Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 16
Capítulo 16




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Na noite que antecedeu a visita aos meus pais, eu estava deitada na minha cama após um um jantar com Luna, quando Harry me mandou uma mensagem dizendo que iria direto para casa e nos encontraríamos no dia seguinte às dez. Ele e Draco tinham saído juntos e provavelmente ainda estavam se divertindo onde quer que fosse que eles estivessem, então desejei que ele se divertisse, mandei um beijo para seu amigo e me preparei para dormir.

Quando acordei no dia seguinte vi que havia uma nova mensagem dele, pouco mais de três da manhã, dizendo que havia acabado de chegar em casa, mas estaria pr onto no horário combinado. E de fato ele estava, afinal meu namorado era muito melhor do que eu em ser pontual e causar uma boa primeira impressão em quem quer que fosse.

Harry se sentou no banco ao meu lado com um sorriso empolgado e se debruçou sobre mim para um beijo não tão rápido assim. Quando ele voltou ao seu assento e esticou o braço em busca do cinto de segurança, notei que havia uma sacola de papel cuidadosamente pousada em seu colo.

—Bom dia, Gin. Como foi sua noite?

—Hey gato, minha noite foi muito legal com a Luna, depois disso fui para casa e assisti um pouco de TV até cair no sono, e a sua?

—Foi ótima, eu e Malfoy desbravando uns bares estranhos no centro de Londres depois de umas cervejas a mais, ele querendo pedir um táxi pra nos levar até Edimburgo às duas da manhã e eu me desculpando com todos os motoristas que ele parou por nada.

Ri da cena que eu conseguia imaginar e pousei minha mão em sua perna quando ele a puxou e entrelaçou nossos dedos.

—Senti sua falta ontem.

Estávamos nos vendo com uma frequência bem alta ultimamente, então era bom saber que eu não fui a única a sentir saudade no dia anterior.

—Também senti a sua, acho que vou te levar pra minha casa hoje. - Falei com a voz suave e um sorriso de canto. - O que tem na sacola?

—Eclairs de baunilha e café que eu comprei numa padaria francesa perto de casa pra levar para os seus pais.

—Como se eles já não fossem gostar de você o suficiente. - Suspirei resignada. - Muita gentileza sua, obrigada.

—Não por isso. Também comprei uma coisa que eu acho que você vai gostar muito, está lá em casa pra você.

—Surpresa ou posso saber o que é?

—Pode saber, é uma torta de framboesa, sei que você adora a fruta e a pensei que talvez fosse gostar.

—Pensando bem acho que eu vou deixar você me levar pra sua casa hoje. - Retratei minha sugestão inicial e ele riu. - Obrigada, tenho certeza de que vou gostar.

Entre uma conversa e outra chegamos ao nosso destino. O carro do meu irmão mostrava que ele já estava ali, o que me ajudava a relaxar um pouco. Tentei ser discreta ao respirar fundo e abrir a porta do veículo, mais uma vez eu disse a mim mesma que não precisava ficar nervosa. Harry apanhou sua sacola e me acompanhou de perto pelos degraus da entrada e até chegarmos a porta da sala.

Uma batida rápida para anunciar que estávamos ali e eu abri a porta que raramente estava trancada. Assim que apareci em seu campo de visão, senti a conversa parar e quatro pares de olhos se virarem para mim. Ron e Mione com um sorriso no rosto, meus pais com uma atenção especulativa mal disfarçada.

—Chegamos. - Anunciei e entrei no cômodo.

Harry seguiu logo atrás, mas não me virei para ele até ter deixado minha bolsa no aparador. Segui até onde meus pais estavam e dei um beijo rápido em cada um deles quando ambos se levantaram para nos receber.

—Oi mãe, pai. Esse é o Harry. - Falei quando ele parou ao meu lado.

Meu namorado se antecipou e esticou a mão com educação, um sorriso preso no rosto.

—Olá senhor e senhora Weasley, é um prazer finalmente conhecê-los. - Trocou um aperto de mãos com meu pai e retribuiu o beijo que minha mãe deu em seu rosto. - Isso é para vocês.

Ele esticou a sacola e minha mãe a apanhou com um sorriso enviesado.

—Obrigada pela gentileza, não precisava ter se incomodado.

—Não é incômodo nenhum, apenas algumas sobremesas tradicionais francesas que minha mãe gosta muito, então achei que seria um bom complemento para o almoço. Aliás, obrigada por me receberem.

Minha mãe dispensou o agradecimento com um aceno e meu pai lhe deu um tapinha amigável no ombro. Como eles pareciam estar indo muito bem, me virei para cumprimentar meu irmão e Hermione, que observavam a cena quietos. Harry me alcançou e os cumprimentou também, depois se sentou ao meu lado no sofá.

A expressão desconfiada de quando chegamos havia sumido completamente dos rostos que nos encaravam agora, apenas uma curiosidade palpável estava visível. Talvez meus pais não estivessem esperando tanta cortesia e educação.

—Então Harry, querido, nos fale um pouco sobre você. Ginny não deu muitos detalhes, estamos curiosos. Você disse que sua mãe gosta de sobremesas francesas, sua família é de lá?

A primeira coisa que me veio à mente foi que na verdade eu não tinha dado detalhe nenhum porque eles nunca tinham perguntado absolutamente nada, mas achei que isso quebraria um pouco o clima se eu dissesse em voz alta.

—Não, até onde eu saiba somos todos ingleses, mas minha mãe gosta muito de explorar culinárias diversas.

—Todo mundo gosta de uma boa comida, eu imagino. - Meu pai comentou.

—E por falar nisso podemos comer agora que eles chegaram, né? - Ron cortou o assunto e se levantou.

A interrupção me fez rir, mas o olhar dos meus pais para ele indicavam uma bronca. Apesar disso, todos nós o seguimos até a mesa de jantar e nos sentamos. Minha mãe havia preparado sua famosa lasanha, que era meu prato preferido, e eu não poupei no tamanho do meu pedaço.

—Então crianças, como vocês se conheceram? - Meu pai perguntou depois de algumas garfadas em silêncio.

—Naquele parque perto da minha casa. - Respondi por nós dois. - Eu estava fazendo algumas fotos só por diversão e Harry estava sentado por ali, de costas pra um pôr do sol bem bonito. Ele acabou posando de modelo para mim sem querer e o resto é história.

Achei que a versão reduzida dos fatos fosse mais adequada à ocasião.

—Você também mora ali por perto, Harry?

—Sim, do outro lado do parque, poucos minutos da casa da Gin.

—E o que você faz, querido? - Minha mãe perguntou casual demais, a sobrancelha levemente arqueada.

Achei honestamente que essa pergunta tinha demorado a surgir, visto que já estávamos a meio caminho do almoço. Pensei que eles perguntariam antes mesmo do famoso e educado “tudo bem e você?”.

—Trabalho em um banco, cuido das relações públicas da marca e da gerência.

Notei quando o rosto dela se iluminou em uma surpresa agradável.

—Mesmo? Que interessante!

—Bom, não é nada tão original e divertido quanto o trabalho da Gin, mas eu gosto bastante.

—Bobagem, tenho certeza que as pessoas ainda se divertem em escritórios, pelo menos eu me divertia. - Meu pai acrescentou, o comentário sobre o meu trabalho sendo ignorado com sucesso.

Essa informação foi o que bastou para quebrar o que ainda havia de gelo naquela situação. Em poucos minutos a mesa já era um amontoado de histórias de escritórios, contadas por todos os participantes, menos eu. Minha mãe disparava perguntas, a curiosidade visível, eu apenas observava a cena sem me manifestar muito.

Terminamos o almoço em meio a essa conversa e meus pais dispensaram qualquer ajuda para tirar a louça da mesa e trazer a sobremesa, nos incentivando a continuar conversando.

—Ginny também trabalhou por ali um tempo atrás, não foi meu bem? - Minha mãe se dirigiu a mim quando Harry contou em que região de Londres ficava o banco em que ele trabalhava, um olhar encorajador com aquele brilho de esperança que eu já conhecia.

—Sim, mas foi numa vida da qual eu não tenho boas lembranças.

—Não seja dramática, Gin, tenho certeza que você está aumentando. - Meu pai falou com um tom animado, o que quase me fez rolar os olhos. - Vocês poderiam almoçar juntos se você retomasse seu antigo emprego, não seria ótimo?

O comentário me fez morder a língua a tempo de me frear e me decidir por uma resposta tão casual quanto o tom que ele usou em sua sugestão.

—Nós já jantamos juntos quase todo dia e com a vantagem de não precisar contar os minutos para voltar pro trabalho, já está ótimo assim papai. Harry tem vários amigos por lá, incluindo Mione, tenho certeza que ele não tem tempo de se sentir sozinho durante o almoço, não é?

Meu namorado confirmou o que eu havia dito, mas o assunto não se alongou nessa direção.

—Ah então somos os últimos a conhecê-lo Harry, querido? - Minha mãe perguntou por cima do seu prato de bolo. - Ronald e Hermione tiveram a honra de serem apresentados antes?

—Na verdade eu fui apresentado ao Ron umas duas semanas antes de conhecer a Gin, porque eu e Mione somos amigos há muitos anos.

—Mas que grande coincidência, vocês cresceram juntos?

—Não, nós dividimos a mesma residência estudantil durante a faculdade.

Notei o momento exato em que meus pais entenderam o que aquilo significava por como seus rostos se iluminaram ainda mais.

—Você também se formou em Oxford?

—Sim, no mesmo ano que a Mione.

—Seus pais devem ser tão orgulhosos de você, não são?

—Eu nunca perguntei diretamente, mas acredito que sim. - Harry respondeu com o cenho meio franzido.

—E você tem irmãos? Eles seguiram os mesmos passos que você?

—Não, sou filho único.

As perguntas continuaram enquanto o bolo de chocolate era devorado pedaço a pedaço. Eu não diria que Harry se sentiu sem graça em nenhum momento, talvez ele tivesse mais experiência que eu nessa coisa de conhecer os pais de alguém, mas no lugar dele eu já estaria cansada de falar tanto sobre mim mesma.

Não que eu tivesse qualquer dúvida de que tudo aconteceria exatamente desse jeito, mas ainda assim meus pais fizeram questão de mostrar o quanto tinham adorado meu namorado. Ele também estava contente de estar ali e ser bem recebido, o que eu entendia. Quanto a mim, não é que eu não gostasse do fato de que tudo estava indo bem entre eles todos, talvez eu só quisesse que tivesse sido assim caso ele fosse mais parecido comigo também.

Nós quatro nos acomodamos na sala enquanto meus pais se ocuparam de organizar a louça, deixando muito claro novamente que deveríamos nos sentar e descansar, que nenhuma ajuda extra era necessária.

—Quem aqui vai se filiar ao fã clube que eles vão abrir pro Harry? - Ron perguntou com ar sério, me fazendo rir. - Tomara que a gente tenha a opção de se desinscrever dos emails de notícias semanais, minha caixa de entrada já está cheia de spam.

—Harry tem mesmo esse dom de conquistar pais, então os seus podem só se juntar a um dos fã clubes já existentes, não precisam criar mais um. - Mione deu continuidade ao assunto, o ar de piada sempre presente, mas ainda assim eu achava que tinha certa dose de verdade no que ela dizia.

—Os seus pais também? - Perguntei.

—Ela está exagerando, não tem nada a ver. - Harry tentou se defender, mas Ron e eu o ignoramos e continuamos olhando para ela.

—Os meus nem tanto assim, mas os pais do Draco têm praticamente um altar com a foto dele na sala de estar.

Claro que têm, eu pensei sem me surpreender, Draco também tinha optado por um estilo de vida não tradicional. Se meus pais, pertencentes a um grupo social a quem não tinham ninguém para impressionar já não lidavam bem com isso, não consigo nem imaginar como seja na casa do ex primeiro ministro.

—Hermione exagera. - Harry tentou se defender, mas não soou convicto.

—Harry e Draco terminaram a escola há mais de onze anos, mas até hoje o Draco diz que está na casa dele toda vez que quer paz, Harry recebe convites para todas as festas que eles dão e presentes de aniversário muito generosos todos os anos. - Minha cunhada enumerou seus argumentos com um ar zombeteiro. - Aliás o que foi o presente desse ano? Você não me falou.

Ron e eu também estávamos curiosos, então Harry tinha três rostos empolgados em sua direção quando respondeu com ar de desagrado.

—Um Rolex. - Ele nos cortou quando nossa curiosidade se transformou em surpresa. - Mas eu não acho nada disso legal, quer dizer, os pais dele sempre foram ótimos comigo, mas não gosto de ser o ponto de referência de ninguém.

—Ah meu amor, eu entendo que deve ser muito difícil naturalmente agradar todo mundo. - Falei com um suspiro ensaiado, segurando sua mão de forma condescendente. - Mas você está se saindo muito bem, continue sendo forte.

Ele me deu uma cotovelada enquanto Ron e Mione riam, mas o assunto morreu porque meus pais estavam se juntando a nós nesse momento. Eventualmente a conversa se tornou mais genérica e a tarde foi se estendendo de forma agradável. Nossos anfitriões ficaram por ali a maior parte do tempo, mas retornaram à cozinha para um chá que nenhum de nós quis acompanhar.

—Mudou de ideia sobre o chá, meu bem? - Minha mãe perguntou assim que me viu passar pela porta que dividia o cômodo.

—Não, só vim buscar um copo de água, obrigada.

—Querida, eu e seu pai estávamos conversando, Harry é maravilhoso.

—Sim, ele é. - Me encostei na pia, ficando de frente para eles, e concordei com o mesmo sorriso bobo que tomava meu rosto sempre que meu namorado era o assunto.

—Por que você demorou tanto para apresentá-lo para nós? - Meu pai perguntou.

Tão fácil quanto havia surgido, meu sorriso se foi, dando lugar a uma expressão irônica que não passou despercebida a nenhum deles.

—Talvez porque vocês não pareciam minimamente interessados em conhecê-lo quando ele era só um nome que apenas eu conhecia?

—Ah querida… - Minha mãe falou como uma explicação, mas não continuou a frase.

—Ronald deveria ter mencionado que já o conhecia de antes. - Meu pai falou enquanto bebericava seu chá.

—Eu pedi pra ele não falar nada. - Me virei e deixei o copo na pia, os dois rostos à minha frente me olhando com ar questionador. - Cansei de precisar que o Ron valide minhas escolhas pra vocês, então daqui em diante para qualquer coisa que vier de mim só a minha opinião vai ter que contar. Mas fico feliz que vocês tenham gostado do Harry quando viram com os próprios olhos que ele não se parece em quase nada comigo.

Talvez eu não precisasse ter sido tão ácida, mas estava cada vez mais difícil controlar esses impulsos. Acredito que seja um reflexo natural que se desenvolve quando precisamos viver constantemente de guarda alta.

—Vocês vão ficar para o jantar, meu bem? - Ela mudou completamente de assunto, o rosto um pouco sem graça, mas sem nenhuma palavra a respeito do que eu havia acabado de dizer.

—Não, já estamos indo embora. - Neguei e voltei para a sala.

Ron me olhou questionador quando viu minha expressão, mas eu apenas sinalizei que deixasse para lá e foi o que ele fez. Parei atrás do sofá onde Harry estava sentado e apoiei ambas as mãos em seus ombros.

—Já quer ir pra casa?

—Quando você quiser.

—Então vamos? - Ele concordou com um aceno e se levantou.

Nos despedimos com abraços calorosos, Harry prometeu que voltaria sempre que pudesse e agradeceu todas as vezes que meus pais enfatizaram que ele seria bem vindo a qualquer momento. Ele parecia feliz quando passou o braço pelos meus ombros e me acompanhou porta afora.

—Você se importa de dirigir na volta? - Perguntei e estendi a chave do carro para ele.

Me acomodei quieta no banco do passageiro, o rosto apoiado próximo à janela para olhar a estrada passando por nós.

—Acho que foi tudo muito bem, o que você acha? - Harry perguntou depois de um tempo de silêncio, quando já estávamos no pequeno trecho de rodovia que precisávamos cruzar.

—Foi tudo ótimo, eu disse que eles iam amar você. Dito e feito, Potter, mais um nome para sua lista de pais que te adoram. - Zombei e o vi rolar os olhos, mas pude sentir que meu sorriso não era natural.

—Tudo bem? - Ele virou brevemente a cabeça para mim, o olhar especulativo e um pouco preocupado.

Harry já sabia que eu não tinha uma relação muito fácil com meus pais, mas eu nunca havia dado tantos detalhes sobre isso. Ele voltaria lá mais vezes, disso eu tinha absoluta certeza, então não precisaria de mais uma ou duas visitas para notar o ar pesado que nos rodeava na maior parte do tempo. Eu não tinha como fugir desses momentos, mas achei aceitável não falar disso enquanto eu pudesse adiar o assunto.

—Tudo bem, sim. - Respondi com o melhor sorriso que eu consegui.

Ele não pareceu convencido, mas não insistiu. Ao invés disso, pegou minha mão e a levou até os lábios para um beijo.

—Quer ir lá pra casa hoje? Pedir aquela comida indiana que você gosta, a torta de framboesa que eu comprei pra você, Netflix e pouca roupa? - Sugeriu fazendo um carinho gostoso no meu pulso.

—Leu minha mente, gato. - Confirmei e me inclinei para deitar a cabeça em seu ombro, onde permaneci pelo resto do caminho.

Acabei voltando para casa apenas na segunda-feira após o trabalho, com metade da minha torta na bolsa e cansada depois de um dia inteiro de reunião de planejamento e decisão de cenário.

Na sexta-feira o pessoal da equipe tinha combinado uma confraternização porque fazia algum tempo que não passávamos um tempo juntos fora do estúdio. Saímos do trabalho direto para uma hamburgueria, depois para um bar nos arredores e por fim uma balada eletrônica nova que ninguém conhecia ainda.

Harry agradeceu o convite de se juntar a nós, mas negou dizendo que não estava no pique e preferia ir para casa. O plano era nos vermos apenas no sábado, então achei estranho receber uma ligação dele quando estava terminando meu hambúrguer, mais ou menos no horário em que ele saía do trabalho. Pedi licença e me levantei da mesa para atender.

—Hey lindo, tudo bem?

—Oi Gin, tudo bem e você? - Pelo barulho ao redor notei que ele ainda estava na rua.

—Tudo certo, estou comendo com o pessoal. Algum problema? Mudou de ideia e quer vir com a gente?

—Nenhuma das duas coisas, só queria te perguntar se você não quer ir lá pra casa hoje depois da sua noite com eles, queria te contar umas coisas do trabalho e sugerir uma ideia que eu tive.

—Não sei Harry, normalmente eu chego bem tarde. - Hesitei por um momento, mas eu estava curiosa. - Devo me preocupar?

—Não, nada preocupante à vista. Sem problema quanto ao horário e não precisa se apressar, vou estar acordado com certeza porque eu comecei um jogo novo ontem.

—Tudo bem, então te vejo mais tarde.

—Ótimo, eu vou entrar no metrô agora e ficar sem sinal. Fala pra todo mundo que eu disse oi. Beijos, garota, divirta-se.

—Beijos, Potter, até mais.

Minha noite se arrastou por horas ao som da música alta e risadas ao meu redor. O novo local tinha potencial para virar um dos nossos favoritos e a surpresa de encontrar algo assim era sempre boa. Por fim o que imaginávamos que se estenderia até por volta de uma da manhã foi até as três, e os poucos drinks que eu planejava beber se transformou em alguns.

Como resultado, eu estava rindo um pouquinho mais alto do que o normal quando dividi o táxi com Colin para ir para casa. A primeira parada foi o endereço do Harry.

—Hmm, você não mora aqui, sua safada. - Meu amigo falou malicioso, fazendo o taxista rir.

—Ultimamente eu meio que moro, sabe como é, a companhia é ótima. - Respondi no mesmo tom enquanto tirava o dinheiro da minha carteira. - Obrigada moço, tchau gato, até segunda.

Harry já sabia que eu estava a caminho, então não estranhei vê-lo me esperando na porta quando saí do elevador com passos levemente incertos. Eu estava muito longe de estar completamente bêbada, mas conseguia reconhecer que estava bem alegre.

—Noite boa, garota? - Ele perguntou com um sorriso de canto e os braços cruzados.

—Você perdeu, sabia? O lugar novo é ótimo, você precisa conhecer. - Respondi e me pendurei em seu pescoço para um abraço que ele correspondeu empolgado.

Me soltei dos seus braços e caminhei em direção à sala enquanto ele fechava a porta, o sofá coberto com um cobertor fino, uma vasilha de pipoca quase vazia e o controle do video game jogado por ali.

—E a sua noite, foi boa? - Perguntei me sentando em uma das poltronas para tirar a bota de salto baixo que estava usando.

—Nada a reclamar, relaxante como uma boa noite de sexta. - Harry sabia que nós nunca concordaríamos completamente sobre o que era uma boa noite de sexta, seu tom provocativo ao dizer aquilo mostrava isso. - Quer alguma coisa? Está com fome?

—Um pouco, mas preciso de um banho antes. A pista de danças estava super agitada, como numa boa noite de sexta.

Rimos da minha réplica e eu me levantei para tirar o vestido curto e folgado que estava usando.

—Eu pedi comida chinesa para mim e sobrou um pouco, vou preparar para você enquanto você toma banho. - Ele me puxou pela cintura e grudou a boca na minha em um beijo demorado antes de se virar e ir em direção à cozinha.

—Obrigada, volto em cinco minutos e aí você mata minha curiosidade.

Em menos de dez minutos eu estava de volta na cozinha, usando nada além de uma camiseta e um roupão, ambos dele. Me acomodei no banco alto ao lado do balcão da cozinha, onde meu jantar me aguardava, e o esperei buscar o resto da pipoca e se acomodar no banco ao meu lado para me acompanhar.

—Então, qual a armadilha que me trouxe aqui hoje?

—Me informaram hoje no trabalho que vou precisar viajar em janeiro. - Falou sem rodeios. - Faz um tempo que estão tentando me encaixar em um treinamento nos Estados Unidos, e conseguiram uma vaga para o mês que vem.

—Quanto tempo você fica?

—Três semanas. - Falou com o cenho meio franzido.

Estávamos pensando em viajar em janeiro depois das festas, mas essa viagem a trabalho implicaria no cancelamento desses planos.

—Um saco que vamos precisar adiar nossa viagem, mas que bom que conseguiram finalmente te colocar nisso aí. É bom pra sua carreira também ou só pra empresa?

—Não, é bom pra minha carreira também. Fui eu que pedi para fazer esse treinamento caso houvesse uma oportunidade, só não foi no melhor momento. - Ele deu de ombros e colocou mais um punhado de pipoca na boca. - Mas é justamente sobre a viagem que eu queria conversar com você, e se ao invés de adiar a gente antecipasse e fosse viajar no natal e ano novo?

Os olhos dele estavam brilhando empolgados na minha direção enquanto esperavam uma resposta. Aproveitei o fato de estar mastigando para ganhar alguns segundos antes de responder, pois o meu primeiro reflexo foi dizer que não dava pois meus pais ficariam loucos se eu não participasse das festas em família.

Tão logo esse pensamento surgiu, no entanto, ele foi encoberto por uma avalanche de coisas que eu já fiz e deixei de fazer sem ter a menor vontade, apenas para que eles ficassem satisfeitos. Na minha experiência, não tinha surtido muito resultado. No breve segundo que debati internamente sobre o que fazer, me lembrei do meu irmão me dizendo que eu deveria começar a me impor, e talvez ele tivesse razão.

Acho que aos vinte e oito anos de idade eu já tinha autonomia o suficiente para decidir com quem e onde queria passar as festas de natal e ano novo, e estava muito claro para mim o que eu queria fazer. Não é como se escolher entre uma viagem com meu namorado, que certamente seria muito agradável, e uma noite monótona com três ou quatro tios e alguns primos que me tratavam como um tabu ambulante fosse um desafio muito grande.

—Ótima ideia! - Respondi empolgada. - Por que não pensamos nisso antes? Eu amo mercados de natal, podemos visitar todos.

—Perfeito, vamos usar nossas férias de natal para visitar todos os mercados de natal do mundo. - Debochou e eu ri. - Só temos que começar a planejar logo, só faltam três semanas.

—Que tal vermos tudo amanhã? Um dia de planejamento de viagem, como todo bom sábado.

—Tão engraçadinha hoje…

Pisquei para ele e continuei meu jantar enquanto ele me contava com empolgação tudo o que o aguardava nas três semanas em que estaria ausente em janeiro.


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Notas finais do capítulo

Imagino que ninguém esteja surpreso que todo mundo ama o Harry, né? Afinal se tem uma coisa que esse Harry consegue ser, é amável, principalmente para os representantes da família tradicional britânica ahahah
E eles vão viajar juntos! Particularmente, acho essa viagem um dos momentos mais fofos da história toda.
Enfim, não deixem de me dizer o que acharam do capítulo.
Beijos e até o próximo.



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