Dear You escrita por Maga Clari


Capítulo 5
Parte V: Mas a gente era alguma coisa, não era?


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas, meus amores!!!
Eu me perdi toda nesse mês de fevereiro com minhas obrigações da vida adulta e não consegui terminar de escrever a tempo. Inclusive, eu escrevi do terceiro capítulo até este sei lá como, sem nenhum planejamento, só pra não deixar vocês na mão. Completamente na correria. Futuramente quero reescrever com outro formato e com mais calma porque eu tinha planejado muita coisa que na pressa não consegui abordar/escrever. Enfim, é isso. Agradeço aos que chegaram até aqui e não desistiram de mim ♥
Beijinhos



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“Draco, eu não quero saber o que você era ou o que deixou de ser. Eu só me importo com o aqui e agora e eu estou aqui. Se tiver com medo, eu seguro a sua mão. Contanto que você volte à vida, por favor”

Essas eram as palavras deixadas na secretária eletrônica de Draco Malfoy ao chegar em casa. Diferente de Astória, telefonemas na Mansão eram tão comuns quanto numa residência dos trouxas. Como uma tentativa ridícula e forçosa de quem precisa provar aliança, Draco rendeu-se a tudo que conseguira para se distanciar de uma imagem criada em torno dele.

“Volte a vida”, foi o que ela disse, como uma súplica. Porque ela sabia, ó como sabia, que aquilo assemelhava-se como um filme de mortos-vivos, em que o protagonista perde a noção de tempo e espaço. E foi isso que aconteceu com aquele garoto atormentado pelos crimes e pela culpa depois de tantos anos servindo à muy antiga geração dos Black. Um legado maldito cuja satisfação nunca existiu por mais que tentasse.

— Alô? — a voz de Ast cortou-o dos pensamentos, de repente. — Alô, Draco, é você?!

— Como achou meu número? 

Silêncio. A respiração de Astória era quase sufocante.

— Ast, aquela carta…

— Tudo bem, eu posso ter exagerado um pouco.

— Ast, eu… — agora foi a vez dele de interromper, as lágrimas se segurando em seus olhos; as velhas poças de mar azul — O que eu preciso fazer para que você acredite? 

Silêncio outra vez.

— Ast, se eu pudesse voltar no tempo…

— Draco, pare! Pare! Pare de falar de tempo e passado, por favor. É isso que você não entende! Grandes gestos, lembra?

É claro que ele lembrava. O código de amor entre duas crianças bruxas cheias de fértil imaginação e gosto por literatura.

— O que está fazendo agora?

— Além de conversar com você? Nada. Por quê?

Draco fechou os olhos sem nem perceber e respirou fundo. O gosto do álcool lembrando-o todo o tempo do quão estúpido ele era. Sem coragem, desligou o telefone e tomou o caminho da rua uma segunda vez. 

Percorreu o trajeto de pedras bem calmamente, deixando cada pensamento lhe trazer alguma ideia menos estúpida e com mínimo de exposição que pudesse comprometê-lo. 

Astória, por sua vez, não esperava que Draco tomasse o conselho tão ao pé da letra. De forma alguma teria sequer suspeitado que o encontraria em sua sacada como o príncipe de alguma de suas histórias, apenas à espera que pudesse fugir com ele para qualquer lugar bem longe dali.

— Vem comigo — foi seu pedido, bem parecido como costumava ser, quando criança.

— Draco…

—  É o Expresso do Oriente, o trem sai em duas horas.

— Draco, fugir nunca é a saída.

— Ficar também não.

O terceiro silêncio numa única noite.

— É esse o seu grande gesto? Uma grande e covarde fuga?

— Não — ele suspirou, as mãos dentro do sobretudo, mexendo em papéis timbrados do Ministério da Magia que no tempo certo compartilharia — Não é uma fuga, Astória. Preciso que confie em mim. Por favor.

Astória o olhava como quem olhava um estranho. A verdade é que preferia arranjar desculpas atrás de desculpas para que seus sonhos permanecessem dentro de sua cabeça. Acreditar que Draco realmente a amava era demais para ela. Entretanto, foi fácil cair naquele papo. Se lhe perguntassem, diria que foi a neve com chuva. Que foi o canto dos corvos, o aroma de verbena que vinha diretamente da capa cujo bolso Draco tirou um embrulho.

— Se for recusar o convite, pelo menos aceite o presente.

Os dedos de Astória apressaram-se sem nada dizer. Eram flores colhidas do jardim de inverno, marcando o capítulo de um velho exemplar de Hamlet. A página continha um trecho em destaque verde:

Hamlet, William Shakespeare

"Você pode duvidar

que as estrelas sejam chamas,

ou que o sol possa girar,

suspeitar da mentira na verdade...

Mas não duvide, nunca,

do amor que tenho por você

e de minha adoração!

Ah, Ofélia, sou tão ruim em rimas,

tão desajeitado com os versos

que chego a suspirar, sem imaginação!

Sou bom só no meu amor por você,

amor supremo de minha vida,

verdadeiro encanto e paixão.

Adeus.

Do seu, enquanto viver (...)”

(só que o Hamlet estava riscado e Draco escrito embaixo).

Astória riu. Para ela, aquele havia sido o pequeno grande gesto que tanto esperava. Uma declaração verdadeira, uma que ela pudesse acreditar. Mal sabia ela, no entanto, que os grandes gestos de Draco eram ainda maiores. 

Enquanto os dois finalmente tinham o final feliz que mereciam, enquanto tomavam o Expresso do Oriente no meio da madrugada aos beijos como um legítimo casal apaixonado, a assinatura de Draco selava um acordo em papéis do Ministério da Magia. Toda a fortuna que possuía em seu nome seria doada para a construção de uma pré-escola mista entre bruxos e trouxas. 

Além de desfazer-se de tudo, o faria em anônimo, até mesmo daquela que um dia tomaria como esposa. No tempo certo, contaria. Depois daquela última viagem, daquela última vez que poderiam fingir que ainda eram dois adolescentes desbravando o mundo em aventuras sonhadas na infância.

Astória poderia então orgulhar-se dele. E apesar de sempre ter acreditado que aquele Draco um dia teria coragem de surgir, ainda demorava em escolher o que seria mais engraçada de contar nas festas de família: a história de como os dois ficaram juntos ou de quando Draco abdicou da magia como prova de amor. Honestamente, ninguém pareceu acreditar ao descobrir a varinha do antigo sangue-purista quebrada e misturada a todos aqueles papéis.

Mas essa história fica para outro dia.


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