Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 124
A férias Parte II - A Viagem


Notas iniciais do capítulo

Voltei neste finzinho de feriado com um capítulo maior.
Espero que gostem.
Boa leitura.



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Se o final de semana foi de praia e bagunça, a segunda me esperava como um predador à espreita de sua caça. Fiquei somente uma semana afastada do escritório e parecia que se passaram anos. E olha que tudo o que era extremamente importante, Milena me enviou e eu analisei de Londres e, mesmo assim, o acúmulo de serviço era de me fazer querer sair correndo.

Minha intenção inicial era chegar bem cedo ao prédio e trabalhar enquanto ninguém ainda tinha aparecido. Só que não consegui fazer isso, pelo motivo mais banal de todos: café da manhã.

Depois de ter sido acordada por Elena e sua disposição ímpar para fazer bagunça antes que o sol nascesse, fui cercada por Tuomas e Olívia que clamavam um ponto em comum: panquecas.

Com Alex ainda se trocando e Elena correndo atrás dos cachorros no quintal dos fundos, eu tentei de todas as formas persuadir a dupla a tomar café em casa. Estava quase conseguindo o meu intento, quando o meu próprio noivo desceu as escadas já dizendo em alto e bom som:

— Quem vai comer panquecas na Dottie comigo?

Não precisava falar mais nada, Olívia levantou a mão, Tuomas disse estar faminto (quando ele não estava?) e Elena, que eu não sei como tinha ouvido o comentário, mesmo estando quase do outro lado da casa, veio correndo dizendo que “a Tia Dottie era a melhor cozinheira de panquecas que ela conhecia”.

Na mesma hora eu olhei para o meu relógio e vi que meus planos tinham naufragado de vez.

— E você, Loira, não se preocupa eu te deixo no escritório…. Assim tenho a certeza de que você vem cedo para casa, porque vamos te buscar. - Ele olhou direto para a Elena e eu entendi o recado, ele a soltaria no meu andar e a deixaria fazer o que bem entendesse, como forma de me persuadir a sair mais cedo.

— Continue jogando sujo assim, Alexander, que você não faz ideia do que eu posso fazer com você. – Ameacei-o.

— Enquanto seus sobrinhos estiverem aqui, eu estou em segurança. – Ele riu e ainda me roubou um beijo, só porque eu fiz um beicinho.

E entre ajudar Elena a se arrumar e todo mundo estar dentro do carro, já eram quase oito da manhã.

Ao chegarmos no restaurante, a primeira coisa que fizemos foi procurar por algum urubu, ou como a imprensa os chama, paparazzo. Não vi nenhum e, em relativa privacidade, entramos. Dottie ficou surpresa por um tempo, mas logo veio nos xingar, porque tínhamos sumido.

— Ossos do ofício, Dottie. – Alex falou sem entrar em detalhes e a mulher entendeu na hora.

— Bem, o importante é que estão aqui e que trouxeram uma parte da família europeia com vocês! Sentem-se onde quiserem, já venho com as bebidas de vocês.

Dottie foi para a cozinha no instante exato em que a porta se abria e por ela passaram meus sogros, que ficaram mais surpresos de nos ver ali do que a dona do lugar.

— Não esperava vê-los tão cedo por aqui! – Disse Dona Amelia.

— Não foi nada planejado. – Comecei a explicar.

— É claro que não, mas deveria ser previsível, afinal, tem gente nessa turma que está sempre com fome, não é verdade? – Ela disse e foi logo olhando para Alex e Tuomas.

— Bem... vendo por este ângulo. – Tive que conter a risada.

Fomos andando até uma mesa mais ao fundo, onde estaríamos protegidos de qualquer curioso e, ao mesmo tempo, conversando sobre os planos para o dia e a semana.

— Hoje a tia vai trabalhar. – Disse Elena assim que se ajeitou entre mim e minha sogra no banco. – Não sei o porquê de ela ter que trabalhar tanto... – Deu de ombros.

— Para poder levar a senhorita para passear por um mês. – Respondi.

— E o que eles vão ficar fazendo hoje? – Perguntou minha sogra ao olhar para meus sobrinhos.

— Bem... eu não vou passar o dia inteiro no escritório...

— Mas vai passar boa parte...

— Nessa semana preciso. Semana que vem fico em casa de plantão e depois teremos três semanas sem expediente... Férias de verão para todos.

— Poderia levar essa aqui para passear por hoje... – Dona Amelia deu um beijo no alto da cabeça de Elena que, depois de ficar encabulada, respondeu com um abraço.

— A senhora tem certeza?

— Ela não vai me dar trabalho... e qualquer coisa, ela tem destino certo.

— A fazenda?

Elena prestava atenção em nossa conversa com os olhinhos brilhando, porque mencionar a fazenda significava uma coisa:

— Eu vou poder montar Nuvem?

Dona Amelia só me sorriu como quem dissesse: “Eu ainda sei entreter uma criança, Katerina”.

Depois de comermos um caminhão de açúcar, nos despedimos na porta do restaurante, Elena já no colo de meu sogro, fazendo mil e planos sobre encontrar a sua pônei e falando que depois ia montar em Perigo. Dona Amelia ainda tentou convencer Olivia a ir com eles, mas ela se manteve firme na decisão de ficar ao meu lado. E, enquanto isso, Alex e Tuomas conferiam um aplicativo no celular que indicava onde estariam as melhores ondas do dia. Ao que parece, eles passariam mais um dia surfando.

— Entrego a Baixinha à noite e espero que tenha sobremesa diferente no jantar! – Meu sogro falou ao se despedir.

Eu ainda não estava muito certa quanto a este arranjo, contudo, tive que aceitar e, depois de ser obrigada a escutar sobre praia, pranchas, ondas e ventos por todo o caminho, cheguei ao escritório, tendo Olivia como companhia, mas não uma muito agradável.

— Ainda bem que eu não sou a senhora, olha a pilha de serviço que tem aqui! – Ela fez questão de fazer uma careta para todo o trabalho acumulado em minha sala.

— Não fique muito feliz, Amanda está de férias, então você será a estagiária de Milena. Prepare-se para andar. – Alfinetei de volta e me pus a trabalhar.

Liv ficou um tempo borboletando pela minha sala e, ao ver que ainda não tinha nada para fazer, pegou um livro e começou a ler. Alguns minutos depois, Milena chegou e, depois de dizer que não estava nada feliz em ter a chefe de volta, disse que me perdoava por ter voltado já que tinha trazido uma estagiária temporária para ela.

E, com Milena resolvendo pequenos problemas, Olivia sendo a nossa garota de recados e pernas, que iam de cima para baixo, e eu concentrada no que tinha de urgente e não urgente o dia passou voando.

E, ao contrário do que me haviam prometido, minha carona não chegou cedo para me buscar, Alex só foi aparecer no prédio quase sete da noite.

— Esse é o seu cedo para amanhã, não? – Brinquei assim que entrei no carro.

— Esqueci da hora e então ficamos presos no trânsito.

— Compreensível. Mas não tem problema, assim pude adiantar boa parte do meu serviço...

Olivia entrava no banco de trás quando simplesmente parou e só soltou:

— Você foi cuspido pelo Kraken[1]? Tá todo ferrado!

Olhei para trás e vi meu sobrinho com o rosto e os braços arranhados.

— Não é nada. – Ele desdenhou da situação.

— Não é nada?! – Disse Olivia. – Você foi engolido, mastigado e cuspido pelo Kraken e depois rolou até a praia. Olha a sua situação. – Disse rindo.

Tuomas ficou calado, então tive que olhar para Alex.

— Ele caiu da prancha no meio de um tubo... a corrente o levou até a praia... só que tinha uns corais no caminho.

Fiz uma careta, deve ter ardido muito todos aqueles arranhões em contato com a água salgada.

— Pelo menos foi no final do tubo e eu não bebi água, ao contrário da tia que quase que acabou com a água do Pacífico enquanto surfava uma ondinha sem graça. – Meu sobrinho completou e, toda a piedade que eu sentia acerca de seu acidente foi embora, voando pela janela aberta do carro.

Achei que o assunto queda durante o surfe tinha morrido quando Olivia soltou:

— Uhm... tio, por acaso tem filmagem desse tombo também? Porque se tiver, temos que comparar quem foi o mais desengonçado na hora de cair, o Tuomas ou a tia.

Levei minha mão para o banco de trás e dei um beliscão na perna da tagarela.

— AI! Credo tia! É só brincadeira! Precisa disso não! – Ela dizia enquanto tentava tirar a perna do meu alcance.

— Tia, belisca mais... ainda tá falando muito. – Tuomas soltou e foi o início da troca de gentilezas no banco de trás.

— Tudo bem! Já deu! – Tive que falar ou os dois não iriam para nunca.

— Mas o tio ainda não respondeu. Tem ou não? – Insistiu Olivia.

Vi ele olhando pelo retrovisor, só para conferir a expressão de Tuomas e isso foi a resposta que a Tagarela tanto queria.

— Eu preciso ver isso. Com urgência. E depois vou colocar no grupo da família e deixar no fixado... todo mundo tem que ver isso.

 Olhei para Alex e balancei negativamente a cabeça.

— O que foi?

— Você acaba de criar um monstro.

— Não vai ser tão ruim assim... – Disse ele todo inocente.

— Não vai? Você não conhece o poder de perturbação que essa Loira Aguada tem e, saiba que ela não vai parar de falar na sua cabeça até que você entregue o que ela quer...

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O jantar foi um evento barulhento, Olivia não parava de rir da situação do irmão e, Elena, depois de passar o dia inteiro montada em Nuvem, descreveu cada segundo de seu dia sem parar, com tantos detalhes que, pela primeira vez, conseguiu ultrapassar a irmã mais velha no quesito falação.

Meus sogros adoravam cada comentário e cada segundo, já eu não estava mais aguentando as duas falarem sobre as mesmas coisas e estava um tanto preocupada com Tuomas e a sua situação.

— Não se preocupe com Tuomas. Amanhã ele veste o macacão de Neoprene e volta para dentro d’água como se o tombo de hoje nem tivesse acontecido. – Dona Amelia tentava me acalmar enquanto arrumávamos a cozinha.

— Tem certeza?

— Isso acontecia o tempo inteiro com William e Alexander. E não era motivo para nenhum dos dois pararem de surfar. Acredite em mim, Kat, ficar preocupada não vai te levar a lugar nenhum.

Agradeci com um menear de cabeça e voltei minha atenção para as vasilhas, ou o tanto dela que não estava ligada em Elena e sua correria desenfreada pelo quintal atrás de Stark.

— Como ela tem energia. – Murmurei quando a vi correndo em frente à janela. – Quisera eu ainda ter esse tanto para sobrevier à quantidade de serviço que ainda me espera no escritório.

Dona Amelia riu do meu comentário.

— Daqui a pouco encosta em alguém e dorme. Vai dormir até o sol raiar.

— Ela acorda antes do nascer do sol. Fez isso hoje. Por isso estou admirada por ela ainda estar acordada.

— É o ar da Califórnia... – Brincou minha sogra.

— Boa explicação.

Não muito tempo depois, meu telefone tocou e quem chamava era justamente Tanya, que como havia prometido, ligava todos os dias para conferir as crias.

— TIA! – Gritou Olivia vindo de dentro do meu escritório, onde ela tinha se enfiado para não me ajudar a arrumar a cozinha. – É a minha mãe, posso atender?

— Pode. – Respondi, já que ela já estava dentro da cozinha.

Escutei minha sobrinha cumprimentando Tanya depois trocando palavras rápidas com ela até que escutei minha cunhada xingando a filha por não estar me ajudando com a louça.

— Mas mãe... a tia...

— Nada disso, Olivia. Você tem que ajudar a sua tia, não está aí somente para passear. Lembre-se que Katerina ainda está trabalhando e está fazendo um favor de hospedar você e seus irmãos por todo um mês. Assim, é de muito bom tom ajudá-la sempre. Não foi assim que te criei.

Sem reposta para o que a mãe tinha tido, a Loira Aguada apenas ficou calada e tentou mudar de assunto, perguntando se a mãe queria conversar com alguém em específico.

— Quero notícias de meus filhos... – Disse Tanya ainda um tanto azeda.

Olivia passou a fazer um resumo do que ela havia feito hoje, contando que tinha me ajudado muito no escritório, enquanto os irmãos se divertiam.

— Divertiam? – Tanya questionou e a filha, feliz que a bronca agora recairia sobre os irmãos, deu detalhes, ou os que ela sabia de tudo o que fizeram... menos do tombo de Tuomas.

— Tudo bem, onde está o seu irmão?

— Na sala, com o tio e o vô...

Tanya não falou mais nada e a filha entendeu o recado. Com passos rápidos, ela levou o celular até o irmão e só falou...

— É a mamãe.

Na cozinha, respirei fundo... era questão de segundos até que minha cunhada visse o estado do filho, mesmo que depois de um bom banho e de termos passado uma pomada cicatrizante, alguns dos arranhões ainda eram bem visíveis, principalmente um no rosto.

— Tuomas!? – Foi tudo o que escutamos.

— Mãe, eu tô bem, só caí da prancha, mas não é nada. Isso aqui foi perto da areia, por isso tá vermelho. Não quebrei nada e já está tudo limpo e tratado, então não precisa surtar. – Tuomas cortou a mãe.

Não escutei muito da conversa, porque ele foi para o jardim, já querendo colocar a irmã mais nova para conversar com a mãe e tirá-la de cima de si com as milhares de perguntas que ela com certeza faria.

Com a cozinha arrumada, Dona Amelia e eu fomos nos sentar no sofá, e minha sogra falou algo que eu nunca tinha pensado:

— Todos dizem que as mães são todas iguais, só mudam de endereço... devo avisar que os filhos também, porque as desculpas de Tuomas foram as mesmas que, tanto o Alex, quanto o Will, já me deram um milhão de vezes.

Logo que ela falou isso, Tuomas voltou, coçando a nuca e, depois de desabar do meu lado, comentou:

— A mãe faltou pouco pular pela tela do celular só porque viu a minha cara... imagina se ela tivesse visto a perna. – Ele estendeu a perna direita que tinha um corte, nada profundo, mas que ia do joelho ao tornozelo. – Acho que ela morria. Fui esperto de só deixar ela ver o rosto.

Até era esperto da parte dele, só que ninguém contava que Elena fosse bancar a fofoqueira, que depois de contar o que fez durante o dia, comentou sobre o estado do irmão, acrescentando para o desespero dele:

— Mamãe... ele até chorou quando a tia passou a pomada nas costas dele... parecia o Cody quando eu soquei a cara dele.... Isso porque a senhora não...

— Alguém tira o celular da mão dela! – Olivia disse alarmada. – Ou é bem capaz de que a mamãe nos mande voltar para casa ainda hoje!

— Vai você... se eu aparecer perto daquilo ela vai falar ainda mais na minha cabeça. – Tuomas empurrou a irmã.

Não precisamos de nada disso, Elena, desastrada como só, encerrou a chamada quando cismou de virar a câmera para mostrar que todo mundo estava reunido na sala.

— Todo mundo de acordo que se ela ligar de novo, ninguém ouviu? – Perguntou meu sobrinho.

Claro que Tanya ligou novamente e eu tive que garantir a ela que tudo estava bem e que Elena tinha exagerado sobre o tombo do irmão. Uma mentirinha para acalmar o coração da mamãe ursa. Agora se ela acreditou ou não, eu só vou ficar sabendo quando encontrar com ela em um mês e, até lá, pelo bem de todos nós, espero que ela já tenha esquecido isso.

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As duas semanas de trabalho passaram mais rápido do que um piscar de olhos, se a primeira me consumiu muita energia entre assinaturas de contratos e reuniões de última hora, a segunda foi uma experiência nova, pois, trabalhando do Rancho e via videoconferência, eu só lidava com a burocracia de final expediente, sentada no escritório que tinha ganhado de meus sogros – um presente que Dona Amelia fez questão de me dar para que eu não precisasse sair correndo nas segundas de manhã de volta para Los Angeles. – sempre descalça e tendo a companhia, ora de Elena, ora de meus cachorros.

Quando as férias coletivas foram decretadas, em uma manhã de sexta-feira em que eu liberei todo mundo para curtir o final de semana, já que os números de nosso escritório estavam cada vez melhores, foi o momento de pensar em outra coisa.

A viagem que faríamos.

Pepper e Will viriam esta noite para passarem o final de semana e, se tudo desse certo, na segunda de madrugada sairíamos com destino ao Colorado, uma viagem de duas semanas, parando em alguns lugares famosos e outros nem tanto.

O final de semana foi uma repetição do que vinha sendo as duas últimas semanas, a diferença é que Dona Laura estava por aqui e, dando continuidade ao seu plano de transformar minhas sobrinhas em campeãs olímpicas, ficou com elas nas áreas de treino por quase todos os dias, o que arrancou de minha sogra uma enxurrada de reclamações, pois ela clamava que queria tempo com as netas.

Mãe e filha já haviam falado que as meninas tinham talento, mas não vou negar que tanto Dona Amelia, quanto Dona Laura, eram excelentes treinadoras, além de pacientes, sabiam explicar exatamente os pontos fracos e elogiar os fortes.

A evolução de Liv, que mal conhecia Athena era visível e até mesmo Elena, montando um pônei mostrava que dentro de bem pouco poderia estar saltando obstáculos com cavalos, o que, claro, já abriu a discussão entre todos sobre qual seria o melhor cavalo para ela.

Apesar de ter ficado olhando a maioria do tempo, não deixaram de me perguntar quando eu iria me juntar às minhas sobrinhas. Sinceramente, eu não estava com vontade de ser a amazona da vez, tudo o que queria era aproveitar a paisagem e, de vez em quando, galopar a toda velocidade com Perigo, um exemplo nada bento para meus sobrinhos.

O domingo foi dividido em duas partes, um churrasco em família à beira da piscina e, arrumação das malas na parte da tarde, com minha sogra indo e vindo entre os quartos, sempre entregando algo que, na sua concepção, nós deveríamos levar, ou para nos lembrar de coisas que eram essenciais quando se tinha uma criança na viagem.

Fechamos as malas antes do jantar e, tentamos de todas as maneiras acalmar Elena, que, animada demais, não parava quieta. Precisei usar da tática: “vou te levar de volta para Europa se você não ficar quieta”, para que ela se sentasse ao meu lado no sofá, não foi uma ideia que durou por muito tempo, contudo, foi o suficiente para que pudéssemos conversar um pouco.

Combinamos de sair das quatro da manhã, para que pudéssemos chegar no Parque Nacional de Death Valley ainda de dia, então, a tarefa ingrata da noite seria nos deitar cedo, quase tão cedo quanto as galinhas. Tuomas e Olivia juraram que iriam conseguir e, antes mesmo das nove e meia, já tinham se despedido de meus sogros e dos pais de Dona Amelia e rumaram para os quartos.

Meu problema foi Elena, que nem com chá de camomila se acalmou, e, no final, acabou por dormir comigo e com Alex, em nosso quarto.

Às três em ponto, o despertador tocou e, com muito custo, levantei-me. Alex ainda fez hora, mas tendo em vista que ainda tinha que carregar o carro, não muita.

— E ela? – Apontou para Elena que dormia encolhida bem no meio da cama.

— Deixa dormindo mais um pouco. Vou deixar para acordá-la quando o café já estiver pronto e nós também. Assim evitaremos o caos e o excitamento incontrolável dela.

Claro que meus sogros se levantaram para se despedirem e ainda darem as últimas recomendações da viagem. Além de pedirem para que ligássemos todos os dias simplesmente para avisarmos que estávamos bem. Concordamos na hora, afinal, que mal faria? Já iria fazer com meus pais também.

Depois de muitos abraços e até mesmo um pouco de choro por parte de Elena que nunca gostou de despedidas, entramos no carro e demos início à nossa viagem, era a road trip mais longa que eu já tinha planejado e, só nos três primeiros dias, já ganhava da minha viagem de carro com Olivia da Finlândia até a Itália.

Quando o sol começou a surgir no horizonte, já tínhamos deixado toda área de Los Angeles para trás e avançávamos em direção ao Parque Nacional do Vale da Morte, que apesar de ter um nome bem macabro nos reservou inúmeras surpresas.

A primeira, nossa primeiríssima noite de camping, já que ficamos por lá por dois dias, que contou com marshmallows assados na fogueira, contos de terror à luz de lanternas, muito mosquito nos picando, mesmo todos tendo tomado banho de repelente e alguns coiotes vindo para perto das barracas no meio da noite.

A segunda e mais impressionante, foi descobrir que um pedaço do parque se localiza abaixo do nível do mar e, que o calor, as altas temperaturas e a quase falta de umidade do ar, pode se contrastar com picos altos e nevados.

Era algo que eu nunca tinha visto. Essa dualidade de ecossistemas.

Aproveitamos o que o Parque tinha a oferecer. Desde trilhas nas regiões mais quentes, até mesmo uma escalada em uma das montanhas que ainda tinha seu topo nevado.

Nosso último dia foi gasto em uma área mais elevada, onde pudemos ver a flores selvagens, como lírios, mariposa do deserto, sálvia rosa, roxa, além de uma infinidade de borboletas e até mesmo beija-flores.

A imagem era mais um belo contraste de como essas plantas podem crescer em uma área tão árida e inóspita como um deserto.

Desnecessário dizer que tiramos várias fotos, ou melhor, eu tirei, já que desde que saímos de Los Angeles, eu fui nomeada a fotógrafa oficial da viagem.

Deixamos o deserto de Death Valley para trás e rumamos para o destino que eu não queria passar, mas que, como estava no meio da nossa rota, foi impossível desviar.

Iríamos passar em Las Vegas, dois dias, só para que descansássemos um pouco do calor do deserto, nas piscinas do Bellagio.

— Ainda não sei se essa é a melhor opção... – Comentei com Alex quando uma placa informando que estávamos a 200km da cidade dos cassinos apareceu na estrada.

— Las Vegas não quer dizer só dançarinas exóticas e apostas.

— Temos dois adolescentes e uma criança nesse carro, Alex. Não sei se eu serei capaz de explicar tudo o que eles podem ouvir e ver na cidade.

— Não é como se fossemos soltá-los dentro de um cassino e deixá-los lá. – Ele falou certeiro. – E será que a senhorita pode, por favor, afundar o pé do acelerador um pouquinho. Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo saímos desse sol.

Revirei meus olhos, mas acabei por acelerar um pouco mais, com o trio dormindo um sono solto no banco de trás, eles nem saberiam quantos quilômetros por hora apareceu no velocímetro.

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Nossa primeira parada foi na famigerada placa: O que acontece em Vegas, fica em Vegas e eu ainda poderia jurar que não era uma boa opção de foto, mas todos quiseram ter o seu momento ao lado da placa, até mesmo Elena que não fazia ideia do que uma simples frase poderia significar.

Seguimos pela avenida e logo viramos para a mais famosa rua, a Strip, e, me lembrei do tempo de seriadora compulsiva e dos episódios que assisti de CSI. Descemos a rua até nosso hotel, ou melhor dizendo, cassino. Não sei de quem foi a ideia de ficar hospedado aqui, mas estávamos no Bellagio, o mesmo cassino que ficou ainda mais famoso por conta do filme Onze Homens e Um Segredo.

Parei na porta, logo um manobrista veio para nos ajudar, meus sobrinhos olhavam espantados a volta e, minha primeira providência foi segurar Leninha para que ela não saísse correndo para lugar nenhum, já que ela se deslumbrava facilmente com as coisas.

Fizemos nosso check in, e rumamos para os quartos, não sem antes pararmos na porta da sala de jogos.

— Tia, eu posso jogar também? – Elena me perguntou com os olhinhos brilhando, ao ver a máquina de caça níqueis.

— Não. Olhe a placa. – Indiquei o aviso de que era proibido a entrada de menores no local.

— Ah! – Elena fez um bico e depois cruzou os braços, claramente ofendida por ser impedida de entrar no local.

— Não liga, Pouca Sombra, - Will falou com ela ao bagunçar os seus cabelos. – tem muito mais coisa a se fazer em Vegas do que gastar dinheiro.

Fomos para os quartos e agradecemos ao fato de que, pelo menos por duas noites, dormiríamos em camas grandes e muito confortáveis.

Ajudei Olívia a se ajeitar e coloquei Elena no mesmo quarto que eu e Alex iríamos ficar. Quanto a Tuomas, só um aviso foi dado e não por mim:

— Não quero você na sala de jogos. – Alex disse sério. Meu sobrinho estava prestes a retrucar que já era maior de idade, porém parou e pensou melhor no que iria falar, afinal, ele até poderia ter idade e passaria fácil pela segurança, só não tinha uma coisa, dinheiro.

— É, eu sei. – Murmurou o adolescente e depois ele partiu para o quarto.

Olívia, muito feliz em ver a infelicidade do irmão, ia acompanhar seus passos só para falar na cabeça dele. Impedi na hora.

— Eu não quero saber de você atazanando seu irmão. – Avisei.

Como tínhamos passado dois dias ao ar livre, nada melhor do que um bom banho e descanso, ou ao menos era o que eu pensava. Mal saí do banheiro, cabelo ainda úmido quando Elena veio de encontro a mim, já soltando:

— O tio disse que vamos passear. Se arrume logo.

Procurei pelo mentor dessa ideia insana e não encontrei.

— É onde está o seu tio? – Perguntei para a saltitante garotinha que vinha pulando perto de mim.

— Desceu com o meu irmão. Eles disseram que vão nos esperar no saguão principal.

Eu estaquei no meio da suíte e encarei minha sobrinha mais nova. Ainda não acreditando no que ela havia me falado.

Era realmente verdade que Alex tinha dado essa desculpa e levado meu sobrinho mais velho para a área do cassino?

Não era a melhor das notícias, mas pelo menos alguém poderia dizer que estava aproveitando a verdadeira Las Vegas, e eu não contava com as dançarinas exóticas quando me referia a isso.

— Espero que ele não cisme de querer ver um show por aqui.... – Falei entredentes e voltei para o quarto. – Elena, venha se arrumar para sair.

A garotinha me seguiu feliz, ainda pulando, pelo quarto.

— E não pule, tem gente no andar debaixo. Isso incomoda quem está querendo descansar.

Enquanto Elena se decidia pela sua roupa, avisei Olívia que sairíamos.

— Eu já estou pronta, tia. Só queria ter ido com eles.

— Você não entra nos cassinos,

— Sou alta para a minha idade. Tenho uma boa genética. Ia enganar fácil os seguranças.

— Não, você não ia. Suas roupas te entregariam.  A hora em que formos descer, te aviso.

Nem sei o motivo de ter falado isso, pois ela veio me seguindo até o quarto e, assim, como Elena, quis por que quis dar a sua opinião na minha roupa.

— Mas eu não posso vestir o que quero aqui?

— Não! – As duas responderam.

— Tem que sair bonita aqui também. – Elena completou.

Estávamos prontas e com fome, passamos meio dia na estrada, sem ter uma parada que fosse apresentável o suficiente para que fizéssemos um lanche, assim, estava em dúvida se só mandava uma mensagem para Alex e descia, ou se esperava por sua resposta aqui no quarto.

Acabei por descer e ir conhecer melhor o hotel, tinha realmente muitas coisas além dos jogos de azar para se fazer aqui. E a área das piscinas era um local que até mesmo eu me interessei.

— Tia! – Elena me puxou quando viu o pequeno parque aquático.

— Hoje, não. – Avisei. – Como já conversamos, piscina só amanhã.

Passeamos por ali, vimos que teria até um show de mágica, algo que nós três nos interessamos muito. Passamos pelas lojas, cafés e nos esgueiramos, mesmo sem permissão, para o anfiteatro, onde várias cantoras e cantores já subiram no palco e fizeram sua residência.

— Eu li que a Adele vai fazer residência aqui. – Olívia comentou.

— Nesse hotel?

— Aí não sei, tia.

Essa era uma informação nova. Um show da Adele sempre era uma boa pedida.

Andamos pelos dois primeiros pavimentos do hotel e, ao chegarmos no saguão, liguei para Alex, rezando internamente para que ele me atendesse.

— Oi, Loira?

— Já estamos aqui no saguão. Vou te esperar na porta principal.

— Estamos saindo.

Os dois demoraram cerca de 10 minutos para nos encontrar, e, quando o fizeram, as meninas e eu já sabíamos onde queríamos ir para comer.

Descemos a rua à pé, sempre olhando os detalhes... a Strip era um espetáculo à parte. Vimos mágicos, cantores, artistas de todos os gêneros e pessoas de todos os lugares e jeitos. Elena ficou um tanto receosa com tanta movimentação e pediu colo. Caminhei com ela por alguns metros em meus braços, porém, a pequena na estava pesada e eu, cansada, Alex logo resolveu o problema e a colocou em seus ombros, brincando com ela e mostrando os telões e outras atrações que víamos.

Passeamos pelo resto dia, tendo como nossa intenção ver o por do sol perto da famosa fonte de águas dançantes, mas estava tão cheio o local que desistimos.

Voltamos para o Hotel, fazendo planos para o dia seguinte, que incluíam um show do Cirque du Solei e, claro, um show de mágica.

Estávamos tão cansados que bastou outro banho e nem quisemos saber de mais nada, sentamos no sofá da suíte com o intuito de jogar qualquer jogo de cartas, no caso, Tuomas escolheu o 21, não duramos uma hora. Elena foi a primeira a sucumbir ao cansaço e Alex a levou para a cama, depois Olívia lutou até quando conseguiu contra o sono, desistiu, se despediu e foi para o seu quarto. Ficamos os três, ainda tentando aprender não a jogar, mas a contar as cartas.

— Eu desisto! – Clamei já com a vista embaralhando. – Não entendi o jogo e muito menos como se conta cartas. E eu espero que vocês não tenham feito isso mais cedo, ou é bem capaz que nos expulsem daqui.

Pela cara dos dois, sim, eles tinham tentado.

— Que vocês não tenham dado pistas do que queriam fazer, porque claramente não conseguiram, já que dinheiro que é bom, eu não vi.

— Eu achei que estava indo bem, fui bem mal... – Tuomas me informou e se levantou... amanhã eu tento de novo.

— Eu não vou pagar a sua fiança se você for preso. – Avisei.

— Isso é crime?

— Não sei... não fiz faculdade no estado de Nevada para saber.

— Então, tia, a senhora tem umas oito horas para aprender... porque eu acho que meu pai não vai gostar de saber que a senhora me deixou ser preso! – Meu sobrinho falou e saiu andando.

— Sua sorte é que meu sapato está longe de mim, ou eu te arremessava um pé. – Sibilei para o adolescente que nem se abalou com a ameaça, deu boa noite e foi para o quarto com o baralho na mão.

Assim que Tuomas fechou a porta, encarei Alex

— Contando cartas? Grande exemplo.

— Em minha defesa, ele já sabia fazer isso.

— E você incentivou... – Encarei os olhos de Alex.

— Ele estava me ensinando. Foi seu sobrinho quem me desencaminhou, não o contrário.

Cruzei os braços e ainda olhava seriamente para meu noivo.

— Estou falando a verdade. Quem ensinou nosso sobrinho a fazer isso foi o Kim...

Joguei minha cabeça para trás e fitei o teto do apartamento.

— Pior que vai sobrar pra mim... – Suspirei resignada.

Alex só deu uma risada.

— Não é pra rir.

— Katerina, - Ele começou. – Não espere que seu sobrinho seja um anjo a vida inteira. Ele já tem 18 e não duvido, vai se esgueirar para fora desse quarto assim que apagarmos as luzes.

— Ele não seria maluco de fazer isso! – Chiei.

Alex só me encarou, meio que me dizendo que sim, Tuomas era capaz e faria isso.

— Mas...

— Kat... eu já tive dezoito anos... e já estive em Las Vegas antes.

— Não quero detalhes.... mas se algo acontecer com ele....

Alex riu.

— Nós não vamos ficar sabendo.

Balancei negativamente minha cabeça e segui para o quarto. Se Tuomas ia fugir do quarto, eu queria estar morta para o mundo para não escutar.

Antes de deitar, dei uma conferida em Elena e em Olívia, as duas dormiam profundamente em suas camas, até ressonavam, ia passar direto pelo quarto de Tuomas, fingindo que não sabia que ele ia fazer, mas decidi pelo contrário, bati na porta e já fui abrindo.

— Pelo menos não entre nesse apartamento com o dia já claro. – Pedi.

— Não vai me xingar?

— Não vai adiantar, vai? Não estoure o cartão e, seja sensato nas apostas, eu não vou cobrir o rombo que vai ser esse cartão se você extrapolar muito.

— A senhora vai pagar minhas apostas?

— Mas um dia eu vou cobrar de volta. – Entreguei meu cartão a ele.

— O seu?

— Você quer que seu pai fique sabendo o que você fez aqui em Las Vegas, no mesmo instante em que você está aprontando? Porque ele rastreia o seu cartao...

Meu sobrinho pegou o cartão na minha mão, me agradeceu e disse que ele me devia mais essa.

— Por favor, não me faça decretar falência. – Foi tudo o que eu pedi antes que ele fechasse a porta. – E nem me faça tia-avó.

Alex ficou espantado com a minha atitute.

— Antes eu saber, do que ele fazer escondido e Ian vir querendo a minha cabeça. – Expliquei.

Ele só balançou a cabeça e me guiou para o quarto.

— Sabe, queria ter tido uma tia como você....

Revirei meus olhos e me joguei na cama, rezando internamente para que Tuomas realmente tivesse ouvido algumas das palavras que tinha lhe dito.

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Não sei que horas meu sobrinho voltou para o quarto, só sei que quando acabei de me arrumar na manhã seguinte, ele já entrou na sala como se tivesse dormido a noite inteira. Não questionei nada perto das meninas, para não ter que escutar Olívia reclamando que o irmão tinha privilégios que ela não tinha.

Como havíamos combinado, fomos para as piscinas, onde Elena se esbaldou como quis, Olivia ficou sentada lendo um livro físico, o que causou estranheza em cada um que passava por ela, já Tuomas, depois de dar um mergulho, resolveu se jogar na espreguiçadeira e, creio eu, deva ter dormido de novo.

Enquanto isso, Alex e eu nos dividíamos para cuidar de Elena, ele pulava na água e fazia o que ela queria, já eu, ficava de pé, na beira da piscina, só observando ela tentar nadar com as boias de braço.

O dia já estava na metade e o calor excessivo, quando, em um esforço conjunto, conseguimos tirar Elena de dentro d’água:

— Nem parece sua sobrinha... adora uma água. – Alex comentou enquanto me observava repassar o protetor solar.

— Tio, só a tia não gosta de piscina lá na família. – Elena disse contente, já quase correndo para água, porque eu já terminava. – Ela não faz ideia do que está perdendo, né?

Alex concordou com ela, e, antes que a mini sereia voltasse para dentro d'água, avisei:

— Mais quarenta minutos. Ainda temos que almoçar e depois vamos ao show de mágica.

Elena correu para a piscina e se jogou lá dentro, não se importando nem um pouco em espirrar água em nós

— Lembre-me de falar com ela para parar de fazer isso. É extremamente grosseiro.

— Como diria o meu pai, deixa a menina. Ela está se divertindo. Diferente de você que fica só querendo cortar a brincadeira.

Revirei meus olhos para o comentário de Alex, ele não fazia ideia de que bons modos são adquiridos na infância.

— Mudando de assunto, e longe de mim querer controlar as pessoas, mas Will e Pepper?

— Vi os dois no cassino ontem. Depois sem notícias. – Alex me respondeu.

Fiz uma careta. Ninguém tinha combinado em ficar perto de ninguém por aqui e, claro que o casal iria querer um tempo à sós, mas era bem incomum que os dois sumissem assim.

— Será que foram engolidos pela máquina de caça-níqueis?

— Bem provável. Ou meu irmão cismou de contar cartas e agora está em alguma salinha escura apanhando tudo o que eu não bati nele durante a vida.

— Se for esse o caso, o Capitão América tem que ir lá salvar o pobre indefeso irmão... - Brinquei.

— Você não vai esquecer essa história, vai?

— Claro que não! – Disse sorrindo. – Isso é informação para toda a vida e, de tempos em tempos, eu vou jogá-la na sua cara.

Alex deu de ombros e depois conferiu o relógio.

— Acho que está na hora de iniciarmos a Operação "Içar a Baixinha da Piscina".

Dei uma risada e fomos os dois tentar tirar Elena da água.

Levou quase meia hora, um banho forçado de piscina da minha parte e muita risada por parte de nossa sobrinha, mas conseguimos.

Fomos para o quarto, dei um belo banho para tirar todo o cloro do cabelo dela, que já estava até verde, depois foi a minha vez.

Quase às duas da tarde, descemos para almoçar no restaurante do hotel e, logo em seguida, fomos ao show de mágica, de onde eu saí maravilhada.

— Sério que você não pegou o truque? – Alex perguntou enquanto eu carregava uma Elena apagada em meus braços.

— Eu não assisti ao show com o intuito de saber o truque, mas sim para ver... e nem pense em me contar o segredo.

— Mas...

Tampei a boca dele com a minha mão.

— Já falei que não. Eu amo mágica! E detesto os estragas prazeres como você que só vão aos shows para desvendarem o truque.

Olivia do meu lado concordou.

— É tio. Isso é injusto.

— Você só fala assim porque te escolheram no truque do baralho. – Tuomas retrucou.

— E eu não quero saber o segredo. Foi legal. – Ela deu um tapa no ombro do irmão.

— A única pessoa que não pode reclamar aqui é a Elena... – Alex comentou e a tirou dos meus braços.

— Claro. Ela apagou assim que as luzes abaixaram para o espetáculo começar.  – Liv falou.

— E vai ser a mesma coisa no Cirque du Soleil. – Completei. – Melhor eu trazer até um travesseirinho para ela.

Voltamos para o quarto e enquanto a caçula da turma descansava a beleza, Tuomas cismou de jogar pôquer.

— Esse baralho você comprou onde? – Quis saber Liv.

— Na loja do hotel.

— Tem a maior cara de que é baralho de trapaceiro...

Fizemos as duplas e começamos a jogar, juro que eu não fazia ideia de quem estava ganhando, mas que o baralho estava esquisito, estava.

Elena acordou e veio se sentar no meu colo, querendo saber o que estávamos fazendo e, sem entender muita coisa, desistiu, correu no quarto, pegou uma boneca e ficou falando sozinha do nosso lado, até que terminamos a partida.

— Tudo bem... o tio ganhou.... mas eu juro que uma hora eu vi três dois de ouros na mesa....

— Eu vi seis Ás nesse baralho, Olivia... melhor nem falar nada. – Respondi e me levantei, estava quase na hora do espetáculo do Cirque du Soleil e dessa vez o grupo se dividiria. Os meninos para o cassino e as meninas para o circo.

Estávamos esperando o elevador, quando o casal desaparecido, resolveu dar o ar da graça.

— Indo jantar? – Will perguntou, depois de cumprimentar Elena.

— Não, tio. Indo ver o circo. E o senhor?

Will deu uma desconversada...

— Ele está indo perder o pouco dinheiro que tem, Leninha. Por isso que cassinos são perigosos. – Alex contornou a situação.

— Mas o senhor também vai.... Quer dizer que os dois vão ficar pobres? Tia! A senhora vai ter que pagar o hotel de todo mundo!! – Ela falou alarmada e me abraçou pelas pernas.

— Vamos torcer para que isso não aconteça, mas se eles perderem tudo, eles que fiquem aqui trabalhando na faxina para pagarem o que devem... – Respondi à assustada garotinha.

— Já que vão para o Circo, posso ir também. Estou cansada do barulho do cassino. – Pepper perguntou.

— É sempre bem-vinda, tia. O circo vai ser demais. – Elena se empolgou.

— Disse aquela que vai dormir com cinco minutos de espetáculo.... – Murmurei e guiei a faladora para dentro do elevador.

No saguão, nos separamos, meninos para um lado, meninas para o outro. Era a nossa última noite em Las Vegas e cada um iria aproveitá-la como bem queria.

 

[1] Pela mitologia nórdica é uma Lula gigante que habita o Mar da Noruega, que separa as terras da Escandinávia da Islândia e afundava os navios que ali cruzavam.


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Notas finais do capítulo

Bem é isso. Próximo capítulo se encerra essa viagem e as férias dos três.
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Até o próximo!
xoxo



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