Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 20
Capítulo 20




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A última vez que Harry tinha visto os pais foi no aniversário da mãe, pouco mais de dois meses atrás. Então não foi com surpresa que recebi o convite para almoçarmos com eles no sábado depois do salto desastroso de paraquedas. Não que eu estivesse exatamente empolgada, mas dava para ver que meu namorado estava, então concordei que iria com ele e usei o resto da semana para me preparar mentalmente para o dia que me aguardava.

Durante todo o percurso, Harry fez o possível para parecer descontraído e despreocupado, mas eu sabia que ele estava internamente esperançoso de que hoje fosse finalmente o dia em que milagrosamente seus pais e eu descobrimos que temos muitas coisas em comum e finalmente temos um encontro agradável e divertido, em que todo mundo mal pode esperar para repetir num futuro muito próximo. Minhas esperanças não eram tão altas, mas assim como ele, eu também mantive essa opinião apenas para mim.

Quando estacionei o carro em frente à casa que eu já conhecia, não pude deixar de reparar que nesses dois meses em que não estive ali, a primavera havia feito um belo trabalho no jardim da entrada. Se antes a casa apenas parecia imponente e elegante, agora também parecia mais viva com todas as flores contornando a entrada.

Harry segurou minha mão assim que saímos do carro, daquele jeito mais forte que o normal que parecia querer dizer que ele estava ali comigo e estava tudo bem. Era bom não precisar fingir que eu me sentia confortável com os pais dele, mas ao mesmo tempo eu não gostava de ser a pessoa que o deixa tenso na presença da própria família. Internamente desejava que isso pudesse ser diferente.

—Gostei do jardim. - Comentei enquanto esperávamos em frente à entrada.

—Meu pai gosta de jardinagem e minha mãe gosta de flores, então todo ano ele faz um jardim diferente para ela como presente.

O comentário me fez por um momento ver os dois não como os pais um pouco irritantes do meu namorado, mas como um casal que se ama e faz coisas fofas um pelo outro mesmo depois de todos aqueles anos de relacionamento. Não vou negar que era bonito quando eles não usavam essa cumplicidade toda para levantarem uma torcida organizada pela ex namorada do meu namorado.

A porta se abriu para uma Lily tão casualmente bem vestida como sempre, com um sorriso contente para o filho, James logo atrás aparentando a mesma felicidade. Harry ganhou um abraço demorado de cada um eles, que me permitiu observar a clara satisfação de ambos ao tê-lo em casa. Da maneira dele, Harry também parecia feliz em receber todo o carinho que sempre o esperava ali. 

—Venham, vamos nos acomodar um pouco aqui na sala. - James convidou, nos indicando o cômodo ao lado da porta da entrada. - Nosso almoço já está no forno, mas ainda vai demorar uns vinte minutos para ficar pronto.

—Qual o cardápio de hoje? - Harry perguntou ao mesmo tempo em que se jogava no sofá sem muita elegância, típico de quem estava em casa. Eu me sentei ao lado dele muito mais contida do que teria feito normalmente.

—Aquela torta de frango que você gosta.

O rosto dele se iluminou com a resposta, numa expressão empolgada meio infantil que eu gostei de ver.

—Gin, esse é meu prato preferido no mundo, você vai amar!

—Como estão as coisas, sumido? - James perguntou antes que eu tivesse a chance de comentar.

Harry se acomodou melhor no sofá ao meu lado e puxou minha mão para o seu colo antes de iniciar a conversa.

—Mais do mesmo, trabalho e agora estamos aproveitando um pouco o bom clima.

A conversa se estendeu sobre as novidades de ambos os lados, com Harry cuidadosamente deixando de lado qualquer menção sobre passeios de moto ou saltos de paraquedas. Lily e James falaram sobre alguns amigos e parentes cujos nomes eu não reconheci, e minha interação se manteve mínima e sempre num campo neutro, o que queria dizer em áreas em que Harry estava envolvido.

James se retirou tempo suficiente para confirmar se a torta estava pronta e voltou alguns minutos depois apenas para dizer que o almoço estava servido. 

—Achamos mais aconchegante colocar a mesa na cozinha, já que somos só nós quatro. - Lily falou diretamente para mim. - Nós nunca usamos a sala de jantar quando estamos só os três, espero que não se importe Ginny.

—De forma alguma, como vocês preferirem.

Só precisei de alguns minutos na presença dos pais do Harry para entender de onde vinha aquela elegância intrínseca que era tão típica dele, mas toda vez que eu tinha que responder a suas cortesias ensaiada no mesmo tom e sem poder fazer uma piada logo depois, era tudo tão não natural para mim que eu sempre tinha a impressão de estar fingindo ser outra pessoa.

—A torta está uma delícia James. - Elogiei sinceramente depois do primeiro pedaço, ele apenas dispensou meu comentário com um aceno modesto.

—Eu te falei que era a melhor comida do mundo. - Harry enfatizou o elogio.

—Então Ginny, - James chamou minha atenção depois de um momento de silêncio. - Lily me contou que você estudou contabilidade.

A voz dele não demonstrava nada além de curiosidade, mas o comentário me deixou um pouco tensa mesmo assim.

—Sim, essa é na verdade minha primeira formação.

—Interessante, você chegou a praticar a profissão? - Sua expressão não me permitia dizer se ele estava genuinamente curioso ou apenas sendo educado.

—Por pouco tempo, não posso dizer que é uma área de trabalho que eu goste, então nem a faculdade e nem o tempo em que trabalhei com isso estão listados como os melhores anos da minha vida.

—Algumas pessoas não são feitas para se trancar em um escritório o dia inteiro, eu entendo.

Era difícil identificar se havia uma crítica escondida por trás da frase ou não.

—Que graça teria se todo mundo fosse igual, não é mesmo? - Forcei o meu melhor tom casual, que foi reforçado com um sorriso que ele retribuiu.

O foco da conversa mudou e eu voltei ao meu estado de interação mínima. Depois da sobremesa James começou a contar ao filho sobre a nova máquina de café que havia comprado, algo sobre uma tecnologia diferente para moer o grão, regulagem perfeita da temperatura da água e diversas outras coisas que eu não fazia ideia para que seriam úteis, se no fim a bebida ainda seria ruim.

—Vem comigo, vou te mostrar o melhor espresso caseiro que você já provou.

Harry me olhou lançou um olhar discreto enquanto se levantava da cadeira, mais lentamente que o normal. Não vou dizer que ficar sozinha com Lily estava alto na minha lista de desejos, mas eu havia prometido a ele que tentaria. Tão discretamente quanto seu gesto, eu acenei o encorajando a ir.

Os dois saíram conversando, mas as vozes rapidamente se tornaram abafadas no cômodo ao lado e o silêncio constrangedor caiu sobre a cozinha. Eu estava desesperadamente procurando algo para dizer, mas ela quebrou o silêncio primeiro.

—Você não gosta de café, Ginny?

—Na verdade não, nunca consegui me acostumar com o gosto forte.

—Temos algo em comum então, também não consigo suportar nem o cheiro. - Ela me lançou um sorriso que parecia acolhedor. - E pelo menos você me faz companhia enquanto eles se divertem, Cho também adorava café e no fim os três se fechavam no mundo deles e eu acabava ficando de fora.

Com muito custo eu consegui manter a postura relaxada de antes e ri como ela esperava que eu fizesse, mas ou eu tinha perdido minha capacidade de analisar adequadamente a situação ao meu redor, ou Lily Potter estava me provocando.

—Bom, ninguém é perfeito, não é? - Respondi no mesmo tom descontraído que ela havia usado.

—Aliás, falando sobre Cho, eu queria me desculpar por tê-la convidado para o meu aniversário sem que você e Harry soubessem. Imagino que tenha sido uma situação desagradável para você.

—Eu não vejo por que você precisaria se desculpar comigo por trazer alguém na sua própria casa.

—Talvez você tenha ficado constrangida com a nossa interação tão próxima, não sei. Só não quero que isso deixe uma situação desconfortável.

Tudo no comportamento dela confirmava minha teoria sobre provocação, e eu precisei respirar fundo para engolir de volta a raiva que ameaçava submergir. Internamente eu só consegui desejar mais que tudo que Harry voltasse sei lá de onde ele havia se enfiado com o pai. Eu não confiava em mim mesma para manter a compostura por muito tempo e duvidava que ela continuaria falando na presença dele.

—Lily, se você está preocupada em ter constrangido alguém, pode ficar tranquila quanto a mim, porque não fui eu que saí daqui com esse sentimento aquele dia.

—E quem seria?

—Cho, ela estava extremamente constrangida e procurou um momento a sós para se desculpar comigo pela situação. Embora eu não ache que ela me deva nenhum tipo de desculpas.

 O olhar dela para mim me dizia que ela não esperava essa resposta. No fim ela disfarçou a surpresa com uma risada.

—Cho é um amor de pessoa, por isso fazemos questão de mantê-la por perto. Harry e ela são muito parecidos.

Com esse comentário tenho certeza que a faísca de irritação no meu rosto foi visível, mas eu apenas a encarei com o semblante sério por um momento. Eu poderia continuar com esse rodeio, mas controlar minha boca nunca havia sido um ponto forte para mim.

—Se esse é seu jeito sutil de dizer que Harry e eu somos muito diferentes, não precisa rodear tanto porque nós sabemos perfeitamente disso desde o primeiro encontro.

Foi a vez dela de me encarar por um instante antes de pousar as mãos sobre a mesa e continuar aquele assunto que eu queria mais do que tudo encerrar.

—Sabe Ginny, talvez na idade de vocês as coisas ainda não sejam tão claras, mas são as semelhanças que mantém um relacionamento.

Pelo menos um crédito Lily merecia: não é todo mundo que conseguiria abordar esse tipo de assunto com tanta calma e elegância.

—Sabe Lily, talvez a sua experiência seja parâmetro apenas para a sua vida mesmo, não um estudo sociológico de abrangência mundial. - Eu certamente já não conseguia esconder a agressividade na voz.

Ela não pareceu se abalar.

—Eu consigo ver porque ele está encantado por você.

—Mesmo? - Até para mim mesma eu soei petulante, mas ela sequer pareceu me ouvir.

—Você é esperta, bonita, tem um estilo de vida… incomum. - Ela fez uma pausa ensaiada, como se para me dar tempo para absorver o que havia acabado de dizer. - Mas uma hora essas características param de ser novidade e tudo o que sobra são duas pessoas que não tem nada a ver uma com a outra e o tempo que vocês desperdiçaram com isso.

—E quais exatamente seriam essas diferenças tão relevantes a que você se refere? Eu usar saia curta ao invés de roupa social? Meu trabalho diferente? Ou talvez seja eu não falar só o que você quer ouvir?

Dessa vez uma centelha de irritação traiu a expressão calma com que ela me encarava de volta, apenas que por um segundo.

—Harry é um homem centrado, Ginny. Ele tem uma vida estabilizada, uma rotina sem grandes eventos ou emoções. Meu filho gosta de museus e musicais, não de fazer qualquer coisa radical e irresponsável no fim de semana. Você acha que conseguiria se acostumar nessa rotina?

Quando Lily terminou de falar eu continuei encarando seu rosto sério. Ela não estava mentindo quando dizia tudo aquilo, ela realmente descreveu o Harry que ela conhece. A situação, no entanto, só me deixou ainda mais desconfortável porque eu praticamente poderia ver meus pais descrevendo meu irmão: na cabeça deles, Ron era apenas o que ele mostrava em casa, as partes que não se encaixavam nos padrões que eles julgavam ideias eram terminantemente ignoradas. Vendo que eu não responderia, ela continuou.

—É por isso que eu digo que são as semelhanças que sustentam um relacionamento, Ginny.

—Você ficaria chocada com quão parecida você é com a minha mãe. - Apoiei os cotovelos na mesa antes de continuar, me dando tempo para ao menos tentar controlar o tom da minha voz. - Com os meus pais, na verdade. Eles odeiam praticamente tudo no meu estilo de vida, sabia? O pretexto é que eles estão preocupados comigo e com o meu futuro, mas a verdade é que eles não entendem que é possível alguém querer uma vida completamente diferente da deles, e para ajudar, eles acham o meu trabalho indecente e motivo de vergonha. Inclusive foi por causa deles, para agradar a eles, que eu perdi quatro anos da minha vida numa faculdade de contabilidade que nunca vou usar para nada.

Fiz uma pausa para ver se ela iria me interromper, mas isso não aconteceu.

—Eu escolhi não fingir nem esconder quem eu sou na frente deles, e ao mesmo tempo que isso me da liberdade para ser eu mesma, criou uma relação muito difícil entre nós. Mas aí no meio disso tudo tem o meu irmão, que se encaixa mais ou menos no que eles consideram uma vida correta: ele trabalha em um escritório apenas com pessoas vestidas, se veste de maneira mais formal, tem uma namorada exemplar que também preenche todos os requisitos. Enfim, como você pode imaginar, a convivência entre meus pais e ele é ótima. Mas você acha mesmo que meu irmão só gosta de coisas com as quais nossos pais concordam? É claro que não, ele só filtra o que mostra pra eles.

Ela tinha começado a entender onde eu queria chegar com aquele argumento, e algo em seu rosto me mostrou que ela não estava gostando muito, embora fosse muito sutil por baixo do mesmo semblante inexpressivo. Quanto a mim, estava cada vez mais difícil manter a pouca calma que ainda me restava.

—Esse Harry que você descreveu é exatamente o cara que eu conheci no parque, mas ele é tão mais do que isso fora daqui, quando não está agindo exatamente como vocês esperam. Eu acredito de verdade que você esteja pensando no melhor para ele enquanto me fala isso, mas talvez você devesse se perguntar o que o faz feliz e se preparar para receber uma lista com coisas que ele nunca compartilhou com vocês antes, porque vocês preferem acreditar que esse lado dele não existe.

—Você está dizendo que eu não sei quando meu filho está feliz?

—Não, eu estou dizendo que tentar forçar o seu estilo de vida nele não impede que ele ainda viva a própria vida, mas faz com que ele não compartilhe. Sabe qual foi a vez que eu vi o Harry mais feliz e empolgado com alguma coisa? - Eu não esperava que ela respondesse, então nem dei tempo para ela tentar. - No ano passado quando ele recebeu o presente de aniversário que comprou para ele mesmo. E sabe qual foi a primeira coisa que ele me disse quando chegamos aqui pela primeira vez, antes de você abrir a porta? Ele me pediu para não falar nada da m…

Parei minha frase no meio, subitamente me dando conta de que eu estava prestes a contar para a mãe dele uma coisa que Harry não queria que ela soubesse. Não cabia a mim decidir se ela ficaria sabendo que o filho tem uma moto ou não, então me calei a tempo de não dizer nada e respirei fundo, tentando alcançar novamente uma calma que já não estava mais nem a vista. Lily arqueou a sobrancelha, intrigada com o que eu não disse.

—Quer saber, Lily? Eu não tenho direito de te contar coisas que ele claramente não quer que vocês saibam, mas eu não vou sentar aqui e discutir esse assunto com você. - Agora ela já não conseguia mais disfarçar o desagrado. - Muito menos ouvir sua crítica velada e sua opinião mal disfarçada de quão inadequada eu sou para esse relacionamento. Não me faz diferença nenhuma que vocês não gostem de mim. - Sua expressão se transformou em questionadora quando eu disse isso. - Eu não preciso ser um gênio para saber disso, você e James deixaram sua desaprovação bem clara já quando nos conhecemos. Mas o seu filho gosta, e eu amo a versão dele que vocês fecham os olhos e fingem que não existe.

Sem dar a ela tempo de responder, eu me levantei da cadeira onde estava sentada e me virei para ir embora. Eu sentia as lágrimas querendo dar as caras, mas me recusava a chorar na frente dela.

—Ginny.

O tom que Lily usou para me chamar foi tão autoritário que eu parei antes mesmo de processar o fato de que eu poderia muito bem deixá-la falando sozinha. Me virei sem expressão, ela continuava sentada na mesma posição.

—James e eu não temos absolutamente nada contra você, só queremos o melhor para o Harry. Quando você for mãe você vai entender.

Ri sem humor antes de responder.

—Eu não quero ter filhos, mas Deus me livre de um dia achar que eu sei o que é melhor para qualquer outra pessoa adulta em plenos poderes de suas faculdades mentais.

Dessa vez ela que soltou um riso abafado.

—Apenas outra diferença insustentável, como você acha que vai ser quando Harry achar que está na hora de ter uma família? 

—Ele que te disse que quer ter uma família um dia, ou você está apenas supondo outra vez que sabe o que é melhor para ele?

Sustentei seu olhar por um momento, mas no fim desviei o rosto e saí do cômodo o mais rápido que meus passos permitiram.

Estava difícil controlar o turbilhão de emoções dentro de mim, então tudo o que eu queria era chegar ao meu carro o mais rápido possível. Eu adoraria ter conseguido fazer isso sem esbarrar em ninguém, mas Harry e James estavam sentados cada um em uma poltrona na sala, com suas xícaras de café nas mãos e expressões descontraídas.

Não olhei na direção deles, mas de canto de olho vi quando Harry notou minha passagem apressada pelo cômodo. Antes que ele tivesse tempo de falar alguma coisa, disparei em um fôlego só:

—Estou indo embora Harry, te vejo em Londres. Tchau James, obrigada por me receberem.

Terminei minha despedida pouco educada já girando a maçaneta da porta que me levaria para a rua. Eu não tinha levado bolsa, então a chave do carro estava confortavelmente ao alcance das minhas mãos no bolso do meu jeans. Destravei as portas quando estava próxima do veículo e me sentei apressada no banco do motorista, quando liguei o motor ouvi meu nome ser chamado e me virei para olhar em direção à casa.

Harry estava correndo apressado na minha direção, a expressão leve de agora há pouco totalmente perdida em meio ao semblante irritado e até um pouco triste. Assim que ele alcançou o veículo abriu a porta do passageiro e se acomodou, a mão repousando na minha perna em um sinal de conforto que não melhorou muito a situação. Quando finalmente arranquei com o carro, de canto de olho eu conseguia ver que James e Lily estavam na porta olhando.

Durante os primeiros minutos de trajeto me concentrei em me acalmar e precisei limpar duas ou três lágrimas teimosas que eu não consegui segurar. Meu namorado não disse absolutamente nada, apenas aguardou com a expressão confusa e indignada enquanto eu dirigia.

A adrenalina da situação baixou rapidamente, deixando no fim apenas uma tristeza que eu já conhecia bem e que trazia a tona todos os meus piores sentimentos. Não deveria importar tanto assim que os pais dele achassem que somos uma total perda de tempo, deveria? Não deveria importar tanto assim que eles me comparassem com a ex namorada dele ao dizer que eu não era adequada, deveria?

Não importa quantas vezes eu diga para mim que não, não deveria, eu ainda me importo e o sentimento ainda machuca como sempre. 

—Você quer conversar sobre isso? - Harry perguntou incerto.

—Hoje não.

Ele não insistiu mais e continuou calado pelo resto do caminho. Quando chegamos ao nosso bairro eu dirigi direto para a casa dele e estacionei em frente ao seu prédio. O motor do carro ligado e meu cinto de segurança seguramente afivelado no lugar foram sinais suficientes de que eu não tinha intenção de descer.

—Gin… - Meu nome soou quase como um pedido.

—Só preciso de um tempo para mim mesma, tudo bem? - Me forcei a olhar para ele e fiz o meu melhor para esboçar um sorriso. - A gente vai se falando.

Ele acenou com a cabeça, mas a expressão em seu rosto praticamente gritava que ele não concordava. Correspondi quando ele me puxou em sua direção e me beijou por longos segundos, para logo em seguida descer do carro. Quando olhei pelo retrovisor em sua direção, Harry estava com o celular no ouvido uma expressão exasperada enquanto cruzava o portão do prédio.

O caminho até a minha casa foi rápido e não me deixou muito tempo para nada além de um emaranhado de pensamentos confusos. Quando finalmente me vi sozinha na paz do meu apartamento, deitei no sofá e me permiti sentir a tristeza chegando em ondas.

Seria tão difícil de explicar para o Harry que toda aquela reação e sentimento não eram apenas direcionados ao que sua mãe me disse, mas também, e talvez principalmente, a tudo o que aquilo me fazia reviver.

Aquele medo de não agradar, tão familiar durante a minha adolescência, ia aos poucos surgindo, agora trazendo de mãos dadas um medo inédito: o medo de realmente ser inadequada para a pessoa que eu amo. Racionalmente eu sabia que isso não era verdade e que se Harry pensasse dessa forma, nunca nem teríamos chegado a esse ponto, mas esse é o maior problema de medos tão enraizados: eles não são racionais.

Eu pensaria no que contar ao Harry outra hora, pois com o turbilhão de pensamentos dentro de mim eu não tinha dúvidas de que a prioridade naquele momento era cuidar de mim mesma. 


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Notas finais do capítulo

Enfim Lily falou o que ela pensa, só não esperava ouvir de volta o que a Gin também pensa. Brigar com os sogros é complicado, né? Não tem como isso não afetar pelo menos um pouco o relacionamento...
Não deixem de me contar o que estão achando da história, ansiosa para ver as opiniões de vocês nos comentários.
Beijos e até daqui 2 semanas.



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