Era fim de tarde e a neve havia chegado pela primeira vez em Hogsmeade. Astória Greengrass repousava num banco de madeira maciça, o rosto tranquilo e as bochechas rosadas pelo frio contrastavam com os casacos grossos e sem vida daqueles que ousavam cruzar o vilarejo no meio de uma nevasca. 

Entre eles estava Draco, Draco Malfoy, sim, esse mesmo Draco que você está pensando. Andando pelas sombras, os olhos cobertos por óculos de sol (porque faz sol quando neva em Hogsmeade), a vergonha estampada em todos os seus modos desde o fim da Segunda Guerra que nunca mais deixou-lhe em paz até mesmo em seus sonhos noturnos que subitamente tornaram-se pesadelos diários.

Draco já estava para entrar em um dos becos quando percebeu a presença quase discreta de Astoria. Ela parecia concentrada demais em seu próprio mundo para ter notado qualquer ruído, muito menos advindo de Draco, que tanto se acostumou à discrição. Foi por isso que foi pega por um susto, pega no pulo literalmente, arrancando o princípio de uma risada dos lábios secos do garoto.

— Está tentando me matar? O Halloween já passou faz tempo, Malfoy!

— Ouvi dizer que no México é em poucos meses.

— Só que não estamos no México! 

A risada se tornou um sorriso.

— Posso me sentar? — perguntou, apontando para o espaço quase vazio perto dos pés dela.

A resposta veio quando Astória encolheu-se para aumentar o espaço que Draco ocupou rapidamente. Ele a olhava com curiosidade, como se tentasse descobrir a razão para a antiga amiga ter parado ali.

— Pergunte.

— Desculpe. O quê? 

— Você tem cara de que quer me perguntar alguma coisa.

— Não, eu… Bom, eu só… 

— Está tudo bem. — Astória deu de ombros. Finalmente ele reparou que a garota tinha um livro escondido no colo, entre os joelhos — Eu não te julgo, sabe. Nada veio tão fácil pra você quanto os outros pensam.

— Você nem imagina.

Draco ajeitou-se no banco, o braço quase tocando a confusão de mechas castanhas de Astória. 

— Que livro está lendo? —  perguntou, mudando subitamente o assunto.

— Ah, isso? — ela pegou o exemplar de Little Women e começou a folheá-lo — É só um romance idiota.  Fala de uma família cheia de garotas e a vida de cada uma delas. Nada muito além de uma novela da vida diária. 

— Basicamente o Semanário das Bruxas, só que para os que se acham intelectuais.

E a partir dali, daquele simples encontro da vida diária que tanto tiravam sarro, Draco e Astória descobriram o quanto sentiam falta um do outro.