Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Capítulo extra essa semana porque hoje é meu aniversário e eu sou biscoiteira Então aproveitem a história e me deem parabéns porque não é todo dia que uma fanfiqueira completa 30 anos



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A primeira pessoa a quem contei todos os detalhes de como as coisas haviam acontecido com Harry foi Luna, que não se mostrou surpresa com o fato de estarmos agora em um relacionamento propriamente dito. Ainda que ela não o conhecesse pessoalmente, minha melhor amiga já sabia tantos detalhes do nosso envolvimento que ela estava tão informada quanto eu de tudo que acontecia entre nós dois.

A segunda foi Ron, com quem eu me sentei no meu quarto após o almoço na casa dos meus pais para uma conversa relaxada só entre nós dois, sem a necessidade de medir palavras e deliberadamente evitar certos assuntos. Ele ainda se mostrava surpreso pelo fato de Harry e eu estarmos juntos, mas eu conseguia ver que ele estava feliz por mim. Ron, na verdade, sempre estava genuinamente feliz por mim contanto que eu estivesse feliz também.

Meus pais sabiam por alto que eu estava saindo com alguém há alguns meses, mas nenhum dos dois fez perguntas e o assunto era sempre evitado. Há muito eu havia percebido que o melhor a fazer com eles era apenas responder ao que me perguntavam, então eu também não dei nenhum detalhe sobre Harry.

Diferente de Ron, eu nunca havia apresentado nenhum namorado aos meus pais e nem levado ninguém em casa. O que não quer dizer, no entanto, que eu nunca havia dormido fora antes de morar sozinha, o que eu acredito que seja justamente o motivo deles nunca perguntarem maiores detalhes e sempre torcerem o nariz quando eu atendia uma ligação ou dizia que estava com alguém, no fundo eu sei que eles achavam um absurdo que eu tivesse uma vida tão liberal. Eu nunca tinha feito o teste, mas tenho certeza que se alguém lhes perguntasse com que tipo de pessoa eu me envolvia a resposta seria bem próxima de um estereótipo preconceituoso de alguém que uma família tradicional não gostaria de ter sentado na mesa durante o almoço de domingo.

Se era isso que eles imaginavam de Harry sem ao menos conhecê-lo ou perguntar nada a seu respeito, quem era eu para lhes dizer que meu namorado na verdade atendia às expectativas muito mais do que eu? A única referência que meus pais tinham sobre ele, era eu e o fato de que ele passava muito tempo comigo, se isso era suficiente para eles não quererem saber mais detalhes talvez aquele estereótipo de certa forma me incluísse também. Não era algo agradável de se pensar, mas eu já estava acostumada.

Quando voltei para casa naquela tarde, me ocorreu a ideia de que eu na verdade queria muito que Harry conhecesse as pessoas que me faziam sentir em casa e parte de uma família. Com isso em mente, assim que desci do carro no estacionamento do meu prédio enviei uma mensagem a Luna e perguntei se ela já tinha algo programado para o próximo final de semana. Minha amiga ficou empolgada como eu sabia que ficaria, assim ao fim daquela conversa eu tinha um jantar marcado para sexta ou sábado a noite, dependendo de quando Harry estivesse livre.

Pensei em ligar para ele e fazer o convite, mas nós iríamos jantar juntos no dia seguinte e então achei melhor deixar para falar pessoalmente. Quando minha campainha tocou depois de uma segunda-feita tranquila de trabalho, eu sabia que era Harry do outro lado da porta e por isso atendi usando apenas calcinha e sutiã, recém saída do banho.

—Eu gosto desse tipo de recepção calorosa. - Ele falou deslizando a mão para a minha bunda enquanto me beijava. - Teve um bom dia?

—Sim e você? - Fechei a porta e voltei para o quarto com ele logo atrás de mim.

—Também. - Ele se deitou na minha cama enquanto eu terminava de me arrumar. - Então quer dizer que agora eu vou precisar escolher entre ter sua companhia e assistir meus filmes de terror?

Me virei e encarei sua expressão de zombaria com um sorriso.

—E parece que você fez sua escolha. Se divertiu com os seus fantasmas ontem?

—Não foi dos melhores que eu já assisti, mas não foi péssimo. E você se divertiu com… com quem mesmo?

—Com uma galera da minha turma do ensino médio.

—Isso, se divertiu?

—Sim, é sempre bem engraçado encontrá-los. Não é todo mundo, só umas sete ou oito pessoas, é tão interessante ver como nos tornamos adultos tão diferentes.

—Nunca mais encontrei minha turma da escola, mas de vez em quando fazemos encontro da turma da faculdade. É assim mesmo, todo mundo está tão diferente.

—Você também se sente o único que não está planejando um casamento ou comprando uma casa ou tendo filhos? - Perguntei por cima do espelho onde eu estava passando meu batom vermelho.

—Sim, esse deve ser o novo pré requisito para se aproximar dos trinta anos.

Os olhos dele se detiveram na tela do meu computador e sua expressão se tornou algo entre interessado e constrangido.

—Você estava trabalhando?

—Sim, aprovando a edição da próxima capa feminina. Pode olhar se quiser.

—Não é invasão de privacidade?

—Harry, essas fotos estarão disponíveis na internet em uma semana, a única privacidade que você vai invadir aqui é a minha porque está usando o meu computador.

No fim ele se rendeu à curiosidade e puxou meu notebook para ele. Me dividi entre terminar minha maquiagem leve e segurar a risada com suas expressões comedidas para a tela. Eu tinha tirado aquelas fotos e sabia exatamente o que ele estava vendo ali, então conseguia imaginar cada uma das poses para as quais ele virava levemente a cabeça para captar os detalhes.

—Não precisa parecer tão concentrado. - Brinquei e ele desviou o rosto para mim rindo.

—Só estou impressionado com como você é realmente uma ótima fotógrafa. - Sua resposta me fez rir também. - Você não fica excitada com isso que faz o dia todo?

—Não mais.

—No começo sim?

—As vezes sim, alguns deles tem alguma coisa, sabe? E bem, eles estão ali sem roupa e propositalmente sendo excitantes.

—É mais fácil fotografar homem ou mulher?

—Depende, não acho que dê para fazer essa diferença por gênero, tem gente fácil e difícil dos dois lados. Mas por motivos óbvios foi mais rápido para eu me sentir mais confiante e relaxada fotografando mulheres, hoje já não faz diferença.

—Você é muito assediada?

—Muito menos do que você imaginaria quando pensa nesse contexto, mas claro que as vezes acontece, como eu sei que acontece com toda mulher em qualquer lugar. Normalmente isso vem dos agentes e não dos modelos, esses são muito tranquilos na grande maioria dos casos.

—Hoje eu passei o dia lidando com a repercussão do caso de assédio sexual de um diretor do banco que resolveu acidentalmente - ele exagerou ironicamente a palavra e fez sinal de aspas com as mãos, parecendo chateado - deslizar o dedo para dentro do decote de uma estagiária. A menina mal fez dezoito anos e já precisou passar por isso.

—O que aconteceu com ele?

—Foi demitido.

—E com ela?

—Não aconteceu nada, só que ela publicou o que aconteceu no Facebook e agora estamos remediando para que a imagem do banco não se misture com a dele. A direção não está muito feliz por ela ter tornado isso público.

—Claro que não. - Bufei e ajeitei o cabelo sobre os ombros. - Mas se ele foi demitido e ela ainda tem um emprego já é muito mais do que  a maioria dos lugares faria. O mundo não está muito preocupado com o que acontece com a gente.

—Eu consigo imaginar que não seja muito fácil ser mulher, com toda essa coisa de padrões, moral e tudo que esperam de vocês e tal.

—Não é mesmo, só queria que todas conseguissem ignorar tudo isso tão bem quanto eu aprendi a ignorar para poder ser eu mesma. Vamos?

O destino era um restaurante pequeno que ficava no nosso bairro, então dispensamos os veículos e caminhamos de mãos dadas pelas ruas tranquilas de segunda a noite. O local estava vazio o suficiente para podermos escolher uma mesa e nosso jantar chegou rápido.

—Eu tenho um convite. - Iniciei o assunto enquanto aguardávamos nossa conta e ele me olhou com atenção. - Você gostaria de conhecer minha melhor amiga e a família dela?

Harry sabia que Luna e eu nos víamos com frequência, mas eu nunca tinha contado a ele muitos detalhes sobre ela ou o que fazíamos juntas. Ele sabia também que ela era importante para mim e alguém relevante a ser apresentado. Caso ele não fosse o melhor amigo da namorada do meu irmão e não o conhecesse antes mesmo de me conhecer, Luna e Ron estariam no mesmo nível de seriedade que a nossa relação requeria antes que ele finalmente os conhecesse.

—Claro que sim! - Me respondeu de imediato com um sorriso satisfeito. - Vou adorar conhecer a famosa Luna.

—Ela está ansiosa para te conhecer também. Você prefere sexta ou sábado?

—Sábado, na sexta eu tenho um happy hour do escritório. Aonde vamos?

—Na casa deles. Vou confirmar para sábado então, ela vai ficar a semana toda falando desse jantar.

Entre todos nós, Luna certamente era a pessoa mais ansiosa para aquele encontro. Ela me pediu uma lista de coisas que Harry gosta de comer para que Nev pudesse preparar um jantar digno, quis saber o que ele gosta de beber e justificou, quando eu disse a ela que não precisava de tudo isso, que se ele era importante para mim precisava disso sim, porque eles faziam questão de que meu namorado também se sentisse em casa com eles. 

No dia marcado Harry chegou na minha casa com antecedência, mas eu estava atrasada. Abri a porta para ele e corri para o banho que eu já deveria ter tomado. Ele já estava acostumado a isso, então quando voltei ao meu quarto o encontrei confortável e relaxado, deitado na minha cama e mexendo no celular.

Me vesti rapidamente e voltei ao banheiro para secar os cabelos. Por sobre o volume do secador ouvi a notificação de mensagem no meu celular e gritei para que Harry conseguisse me ouvir:

—Você pode ler a mensagem pra mim, por favor? Deve ser a Luna perguntando se já estamos chegando.

A resposta dele demorou um pouco para chegar e eu desliguei o secador para pedir novamente, caso ele não tivesse me ouvido.

—Harry?

—É Michael Corner, falando oi linda e perguntando se você já tem alguma coisa para fazer essa noite e se está a fim de se divertir um pouco e aproveitar o hotel dele.

Assim que ouvi o nome do remetente a expressão que eu conseguia ver em mim mesma no espelho, até então relaxada, se transformou imediatamente para aquele semblante característico de alguém que por dentro está dizendo “ai caralho”. A voz dele estava impassível, ainda que eu não conseguisse vê-lo eu sabia, e compreendia, que ele não tinha gostado nada do que leu.

Antes que eu saísse de onde estava vi pelo reflexo do espelho quando meu namorado parou encostado na porta atrás de mim e virou a dela do meu celular de modo que eu conseguisse ver a mensagem que ele tinha acabado de ler.

—Isso é algo que eu deveria saber a respeito?

—Isso é algo que acontecia esporadicamente, a última vez foi uns seis meses atrás. Ele nem mora na Inglaterra, não sabe das novidades da minha vida.

—E quão relevante isso foi? 

—Não foi. Divertido talvez, mas não relevante. Você pode ler o resto da conversa se quiser, eu não me importo.

Harry caminhou até mim e pousou meu celular na pia à minha frente.

—Se um dia eu precisar ler as suas mensagens para acreditar no que você diz isso quer dizer nós temos um problema, Gin. Só acho que está na hora dele ser informado sobre as novidades da sua vida. - Antes de sair ele estalou um beijo no topo da minha cabeça. - Estamos atrasados, melhor você se apressar.

 Durante todo o percurso Harry não falou nada. Eu conseguia ver seu rosto sério e um pouco distante olhando pela janela do carro. Ainda que sua mão estivesse pousada sobre a minha perna durante quase todo o percurso, a naturalidade de sempre não estava ali. Eu estava me sentindo mal por vê-lo assim, porque tenho certeza que eu me sentiria da mesma forma se fosse ao contrário.

Estacionei na frente da casa da minha amiga e desliguei o motor. Antes que ele conseguisse se virar para sair do veículo, segurei a mão que estava na minha coxa e o impedi.

—Hey, desculpa por aquilo.

—Você não precisa se desculpar por ter um passado, porque eu entendo que é o que aquilo significa, passado. Só não é a coisa mais confortável do mundo de saber que alguém manda para sua namorada.

—Só não quero que isso deixe um clima ruim. Eu odiaria saber que uma mensagem sem importância nenhuma estragou a noite em que eu apresento alguém à Luna pela primeira vez.

—Não vai, só deixa eu expressar meus dez minutos de ciúmes, rapidinho? - Harry falou rindo e se inclinou na minha direção.

Trocamos um beijo rápido e descemos do carro em direção ao nosso jantar. Ainda que ele tivesse falado nada, notei que o que eu disse quebrou o gelo e o clima ficou mais leve entre nós dois.

Paramos em frente à porta de mãos dadas e eu toquei a campainha com aquela ansiedade gostosa de quem antecipa uma noite muito agradável. Fomos recebidos quase imediatamente por uma Luna com um sorriso empolgado, os cabelos loiros presos dando lugar ao seu sorriso grande e acolhedor. Nev estava parado logo atrás dela, mais contido que a esposa, mas também sorridente.

Fomos recebidos com sorrisos calorosos que eu já conhecia muito bem e Harry ouviu  muitas recomendações para se sentir em casa e ficar à vontade. Enquanto Nev fechava a porta ouvi o som de passos apressados que eu já conhecia, então me virei para onde eu sabia que Izzie surgiria correndo em seu ritmo desengonçado e me abaixei para esperar por ela.

—Giiiiiiiiin! - Ela gritou com sua voz fina e se jogou no meu colo.

—Oi gatinha. - Me levantei com ela e preguei um beijo em sua bochecha gordinha.

Ela começou a falar alguma coisa enrolada e apontou para a sala, onde provavelmente estava brincando, mas se deteve quando notou que havia uma quarta pessoa ali, a quem ela não conhecia.

—Izzie, esse é o Harry.

Meu namorado claramente não sabia como interagir com crianças e eu não o julgaria, pois até dois anos atrás eu também não fazia ideia do que fazer. Izzie aparentemente também não estava muito receptiva, pois ao invés de cumprimentá-lo ela escondeu o rosto no meu pescoço.

—Oi Izzie. - Ele cumprimentou, mas não obteve nenhuma resposta.

—Desculpa Harry, ela normalmente é mais simpática, mas não curte muito dividir a Gin. - Nev comentou.

Nos acomodamos ao redor da mesa de jantar, Izzie em sua cadeira alta do lado do pai, e aguardamos que meu amigo nos servisse nos padrões que ele fazia questão de manter. Servi o vinho enquanto ele trazia os pratos montados, fazendo uso de sua habilidade de carregar três de uma vez só.

—Então Harry, Ginny nos falou que você estudou em Oxford. - Luna puxou assunto e sorriu antes de completar a frase. - Conte aos pobres mortais como é a experiência.

—Claro que ela falou sobre isso. - Ele riu também e me olhou de canto. - É meio enlouquecedor e você acha que vai reprovar o tempo todo, mas fora isso é igual qualquer outra faculdade eu acho.

—Nós com certeza sairíamos com sequelas, Luna. - Comentei e ela concordou rindo.

—Como vocês se conheceram? Gin não comentou. - Harry perguntou, olhando de mim para ela.

—Na faculdade, éramos da mesma sala.

—Luna fazia o tédio suportável

—E a Gin não deixava eu me afundar nos estudos e me arrastava pra todo lado com ela.

—Ta vendo? Só benefícios nessa amizade. Nev, está muito bom.

—Sim, está mesmo. Parece um prato que eu comi em um restaurante que fomos um tempo atrás, não parece Gin? - Harry concordou, abocanhando mais um pedaço de seu cordeiro.

—É exatamente aquele prato. - Ele me olhou confuso. - Nev era o chefe daquele restaurante até… até quando Nev? Um ano e meio atrás?

—Dois anos, mas ainda lembro o cardápio inteiro, incrível como essas coisas grudam na gente. Gin me disse que vocês foram até lá e você gostou muito do cordeiro, então achei que fosse uma boa escolha.

—Não precisava ter se incomodado, mas eu agradeço a gentileza. - Harry agradeceu um pouco sem graça e pousou sua mão sobre a minha ao lado do meu prato. - Deve ter sido uma experiência interessante liderar um restaurante daquele porte, imagino que cansativa também.

Antes que o assunto pudesse continuar, Izzie nos interrompeu com um de seus gritinhos e se esticou na minha direção. Ela tinha comido seu jantar antes de chegarmos e eu estava quase no fim do meu, então a ajudei a sair de sua cadeira alta e a puxei para o meu colo. Ela se sentou quieta sobre a minha perna enquanto eu comia, mas se esticou e puxou minha mão para ela quando Harry a segurou novamente.

—Izzie deveria ter se preparado melhor para quando esse momento chegasse. - Luna falou com um sorriso divertido.

—Eu não sabia que minha concorrência era tão desleal.

Ela se aconchegou no meu colo e deitou a cabeça no meu peito, ainda abraçada à minha mão. Minha afilhada não dormia tarde e eu sabia que estava com sono, então passei meu outro braço ao seu redor para deixá-la confortável.

—Desleal e com um abraço muito gostoso, mas daqui vinte minutos ela vai estar dormindo.

Luna e Nev dispensaram a ajuda que Harry ofereceu para tirar os pratos da mesa, dizendo que naquele dia ele ainda era visita, mas da próxima iria fazer isso sozinho, e trouxeram a mousse de framboesa que eles haviam preparado para a sobremesa. Quando terminei de comer a minha porção, usando apenas uma mão, a ciumentinha no meu colo já estava ressonando em um sono profundo.

—Quer que eu leve ela, Lu?

—Por favor Gin, se você não se importar.

A acomodei melhor no meu colo e subi as escadas para colocá-la em sua cama. Izzie tinha um sono pesado e não se mexeu quando eu a acomodei sob o lençol colorido e beijei seu rosto antes de voltar para a sala de jantar. Ainda das escadas consegui ouvir que eles estavam conversando, o que me deixava feliz porque significava que todos estavam se dando bem.

—Pronto, nem se mexeu. - Falei aos meus amigos e me acomodei novamente ao lado do Harry.

Agora sem uma criança para empurrá-lo eu me inclinei e pousei a cabeça em seu ombro.

—Harry estava nos dizendo que conheceu o pessoal do estúdio. - Nev falou com um sorriso.

—Sim, foi super divertido, não foi?

—Tirando a parte que um deles me apalpou e eu nem sei quem foi, sim, foi muito divertido.

—Mentira que eles fizeram isso? - Me afastei para olhar para ele e ri quando ele confirmou. - Aqueles péssimos.

—Desculpa Harry, prometo que nós não incentivamos esse comportamento ciumento da Izzie com a Gin. - Nev falou.

—Eu incentivo. - Assumi sem me constranger.

—Só porque isso faz bem pro seu ego. - Luna acusou e eu não me importei em negar.

—Não precisa se desculpar, imagino que seja assim mesmo. Confesso que eu não tenho muito tato com crianças e nunca sei o que fazer perto delas.

—Não se preocupa porque pior do que a Ginny era, você com certeza não pode ser. - Luna o tranquilizou e eu ri com as lembranças. - Ela era péssima e olha hoje, certeza que se fizer o convite a Izzie se muda pra casa dela.

—Era tão ruim assim?

A pergunta causou três reações simultâneas: Luna cobriu o rosto com a mão, Nev concordou com a cabeça e eu ri.

—A primeira vez que ela ficou com a Izzie por algumas horas ela nos ligou perguntando o que fazer porque já era noite, não tinha nada aberto e ela tinha derretido a mamadeira da menina por acidente.

—Eles me disseram que eu tinha que esterilizar antes de dar pra ela. - Justifiquei meu lado.

—Isso é algo que temos que concordar, com certeza não sobrou nenhuma bactéria viva ali. - Luna falou com ironia e arrancou uma risada do Harry. - E teve a vez que ela insistiu em fazer o ensaio de recém nascida dela, mas não fazia ideia de como mexer na criança.

—Ela parecia que ia quebrar. - Me justifiquei novamente. - E meu papel ali era fotografar, dei a vocês liberdade de fazer a pose que quisessem.

—Mas nada se compara a quando ela quase nos deu um ataque cardíaco. - Nev falou e eu explodi em uma risada apenas com a memória. - Ela veio para cá ficar com a Izzie para a gente jantar fora e uma hora depois que saímos  ligou pra Luna aos prantos, tudo que dizia era “a Izziiiiieeeeee!”.

—E o que tinha acontecido?

—Ela se apoiou no sofá, caiu para trás e bateu a cabeça em um brinquedo que estava no chão.

—Não tinha acontecido nada Harry, só uma coisa que crianças fazem o tempo todo. - Minha amiga respondeu com a versão dela.

—Mas ela estava chorando tanto.

—Era manha.

—Como eu ia saber? - Me defendi enfaticamente, mas ainda rindo. - E por que mesmo estamos só falando de mim? Que tal começar a falar sobre como a Luna ficou bêbada com um coquetel na primeira vez que saímos juntas?

—Eu não estava acostumada a beber.

—Mas isso claramente não te impediu. Foi com a Luna que eu treinei minhas habilidades de babá, pensa em uma pessoa que da trabalho.

—De calma e comportada ela só tem a cara e a voz. - Nev corroborou com a minha causa.

—Não acredite neles, Harry. - Minha amiga tentou se defender, mas não soou convincente.

—Você pode perguntar ao pessoal do estúdio se precisar de outra confirmação. - Provoquei.

—Mas aí o problema é a má influência deles.

—Então você também é o rosto mais conhecido das baladas de Londres? - Harry perguntou.

—Nem perto disso, só fui em algumas das vinte comemorações de aniversário que a Gin faz todo ano.

Nosso encontro se estendeu entre conversas e risadas. Para meu alívio constatei que Harry se dava muito bem com as minhas pessoas preferidas no mundo e que a simpatia era recíproca. A noite já ia alta quando nos despedimos com promessas de nos encontrarmos mais vezes e nos acomodamos novamente no carro para voltar para casa.

O clima pesado entre Harry e eu havia se evaporado completamente e ele parecia naturalmente relaxado e feliz ao meu lado enquanto eu dirigia com um sorriso no rosto.

—Eles são ótimos. - Ele comentou e se inclinou para me dar um beijo quando parei no semáforo.

—Sim, eles são. Adoro passar um tempo com eles, Luna principalmente, ela é maravilhosa.

—Preciso dar um jeito de conquistar aquela criança, você tem que me dizer o que ela gosta. Não acho que um aperto de mãos vá resolver minha situação e nem posso tentar comprá-la com comida porque o pai dela é chef e eu provavelmente vou passar vergonha enquanto ela joga o prato na minha cara.

Eu gargalhei e ele riu comigo.

—Ela gosta de atenção, Harry. E de brincar com o meu cabelo, mas aí eu já não acho que você vai conseguir atender a essa demanda.

—Talvez eu compre uma peruca.

—Quanto empenho em ganhar a simpatia da Izzie.

—Estou unindo forças com a concorrência, é uma estratégia comercial muito utilizada.

Estacionei em frente ao prédio dele e subimos até seu apartamento. Deixei minhas coisas em cima da mesa de centro e ele se juntou a mim no sofá.

—Você tem algo para fazer no próximo final de semana? - Perguntou com os braços ao meu redor, parcialmente deitado sobre mim.

—Não, por que?

—Que tal uma viagem de final de semana? Podemos sair daqui na sexta e voltar domingo a noite.

Meu rosto se iluminou com a expectativa e ele sorriu para mim.

—Ótima ideia. Algum lugar em mente?

—Pensei em Cardiff, que tal? Ouvir um sotaque diferente, ver uns castelos no caminho, aproveitar o vento frio na praia.

—Nossa, a última vez que fui até Gales eu era adolescente. Por mim está combinado, se você conseguir sair mais cedo do trabalho na sexta podemos sair daqui depois do almoço.

—Vou tentar pegar o dia de folga, eu te aviso durante a semana.

—Uma pena que está frio demais para nadar, eu amo praia.

—Eu prefiro piscina. Odeio toda aquela areia grudando em mim.

—Temos que começar a encontrar alguns pontos em comum, Potter, como é que vamos conseguir aproveitar as férias juntos desse jeito?

—Podemos aproveitar duas férias, você planeja uma e eu planejo a outra. Só você está reclamando da diversão em dobro, garota.

—Até que faz sentido.

—Viu, para que pontos em comum? Está perfeito desse jeito. - Ele se acomodou sobre mim e afundou o rosto no meu pescoço em um abraço gostoso.

Apertei meus braços ao redor dele também afundei os dedos em seus cabelos em um carinho gostoso. Harry tinha razão, estava perfeito desse jeito.


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Notas finais do capítulo

O que eu mais gosto nesse capítulo sem dúvidas é a maturidade do Harry em lidar com a mensagem. Relacionamento bom não te sufoca e passado não tem que ser motivo pra te tratarem mal ou pra gestos abusivos, anotem essa dica aí.
Quem mais ansioso pra essa viagem de fim de semana?
Espero que tenham gostado do capítulo, beijos e até semana que vem.



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