Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 17
Capítulo 16




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O Sol e a Lua

Pisco os olhos uma, duas, três vezes. Eu só podia estar sonhando…

Isso é loucura, o rei nunca pediu desculpa, nem mesmo quando levou meu pai para a maldita missão suicida para negociar com os piratas. Agora ele estava ali, com sua taça praticamente cheia, levantada para mim, com seu pedido de desculpas ecoando pelas paredes de mármore do salão.

Senti meu corpo vacilar. “O que eu respondo?”, pensei “Rápido. Fale alguma coisa!”.

Todos os presentes me encaravam, esperando uma resposta, mas eu estava tão petrificada que consegui apenas me curvar perante ele. Minha mente pregava peças, pensando se algum dia ele pediu perdão para o meu pai ou para qualquer outra pessoa. Porém, se o rei de Elvenore pediu desculpas para mim, ele não deve ser completamente cruel como imaginei.

Deve ser por isso que meu pai o seguia. Tinha que existir um bom motivo para que meu pai confiasse sua vida e devotasse seu trabalho para alguém, principalmente alguém como o rei Evander.

“O que seu pai diria, Kyanite?”

A voz da minha mãe ecoa pelo meu corpo, ricocheteando em todos os meus ossos. Ainda curvada, eu ergo a cabeça, encarando-o.

— Antes tarde do que nunca — As palavras escapam pela minha boca como se eu fosse um boneco de ventríloco.

Um sorriso lascivo se forma nos lábios finos do rei e, para minha surpresa, uma risada. Alta e calorosa. Todos ao nosso redor riem, não de mim, mas para acompanhar Evander, afinal, eles eram sua corte, quer queiram ou não. É o dever deles estar do lado da coroa.

— Tão idêntica ao seu pai… — Ele ergueu sua mão na minha direção — É incrível! Ele falaria a mesma coisa.

— Obrigada — Dessa vez um sorriso largo estava em meu rosto.

A felicidade de ser comparada a Draiko era tão tremenda que poderia explodir, alçar voo e sumir do salão de baile. Seguro a mão do rei, mas não estava trêmula nem nervosa, estava mais segura de mim do que nunca estive antes.

— Obrigada, Kyanite, por se juntar a mim — Ele sussurrou quando me puxou para si — Agora, meus amados convidados, divirtam-se!

A música voltou, mais alegre do que antes. A corte começou a conversar, rir e dançar, enchendo o cômodo de vida e fofocas. O rei ainda tinha seus olhos em mim, observando cada respiração fraca que eu dava.

— Nunca pensei que fosse tão… — Tento falar, mas ele me interrompe.

— Legal? — Seu sorriso era chamativo, ao mesmo tempo que era sutil.

“Não é todo dia que uma carrancudo como ele, sorri…”, pensei.

— Não teste a minha paciência, majestade — Brinquei, apertando a sua mão e depois soltando-a — Só nunca pensei que fosse pedir desculpas por ser, bem… Você.

— Me recusei a enxergar seu talento, Kyanite, pois perder um grande amigo faz isso com você — O rei estava sério novamente — Tudo fica cinzento.

— Sinto muito…

— Eu que devo falar isso — Seu olhar encontra o meu, tão azuis que pareciam o céu de noite, totalmente sem estrelas — Você é filha dele.

Balanço a cabeça positivamente, encarando a multidão de convidados.

— Vá, aproveite a festa — Disse, tocando o meu ombro — Acredito que há alguém desesperado para dançar com você…

— Se está falando de Skander Valir… — Encaro o capitão do Sirena Vermelha, se curvou com um sorriso malicioso no rosto, um convite para continuar sua valsa estupidamente sensual.

— Não precisa ficar envergonhada — Ele me interrompeu — Não irei me intrometer em suas relações, a não ser que comprometa a coroa.

— Acredite, rei Evander, não estou na Alta Corte para encontrar um namorado — Retruquei arrumando a máscara em meu rosto

— Skander é apenas alguém que eu tive o infortúnio de conhecer — O capitão se aproximava de mim, parecia um lobo avançando em uma ovelha — Além do mais… — Continuei tirando o meu olhar do rei e repousando em Skander — Ele está compromissado.

Capitão Valir para de andar, encarando-me. O sorriso lascivo do rei surge em seu rosto mais uma vez, ele parecia amar tudo aquilo. Me curvo perante ele e avanço pela pista, evitando atrapalhar os casais que dançavam e os outros convidados, em direção a janela que Nicholas deveria estar.
Mas quando alcanço o local, percebo que a janela estava aberta, dando acesso a uma sacada escura, voltada para o desfiladeiro e, consequentemente, para a orla onde treinei com Dominic.

O silêncio e a brisa tropical era tudo o que eu precisava naquele momento, a quietude que eu precisava para processar tudo o que acabou de acontecer.

O rei agora não parecia tão intimidador nem ditador, mas sim alguém que estava tentando fazer o certo, mesmo que o faça por linhas tortas. Acho que era assim que meu pai o via, um homem que, mesmo com um caráter duvidoso, tentava fazer o que é correto por seus súditos, amigos e família.

Suspiro me apoiando na sacada. Levanto meu rosto e deixo a luz fria da lua iluminar a minha face. Respiro fundo algumas vezes antes de encarar a lua, hoje ela parecia mais brilhante, como a minha pele quando entrei no mar com Nicholas. No oceano abaixo do castelo eu podia ver a água cintilar, eram os raios lunares, usando o mar para refletir sua luz.

— Achava que fosse o único entediado com esse baile ridículo — Uma voz rouca e cansada é levada pelo vento até os meus ouvidos, fazendo-me arrepiar.

— Dominic? — Indaguei, virando-me para trás.

Lá estava ele, sentado na grade, usando um terno de alfaiataria preto com mas mangas tanto do paletó quando da grade brilhando em prateado. Seu cabelo estava repartido de lado, jogado para trás, permitindo que eu visse seu rosto pálido com clareza. Sua máscara estava em suas mãos e percebo um desenho delicado de um rosto de um lobo, com orelhas pontiagudas e olhos amendoados.

Ele a joga no ar sem mais nem menos, como se a máscara não fosse nada. Um grunhido escapa de seus lábios e sua mãos agarra o tecido sobre seu peito. O machucado ainda não estava completamente cicatrizado e do jeito teimoso de Dominic, ele não faria nada para facilitar o processo.

— Ainda doí? — Perguntei, aproximando-me dele.

— Por que se importa?

Suspiro, revirando os olhos. “Um completo idiota”, pensei.

— Por que não deixa eu me importar?

— Você é insig… — Ele para, desviando o olhar.

— Insignificante? — Indaguei, olhando para o oceano — É isso que sou?

Um silêncio apertado se instala entre nós. Acho que Dominic não era tão bom com mentiras quanto diz ser.

— Não é insignificante para o meu pai, aparentemente — Rosnou, descendo da grade e parando ao meu lado, de costas para mim, em uma posição quase militar.

— E para você, Dominic? — Ousei, escutando o que eu podia jurar que era seu coração quebrar.

Nada, nenhuma resposta.

Conversar com ele era a mesma coisa do que discutir com uma porta.

— Não tem um homem para voltar, Kyanite? — Sua voz soou tão rouca e fraca que, se eu não pudesse ver o perfil de seu rosto, diria que estava chorando.

— Skander? — Tirei a máscara, encarando-o — Ele não é o meu homem, é só alguém que conheço.

— Tem certeza disso? — Frio como a lâmina de sua espada quando feriu a minha bochecha — Não é o que eu via quando os dois estavam se esfregando na pista de dança.

— Correção: se chama dançar valsa — Retruquei, me virando completamente para ele, encarando suas costas — Ele se ofereceu para me ensinar essa dança.

Mesmo sendo alta, Dominic ainda era maior do que eu. Estar de costas para ele me fazia perceber isso, pois encara a parte inferior de seus ombros que, mesmo cobertos pelo seu terno, eram musculosos e rígidos.

Sem pensar ergo minha mão e toco suas costas, tão quentes que podia sentir sua pele fervilhar pelo tecido.

— Me responda — Pedi, segurando seus ombros e o virando com o cuidado para mim — Ainda doí?

Suas mãos envolvem meu pescoço, não se fechando para cortar a minha respiração, mas apenas para controlar os meus movimentos. Tento socá-lo, entretanto, ele desvia, me empurrando até a parede, imobilizando-me. Raciocinar com ele era dialogar com uma besta irracional.

— Não preciso da sua pena — Rosnou, tocando a minha testa com a sua.

Se pudesse, acho que ele já teria me matado.

— Não é pena — Sibilo, fuzilando com o olhar — Odeio ver pessoas sofrendo.

— Não estou sofrendo… — Suas mãos se fecharam um pouco contra o meu pescoço, mas antes que ele cortasse a minha respiração, acerto um chute em seu abdômem, fazendo ele grunhir e se afastar.

— Sei que gosta de mentir, Dominic — Falo entredentes — Mas eu sei quando está machucado — Seu olhar recai sobre mim, uma fera de olhos azuis me encarava — Já se estabacou muito na minha frente…

— Cale-se — Sabia que ele estava louco para me atacar, mas por algum motivo eu não estava com medo, pois sabia que ganharia dele, como sempre.

— Estou apenas falando a verdade… — Murmurei e ele avançou, segurando o meu rosto entre suas mãos macias e frias

— Por que faz isso comigo? — Sussurrou encarando os meus olhos como se pudesse ver a minha alma.

Algo em mim ardeu e se estilhaçou, tudo de uma vez. Esse era o menino, que mesmo não sendo o que eu posso chamar de amigo, esteve presente na minha vida. Um tipo de constância que nem mesmo minha mãe conseguiu imitar. Dominic esteve presente em quase todos os meus aniversários, mesmo que fosse para estragar a festa e/ou bolo.

Sempre apostava corridas quando ocorria o degelo, mesmo sabendo que eu era mais rápida. Era o garoto que me mostrou a primeira rosa kyanite, verde e misteriosa, quando veio visitar Elfdale em um verão.

Ele era tão perene para mim quanto as trocas diárias entre o sol e a lua.

E eu era isso para ele. A elfa que ele adorava irritar. A única garota que conseguia ganhar dele em sua arma preferida, a espada. A única pessoa que ia contra tudo o que ele fala e acredita e ainda assim o salvou do animal irracional da Floresta de Galodonel.

Eu possuía o nome da pedra que ele inconscientemente sempre escolhia…

— Dominic — Suspirei quando sua perna venceu a anágua e se posicionou entre minhas coxas., fazendo um calor insano percorrer o meu corpo.

— Kyanite — Seu rosnado era mais baixo, vibrando contra a minha pele como um chamado. Ele me queria mais do que conseguia expressar em palavras.

Sua boca toca a pele exposta do meu pescoço com cuidado, repousando beijos quentes em cada centímetro de pele disponível. Meu corpo trava e fecho os olhos. Ele sabia o que estava fazendo e isso era óbvio, eu me sentia um cordeiro perto de seu desejo faminto e voraz. Suas carícias descem até os meus ombros enquanto suas mãos envolvem as minhas costas.
Um grunhido escapa de sua boca, fazendo seu hálito quente tocar a pele úmida de meu pescoço.

Minhas mãos agarram seu cabelo, Dominic me prende contra a parede novamente, mas dessa vez, ele tão me enforcava e sim agarrava o tecido do espartilho como um lobo faminto devora uma carne fresca. Se dependesse dele, eu já estaria nua, sabia disso, pois seus dedos percorriam os laços e fitas que me apertavam.

Dominic queria desfazer os nós e usava toda a sua força para não fazê-lo.

Arfo sentindo ele mordiscar minha pele, eu queria gemar, mas seria muita humilhação.

Seus olhos encontram os meus de novo, não eram tão azuis agora, pareciam menos misteriosos. Minha respiração estava tão irregular que eu almejava com toda a minha alma que ele arrancasse aquele maldito espartilho, que rasgasse as fitas que me impossibilitavam de respirar. Eu queria ele, queria seus beijos e carícias que faziam o meu corpo fervilhar e me odiava por isso.

— Dominic… — Minha voz era falha e, pelo seu olhar, eu sabia que meus olhos tinham mudado de cor — Como estão?

Ele me ignora, descendo seus beijos sedentos pela linha dos meus seios. Me agarro ao tecido de seu paletó para não falar nada indevido ou indecente, mesmo meu corpo não ligando mais para moral ou boa conduta.

— Rosas — Falou, lambendo sensualmente do meu busto até o meu pescoço — Meio coral… Tipo suas bochechas agora.

Uma risada escapou de sua boca, deliciosamente sensual. Mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele me beija. Calando a minha mente e fazendo meu corpo arder como um vulcão em erupção. Eu queria resistir aquilo, mas tudo em mim parecia não funcionar, afinal esse seria o meu primeiro beijo.
Sua boca tocava a minha com cuidado, deliciando-se devagar com a minha inexperiência.

Me sentia tão ridícula, pois era óbvio que ele já teve outras parceiras, talvez tenha beijado Aysel como está me beijando agora ou qualquer outra mulher.

Diferentemente do calor de Skander, seu toque era mais ameno, não tão calculado e mais sincero e singelo. Seu frio era tão reconfortante e gostoso que mal percebo quando um gemido desliza pelos meus lábios.

— Merda… — Ronronou, afastando-se de mim — Eu nem perguntei…

— Dominic?

— Eu… — Ele balança a cabeça, agora completamente longe — Não sei o que deu em mim — O príncipe arruma seu terno — Aceite minhas desculpas, Kyanite.

Tão rápido quando um furacão, ele partiu, deixando-me sozinha da sacada, com o vento esfriando todas as partes que ele me beijou. Toco meus lábios, ainda podia sentir a sua boca contra a minha e, para a minha infelicidade, eu queria mais.

— Estou louca — Murmuro, encarando a lua — Definitivamente insana…


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado! Comente o que você está achando da história, isso me ajuda a deixá-la melhor! S2



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