em mim gritava para descer e eu não conseguia mais me segurar. Viro-me para saída e disparo, mesmo ouvindo as reclamações de Casper e de Dalilah. Eu não podia acreditar no que eu estava vendo e ainda assim tudo ali era real…

— Kyanite! — Eu gritei, descendo as escadas.

Ela estava ali, finalmente de volta.

E o mais importante, viva.

Acelerei até o porto, o barco onde ela estava mais parecia uma montanha de madeira podre do que um barco. Seu cabelo continuava o mesmo, longo e castanhos, levemente ondulado e agora, meio sujo e armado por contada da umidade e do sal do mar. Sua pele continuava linda e brilhosa e seus olhos eram o tom de verde mais especial do mundo. Porém, para a minha infelicidade, ela estava presa, com suas mãos atadas em suas costas e acompanhada.

— Nicholas… — Rosnei, vendo ele subir no porto com dificuldade.

Escuto o galopar ritmado da guarda real, respiro fundo e recomponho a postura. Como Delilah havia dito, eu era o aliado dentro da realeza e do plano de meu pai. Precisava permanecer assim se quisesse tirar Kyanite de toda essa confusão.

— Ah, Dominic! — Ele sorriu, apontando para dois homens, ordenado-os que tirassem Kyanite do bote. Ela grunhe, mas seu som é levemente abafado pela mordaça de pano em sua boca — Que bom ver você, irmão.

Meus olhos finalmente encontram com os de Kyanite, havia um certo tom de desdenho neles, um nojo. Imagino que ela estava esperando o mesmo de mim, mas para sua nítida surpresa meu olhar dizia que eu a iria ajudá-la e protegê-la.

— Vamos encontrar o nosso pai — Nicholas insistiu e eu não podia negar — Guardas, levem-na para as masmorras.

— Vou acompanhá-los, irmão. Nosso pai e nossa mãe estão aguardando notícias suas a muito tempo — Comentei, permanecendo na postura rígida e quase militar — O que aconteceu?

— Fui arrastado para o interior de Acqua e perdi minha forma de contato… Estava ficando angustiante e tedioso. Todo dia era a mesma coisa e não estava nem um pouco presente nas decisões de Ciana quanto pensei que estaria — Resmungou passando a mão pelo seu cabelo castanho, umas das diversas diferenças entre nós.

— Sinto muito, Nicholas.

— Não precisa disso, Dominic — Ele sorriu como se fosse o próprio diabo — Tenho informações sobre os principais generais graças a amiguinha da Kyanite, a Phyx.

Percebo os olhos verdes de Kyanite se arregalarem, era óbvio que ele não deveria saber disso.

— Então volta para o castelo com boas notícias! — A alegria em minha voz era falsa, até Kyan percebeu isso, mas meu irmão nunca perceberia — É bom tê-lo de volta, irmão.

— Obrigado, Dominic — Ele me abraçou sutilmente, como se fôssemos esse tipo de irmãos — Faça o favor de acompanhá-la até as masmorras, irmão. Quero que receba a verdadeira hospitalidade Drogomir.

— Claro.

Ele finalmente se afastou e Casper me alcançou.

— O que faremos? — Ele indagou baixinho.

— Desapareça com Delilah e leve Rasdir de volta para os estábulos, ela não precisa ver sua dona assim — Murmurei de volta, sem tirar os olhos de Kyanite, que me observava atentamente apesar de estar visivelmente machucada — Fiquem na parte solitária do porto. Encontrarei vocês dois de noite e descobriremos o que vamos fazer, mas por agora…

— Precisa ficar com ela — Assenti positivamente, ligeiramente envergonhado — Vai lá, cara. Ela tá realmente precisando de ajuda.

Murmurei um “obrigado” baixo o suficiente para Casper ouvir e então ele partiu. Tomei a frente da comissão de homens que cercavam Kyanite e seguimos para o castelo. Ela estava ferida e reclamou algumas vezes durante o caminho. Discretamente escondi um kit de primeiros socorros em meu casaco, assim como comida e desci para as masmorras.

Lá estava ela, sentada no chão, suja e com o cabelo bagunçado. Mas, pelo menos, não estava mais amarrada, apesar das barras de ferro estarem fazendo esse serviço, nem estava amordaçada.

— Vá embora — Ela rosnou sem nem me olhar.

Engoli a tristeza e a raiva e continuei, deixando perto de se alcance pão, uma fatia generosa de carne e água. Havia cortes em seu rosto e em suas mãos, assim como machucados em seus joelhos e braço. Ela deve ter resistido muito… Meu coração ardia de ódio. Nicholas tinha tocado nela, machucado-a… Eu o faria pagar por isso.

— Coma. Fará bem para você — Sugeri, sentando-me perto das grades

— Não estou com fome — Ela continuava a encarar as paredes de pedra, sólida e fria — Vá embora, Dominic.

— Eu não vou sair daqui, Kyanite. Precisa comer e tenho que cuidar de seus machucados, se ficarem infeccionados vai ser bem pior…

— Cale-se! — Vociferou finalmente me olhando.

Seus olhos verdes estavam nebuloso, vermelhos e cheios de lágrimas. Meu coração apertou, vê-la assim corroía a minha alma.

— Eu vou te tirar daqui, Kyanite — Sussurrei, a essa altura do campeonato eu tinha certeza que ela me odiava, afinal estava determinada a me matar, mas eu não me importava.

Queria ver ela bem, feliz e saudável, longe de toda essa confusão.

— Não consigo acreditar em nenhuma palavra que sai da sua boca, Dominic — Sibilou, tomando o pão em suas mãos.

— Não preciso que acredite em mim — Cerro os punhos, não queria que ela me odiasse mas ela tinha razões para isso — Eu sei que eu não fui sincero com você, mas acredite, te mantive no escuro, pois achava, naquela época, que seria a coisa que te deixaria segura…

— Fez um péssimo trabalho — Rosnou, por mais que tivesse machucada, com fome, cansada e provavelmente desidratada o fogo que tanto admiro ainda ardia dentro dela — Me manteve longe de minha família e ainda por cima foi cúmplice do assassinato do meu pai!

Engulo em seco, desviando o olhar.

— Eu fiz tudo isso para que o meu pai não te tratasse como ele me trata…Pela sua segurança, eu escondi tudo isso…

— Suas marcas… — As palavras escaparam de sua boca num murmúrio quase inaudível.

— Digamos que eu era um menino muito travesso — Tento sorrir mas falho miseravelmente — Eu sinto muito, Kyanite. Por tudo. Eu sei que está longe de me perdoar, mas… — Suspiro, encarando-a — Mas eu preciso que acredite em mim quando digo que vou te tirar daqui.

Um silêncio angustiante toma conta do espaço. Observando ela comer, estava realmente faminta… Depois de uma certa estranheza ela aceitou os cuidados médicos e me xingou durante todo o processo, o que me fez amá-la ainda mais.

— Obrigada — Disse, acomodando-se no fundo de sua cela.

— Não deveria me agradecer…

— Seu irmão me deixaria apodrecer aqui… — Ela murmurou, encarando o chão — Você pelos menos me alimentou e cuidou dos meus ferimentos.

“Maldito seja você, Nicholas”, esbravejei mentalmente

— Eu tentei avisar vocês — Falei, analisando-a enquanto trançava seu cabelo desengonçadamente — Quando fui avisado do sumiço de Nicholas e sua intenção de espionar você e sua família eu mandei Novak para Acqua. Eu tinha que barrar o meu irmão, impedir que o plano do meu pai se concretizasse. Proteger você, Kyanite, mas…

— Novak está em Acqua? — Ela indagou surpresa.

— Sim. Provavelmente com Ciana nesse momento.

Uma pontada de dor a atinge, pude perceber pelo jeito que ela abraçou os próprios joelhos.

— Eu sinto muito — Disse mais uma vez, recolhendo toda a bagunça — Descanse. Virei mais tarde com um plano. Prometo.

Antes que eu pudesse subir as escadas, escuto ela me chamar.

— Dominic.

— Sim? — Respondi, virando-me para ela.

— Naquela noite, no navio… — Ela falou, mas eu a interrompi, sua trança estava se desfazendo.

Deixei a bandeja de lado e me aproximei de cela, pegando a ponta de seu penteado e prendendo seu antigo lenço.

— Desculpe-me… Achei que deveria tê-lo de volta — Sinto um calor tomar conta das minhas bochechas, seu olhar recaia sobre mim intensamente — C-Continue.

— Nada — Balançou a cabeça, ficando de costas para mim — Não é nada.

Assenti positivamente.

— Presumo que meu pai deva visitá-la logo, logo. Não diga nada — Instruí, meu pai não iria machucá-la mais do que já está — Não há ninguém da sua família em Elvenore, meu pai tentará usar isso contra você. Os elfos estão seguros, Evander não irá machucá-los, afinal ele precisa de soldados para a guerra que está vindo.

— Guerra? — Seu olhar assustado encontra o meu — Do que está falando?

Suspiro, não queria que ela ficasse no meio de toda essa confusão…

— Meu pai forjou um ataque Acquiano, forjou uma explosão com o intuito de iniciar uma guerra. Era a desculpa que ele precisava para juntar o exército e chamar o povo para lutar.

Kyanite se cala, encolhendo-se.

— E agora com você aqui…

— Minha mãe vai participar dessa loucura… — Um riso fraco e triste escapa de seus lábios — Sabe, eu deveria matá-lo e aí sim a guerra teria sido declarada… Uma forma de Acqua sair na frente, termos vantagem.

— Bom, me matar não mudaria nada — Dei de ombros.

— É claro que mudaria! — Seus olhos se arregalaram — Você é o herdeiro do trono de Elvenore!

Um sorriso surge em meus lábios, é tão engraçado ouvir isso… Principalmente dela.

— Não gosto quando sorri assim…

— Eu não sou o herdeiro, Kyanite — Expliquei, observando suas bochechas pálidas se encherem de cor — Nicholas ocupada esse papel. Meu pai bolou esse plano para caso um inimigo do rei decidisse dar ultimato, eu iria para o saco e não Nicholas…

— É uma mentira?

— Sim — Respondi, fechando os olhos momentaneamente — Uma mentira para manter a segurança do meu irmão.

Kyanite fica em silêncio, segurando as grades.

— Feliz por não ter me matado? — Tentei brincar — Seria uma sujeira a toa.

— Não brinque com isso, Dominic! — Ela brigou comigo, mandona como sempre — Isso é doentio! Você é um bode expiatório!

— Bem, é assim que a família Drogomir funciona — Dei de ombros mas uma vez — Preciso ir antes que os guardas comecem a estranhar nosso encontro.

— O que dirá ao seu pai? — Indagou.

— Está confiando em mim, Kyanite Liadon? — Sorri, encarando-a.

— Eu não tenho muitas opções disponíveis — Retrucou, revirando os olhos.

— Direi que tentei te interrogar, mas você não quis abrir o bico — Resumi o plano — Voltarei de noite.

Volto a minha atenção para a saída.

— Promete? — O som de sua voz, fraca e vulnerável, parte o meu coração, ela não tinha nenhuma alternativa se não confiar em mim. No homem que mentiu para ela todo esse tempo…

— Prometo, minha querida — Respondi com determinação — Tirarei você daqui nem que custe a minha vida.


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