Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 125
Aventuras e Uma Surpresa


Notas iniciais do capítulo

Oi! Voltei! E para compensar, com um capítulo gigantesco.
Ele já está pronto há umas duas semanas,porém, a falta de tempo e um computador genioso me impediram de posta.
No mais, peguem a pipoca e aproveitem!
Boa leitura.



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Nossa estadia em Las Vegas serviu para duas coisas: aprendemos que os meninos não sabem apostar e, também que são péssimos para saírem da cama depois de chegarem no meio da madrugada nos quartos.

Resultado: eu e Pepper viramos as motoristas do dia e ainda tivemos que aguentar a reclamação do trio sobre o cansaço deles.

Nosso próximo destino era o Grand Canyon no estado do Arizona, sendo que nossa cidade base seria Flagstaff.

Como eu não fazia ideia para onde estava indo e muito menos o que encontraria até lá, confiei em Pepper e no GPS.

Era melhor ter confiado somente no GPS e no meu instinto, que me dizia, a cada metro percorrido, que estávamos perdidos. Não deu outra, muitos quilômetros depois, quando o combustível dos carros já estava quase acabando, foi que encontramos uma parada de caminhoneiros e lá ficamos sabendo que estávamos indo na direção completamente oposta... ao invés de irmos para o sul, pegamos a saída errada e estávamos a meio caminho de Idaho, ou seja, íamos para o norte.

Claro que não perdoaram a pobre da Pepper que era quem liderava o comboio e, no nosso retorno, Will, que mesmo cansado resolveu dirigir, foi brincando com a cara da namorada a cada metro.

Foi um pequeno contratempo que rendeu boas risadas e algumas horas a mais na estrada, tanto que nem paramos para dormir, fomos direto para o Arizona e, agora sim, pegando a famosa e lendária Rota 66, onde eu fiz questão de dirigir e meus sobrinhos de colocar a trilha sonora da animação Carros para tocar.

Chegamos no estado ao amanhecer e na cidade que seria a nossa base, na hora do almoço.

Ninguém aguentava mais ficar dentro de carros, na verdade, todos estavam pedindo por um longa e revigorante caminhada para poder esticar as pernas e alongar a coluna.

Alex queria acampar novamente, dessa vez no Grand Canyon, porém, os melhores camppings estão na borda norte e nós viemos direto para a borda sul graças ao nosso pequeno erro de navegação e, depois de passar longas horas dentro do carro, a ideia foi descartada.

Foi um alívio ver a placa para a cidade de Flagstaff, porém, foi também o início da provação do dia, pois era alta estação e um monte de gente vinha para a cidade para visitar a maior atração turística do estado.

Dividimos-nos em quatro frentes e o primeiro que encontrasse um hotel ou pousada tinha a obrigação de reservar, fazer o check in e já ocupar os quartos, porque ninguém lembrou de reservar com antecedência! E eu comecei a pensar que na próxima viagem eu vou tomar a frente das reservas de hotéis e também das rotas que vamos seguir.

Pepper se redimiu de seu erro do dia anterior e não encontrou um hotel, mas sim uma cabana, ou melhor um chalé, grande o suficiente para que todos pudessem ter espaço e privacidade.

Foi uma benção poder descarregar o carro, descansar um pouco e tomar um bom banho, mas nem tanto, já que logo os meninos começaram a traçar os planos para os próximos dias.

Dirigiríamos até a borda sul do parque, estacionaríamos lá e pegaríamos os ônibus de turismo que nos deixariam nos pontos mais importantes do lugar. E, sem parar, já passaram para o segundo dia, trilha, o terceiro, dirigir pela Desert View Drive e ir parando em cada mirante e ponto turístico para fotos e informações, nosso último dia seria para conhecer a borda oeste do parque e, então, pernoitar e depois partir para o centro do estado, com destino a Cañon City, onde só ficaríamos um dia, pois nosso plano e ponto alto da viagem seria...

O bungee jump.

Mas antes de tudo isso, teríamos dias bem agitados pela frente para encerramos a viagem.

De todos dos dias em que passamos no Grand Canyon, o primeiro foi o mais tranquilo deles. Tudo deu certo, do horário em que chegamos no parque, até o momento em que fomos nos deitar. Foi mais um dia debaixo de muito sol, mas que valeu a pena pelas paisagens que vimos e as fotos que tiramos para eternizar os momentos.

Claro que tudo foi documentado e, até conseguimos fazer uma chamada de vídeo com o restante da família, para que todos pudessem ver onde as crianças estavam – na borda de um precipício. – o que assustou Tanya, minha mãe e Dona Amelia, menos meu pai e Ian...

— Vão treinando. É assim que se inicia as preparações para pular de bungee jump.

Desnecessário dizer que ele ouviu o que queria e o que não queria depois dessa brincadeira, já nós, ficamos calados... ninguém precisava saber que tínhamos planos bem específicos. Se tudo desse certo, é claro.

O segundo dia tinha tudo para ser uma repetição da perfeição que foi o primeiro. Acontece que nem tudo é como queremos, ou melhor, ninguém mandou termos deixado os planos nas mãos nada hábeis de Alexander e William!

Conforme a programação feita pelos andarilhos mais amadores que eu conheço, faríamos trilha durante todo o dia, até neste ponto, tudo certo... eles só se esqueceram de um pequeno detalhe.

Elena.

Ela tem seis anos e não está acostumada a andar por quilômetros, e, além de que precisa de várias coisas ao longo de um dia ao ar livre, assim, a ideia de percorrer trilhas intermináveis com uma garotinha de seis anos não era lá a melhor das opções.

Verdade seja dita, ela não deu trabalho, difícil foi carregar nas costas uma mochila com tudo o que ela poderia precisar e, às vezes, ainda carregá-la no colo.

A trilha escolhida foi a mais procurada pelos turistas, a South Kaibab Trail. Confesso que já na entrada, onde se tinha todos os avisos sobre a distância a se percorrer, tempo de caminhada e até mesmo o quanto de água e comida a se levar, fiquei um tanto apreensiva, pois não sabia se todos ali aguentariam as horas de subida e depois de descida, mesmo que pelo caminho houvesse mirantes e paisagens de tirar o fôlego e que te convidavam a parar e descansar por uns minutos.

Todavia, a empolgação do restante do grupo era maior do que as minhas preocupações e, sem pensar muito, começamos a subir.

Nossa intenção inicial era chegar mais ou menos no meio da trilha, o que segundo as informações seria uma caminhada de ida e volta de no máximo quatro horas e que nos permitiria ver dois mirantes belíssimos do parque.

Porém, não gastamos nem duas horas para chegar ao destino e, como o dia não estava tão quente e ainda tínhamos água e lanche sobrando, fomos até o final da trilha, de onde conseguimos ver o Rio Colorado. Confesso que achei que seria muito mais difícil de subir e descer a trilha, e olha que a cada segundo eu me preocupava com os meus sobrinhos, que, tirando Elena, que ficou do meu lado o tempo todo, os outros dois foram andando, tirando fotos, fazendo vídeos, conversando e curtindo a vista sem nem se preocuparem com nada...

Assim, depois de cinco horas de caminhada, voltamos à entrada principal do parque, e foi aqui que o único, mas imenso problema do dia aconteceu.

Há, em todo o parque, transporte para te levar de um ponto a outro, sempre parando nos lugares mais importantes, contudo, como tudo por aqui, tem a hora de começar e de acabar, assim como o transporte público que pegamos para chegar até o parque, já que ninguém quis dirigir hoje.

O resultado de nosso prolongamento da caminhada não foi outro senão: perdemos o transporte de volta.

— E nós vamos ter que andar quantos quilômetros até o chalé? – Olívia foi a corajosa a perguntar.

Alex e Will olharam nos celulares e depois fizeram o seguinte comentário:

— Não é tão longe assim. Vamos conseguir. – Disseram, colocaram as mochilas nas costas, começaram a andar, mas não falaram a distância.

Liv, curiosa como só ela pode ser, e já cansada de perguntar e sempre receber a mesma resposta “estamos chegando”, pegou o meu celular e fez a pesquisa que o tio tinha feito e “esquecido” de informar o resultado. A essa altura já estávamos andando por uns quinze minutos.

— Vamos ter que andar mais quinze quilômetros? QUINZE?! – Ela gritou no meio da rodovia. – Isso é maluquice!!

Até eu me assustei com a distância.

— Vai ser rapidinho. – Garantiu Will.

— Rapidinho? Desde quando andar 15km com mochilas, uma criança de seis anos e já com os pés cansados é rapidinho, Will? – Pepper questionou.

Meu cunhado bancou o distraído e fingiu que não ouviu a reclamação da namorada.

Já eu não sabia se queria matar com uma pedrada, Will, Alex ou Tuomas, que inventaram de subir até o fim da trilha, quando poderíamos ter ido só até a metade e voltado de ônibus para a cidade.

Caímos em um silêncio pesado. Os homens iam na frente e nós alguns passos atrás e a cada pedra no caminho, literalmente, uma de nós reclamava bem alto para que eles escutassem o nosso descontentamento.

Nem na metade do caminho de volta, Elena me pediu colo, falando que estava com o pé doendo. Não era para menos, a pobrezinha já tinha andado mais do que estava acostumada e, ouso dizer, andou mais nesse dia do que já tinha andado durante a sua vida.

Coloquei-a em minhas costas, já sabendo que dentro de bem pouco, eu a passaria para Alex., afinal, ele é o tio aventureiro, tem que arcar com as consequências de suas ideias malucas.

Olívia ia do meu lado, já mancando, acompanhando a distância pelo aplicativo do relógio em seu pulso, assim, eu sabia exatamente quantos quilômetros ainda faltavam até o chalé que alugamos e ainda sobrava fôlego para reclamar:

— Eu juro que não cabe mais nenhuma bolha no meu pé. Meu dedinho é um ser híbrido nesse momento. Tenho até medo de ver como está.

Pepper, que também não tinha gostado da resolução de ir a pé, completou:

— Você ainda pode sentir os seus pés, eu, nem isso. Parei de sentir qualquer coisa quando deixamos o parque, e ainda estou pensando se isso é bom ou ruim.

Liv fez uma careta e depois continuou a murmurar que nunca havia andado tanto na vida dela... e muito menos com botas de caminhada que pesavam uma tonelada e ainda machucavam.

Meus pés não estavam muito diferentes... doendo e com algumas bolhas estouradas... o dia seguinte seria terrível.

— E se eu pedir carona? – Olívia perguntou.

— Agora faltam só cinco quilômetros, a gente aguenta. – Pepper, que já tinha se apossado de um galho para facilitar a caminhada, respondeu.

Elena, que agora estava sentada nos ombros de Alex disse que nunca mais iria andar tanto na vida dela. Que estava exausta.

— Isso porque na maior parte do tempo está de colo em colo... – Tuomas brincou com a irmã. - Queria ver se estivesse andando todo esse tempo.

E o que a pequena respondeu?

— Eu teria me desintegrado de tanto andar. Ainda mais nesse calor.

— Reclamando do calor agora, Leninha? – Perguntei.

— Mas tia, está quente, mais quente do que em Las Vegas.

— Não, em Vegas estava mais quente, mas como a senhorita ficou na piscina por quase um dia inteiro, não percebeu.

Elena deu um suspiro resignado e, depois de apoiar o queixo no alto da cabeça de Alex, só murmurou:

— Uma piscina agora resolveria todos os meus problemas.

Seguramos a risada, somente Elena para dizer algo assim.

Chegamos ao Chalé ainda com o sol se pondo. A imagem era linda, mas o cansaço falou mais alto e ninguém teve disposição de ficar na varanda para observar os tons alaranjados do céu, corremos todos para dentro, tirando as botas e agradecendo ao fato de termos libertado nossos pés estropiados.

Depois de cada um lamentar o estado crítico do próprio pé, tomamos banho, e cansados demais para sair para jantar, nos jogamos nos sofás espalhados pela sala para pensar no que iríamos fazer.

— Eu tenho uma ideia. – Comentei quando vi que a opção ficar sem comer estava ganhando mais e mais adeptos enquanto meu estômago roncava cada vez mais.

— Que é? – Alex perguntou um tanto desconfiado.

— Você, Will e Tuomas vão no centro da cidade e compram uma refeição para nós, afinal, a ideia de continuar com a trilha partiu de vocês. Se tivéssemos voltado na metade, não perderíamos o transporte do parque e, consequentemente, não estaríamos com os pés desse jeito.

Claro que eles foram contra a minha ideia, acontece que quando colocamos a minha ideia em votação, eles perderam, e tiveram que correr atrás de qualquer lugar que vendesse uma comida gostosa.

Os meninos saíram em busca de um bom restaurante na cidade e as meninas ficaram com os pés para cima, descansando e falando mal de cada uma das péssimas ideias que eles sempre tinham.

Já estávamos nos decidindo se não era melhor pegarmos um carro e irmos buscar a nossa comida, pois tínhamos certeza de que os três tinham sido a refeição de algum urso dado o tempo que já tinha que eles tinham saído, quando, depois de quase duas horas que eles haviam saído, os três entraram no chalé carregando sacolas de papel e clamando que as únicas coisas comestíveis que encontraram eram aqueles sanduíches.

Olhei desconfiada para Alex, porém, tudo o que ele fez foi dar de ombros. E, só pela maneira pela qual ele desviou os olhos, eu sabia que era mentira a história. Eles compraram aquilo que queriam comer. E nós tivemos que nos contentar em comer os tais sanduíches, definitivamente não dava para deixar nada para que eles fizessem! 

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E nosso último dia na área do Grand Canyon seria feito de carro, ou quase todo a bordo de um. O que era muito bom, afinal depois de tanto andar no dia anterior, não tinha um que não estivesse reclamando de bolhas e calos nos pés.

Will e Alex cismaram de dirigir, alertando que era bem provável que se Pepper seguisse atrás do volante, poderíamos ir parar no fundo do rio Colorado.

Entramos no parque e seguimos para a Desert View Drive, a trilha motorizada que nos levava a vários mirantes por sua extensão. E foi dito e feito, a cada curva em que tínhamos uma bela vista, parávamos e tirávamos várias fotos, ou melhor, eu era chamada para o meu ofício de fotógrafa, mesmo que Liv também soubesse tirar fotos tão bem quanto eu.

O que era para ser um passeio mais curto, levou quase todo o dia e, quando paramos no último mirante, com o sol se pondo, a surpresa do dia aconteceu.

Will finalmente pediu a mão de Pepper em casamento.

Ele havia me falado que queria fazer uma surpresa para a namorada, e me pediu que fosse a fotógrafa do momento, aceitei sem perguntar o que seria, afinal, vindo dele, poderia ser qualquer coisa.

Eu só não esperava que fosse um pedido de casamento!

O momento foi emocionante, porque pegou não só Pepper, mas todos de surpresa e, com as cores do céu e de toda a paisagem, fez com que tudo fosse ainda mais especial.

Alex, do meu lado, murmurou:

— Finalmente ele tomou coragem depois de enrolar a Pepper por quase dez anos!

Dei um pisão em seu pé e continuei com as fotos, não era hora nem lugar para comentários idiotas.

Escutei alguém fungar perto de mim, contudo me mantive focada no momento que tinha que ser eternizado e consegui, capturei com perfeição o pedido e o momento em que Pepper disse sim.

Ainda com os olhos marejados, os noivos se viraram para a pequena plateia que aplaudia.

— Eu não esperava por isso... – Pepper falou toda sem graça. – Mas acho que não tinha lugar mais belo para ser pedida em casamento.

Concordamos com um menear de cabeça e, como Pepper tem um senso de humor único, comentou por fim:

— Melhor colocar logo essa foto no grupo da família para avisar que vem outro casamento por aí... agora resta saber quem se casará primeiro, nós dois, Pietra e Benny ou vocês dois aí. – Apontou para Alex e eu.

Eu tinha lá o meu palpite e não era o meu casamento que ocorreria primeiro.

Voltamos para a cabana ao som das inúmeras notificações no grupo da família, já que Pepper tanto fez que, assim que conseguiu sinal, mandou uma das fotos que Liv tirou com o celular.

Ignorando o eventual interrogatório que estava no grupo, jantamos um verdadeiro jantar, não hamburgueres comprados na esquina, e fomos dormir, afinal, a última etapa da nossa viagem começaria cedo e tinha um destino certo: a Royal Gorge Brigde e nosso intento de pular de bungee jump.

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A viagem de pouco mais de sete horas nos levou um pouco mais para o norte e, no meio da tarde, chegamos a Cañon City, no estado do Colorado, que seria a nossa base para que pudéssemos ir para o parque onde a Royal Gorge se localiza.

E, foi chegando no nosso hotel que tivemos o único, porém, péssimo contratempo da viagem, o bungee jump só ocorria em um dia específico do mês de setembro e sempre tem que ser reservado com antecedência.

— Mas, para que vocês não percam os dias reservados, saibam que no parque tem várias atrações que vocês podem gostar, nada tão radical quanto pular no canyon, mas dá para se divertir bastante. – Disse a recepcionista.

Já que ninguém pensou na possibilidade de que o bungee jump não era um evento que acontecia o ano inteiro, nos restou passar a noite na cidade e ir para o parque pela manhã.

O parque em si não é tão grande, tendo como grande atração a ponte, que possui 384 metros de comprimento e incríveis 291 metros no vão livre mais alto.

A vista lá de cima é linda e mesmo sem poder pular, valeu a visita, mas se engana se a adrenalina ficou esquecida, claro que não. Pois, em um dos lados da ponte há um skycoaster, ou melhor dizendo um brinquedo onde você vira um pêndulo humano e sobrevoa o canyon do Rio Arkansas a quase 366 metros de altura em uma velocidade de 80km/h.

A gritaria foi garantida, e algumas fotos bem descabelada depois que desci do brinquedo também. Pepper ficou de fora por ter medo de altura e Elena por ser baixinha demais. Para ela, voamos pelo canyon nas gondolas que atravessam de lado a lado o vale.

Visitamos o relógio de água e o parque de diversões que também fazem parte das atrações e, esperamos a noite cair para voltarmos para a cidade e nos despedirmos dessa viagem.

E, antes que o domingo pensasse em amanhecer, ainda com a madrugada alta, deixávamos Cañon City, nosso destino o Oeste. Tínhamos três rotas para seguir, assim, fomos na direção de Vegas, e, um pouco antes de avistarmos a cidade, fizemos um desvio ao Sul e pegamos novamente a Rota 66 que tem como seu ponto final, Santa Mônica.

Chegamos em casa com o início da noite depois de termos ficado quase 16 horas dentro do carro, mesmo que ao longo do caminho paramos para algumas fotos, as últimas dessa viagem que foi uma das melhores da minha vida.

Eu sempre tive um pensamento meio estranho, viajar é muito bom, conhecer novos lugares e viver experiências para uma vida também, porém, nada se compara a sensação de chegar em casa e se jogar no sofá... ou melhor, de querer se jogar no sofá.

Sim, querer, afinal, nessa semana que se iniciava, eu tinha que levar meus sobrinhos de volta para Londres... Tuomas pode ter perdido o Festival de Glastonbury, mas não perderíamos o evento mais importante do ano, pelo menos para a Família Nieminen:

O Grande Prêmio da Inglaterra da Fórmula 1.

Mas, mesmo que eu tivesse uma segunda-feira atarefada me esperando na próxima esquina, eu precisava descansar. E, só para deixar a minha mente um pouquinho mais em paz, desfiz as malas e coloquei um pouco das roupas para lavarem e secarem durante a noite... pela manhã eu acabaria de ajeitar tudo.

E eu não era a única que estava exausta de tanto ficar dentro do carro, meus sobrinhos mal se aguentavam de pé quando se sentaram para jantar e, bastou que eu mencionasse as palavras banho e cama, que até Elena, aquela que é aversa a dormir cedo quando os pais não estão por perto, veio e me pediu colo, dizendo que estava cansada demais até para subir os degraus da escada.

— Mas vai ter que subir por sua conta... – Falei com ela assim que ela escorregou do meu colo e ficou parada na minha frente fazendo carinha de cachorro pidão.

— Mas tia...

— Elena, estou tão cansada quanto você. – Afirmei.

Minha sobrinha deu um suspiro bem dramático e foi contando passos na minha frente e, quando chegou ao pé da escada, tentou mais uma vez.

— Só agora nos degraus, tia...

Eu só indiquei a direção que ela tinha que seguir.

Já no segundo andar, a garotinha teve uma ideia...

— Tia, já que estamos muito cansadas, será que posso tomar banho de banheira? Assim não tenho que ficar de pé e nem a senhora tem que ficar me guiando debaixo do chuveiro. – Ela me olhou com aquela carinha de pidona e, dessa vez...

— Tudo bem, mas nada de ficar fazendo hora.

Eu deveria ter me arrependido de ter cedido aos apelos de Elena no exato instante em que ela começou a tagarelar sobre a viagem e foi me seguindo, primeiro até o quarto em que estava ocupando e, depois até o meu quarto.

— Elena, por favor, fique quietinha!

— Mas eu tenho que falar tudo o que eu vi nos últimos dias! Quantos dias foram?

— Dez.

— Foram os melhores dez dias da minha vida todinha! Eu fiz tanta coisa!! E acho que nunca andei tanto também!!! – Ela falava e ia pulando perto de mim.

— Hei, baixinha, não fique correndo dentro do banheiro, é perigoso.

— Tudo bem... – Ela falou e saiu correndo para o quarto, e eu só escutei o exato instante em que ela se jogou na minha cama.

— Elena!! Você ainda não tomou banho, nada de se jogar na minha cama.

E em um átimo, ela estava de volta ao meu lado, falando sem parar.

Graças aos céus, a banheira encheu o suficiente para que ela pudesse tomar banho.

— É para lavar a cabeça, tia?

— Sim, Elena. Está cheia de poeira e sujeira da estrada. – Mal fechei a boca e ela mergulhou no meio da espuma. – Mas não é assim que se lava um cabelo....

Demorou um pouco, e consegui acalmar a ferinha, e, à medida em que a água quente ia relaxando os seus músculos, o falatório foi diminuindo, diminuindo até que ela parou de falar.

— Elena? – Tive que chamá-la, uma vez que estava desembaraçando os seus cabelos.

— Tô com sono...

— Aguente um pouquinho que você ainda tem que se secar e eu preciso secar o seu cabelo.

Com os olhos mais fechados do que abertos, Elena saiu de dentro da banheira e me deixou enxugá-la. E, enquanto eu secava seu cabelo, acabou por cochilar sentada na bancada.

Saí do banheiro com ela já ressonando em meus braços.

— Finalmente desligou! Estava escutando as histórias que ela repetia igual a um papagaio... – Alex falou ao pegá-la em meus braços e seguir para o quarto dela.

— Hoje ela estava demais... porém, eu entendo. É a primeira grande viagem de carro que ela faz tão longe de casa. Tudo foi novidade. – Comentei.

Colocamos Elena na cama, acendemos o abajur da cabeceira e esperamos um pouco para ter certeza de que ela não iria acordar. Nossa sobrinha nem se mexeu.

— Vai dormir a noite inteira... – Alex comentou baixinho enquanto encostava a porta.

— E eu espero encarecidamente que ela não acorde com o nascer do sol e venha pular na nossa cama.

Antes de seguir para o quarto, para enfim descansar, ainda dei aquela conferida em Liv e avisei para Tuomas que não era para que ele passasse a noite jogando online.

Já passava da meia-noite quando me joguei no colchão.

— Espere por mim. – Alex pediu antes de seguir para o banho.

— Pode deixar. – Respondi em meio a um bocejo e me ajeitando na cama.

Tentei me manter acordada, mas o conforto da cama foi falando mais alto até que sucumbi... Alex me entenderia, eu sei que sim.

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Por incrível que pareça, Elena não acordou com o céu como ela sempre gosta de dizer, nosso domingo começou tarde e, com a ajuda de todos, consegui colocar todas as roupas para lavar e arrumar o que precisava.

Dona Amélia nos convidou para jantar em sua casa, dizendo que estava começando com as despedidas de seus netos emprestados, afinal, voaríamos para Londres dentro de 13 dias, em uma quinta-feira, com o intuito de estarmos bem descansados para o fim de semana em Silverstone.

A conversa do jantar foi dividida em duas frentes, a viagem e as fotos que tiramos e o noivado surpresa de Will e Pepper.

— Meus dois filhos noivos... – dona Amelia suspirou. – Achei que não viveria para ver isso.

Meu sogro também estava feliz, à maneira dele. Para o Senhor Pierce o importante era que as duas noras, além de se darem bem, eram pessoas sem frescura.

Pepper ficou vermelhinha, eu não estava muito diferente, já que podia sentir minhas bochechas queimando.

Já minha sogra só tinha um pedido a fazer, que o noivado fosse propriamente anunciado à família.

— Como o Alex fez? – Questionou Will.

— Sim, pelo menos com a presença de seus avós e com a família de Pepper.

Pepper olhou para Will e depois para todos os presentes.

— Vocês têm certeza? Da última vez em que reunimos as famílias não deu muito certo...

— Mais cedo ou mais tarde as famílias terão que se reunir, Pepper. – Dona Amélia foi direta, e ela estava certa. – Agora só quero saber de uma coisa, quem vai se casar primeiro? – E aqui ela olhou para os dois filhos e depois para Pepper e então pousou seu olhar em mim.

Ninguém respondeu. Esse era o mistério que agora perturbaria a minha sogra até que alguém desse a notícia de que havia marcado a data.

Como eu ainda tinha, na teoria, mais duas semanas de férias, passei os dias logo após o retorno de nossa viagem no Rancho, Dona Laura e o Sr. David tinham vindo para Los Angeles passarem uns dias e, como a avó de Alex parecia ter um fascínio e um plano para transformar minhas sobrinhas em verdadeiras campeãs olímpicas, passamos bons dias embaixo do sol e junto dos cavalos.

Olivia tinha evoluído muito com Athena, depois que eu terminei a doma da égua e até mesmo ensinei o básico dos comandos do hipismo a ela, sendo que minha sobrinha só teve o trabalho de desenvolver a confiança devida para que pudesse saltar com a Quarto de Milha do mesmo modo como confiava em Lady Sif.

E, Liv não decepcionou ninguém. Com poucos dias, ela já montava na égua bege dourada como se a conhecesse há anos, e iniciou o treinamento.

Dona Laura, assim como Dona Amelia, davam os devidos conselhos e ensinamentos para minha sobrinha mais velha, chegando ao ponto de elas demonstrarem certos movimentos e até mesmo a postura com a qual Liv deveria estar sob a cela quando fosse executar um salto.

Elena, que também já tinha domado sua pônei, observava tudo atentamente e tentava copiar a irmã mais velha. Em alguns casos conseguia, e outros, não, mas a Baixinha não desistia e voltava a tentar o movimento.

A evolução de Olivia chamou a atenção de muitos presentes que vinham ao Rancho para poderem treinar e, os domadores e demais treinadores que aqui trabalhavam, comentavam o talento natural da Loira Aguada, assim como o de Elena.

Uma certa tarde, fiquei sabendo que há uma certa competição entre os treinadores para saberem quem tem o melhor aluno ou aluna e, entre eles, marcavam um mini torneio de hipismo.

O convite era feito a todos que usavam as áreas de treinamento e, claro, Elena e Olívia pediram, imploraram para participarem.

De início, fiquei um tanto receosa e acabei por pedir a opinião de Tanya e Ian sobre se as duas poderiam ou não participar.

Os dois foram rápidos e confiantes ao dizer que sim.

— Mas e se elas perderem... – Foi a minha reposta. – Como eu vou explicar para Elena...

— Kat. – Meu irmão me cortou. – Não se ganha sempre, assim como não se perde para sempre. Se minhas filhas ganharem esse torneio, eu ficarei mais feliz do que elas, agora, se perderem, é uma lição e tanto. Muitos têm falado do talento delas, mas sempre é bom por à prova que nem sempre somente a opinião alheia é importante. E, se elas perderem, que isso vire um incentivo para continuarem a treinar mais e mais, caso queiram chegar a algum lugar...

— Então eu posso deixá-las competir?

 - Claro! E me mande fotos e vídeos. Gostaria de estar por aí, mas creio que a presença da mãe mais atrapalha do que ajuda.

— Tudo bem, Tanya. Sabe que não vai faltar fotos e vídeos, ainda mais com a presença de quase toda família Pierce. – Confirmei

E, enquanto as meninas se dedicavam com afinco ao hipismo, empolgadas com o torneio que chegava, Tuomas desbravava as trilhas da fazenda em cima da moto. Acompanhei, tanto ele quanto Alex alguns dias, achei a trilha mais desafiadora do que a que tínhamos na Finlândia, além de ser bem mais longa e cheia de obstáculos feitos pela mãe natureza. Ao final do dia, eu estava exausta e coberta de poeira.

— Acabei de me lembrar o motivo de só gostar de andar de moto no inverno. – Murmurei para Alex assim que vi um vislumbre de minha aparência na parede de vidro lateral da casa.

— E esse seria? – O avoado ainda não tinha se dado conta da minha aparência, quem dirá da dele que não estava muito diferente da minha.

— O excesso de poeira. Eu estou coberta de poeira dos pés até o último fio de cabelo da minha cabeça!

— Mas você está de capacete, não deve estar tão ruim assim. – Alex comentou.

Ao chegar na garagem, somente para contradizer o meu noivo, tirei o capacete, de onde choveu poeira e mostrei a cor de meu cabelo.

Estava vermelho. Eu agora era ruiva.

— O que você estava falando mesmo, Alexander? – Questionei assim que ele cruzou o meu caminho e quase deu um pulo ao ver a minha aparência.

— Que você não fica bem de cabelo vermelho. Nem um pouco. – Fez uma careta e foi limpar a moto.

Eu não sabia quem estava mais sujo, eu ou a minha moto.

Ainda tentando tirar um pouco da poeira da minha roupa, fui limpar a moto.

Foi uma ótima ideia para o veículo, já para a minha pessoa... melhor esquecer e partir para um banho.

Da varanda da casa pude ver a área de treinamento de hipismo, e me surpreendi ao ver que Olivia já saltava com Athena os obstáculos mais difíceis.

— Eu te falei que ela ia longe, Kat... Era só questão de dar o incentivo certo. – Minha sogra saiu não sei de onde me assustando. – Desculpe.

— Tudo bem. Estava distraída mesmo.

— Distraída com?

— Se é realmente uma boa ideia deixar as duas participarem desse torneio.

— Elas já participaram de alguma competição assim?

— Não. Nunca. Sei que são extremamente competitivas, e isso me põe receosa quanto a uma eventual derrota.

— Mas e se elas ganharem?

— Dona Amelia, com todo respeito ao seu trabalho como treinadora, creio que isso é bem impossível. Elena mais abraça Nuvem do que se dedica ao que lhe é ensinado, já Olivia, ela é uma excelente amazona, porém, forma um conjunto novo com Athena, ainda falta aquela confiança que é conquistada aos poucos. Ela não montou Athena nem por um mês ainda.

— Não confia no trabalho que você fez com a égua nos últimos quatro meses?

— Adestrar e amansar é uma coisa. Transformar em uma égua de hipismo, é outra completamente diferente...

— Bem, você pode não estar confiando muito que virá um bom resultado, mas eu acho que virá, às vezes, é com muita pressão que um diamante é lapidado.

Eu até concordava com a frase, contudo, não achava que valia à pena para minhas sobrinhas, não ainda...

— E você? – Minha sogra mudou de assunto. – Não vai entrar na brincadeira?

— Não mesmo.

— Pepper vai vir só para os três tambores... Por que não tenta o hipismo para adultos? Estamos dividindo por idades...

Encarei minha sogra.

— Melhor não...

— Bem... seu nome está na lista, caso queira participar, sele e desça com Hall. Vamos ver como você se sai sob a pressão de ter que ser perfeita. – Dona Amelia comentou e, depois de me dar um tapinha no ombro, desceu para treinar minhas sobrinhas.

Balancei negativamente a minha cabeça e, depois de tirar as botas que estavam enlameadas e deixá-las na escada, para não sujar a casa, corri para o banho. Todavia, a ideia de Dona Amelia ficava voltando para minha mente.

Será que doeria muito competir e perder?

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Os dias passaram de forma distinta, alguns momentos eu podia jurar que os minutos estavam demorando mais do que o normal e, em outros, bastava um piscar de olhos e meu dia tinha acabado.

Na quarta cedo, aconteceu o torneio. Várias meninas de diferentes idades e evolução no esporte chegaram ao Rancho, cada uma ostentando diferentes uniformes, expressões e cavalos das mais diferentes raças.

Enquanto era decidido o chaveamento das competidoras, observei que algumas meninas só estavam ali porque hipismo é considerado esporte da elite, e que outras queriam ganhar esse troféu de qualquer forma e acabavam por criar intrigas entre as demais, comentando desde a vestimenta da outra competidora até como a trança do cavalo estava malfeita.

Eu tinha decidido que participaria do torneio na última hora, depois de ajudar Olivia a se arrumar e a selar e preparar Athena e de ter feito todo o possível para Elena estivesse apresentável na sua volta pela pista.

Vendo as duas animadas e prontas, me bateu uma vontade de também voar pela pista montada em Hall.

— Pode, por favor, tomar conta das duas enquanto eu vou ali no quarto rapidinho? – Perguntei para Alex.

— Esqueceu de algo para elas? – Ele me questionou.

— Não. Tudo o que elas vão precisar está ali. Eu vou me arrumar, porque quero participar também.

Alex levantou uma sobrancelha assustado com a minha súbita decisão, depois abriu um sorriso.

— Vai lá. Eu fico de olho nelas.

Saí em disparada para a casa, onde me troquei, colocando a típica roupa de uma amazona, calça legging preta, bota de cano alto, camisa polo, prendi meu cabelo em um coque baixo e depois de muito procurar, achei meu capacete.

Voltei correndo para o estábulo, onde, dei uma rápida escova em Prince Hall e depois o selei.

— Prometo que depois trato de você com mais paciência, agora temos um torneio para ganhar... – Murmurei para meu cavalo enquanto o puxava pela rédea até o redondel onde amansei Athena, ali seria a apresentação dos competidores e, também definido o chaveamento.

 Cheguei no instante exato quando Dona Amelia dava as boas-vindas a todos os competidores e fiquei parada atrás de Alex, sem chamar atenção, até que Olivia me viu.

— Não acredito!!

— Fale baixo. – Pedi.

— Mas tia...

— Olivia...

— A senhora sabe que vai ter a pontuação geral, não sabe? Seremos divididos em categorias por idade, mas dos 12 anos em diante, estamos todos competindo pelo mesmo prêmio geral...

— Não sabia. Mas é exatamente isso que Dona Amelia está explicando agora.

Minha sogra deu todos os avisos e depois passou a fazer a chamada dos inscritos. Começando pelas crianças.

E um por um foi confirmando a sua presença.

Não eram muitos os inscritos, porém, ficaríamos aqui por todo o dia.

A primeira da família a competir foi Elena. A categoria infantil não tinha colocação, todos ganhariam no final, até porque o importante era desenvolver o gosto pelo esporte e não a rivalidade.

Todas as crianças foram aplaudidas por seus familiares e amigos, e, na vez de Elena, éramos oito gravando cada pedacinho da apresentação dela, estávamos espalhados ao longo da cerca que delimita a pista e não perdemos nenhum ângulo.

Quando ela passou pelo último obstáculo, batemos palmas e assobiamos alto, deixando a Baixinha toda sem graça.

— Parabéns, Leninha! Você foi muito bem! – Comemorei com ela, abraçando-a forte.

E bastou a palavra certa e ela disparou a comentar a própria volta. Com pouco, Tanya e Ian, que já tinham recebido os vídeos, nos chamaram pelo vídeo, querendo conversar com a melhor amazona da casa.

A última competição da manhã foi a que Olivia fazia parte. E essa era a que tinha o maior número de inscritas, inclusive as garotas mais frescas, que Pepper nomeou de “As Meninas Malvadas”.

Vimos um por um dar a sua volta na pista, como o hipismo é o esporte mais democrático que existe, não tinha divisão entre feminino e masculino, todos competiam juntos. Alguns até tinham futuro, outros só faziam número.

Depois do que pareceu um ano, chamaram Olivia.

Onnea Pikkuinen! Tee Parhaasi![1]— Falei com ela depois de abraça-la.

Kiitos, täti[2].

Por incrível que pareça, todos deram boa sorte à Olivia em finlandês e, depois nos espalhamos pelo cercado para gravar cada trecho de sua volta, assim como fizemos com Elena.

Ao ser chamada, Olivia entrou com Athena na pista, parou na linha que delimitava o início do percurso e, depois de respirar fundo, deu a volta de apresentação do conjunto, alinhando a égua já na direção do primeiro obstáculo.

Eu prendi a respiração por todo o trajeto, torcendo em silêncio para não assustar Athena e causar um acidente, e Olivia não decepcionou. Escolheu os obstáculos de nível médio a difícil, dando uma aula de montaria e controle com a quarto de milha, e, a impressão que dava era que minha sobrinha montava Athena há anos e não há apenas algumas semanas.

A volta foi encerrada com Olivia escolhendo o obstáculo mais alto e com o maior nível de dificuldade. Como ela estava do lado oposto onde eu me encontrava, desliguei a câmera e apenas agarrei a cerca com mais força e só soltei quando as quatro patas de Athena estavam firmes no solo e Olivia sorria discretamente, sabendo, internamente, que tinha sido perfeita.

Corri para a área onde ela sairia e, minha sobrinha nem tinha tirado o primeiro pé do estribo, e já estava cercada por toda a família. Dona Laura era a mais empolgada com o que tinha visto.

Os demais competidores da categoria de Olivia se apresentaram e foi dado o intervalo do almoço, assim como para reparar a pista.

Claro que no entorno da mesa não se falou outra coisa a não ser as voltas de Liv e Leninha, e as duas foram muito paparicadas por todos.

Só tínhamos uma hora para almoçar e descer, já que Pepper era quem abriria os trabalhos da parte da tarde, nos três tambores com Cookie.

— Vou provar para vocês que o cavalo não precisa de ter nome chique para ser campeão.

— Claro que não! No seu caso precisa ser rápido como uma bala e Cookie com certeza é.

Descemos conversando e animando Pepper, que teria que esperar um pouquinho até que fosse a sua vez.

Enquanto ela esperava, a competição de salto continuava com os adolescentes.

— Vai demorar para chegar na terceira idade, né? – Will debochou de mim e eu me dei o luxo de lhe dar um tapa. - Nossa, a velhinha bate forte!

Escolhemos nossos lugares na arquibancada para ver Pepper, como era tudo muito rápido, somente uma boa câmera seria necessária para gravar e, como a competidora era noiva de um diretor de Hollywood, pegar o melhor ângulo e lugar para gravação não era problema.

— Toda essa tensão para poucos segundos de prova... – Liv murmurou nervosa.

E, enfim, Pepper foi anunciada. Enfileirou Cookie, deu um tapinha no pescoço dele e, assim que foi autorizado, ela voou, literalmente, pela pista e fez as três voltas com tanta perfeição que foi impossível até de piscar, ou era bem provável que perdesse algum movimento.

Se no salto é solicitado que a plateia fique calma e composta para não atrapalhar a concentração do conjunto, nas três balizas tal regra, se existe, é ignorada por todos que assistem à prova, inclusive por nós que não só aplaudimos, como batemos palmas, gritamos e ainda assoviamos bem alto em comemoração à excelente volta que minha cunhada tinha feito.

Os resultados das provas só seriam liberados no final do dia, para que todos prestigiassem todas as modalidades. E, enquanto eu esperava a minha vez de ir para a pista saltar, assistimos outras provas, jogamos conversa fora e até mesmo ajudamos a organizar tudo.

Mais para o final da tarde, os competidores acima dos 30 anos foram chamados para ocuparem seus lugares na fila para apresentação. Corri para o local onde Prince Hall tinha que ficar, junto com os demais cavalos de quem fosse competir e assumi o meu lugar, esperando de pé, ao lado do meu Puro Sangue Inglês.

Não observei nenhuma volta e tentei ignorar os comentários e aplausos que vinham das arquibancadas, nada disso importava.

Já estava batendo os pés de nervoso na areia, quando finalmente anunciaram o nome do conjunto que eu fazia parte.

Montei em Hall depois de acariciá-lo e, pedi que ele desse o seu melhor. Entrei  na pista focada no percurso que iria fazer e não em quem estava me vendo, dei a volta de apresentação e logo já fui direcionando Hall para o primeiro obstáculo, um de nível difícil.

Eu não tinha a gana de ganhar, queria somente participar do evento, relaxar por mais uns poucos minutos antes de ter que voltar para a minha rotina de escritório, porém, eu queria também testar como eu era no salto, como os anos que eu me dediquei ao esporte moldaram a amazona que eu era. E, também queria que Hall pudesse fazer o que ele foi treinado para fazer, por isso escolhi os obstáculos mais difíceis, não para me exibir, mas para forçar o meu cavalo ao máximo, levá-lo ao limite e testar o quão bom ele era.

Minha volta vinha sendo perfeita até então, sem nenhum erro ou falta cometida. Hall foi perfeito ao passar pelos obstáculos conjugados e seus saltos eram tão altos e longos que eu não precisava fazer quase nada na sela.

Apontei para o último obstáculo, o mesmo que Liv escolhera para saltar com Athena encerrando a sua volta.

Instei meu cavalo a ir mais rápido e, no momento certo, equilibrei-me somente nos estribos, ficando agachada sobre a sela e dei o comando para o salto.

Senti meu cavalo fazer o esforço para saltar, senti o calor do ar parado bater em meu rosto como se fosse o jato de um secador de cabelos, parecia que eu voava de encontro a um forno aberto e, mais rápido do que eu poderia notar, Hall se esticou todo sobre o obstáculo triplo e depois começou a aterrissar do outro lado, tocando o solo da pista com as patas dianteiras e já se impulsionando para frente antes que última pata chegasse à areia.

O salto fora perfeito.

Feliz com o desempenho de Hall, abri um sorriso e comecei a acariciar a sua crina, dando pequenos tapinhas em seu pescoço e falando baixinho perto de seu ouvido que ele era o melhor cavalo saltador do mundo! E foi somente quando levantei a minha cabeça para agradecer aos presentes que notei algumas pessoas de pé, batendo palmas e, vi também minha família que já convergia na direção da saída da pista, com os celulares em mãos, um mostrando para o outro algo que ele não tinha percebido durante a minha volta, mas a câmera sim.

Eu nem cheguei a desmontar, pois as mãos de Alex agarraram minha cintura e me tiraram de cima da sela antes mesmo que Hall parasse totalmente.

— TIA! Que volta foi aquela? – Liv veio correndo e gritando. – O QUE FOI AQUILO?? Hall simplesmente desfilou pela pista sem nem se abalar pelos obstáculos mais complicados!!

E, depois dela, vieram Will, Pepper, Dona Laura e até mesmo o meu sogro, todos falando da minha volta e de como o conjunto foi, até o presente momento, o mais afinado no quesito confiança.

Dei todo o crédito do mundo ao meu cavalo, pois ele havia feito a parte brutal do exercício e logo Dona Laura me desmentiu, dizendo que o cavalo faz aquilo que a amazona manda, então o crédito era meu. Todos balançaram positivamente a cabeça, concordando com o que ela havia falado e, sendo minoria, fingi que concordei.

Com todos da família tendo participado do torneio, caminhamos até uma área que estava um pouco mais calma e ali nos sentamos. Conversamos, comentamos sobre um ou outro competidor que se destacava dos demais e, nesse meio tempo, Dona Laura ia mostrando na prática para minhas sobrinhas, quais erros elas deveriam evitar quando estivessem montando.

Às 17:00 em ponto o último competidor encerrou a sua volta e todos foram convidados para acompanhar as premiações.

Todas as crianças foram premiadas como se cada uma tivesse sido extraordinária, o que, dada a idade, haviam sido sim. Na vez de Elena, batemos palmas, assobiamos e gritamos o nome da Pequena, que desceu os degraus vermelhinha, mas já nos agradecendo e abraçando um por um, só porque todos estavam ali.

A primeira categoria que teria o seu vencedor anunciado era a de Liv, e antes mesmo de mostrar o envelope que tinha o nome do vencedor ou vencedora, Dona Amélia avisou:

— E, mais uma vez tenho que lembrar a todos que quem dá a nota são pessoas de fora do Rancho e que trabalham na área, assim, eles não conhecem ninguém e o máximo que viram das pessoas aqui presentes foram as apresentações.

Com o fim do aviso, o um envelope lhe foi entregue, Dona Amelia não fez suspense para anunciar o ganhador.

— Olivia Nieminen montando Athena! – Ela disse com um sorriso no rosto.

Liv ficou em choque por alguns minutos e depois, muito encabulada, subiu no palco para receber o troféu e a medalha.

Ela poderia até estar envergonhada, mas nós não. E, da mesma forma que vibramos e gritamos por Elena, fizemos com ela e, assim que minha sobrinha parou perto de nós, disse:

— Tudo bem, já podem parar, todos já estão olhando. – Murmurou e me abraçou para se esconder do restante das pessoas.

As demais categorias foram sendo chamadas e, quando foi a vez da Prova dos Três tambores, já estávamos preparando a garganta para gritar por Pepper.

— Contenham-se, por favor. – Pepper nos pediu. – Vocês viram a qualidade dos outros conjuntos.

— Vimos o seu. E é isso o que importa. – Will falou e a abraçou pelos ombros.

 Estávamos quase gritando o nome dela antes do anúncio oficial, mas bastou uma olhada atravessada de Dona Amelia que ficamos quietos.

Não podíamos gritar, contudo nada nos impedia de bater os pés em claro sinal de nervosismo.

E, toda a ansiedade valeu a pena quando o nome Rebecca Robinson foi anunciado.

— Isso está virando nepotismo... – Will começou a rir. – Se a Kat ganhar, todos saberão que foi comprado.

Ovacionamos Pepper tão alto quanto antes e logo em seguida a premiação continuou.

E, na vez da minha categoria...

— Fala sério! Como não foi a tia? – Liv estava revoltada.

— Olivia... – Alertei à revoltada adolescente.

— Sua volta foi melhor do que a minha! A senhora é uma amazona melhor do que eu.

— Olivia, não é tão difícil de se aceitar que tem gente melhor do que você no mundo e, para você reclamar, primeiro, teria que ter assistido a todas as apresentações, você fez isso?

— Não...

— E juíza de provas de salto?

— Não, mas...

— Mas nada, você não pode falar de algo que não acompanhou e não que entende à exaustão. Você ganhou, estamos felizes com isso. Pronto e acabou.

— Ainda acho injusto. – Liv murmurou na minha frente e foi acabar de tratar Athena.

— Ela está certa. – Alex falou.

Dei um pisão no pé dele.

— Isso se chama esporte. E nem estava valendo nada. – Comentei.

— Mas você...

— Eu entrei para me divertir. Fiz isso. Como pode eu ter aceitado o resultado e vocês não? – Explodi.

— Porque você não viu a sua volta... – Pepper que tratava de Cookie se meteu na conversa.

Foi só uma volta!

— E se fosse um contrato...

— Eu não perco um contrato, Alexander.  E não misture as coisas. Trabalho é trabalho e diversão é diversão. – Falei e depois de me certificar que Hall estava bem tratado e tinha o que precisava para a noite, fechei a baia e deixei os três inconformados chorando a minha derrota no estábulo.

Estava nos degraus da varanda quando veio a minha sogra.

— Foi um bom dia, não foi, minha querida?

— Com certeza, Dona Amelia. E eu posso dizer que adorei cada momento. – Fui sincera.

—  Nunca vi alguém aceitar uma derrota assim, tão tranquila.

— Não foi derrota. Não entrei para ganhar, entrei para me testar. Fui bem, eu e Hall somos uma ótima dupla de amadores que de vez em quando cisma de querer competir com os grandes.

Minha sogra me deu um sorriso e depois fomos juntas para dentro de casa, ainda conversando sobre o dia.

À mesa do jantar trocamos o assunto porque os revoltados do resultado ainda estavam com vontade de reclamar, e, assim, falamos da última semana de férias dos europeus pelas terras dos Estados Unidos.

Depois de duas semanas rodando pelo país, resolvemos que era uma boa hora de voltar para a praia e não fazer nada. Seria uma boa forma de fechar as férias aqui e, depois, arrumar tudo para voltarmos para a Inglaterra, à tempo do Grande Prêmio.

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A segunda ainda foi gasta ainda no Rancho, com Dona Laura querendo dar mais algumas aulas para as meninas.

Na parte da tarde, fomos para a piscina da casa, bem, meus sobrinhos aproveitaram a piscina, eu fiquei sentada na sombra, à toa, vendo o jogo que o pessoal estava inventando.

Mais ou menos no meio da tarde, o telefone de Alex começou a tocar de forma insistente e ele, pedindo licença, foi atender dentro de casa.

Ninguém ligou muito e voltamos a conversar. Era um olho na conversa com Pepper e Dona Laura e outro em Elena que estava dentro da piscina.

Nem notei quando Alex voltou, só me dei conta de que ele havia voltado quando ele pulou na piscina como se fosse uma bola de demolição e molhou todo mundo que estava perto, o que arrancou reclamações de todos.

Pelo restante da semana estabelecemos uma rotina típica de férias, sem hora para levantar, com café da manhã tardio na Dottie e depois praia.

Alex era o único que acordava antes do sol raiar para poder ir para a praia surfar, e lá ele nos esperava para tomar café.

E, era até engraçado, era ele sair de manhã e Elena se esgueirar para minha cama, se deitando no lugar dele.

Na parte da tarde, Alex escolhia outra praia para irmos, tudo para evitar que fotos fossem tiradas e lá gastávamos todo o tempo dentro d’água. Tentei inúmeras vezes voltar a surfar. Cai algumas vezes, seja de forma estabanada, seja por pura falta de prática no esporte, mas pela primeira vez pude, enfim, chegar até a praia em cima da prancha e ainda tentar uma manobra, mesmo que desengonçada.

Tuomas foi melhor do que eu, mas ele também gastou todos os minutos dessas tardes dentro d’água. Liv tentou, tentou, e acabou desistindo, falando que surf não era para ela.

Já Elena, bem, ela divertiu bastante e chegou a ficar de pé na minha prancha e, enquanto ela se segurava em mim, fui guiando-a sobre uma onda um pouco maior até a praia.

Nosso último dia em solo americano foi encerrado com um jantar em nossa casa, para que meus sobrinhos se despedissem da família de Alex, como estava fazendo um calor absurdo na cidade, jantamos no jardim dos fundos e por lá ficamos até tarde, jogando jogos de tabuleiro e, também, UNO, o que, é claro, resultou em discussão, principalmente entre Olivia e Tuomas.

Dona Amelia ao se despedir de meus sobrinhos pediu que eles voltassem mais vezes para passar mais tempo, dizendo que 30 dias era muito pouco.

Claro que eu agradeci a ajuda de minha sogra nesse período e o fato de que ela recebeu o três tão bem no rancho.

— Como eu te disse, Kat, são meus netos também. E, prefiro a casa cheia de vida, com criança correndo, falação e até mesmo irmãos se bicando. – Ao dizer isso olhou para Tuomas e Liv que ainda discutiam o jogo.

— Mesmo assim agradeço.

— Bem, se quiser me agradecer de verdade, porque não conversa com sua família e todos podem vir passar o Natal e o Ano-Novo por aqui... podemos fazer disso uma tradição. Um ano na Finlândia, outro aqui... – Jogou a isca.

— É uma boa ideia. Vou conversar com o pessoal. A senhora tem certeza de que não quer para Londres?

— Não... Vocês já têm uma programação certa. Vou descansar nessa semana e aproveitar que meu marido está em casa e passar o feriado de 4 Julho sem fazer nada.

— Tudo bem. Mas se mudar de ideia, é só falar. – Garanti.

Na quinta-feira estávamos voltando para Londres, depois de 30 dias em solo americano, tenho certeza de que os três visitantes iriam estranhar e muito o clima da Inglaterra.

 

[1] Boa sorte, Pequena. Dê o seu melhor.

[2] Obrigada, tia.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso! Mesmo que um capítulo tão grande, espero que tenham gostado!
Agradeço quem ainda acompanha essa história!
E até o próximo!
xoxo



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