Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 75
Londres


Notas iniciais do capítulo

Pois bem... sabem o lema da Equipe Rocket de Pókemon? Aquele "Prepare-se para encrenca! Encrenca em dobro?"
Pois bem, se preparem, porque a treta só está começando!
Boa leitura!



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— Calma Katerina, seu pai não vai matar o seu noivo! – Minha mãe repetiu a mesma frase pela quarta vez.

— Nossa conversa não demorou tanto assim! Já tem duas horas que eles saíram! – Reclamei, apontando para o lado de fora pela porta aberta.

— Confie no seu pai e, por favor, pare de ficar pulando nessa porta aberta! Entre, feche isso e vá terminar o seu livro, antes que eu e você congelemos nessa cozinha.

Ao invés de fazer o que minha mãe havia dito, corri no meu quarto, peguei um poncho bem grosso, me enrolei nele e voltei para a minha vigília na porta, quando me viu fazendo exatamente o contrário do que ela havia me dito, mamãe se levantou da cadeira e saiu murmurando que eu estava pior que uma adolescente apaixonada pelo primeiro namorado.

Levou quase meia hora para que eu tivesse um vislumbre dos cabelos brancos de meu pai. Logo vi Alex, com sua touquinha preta, andando um pouco mais atrás. Ele levantou a cabeça e assim que me viu, acelerou as passadas. É claro que ele saberia ler meu estado de espírito pelos pulos que eu dava. Meu noivo estava quase ultrapassando papai, quando foi impedido de continuar, meu pai deliberadamente segurava o braço dele, contendo-o onde estava. E isso me deixou ainda mais nervosa.

Grunhi em árabe, pois sabia que ninguém em casa falava ou entendia esse idioma, enquanto os dois se aproximavam da casa a passos lentos. Estava por um triz de ir puxar Alex pela orelha e trazê-lo para dentro, só para que ele me contasse, em palavras e em reações, como tinha sido a conversa. Contudo, não precisei. A postura relaxada de meu pai e tranquila de Alex me informaram tudo. Meu passado fora contado, as ameaças foram feitas, e meu pai contara que já sabia do noivado e...

ELE DEU A BENÇÃO!?

Com essa constatação, foi-me impossível não sorrir, e foi assim, sorrindo, que os dois homens me encontraram no batente da porta.

— Vocês demoraram! Com todo esse frio, ficaram lá fora quase duas horas e meia! – Ralhei com os dois, doida para poder ficar à sós com Alex.

— Estamos bem, KitKat. – Papai me respondeu e eu o encarei demoradamente. E meu pai exalava calma. Muita calma. Calma demais para alguém que tinha acabado de conversar à sós com o genro pela primeira vez. E foi quando eu li todo o ambiente. Não era só papai quem estava calmo, Alex também, e irradiava uma felicidade ímpar. Não teve como eu não ser contagiada por isso e, com um pulo, abracei meu pai.

Kiitos isä! Kiitos!!— Dei um beijo na sua bochecha.

— Eu te disse no LAX, Kat. Eu gostei dele. Só não apresse as coisas ainda mais. Vocês dois têm tempo.— Ele me aconselhou ao dar um beijo na minha testa, e, disse ainda mais, afinal, só provava que ele não só sabia do noivado, como que estávamos morando juntos, depois, saiu da cozinha.

Me restou a outra presença, estranhamente silenciosa, que também estava na cozinha, assim, me virei para encarar o meu, quase totalmente oficial, noivo. Eu não podia falar muito ou muito alto, afinal, a casa estava cheia, assim acabei por morder os lábios para conter a minha felicidade. Porém, ver Alexander ali, parado no cantinho perto da porta, com as mãos no bolso do moletom, de toquinha e um sorriso lindo nos lábios, me fez perder um pouco do respeito que eu tenho pela casa de meus pais e avós, pois eu queria muito beijá-lo, ali e agora! Assim, dei uma conferida se estávamos realmente sozinhos, e o puxei na minha direção, beijando intensamente, ele não foi o passivo do ato, logo colocou as mãos geladas em minha cintura e me levou ainda mais perto dele, colando nossos corpos.

A sensação de tê-lo ali era inebriante, só que estávamos no meio da cozinha e eu podia jurar que tinha escutado passos, assim, encerrei o beijo e dei um passo para trás, deixando minha mão apoiada em sua bochecha fria.

— Você foi muito mais corajoso do que eu previ, Surfista! – Acabei falando aos arquejos. – Mas estou muito feliz por isso! – Encurtei a distância, dei outro beijo nele, dessa vez bem mais casto e, antes que os passos que eu escutava chegassem ao cômodo, prometi em seu ouvido:

— Vou te recompensar muito bem por tudo o que você passou hoje.

As pupilas de Alex dilataram quase que cobrindo todo o azul de seus olhos, e só voltaram ao normal, quando ele respirou fundo, segundos antes de minha avó Mina entrar na cozinha.

— Vocês dois vão me ajudar com o jantar, ou preferem ficar aí namorando escondido?

Senti meu rosto esquentar na hora e me virei na direção dela. Alex abaixou o rosto no meu ombro, escondendo-o ali. Eu só sentia a respiração controlada dele em meu ombro e suas mãos na minha cintura.

— Eu vou te ajudar, isoäiti[1]. – Confirmei.

— É bem-vindo para ficar por aqui, Alexander, creio que queira manter distância de meu filho por alguns minutos. – Ela brincou e Alex soltou a minha cintura e se jogou em um dos bancos da enorme ilha que tinha no meio da cozinha.

Fizemos o jantar, dando uma aula de conversação em finlandês para meu noivo, que até que não se saiu mal.

Mais tarde, sabendo que teria que chegar no escritório bem cedo, me despedi de meus avós e voltamos para Londres. A família inteira fez isso. E quando finalmente entramos na Capital Inglesa, já quase às 22:00 horas foi que eu me lembrei de um detalhe.

Eu tinha me esquecido de pedir que limpassem a minha casa!

Temendo ter que ir parar em um hotel, guardei o carro na garagem e me surpreendi, ao abrir a porta, que a casa estava completamente habitável. Com certeza, obra de minha mãe.

— Chegamos!! – Anunciei ao acender as luzes da sala.

— Então era aqui que você morava antes de ir para LA? Não me admira que se sentisse presa dentro do apartamento! – Alex comentou ao ver o imóvel.

— É, era bem aqui, e costumava ser uma casa bem cheia, já que Liv, Elena e até mesmo Tuomas viviam por aqui.

— E eles não virão nessa noite, virão?

— Não. Já devem estar em casa, um local onde vamos ter que passar para que Elena possa nos mostrar a Cabana da Barbie.

— Esses são planos para outro dia, Kat. Hoje, somos só eu e você. Até o amanhecer. – Alex me disse e começou a me beijar.

— Está apressado, hein?

— Só tendo certeza de que você vai cumprir o que prometeu. – Ele falou em meu ouvido.

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 Acordei mais cedo do que o despertador e estava sentada na bancada da cozinha, tomando chá, quando Alex, ainda meio dormindo, todo descabelado e de roupão entrou murmurando que estava com fome.

— Bom dia para você! Dormiu comigo por acaso? – Brinquei.

Ele, que não tinha me visto, coçou a cabeça e se virou para mim.

— Por que sentada aí quando se tem cadeiras?

Apontei para a janela e para o dia que começava a clarear.

— Sempre fiz isso. E deu sorte de que eu não fui parar no telhado.

— Dei foi azar, fomos para o Haras e você não subiu no telhado nenhum dia!

— Tenho que maneirar com os maus exemplos para Elena... – Dei de ombros.

— Acho que não foi isso.

Dei uma risada.

— Não queria te assustar... ainda mais depois do meu pai. Deixa para a próxima. Mas, mudando de assunto. Vai fazer o que é hoje? Ficar dormindo é uma opção. Uma que eu aceitaria sem nem pestanejar.

— Tirando ir para o escritório, o que você vai fazer? – Ele devolveu a pergunta.

— Levar Liv, Tuomas e Lena para escola, é caminho mesmo. O Conselho funciona como um relógio, tem horário para começar, para a parada de almoço, o retorno da tarde e tudo se encerra às 16:30, sem atrasos. Então, às 16:35, se tudo der certo, estou livre, ou pelo menos posso entrar em contato com Milena para saber como as coisas estão indo em L.A.

— Você vai ter folga no almoço, ou terá que almoçar com todos?

— É opcional. E eu não vou ficar mais do que o estritamente necessário perto dos Três Patetas. – Informei.

— Então podemos almoçar juntos?

— Claro! Agora sou eu quem vai te levar para conhecer os meus restaurantes preferidos! – Pulei da bancada para começar a fazer o café da manhã. - Como você quer fazer? Quer que eu te pegue aqui na hora do almoço ou que te mande o endereço do restaurante para você?

— É perto do escritório?

— Sim. Dá para ir a pé.

— Então te encontro lá, pode ser?

— No escritório? – Sem querer fiquei alarmada.

— Tem um parque lá perto, não tem?

— Não, é próximo da Torre de Londres, da Tower Bridge, da Catedral de São Paulo, do Sky Garden, lugares bem interessantes, e se você não se importar muito de andar, pode até chegar no Big Ben, não é tão longe. Mas, se você assistiu a Sherlock, fica bem perto do St. Barths, o hospital de onde o Sherlock pula do telhado...

— É, eu tenho muito o que conhecer... nem sei por onde começo.

— Você tem muito tempo... e, infelizmente, sozinho. – Falei.

— Sozinho nada, vou com você até lá e depois me viro. Se me perder, te mando a localização. Você se vira em Los Angeles, eu devo conseguir me virar por aqui.

— Pode deixar, que se você se perder, eu vou te resgatar sim! – Dei um beijo nele. – E já que quer uma carona até o seu destino desconhecido. Melhor ir se arrumar, pois meus sobrinhos não podem chegar atrasados!

Assim que acabamos de nos arrumar, e eu vi que meu noivo não estava lá muito bem vestido para o clima que ele iria enfrentar, fui obrigada a entregar uma surpresa que tinha comprado com a ajuda de Melissa e Pietra.

— Vai assim? – Perguntei quando ele apareceu de moletom na minha frente.

— Algum problema?

— Tirando o fato de que você vai ficar enxarcado até os ossos com esse moletom em um piscar de olhos, não.

— Eu não trouxe nenhum sobretudo. – Respondeu meio azedo.

— Não trouxe porque não tem, não é? – Brinquei com ele.

— Às vezes que vim à Europa, vim no verão, não precisei disso.

— Imaginei que algo assim pudesse acontecer. – Murmurei e saí do quarto.

— Está indo aonde? – Alex perguntou e quando resolveu sair do quarto, trombou em mim, que já voltava.

— Isso é para você! Pode me agradecer no final do dia!

Alex pegou a caixa e sem cerimônia alguma, abriu a tampa.

— Eu não vou sair por aí igual ao Sherlock Holmes! – Comentou ao ver o sobretudo.

— Apesar de ser da mesma marca do casaco usado na série, não é o mesmo modelo, então não se preocupe!

Alex, ainda meio desconfiado, tirou o moletom e colocou o casaco por cima da camisa que usava.

—  E não é que eu acertei no tamanho?! – Falei brincando.

— Todas as coisas que você comprou para mim, Kat, serviram.

— Isso deve ter acontecido porque eu lavo as suas roupas! – Comentei casualmente e arrumei a gola do casaco. – Tem certeza de que não quer o cachecol... – Brinquei me referindo ao cachecol usado pelo personagem que ele não queria imitar e ele me lançou um olhar mortal. – Pela sua cara, acho que a resposta é não!

Você acha, Kat?

— Não fica assim, foi só brincadeira. – Dei um peteleco no nariz dele. – Vamos, ou vou acabar deixando os meninos tarde na escola.

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Elena nem acreditou quando nos viu parados na porta da casa. Ela ficou tão animada que resolveu vir meio correndo, meio pulando e acabou escorregando no degrau molhado, se Alex não tivesse instintos ninjas, minha sobrinha mais nova tinha estatelado no chão. E nem preciso dizer que o Furacãozinho monopolizou a conversa, querendo porque querendo que fôssemos todos jantar na casa dela, para que ela pudesse nos mostrar todos os brinquedos que ela tinha.

Deixamos Liv e Tuomas primeiro, os dois agradeceram a carona e nos desejaram sorte, pois Elena agora tinha toda a nossa atenção. Esperei que Liv entrasse no prédio, para evitar qualquer problema e assim que não a vi mais, dei a partida e segui para a escola onde Elena estuda.

Setä, por que o senhor não dirige aqui em Londres também? – Foi o que ela perguntou do nada.

Olhei para Alex e ele deu a mais esfarrapada das desculpas.

— Porque esse carro é o da sua täti.

Täti!!! Deixa o setä dirigir também, a mamãe me falou que temos que dividir as coisas com todo mundo. É feio ser egoísta.

— Eu até deixaria, Leninha, mas o Alex não sabe dirigir na mão inglesa. Ele diz que dirigimos no lado errado da rua.

Vi minha sobrinha parar para pensar no que eu havia falado. E como ela ainda é muito pequena, não deve ter reparado que há dois tipos de mãos para se dirigir. A esquerda e a inglesa.

Porém, antes que minha sobrinha se preocupasse com isso, nos aproximamos da escola, e ela logo viu alguém de quem não gostava muito.

— Ih! Olha ali! – Ela apontou. – Aquele ali é o Cody! Foi ele quem disse que eu não posso gostar do Capitão América!

Procurei pelo garoto no mar de garotos quase idênticos chegando na escola.

— Aquele ali, com mochila do Homem Aranha? – Alex perguntou.

— Sim. Ele mesmo.

Olhamos bem para o moleque, e não é que o nariz dele tinha ficado torto?

— Você bateu bem forte nele, hein, Lena?

— Bati?! – Ela se espantou e enquanto olhava pela janela, dei um tapa em Alex, para que ele não comentasse o incidente do soco e do nariz quebrado.

Parei na porta da escola e desci, para liberar a baixinha que já estava chamando pelas amigas. Logo que desafivelei o cinto que a prendia no assento elevado, ela escorregou por entre os bancos e deu um beijo na bochecha de Alex.

Nakemiin, setä[2]! Você vem me buscar, não vem?

Alex olhou para mim, que só confirmei com a cabeça.

— Vamos estar aqui! – Ele confirmou.

— Eba!!! – Deu outro beijo nele e desceu pulando do carro.

— Cuidado para não escorregar, Elena! – Avisei. Mas minha sobrinha só pulou do meu lado, tentando alcançar meu pescoço.

Nakemiin, täti[3]! Até daqui a pouco! – Despediu de mim da mesma forma que tinha despedido de Alex.

Nakemiin, pikkuinen! Rakastan sinua[4]! – Abracei-a e a levei até a porta.

Rakastan sinua enemmän[5]! — Foi o que ela me respondeu, antes de sair falando. – Senhorita Clarkson, hoje quem veio me trazer foram minha tia e meu tio americano!! Olha ele lá! – Apontou para o carro.

A paciente professora foi conversando com minha sobrinha, e eu voltei para o carro, ciente de que não poderia protelar mais nada.

Era chegada a hora do Conselho Anual.

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Fiz um caminho mais longo até o prédio da empresa e durante o tempo em que estávamos no carro, Alex me fez várias perguntas, principalmente sobre como era a minha rotina aqui em Londres, os lugares que mais gostava de ir, e aqueles que eu jamais voltarei e o porquê.

— E você, onde quer ficar? – Perguntei quando já não dava mais para adiar a minha chegada.

— Não posso ir com você até o prédio? – Ele disse simplesmente. – Até porque tenho que saber como ele é, para poder voltar aqui na hora do almoço.

— Você tem certeza disso? – Olhei para ele, aproveitando um dos muitos semáforos.

— Tenho. – Foi direto.

— Tudo bem, se insiste.

— Tem algum problema para você? – Ele questionou quando fiquei em silêncio.

— Nenhum. Absolutamente nenhum.

— Vai demorar muito para chegarmos?

— Dois quarteirões. Consegue ver aquele prédio com vidros espelhados?

— Sim.

— Nosso destino. – Comentei, mas não tão entusiasmada quando deveria.

— Você não está muito feliz em voltar. – Alex disse certeiro.

— Não, não estou. E não tem a ver com o trabalho, mas com as pessoas com quem serei obrigada a conviver nos próximos dias. Eu comentei com minha mãe que saberia como reagir a tudo, mas a grande verdade é que não sei se serei capaz de não voar no pescoço de alguém.

— Você não vai bater em ninguém, Kat. Não é da sua natureza. Porém, se a situação ficar completamente insustentável, pode me ligar, eu não vou ter problema nenhum em bater neles.

Chegamos no prédio e, fiquei impressionada por terem liberado o meu carro na guarida, sem ao menos perguntar quem estava dirigindo. Abaixei a janela do motorista, só para que o porteiro me visse, e logo fui saudada por Billy.

— Seja bem-vinda de volta, Srta. Nieminen! Pode parar na vaga que usava.

— Bom dia, Billy! E muito obrigada! Tenha um ótimo trabalho! – Respondi e desci para o primeiro nível da garagem, onde estacionei o carro.

— Velho conhecido? – Alex perguntou se referindo ao porteiro.

— Sim. Eu me dava melhor com o pessoal “de baixo”, como alguns chamam, do que com os grandes dos últimos andares. Tanto que, no meu último dia aqui, porteiros, secretárias da portaria, faxineiras, o pessoal da cozinha, todos eles fizeram uma festa de despedida para mim. Não recebi nem um “boa sorte do outro lado do mundo” dos demais.

Alex fez uma careta diante do meu relato. E resolveu mudar de assunto:

— Não preciso ser identificado?

— Nesse prédio, todos os elevadores vindos da garagem param no lobby, antes das catracas. Você pode subir comigo sem problemas. – Expliquei enquanto pegava minha bolsa e as pastas que iria precisar no dia. Caminhamos lado a lado até o elevador, Alex fazendo questão de carregar as minhas coisas.

— Querendo ganhar uma vaguinha de carregador por aqui? – Brinquei com ele.

— Nunca se sabe, vai que estão contratando. – Ele deu de ombros, segurando a porta do elevador para que eu entrasse, e quando me virei para apertar o botão do lobby, notei que não estávamos sozinhos na garagem, Lucca estava lá também, escorado em seu carro, e nos olhava com um sorriso debochado.

As portas se fecharam e bastou um segundo para que meu noivo comentasse.

— Era o Idiota Completo, não era?

— Sim.

— Bom saber. – Disse sombriamente.

Paramos no lobby, fui com Alex até a porta principal, e me despedi dele ali.

— Te vejo daqui a pouco, Kat. – Ele me disse ao me dar um beijo. – E se lembre, se precisar quebrar a cara de alguém aí dentro, me chame para te ajudar!

— Vou me lembrar disso. E, por favor, eu te imploro, não se perca!

— Sei falar inglês, qualquer coisa, peço informações. O número já está até salvo no meu telefone. Quer ver? – Ele estendeu o celular na minha direção e antes que eu visse o número, já fui comentando:

— Que bom que não vai ter vergonha de.... – Então observei o nome do contato. Rainha do Gelo. – Interessante para quem vai pedir informações.

— Posso garantir que ela vai saber me ajudar!

— Imagino que sim. – Devolvi o celular para ele com uma cara não muito boa.

— Não fique assim. – Alex falou, sabendo que eu não estava nem um pouco animada em ficar aqui.

— Preferiria estar no seu lugar. – Falei baixo.

— Vai acabar logo. Nada aqui é sobre o Escritório do Pacífico. Nada. – Alex me deu um abraço e beijou minha têmpora. – Rakastan sinua, Rainha do Gelo.

— Eu também te amo, Surfista.

Nos separamos, ele ainda fez hora para sair do prédio e eu fui me identificar na portaria. Meu acesso estava mais do que permitido, e antes que eu passasse pela identificação de digital, olhei para a porta, Alex me acenou e se foi, descendo os degraus que o levaria para onde quer que ele pretendesse andar hoje.

 Segui para os elevadores com uma certa sensação de nostalgia, todo aquele lugar era familiar, era como se fosse uma casa, porém eu não pertencia mais a esse prédio, a essa parte da empresa.

O elevador chegou, entrei, apertei o botão para o último andar e estava até aliviada por poder subir os mais de sessenta andares sozinha, quando uma mão impediu as portas de se fecharem.

Praguejei internamente a minha falta de sorte e só não soltei um sonoro palavrão na hora em que vi quem era a pessoa, porque eu tinha sido muito bem educada pelos meus pais. Pois, o dono da mão, que impediu que eu alcançasse o meu destino, não era outro, senão, Lucca Dempsey.

Com as portas totalmente abertas, ele levantou o rosto, o mesmo sorriso debochado de escárnio, que ele me lançou no dia de nosso casamento fracassado, ornava suas feições.

— Olha quem resolveu aparecer em Londres, afinal! - Lucca começou cinicamente e as portas nem tinham se fechado.

Revirei os olhos e engoli os impropérios que queria soltar para ele. Não era hora, nem lugar.

Porém, meu silêncio não impediu que Lucca continuasse a falar, muito pelo contrário, deu a ele ainda mais ânimo.

— Pelo que notei, aquele mendigo que estava do seu lado é o tão falado Alexander, seu namorado americano.

— Ele não é um mendigo. – Sibilei. Decidi por não comentar nada do noivado.

— Se ouvi bem, vocês conversavam sobre ele tentar uma vaga de carregador... como sempre você só se socializa com o pessoal de baixo. – Ele olhou para mim e me encarou debochado. – Katerina Nieminen, a Rainha dos Pobres e Necessitados! Quer virar santa quando morrer?

— Como sempre, Sr. Dempsey, você pega uma conversa ouvida pela metade e a distorce, até poderia gastar saliva e energia tentando te explicar o contexto de nossa brincadeira, mas seu cérebro, que mal é usado, não entenderia. – Falei no mesmo nível de cinismo que ele usava comigo.

— Não banque a esperta, Katerina. Você não é mais a queridinha do Homem de Gelo.

— E nem você, tendo em vista que nas últimas reuniões ele faltou pouco arremessar umas três pastas na sua cabeça e você saiu correndo desengonçado como um pato manco, tropeçando nas cadeiras e portas. Espero que a topada que você deu tenha doído.

Dempsey se engasgou na minha frente.

— Sempre com uma resposta ácida na ponta da língua, hein?

— Para debochar com a sua cara de peixe estrábico? Mas é claro!

— Não sou estrábico! – Ele rebateu na hora, Lucca é um narcisista clássico e qualquer comentário contra a sua aparência o afeta imediatamente, então, aproveitei o momento.

— Ah, é sim! Suas írises não são alinhadas. Aí você fica com esse ar de tilápia... não, melhor, baiacu... afinal, você deu uma engordada nas últimas semanas.

Lucca só não pegou um espelho ou correu para um, porque estávamos presos dentro dessa caixa de metal, mas, a cada palavra que saía da minha boca, mais vermelho ele ficava, e não era de vergonha.

— Você não é a perfeição que julga ser! – Ele retrucou, achando que qualquer comentário que saísse da boca dele me afetaria.

— Muito obrigada por me avisar! Mas eu já sabia disso. E fico muito feliz que tenha gente que goste da minha perfeita imperfeição e gosta de rir dela junto comigo.

— Ah, claro! – Ele debochou. – O cara que, por uma única noite, colocou um terno caro, que deve ter sido comprado em um brechó, dirigiu um carro de verdade e agora já se julga parte da realeza, é quem ri com você. Muito interessante.

— Não é a roupa que faz uma pessoa, Dempsey. É o caráter. Uma pessoa vestida em trapos ainda seria da realeza, se tivesse um caráter limpo. Mas isso é algo que você não sabe o que é, não é mesmo? Pois não tem um pingo de caráter nessa sua cara e você também não é da realeza. Roupas bonitas, feitas sob medida, não escondem a podridão que você é. E vai chegar uma hora, que nem isso irá atrair as mulheres, aí, quero ver como vai viver, sem ter para quem se mostrar. – Terminei minha fala bem no instante em que o elevador parava no último andar. – Tenha um bom dia no trabalho, pois já ouvi que você não vai participar do Conselho, afinal, te rebaixaram de função. – Falei e saí do elevador, deixando um Lucca completamente estupefato, parado com a boca aberta, lá dentro.

Com uma postura reta e cabeça levantada, pisei no andar que um dia foi onde eu trabalhei. Algumas secretárias viraram a cabeça para me encararem e logo uma espécie de telefone sem fio se formara entre todos que trabalhavam ali, e não teve um, funcionário ou diretor de setor, que não me olhou enquanto eu caminhava com passos firmes até o outro lado do enorme andar, rumo à sala onde seria realizada reunião do Conselho.

Não raro um dos muitos cochichos chegou aos meus ouvidos, e entre comentarem a minha roupa, maquiagem e aparência no geral, outro foi bem mais interessante:

Comentavam o fato de que Alexander apareceu no prédio.

— Eu posso te jurar, ela estava com o tal do namorado americano. E o homem é BONITO! Bonito de verdade. Nunca vi como ele por aqui. E olha que tem até cabelo comprido.

Não pude deixar de abrir um sorriso diante da constatação da fofoqueira, lancei uma olhada na direção dela, não a conhecia, mas se essa fofoca chegasse aos ouvidos de todos, pouco me importava.

Mary estava na porta da sala de reuniões e se espantou quando me viu.

— Katerina! Bom dia! Chegou cedo!

— Bom dia, Mary! Preciso ver como anda Los Angeles antes de iniciarmos. Como vão as coisas por aqui?

Ela soltou um suspiro audível.

— Muita coisa mudou nestas 10 semanas, Katerina. Para pior. – Respondeu e baixando o tom de voz, completou. – Sinto muito por tudo o que fizeram com você. Não é mais segredo entre os funcionários e secretárias. E, corre um boato de que um de nossos seguranças bateu em Tuomas, é verdade?

— Obrigada por sua solidariedade, Mary. Mas são águas passadas, nada disso interessa mais. – Disse e omiti a parte de Tuomas, meu sobrinho não tinha nada o que ser comentado dentro desse prédio.

— Interessa. Claro que interessa, pois explica muito o que aconteceu no primeiro semestre e o motivo de você ter sido enviada para Los Angeles.

— Não vai mudar nada agora. Todos estão onde deveriam estar.

E mais uma vez, Mary fez jus à fama das secretárias desse prédio, e me passou uma fofoca quentinha.

— Não é o que eu li. – Ela me disse, séria. – Há um documento do Conselho Administrativo que está na mão de seu avô. Nele há um pedido de reintegração de posto. O Conselho, praticamente por unanimidade, quer que você retorne para Londres e assuma esse escritório. Somente duas pessoas não assinaram o pedido, o Sr. Nieminen, já que o pedido foi feito a ele, e o Sr. Cavendish, que insiste que aqui dentro há pessoas mais qualificadas do que você para assumir esse prédio. Se isso acontecer, você volta, não volta?

Dei um sorriso para Mary, não confirmando, nem negando a minha possível volta. Ela que entendesse como quisesse e espalhasse a notícia por aí.

— Não vou mais te interromper, sei como gosta de manter a sua agenda impecável. Vamos ter tempo para conversar nessa semana.

— Isso, sem dúvida é verdade. E uma boa sorte para nós nessa semana, porque acho que vamos precisar. – Comentei e entrei na sala.

Antes de mais nada, tenho que admitir que a sala de reuniões do último andar sempre foi a minha sala favorita de todo o prédio, desde que eu entrara aqui pela primeira vez, mais de vinte anos atrás.

A sala, que ocupa quase ¼ de todo o andar, possui pé direito alto, o mais alto de todo o prédio, com janelas, de vidro único, que vão do chão ao teto, e cortinas de tecido pesado e em um tom de dourado escuro, combinando com o carpete no mesmo tom; a mesa redonda, de madeira escura, é enorme, cabendo 40 pessoas e possui cadeiras de espaldar alto, há, ainda, as três mesas de apoio, uma em cada parede, por fim, como decoração, três grandes quadros de pintores renomados, ornamentam e trazem um pouco de luz e cor ao ambiente sério. Todo esse conjunto, devidamente escolhido por minha avó Mina, sempre me fascinou, sempre me deu a ideia de poder, sucesso e seriedade, e até hoje é assim.

Quando entrei aqui pela primeira vez, já como funcionária da empresa, tentando convencer o Conselho que para que a NT&S fizesse os transportes dos medicamentos e suprimentos do Médicos Sem Fronteiras, eu tremia por dentro, afinal, era a primeira vez que eu encarava todo o Conselho tentando que uma proposta minha fosse aprovada. Hoje a sensação não é diferente, entro aqui não como aquela que está auxiliando o CEO e a Diretoria Executiva, mas como uma das Diretoras de Escritório, alguém que realmente faz parte do Conselho e tem um lugar aqui. E tudo é tão intimidador como da primeira vez...

Respirei fundo e como a sala ainda estava vazia, me permiti buscar pelo meu lugar, rezando para ficar perto da porta e assim poder sair sem ter que ficar de papo furado com alguém.

Para meu azar, eu não estava perto da porta, estava sentada em uma posição que me colocava praticamente de frente para o CEO e o Vice Diretor, no meio da mesa.

Perkele[6]! – Xinguei alto, aproveitando a minha solidão temporária. Pensei em trocar de lugar com alguém, porém notei que isso seria impossível, afinal, Matti sabia até a localização de cada Diretor de Escritório, sempre os colocando de maneira que indicasse ou a importância do Escritório, ou o nível de problema que ele queria criar para o determinado Diretor.

Puxei a cadeira que era destinada ao Escritório do Pacífico, ajeitei minhas pastas, notebook, tablet e, já aproveitei, peguei um copo de água e deixei na minha frente, tudo para evitar ter que ficar me levantando e, me pus a trabalhar, a olhar os e-mails que Milena havia me mandado na sexta-feira e que eu, deliberadamente, ignorei por dois dias.

Estava concentrada no que lia, não tinha nenhum problema para resolver, eram só os resumos dos relatórios diários dos portos e o volume de carga embarcada e desembarcada, assim como as previsões de entregas. Tudo corria bem na Califórnia e no Pacífico e eu torci para que ficasse assim durante essa semana.

Tinha acabado de enviar a resposta para Milena – e Amanda, já que alguns dos resumos foram digitados por ela. – quando notei que não estava mais sozinha na sala.

Pela intensidade do olhar que me lançavam, eu sabia quem era, sem precisar levantar a cabeça na direção da pessoa que me encarava.

Era Matti Nieminen.

Minha vontade interna era de ignorar a presença dele pelo tempo que fosse preciso, porém, como minha mãe havia me dito, ele ainda é meu chefe, e eu devo ser educada com meu superior.

— Bom dia, senhor! – Falei e levantei meus olhos em sua direção, olhando-o sem muito interesse e foi quando percebi a verdade por trás do comentário de Mary, as coisas tinham realmente virado para pior, pois eu nunca vira o Homem de Gelo no estado em que ele se encontrava na minha frente.

Claro que ele ainda estava bem-vestido com seu terno italiano, feito sob medida, assim como os sapatos. Ainda tinha aquele ar de autoridade que sempre emanou e que somente a sua presença era capaz de fazer com que qualquer um o respeitasse.

Contudo era a sua expressão que mudara. Ele envelhecera muito em dez semanas. Não que ele fosse novo, não era, já tinha passado dos 85 anos, era bem verdade que há bem pouco tempo atrás, estávamos pensando na festa de 90 anos. Porém, a idade realmente tinha chegado de uma hora para outra. O rosto, sempre altivo e incrivelmente firme, tinha murchado, os olhos azuis gelo, sempre penetrantes, frios e distantes, já não demonstravam a mesma autoridade de outrora.

E tinha a sua postura. Antes altiva e até mesmo arrogante, com os ombros retos e queixo levantado, tinha, estranhamente, se curvado para frente, dando a ele um ar de vilão de filme de terror. Aquele, que um dia eu chamei de vovô, tinha virado uma sombra de quem ele fora um dia. E isso deveria me incomodar, deveria acender qualquer sinal de alerta dentro de mim, todavia, eu não sentia nada, não sentia pena ou compaixão ou sequer preocupação. Eu não conseguia me compadecer da situação dele, pois ele mesmo se enfiara nessa rede de mentiras que agora voltava para cobrar o preço.

— Katerina. – Ele me saudou, pelo menos sua voz continuava grave e forte. – Os ares da California te fizeram bem.

Meneei a cabeça em concordância, não estava com paciência para ficar de papinho furado que eu saberia onde levaria. Em algum ataque à minha pessoa, ou ao meu noivo, ou a alguém da minha família.

Porém, assim como Lucca, Matti viu em meu silêncio a oportunidade para continuar a falar.

— Como você se lembra, eu gosto de analisar os números, os balancetes e os requerimentos de cada escritório antes de encontrar com todos nessa sala, e devo comentar com você que os números de Los Angeles nesses últimos dois meses e meio foram impressionantes.

— Somos uma equipe excelente, os dados são somente consequência de nosso trabalho. – Fui diplomática, dando o devido crédito a quem realmente trabalhou para que tivéssemos esse retorno.

— Sempre humilde. Deveria se vangloriar um pouco mais, afinal, um escritório grande como esse não entregaria estes números se não fosse bem gerido.

— E não é só de uma direção competente que se faz um escritório, se os funcionários não forem tão ou mais competentes do que o diretor, nada funciona. O Escritório do Pacífico é uma engrenagem que funciona perfeitamente porque trabalhamos em sincronia. – Foi a minha resposta.

— É por conta dessa sua atitude que andam querendo que você seja transferida de volta para Londres para gerir esse escritório. Você impressionou o Conselho. Meus parabéns.

— Só estava fazendo o meu trabalho da melhor maneira que consegui, senhor.

E essa conversa estranha iria continuar, se não fossem pelos demais diretores e conselheiros que começavam a chegar e a assumir seus lugares.

Alguns conselheiros fizeram questão de passar perto de mim e me cumprimentarem. Polidamente os cumprimentei de volta e agradeci aos elogios ao Escritório do Pacífico da mesma forma que fiz com Matti, em nome de todos os funcionários.

Pontualmente às 09:00 da manhã, Matti Nieminen dava início ao Conselho Fiscal e Administrativo Anual da Nieminen Trade & Shippiment.

Os primeiros trinta minutos foram uma recapitulação das mudanças que a empresa passou, desde novas políticas de entregas e negócios, até as mudanças de direção nos escritórios. Los Angeles não foi o único que teve uma nova diretora, Brasil e Emirados Árabes Unidos também tinham novos chefes.

E, com o fim dessa retrospectiva, Mary entrou na sala e distribuiu para cada um dos presentes um pen drive com os dados que seriam analisados no dia de hoje. Sim, nada de papel impresso, tudo vinha eletronicamente, uma ideia minha que tinha sido bem recebida. Claro que os papéis importantes ainda eram arquivados em salas próprias, afinal, nunca se sabe quando vai faltar luz ou o servidor pode cair, contudo, até para a agilidade da reunião, tudo era nos computadores agora.

Começaram com a Europa, Londres e os seus respectivos números nos foram apresentados.

Eu, sem querer, acabei comparando os números desse ano com os do ano passado, e a queda era impressionante.

O Diretor do Escritório de Londres é Cavendish, afinal, como Vice-Diretor da Empresa, ele tem o direito de gerir o escritório base. E agora eu queria saber como ele explicaria a queda no faturamento, afinal, esse era para ser o Escritório modelo. Os demais até poderiam dar uma patinada, perder alguns clientes, mas Londres? Jamais. E era a primeira vez que eu via isso acontecer.

Ao meu lado direito, o Diretor do Escritório da América Latina, direcionado para o Oceano Atlântico, deu um assobio baixinho e, em português, comentou:

— Se fosse São Paulo, já tinham cortado a minha cabeça fora.

Já Nova York, do meu lado esquerdo, fez um comentário diferente:

— Isso que dá colocarem gente velha, cansada e sem tato nenhum para comandar. Os números despencaram vertiginosamente nas últimas dez semanas.

Cavendish ia explicando os motivos das quedas, e, eu me vi quase rindo de chorar quando ele falou a seguinte frase:

— Sim, houve uma grande queda nas última dez semanas, mas levem em consideração, que a Srta. Nieminen levou uma pasta pessoal com ela para o Pacífico, clientes europeus que a acompanharam por conta de cláusula de contrato que ela sempre fez questão de colocar para se beneficiar.

Tombei minha cabeça e olhei para Cavendish. Ele realmente estava me culpando pelos números de Londres? Eu era a responsável pela queda?

— Essa cláusula de exclusividade de negociação sempre esteve presente em nossos contratos. - Uma das conselheiras, Camila Grissom, disse. - Eu mesma a utilizei nos meus anos trabalhando como captadora de recursos. Isso não é desculpa, Edward, pois todos nós já tínhamos ciência de todos os clientes que o Pacífico iria gerir com a ida da Katerina para lá.

Cavendish fuzilou a Sra. Grissom com o olhar e depois se virou para mim.

— Quantos clientes pessoais você levou para Los Angeles? – Perguntou rudemente, o que não passou despercebido de ninguém.

Essa resposta era fácil.

— Cinquenta. E nem todos são baseados na Europa. – Expliquei.

— A maioria é? – Grissom questionou.

— Sim, mas, nem todos estes clientes seriam administrados por Londres. Tenho clientes da Finlândia, Noruega, Espanha, Portugal, Grécia, Turquia, Alemanha Itália e Holanda. Dos cinquenta que foram comigo, somente cinco seriam exclusividade deste prédio, senhora.

— Muito bem, obrigada Katerina. Como se explica agora, Edward? Tem que ter algum motivo para essa queda. Quem estava fazendo o trabalho de captar clientes nas últimas dez semanas? – Grissom pressionou.

Eu tinha uma vaga ideia de quem poderia ser, então, discretamente me ajeitei na cadeira e ainda pude mandar uma mensagem para Alex.

Você estaria dando gargalhadas agora.

A resposta dele veio na hora.

Qual dos Três Patetas se ferrou tão cedo?

Cavendish e o sobrinho. — Respondi.

Alex só me mandou a seguinte frase:

No almoço você me conta.

Eu voltei minha atenção para a explicação de Cavendish, ele andava em círculos para não jogar o sobrinho na fogueira.

— Lucca Dempsey era o responsável! – Matti cortou o assunto, já perdendo a paciência.

Não vi quem falou, mas o seguinte comentário foi ouvido:

— E ainda tem gente fazendo campanha para esse inútil ser o diretor desse escritório.

Com isso, o clima que já estava ruim, ficou ainda pior e o restante da leitura dos números e propostas de Londres foi feito e, assim que colocaram nas telas dos computadores a comparação do último ano fiscal com o presente, os sons de desgosto dos Conselheiros tomaram a sala. Alguns querendo revisão dos números, outros explicações detalhadas, a única certeza era a de que:

Esse Conselho seria mais animado do que novela mexicana!

Diante dos ânimos que ficaram exaltados demais, Matti suspendeu a reunião para o horário de almoço.

A grande maioria desceu para a sala de jantar dez andares abaixo, eu juntei minhas coisas novamente, guardei nas pastas e bolsas e levei tudo comigo, para guardar no carro. Já no elevador, acabei me encontrando com Camila Grissom, e ela, sem medo nenhum só me falou:

— Eu fui a autora de uma moção para que te reintegrem a Londres e para que você assuma esse escritório, está na mesa de Matti. Pense com carinho o que você vai querer fazer, por favor.

— Obrigada pela indicação, senhora. – Agradeci, mesmo que eu não tivesse a intenção de voltar.

— Não foi somente por conta de seu trabalho, Katerina. Isso contou muito, mas também foi um pouco de justiça. Haviam outras pessoas tão competentes quanto você para a vaga que Mancini deixou, mas te mandaram sem motivos para lá. Ou aconteceu algo que nós do Conselho não ficamos sabendo?

— Sobre isso, a senhora terá que perguntar ao Sr. Nieminen, eu só segui ordens.

— E por que não quis ficar no apartamento da empresa? É seu direito que paguem a sua estadia em outro país por até dois anos.

— Sei disso também, mas, com todo o respeito, é um belo apartamento, muito bem localizado, contudo, eu fui criada em casa e sempre passei férias em lugares abertos e espaçosos, estava me sentindo sufocada dentro de um apartamento.

— Explicação mais do que válida. E você é uma pessoa muito boa, Katerina, afinal, depois de tudo o que te fizeram sofrer, você é incapaz de atacar as pessoas que te humilharam tanto. Gostaria de ser assim. – Grissom terminou no momento em que o elevador chegou ao lobby e já desceu pedindo para o porteiro chamar o motorista particular dela.

Eu segui para a garagem e guardei tudo o que carregava dentro de meu carro, depois saí a pé para encontrar Alex, que já me esperava escorado em uma cabine telefônica vermelha do outro lado da rua.

 

[1] Vovó.

[2] Tchau, tio!

[3] Tchau, tia!

[4] Tchau, Pequena. Eu te amo.

[5] Eu te amo mais!!

[6] Droga.


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Notas finais do capítulo

E aqui está! Os próximos capítulos serão sempre uma continuidade do anterior, saí escrevendo como uma louca nos últimos dias e quando fui dividir, acabei por notar isso. Assim, os ganchos não são de propósito dessa vez, são necessidade ou os capítulos que já estão enormes, ficariam ainda maiores e cansativos de ler.
Mais uma vez, obrigada a você que está lendo e acompanhando!
Semana que vem tem mais um!
Até lá!
xoxo



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