Icy se sentia revigorada depois do ritual. Sua pele até estava gélida, como sempre. Ela andou até o antigo quarto da Torre Nebulosa e trocou suas roupas surradas, ficando finalmente confortável. Por fim, colocou o manto azul escuro que sempre usava por cima das roupas.

Ela não sabia exatamente qual era o plano do Valtor a partir dali, aliás, o homem ainda não tinha voltado de sabe-se-lá-onde. Mais cedo Valtor partiu para buscar mais mantimentos e para dar um pouco de privacidade às bruxas para o ritual de fortalecimento dos seus poderes. O fato de deixar as três sozinhas deixava claro para Icy que, ou ele confiava nelas, ou confiava que elas não teriam coragem de fugir de alguém como ele. A segunda provavelmente era a alternativa correta.

Quando descobriram que ele era o outro lado da Chama do Dragão, as coisas mudaram.

— Você anda calada nada últimas horas. – Darcy surgiu na porta do dormitório.

— Estou pensando.

— Eu imagino. Temos muitas informações para processar. – ela adentrou o quarto e começou a procurar por suas roupas antigas para vestir. Assim como Icy, queria se livrar dos trapos surrados que usava o quanto antes. – Stormy está animada, ela quer que a gente encontre ela na parte mais alta da Torre Nebulosa em alguns minutos.

— Por quê? – Darcy deu de ombros – Que seja! Como está se sentindo?

— Bem. E você? – finalmente encontrou as roupas que queria e começou a se trocar. Icy encarou as mãos.

— Estou bem. Embora ainda me sinta enfraquecida.

— É normal, irmã. Nossos poderes estão de volta, mas nossos corpos e mentes estão enfraquecidos. – Icy estremeceu só de pensar na sensação de ficar presa sob o gelo negro. As fadas usaram da própria essência das bruxas para aprisiona-las por, pelo que Valtor disse, dezesseis anos. Não foi nenhum pouco agradável passar esse tempo todo presa, mas pelo menos não tinham envelhecido. – Vamos precisar de tempo.

— Tem razão. – Icy colocou o capuz por cima da cabeça – Daqui a pouco encontro você e a Stormy lá em cima.

— Aonde vai? Sabe que Valtor...

— Só vou dar uma olhada na floresta. Não vou me afastar da Torre. – garantiu e saiu antes que Darcy protestasse novamente. Sabia que a irmã diria que Stormy é naturalmente impaciente e não gosta de esperar. Mas Icy só precisava de poucos minutos.

Ao descer pela Torre, tentou não olhar para os corpos congelados no gelo negro. O que as fadas fizeram com as bruxas era terrível e com certeza elas mereciam a vingança que Valtor estava planejando. No entanto, Icy não era tola o suficiente para saber que, mesmo com o poder delas combinado ao de Valtor, eles não derrotariam as fadas facilmente. Valtor precisava de um exercício, porém ele deixou claro que sua intenção, por ora, era apenas manter as descendentes das bruxas ancestrais em rédea curta.

Assim que Icy se deparou com a vegetação rebelde, crescendo e se emaranhado na Torre, respirou fundo. Não era a grande fã do ar livre, mas dezesseis anos presa no gelo negro, às fizeram sonhar com esse momento. A bruxa tocou o tronco de uma árvore e deixou seu poder emergir, congelando o tronco ao redor de sua mão. Era uma pequena demonstração, não precisa de feitiços no momento. E sequer sabia se conseguiria proferir um. Ainda se sentia fraca e impotente.

O fato de estarem presas no gelo e Icy não ter conseguido sair, era o que a deixava mais irritada. Falhara em libertar seu povo que principalmente suas irmãs. Mas o que ela poderia fazer? O gelo negro não era como o gelo que Icy podia conjurar, era uma prisão, uma magia das bruxas que as fadas se apossaram e usaram contra suas criadoras.

O punho de Icy se fechou e ela socou o gelo, o quebrando em mil pedaços. Disse para si que seria a mesma coisa que faria com a alma de seus inimigos.

O fato de concordar com a visão de mundo de Valtor, não faria com que ela o obedecesse cegamente, contudo, faria com que ela tivesse motivos para se aliar a ele e fazer o que for preciso para recuperar aquilo que foi tomado de si.

Icy e suas irmãs treinariam e se tornariam as bruxas mais fortes dessa dimensão, mais fortes que suas ancestrais. Valtor era apenas um caminho pelo qual tinham que percorrer até o seu grande objetivo.

Darcy não podia sentir as emoções de ninguém, muito menos influencia-las. Mas ela entendia sobre a mente e conseguia saber o que os pensamentos das pessoas indicavam.

Darcy sabia que Icy não demostrava, porém estava preocupada. Também sabia que a única coisa que se passava pela mente de Stormy no momento, era explodir algo.

E também tinha Valtor. A mente dele era a mais estranha que já tinha visto. Seus motivos era genuínos, no entanto. Porém tudo nele, inclusive sua mente, irradiava caos.

Ainda assim, a bruxa não podia ouvir o que cada um pensava, no entanto podia sentir a energia que as mentes emanavam. E baseado nisso, podia influencia-las da maneira que achasse interessante.

— Se ela demorar mais um minuto, eu...

— Você não vai fazer nada, pois não teria coragem de atacar sua querida irmã. – Icy interrompeu a fala de Stormy, surgindo na porta e arrancando um sorriso maléfico desta última.

— Mostra logo o que você queria! – Darcy pediu, cortando a possível réplica de Stormy. Porque, segundo a energia dos pensamentos, era exatamente isso que ela iria fazer.

— Tá. – Stormy subiu no parapeito de pedra e ergueu as duas mãos para o céu. As outras duas já sabiam o que ela faria, então trocaram um olhar divertido. – Eu convoco as tempestades para lavarem a minha alma e os raios para carregarem a minha energia! – o céu se fechou em poucos segundos, nublado e cinzento. Stormy deixou que a eletricidade fluísse por todo o seu corpo e fosse em direção ao céu, se chocando contra um raio na mesma hora. A carga deixou a bruxa ainda mais revitalizada. A tempestade começou, e só pra não perder o hábito, Stormy lançou um raio em uma árvore próxima, a destroçando. – Como eu senti falta disso!

— Que bom que está se divertindo! – Darcy murmurou de mau-humor, mas a mais nova nem escutou, estava ocupada admirando a tempestade chamada por ela. Icy a encarou.

— Faça algo também. Eu deixo você usar a minha mente, se quiser. – Darcy sorriu – Só pega leve.

— Não prometo nada. – mesmo dizendo isso, as duas sabiam que ela pegaria leve. Darcy segurou a cabeça da irmã, colocando os polegares em cada têmpora de Icy e logo seus olhos possuíam o mesmo brilho roxo de sempre. – Que a sua cabeça gire e você permaneça no lugar! — Icy sentiu uma tontura imensa, o mundo girava rápido demais e ela se desequilibrava. Conhecia aquele feitiço muito bem, Darcy fez isso várias vezes com elas ao pregar peças.

Icy se escorou na parede e deslizou até cair sentada no chão. Mesmo conhecendo o feitiço, nunca deixaria de ser horrível passar por ele. Ela sentia uma enorme vontade de vomitar. Não tinha mais controle sobre sua própria percepção.

Darcy balançou a mão quando vou que sua irmã estava prestes a vomitar, fazendo com que ela voltasse ao normal. Icy tossiu algumas vezes, sentindo um gosto ruim na boca.

— Me lembre de nunca brigar com você! – disse Icy, aceitando a mão da irmã para a ajudar a ficar de pé. – Então, se divertiu?

— Um pouco.

— Se eu fosse vocês, pegaria leve. Ainda estão fracas. – Valtor apareceu, atraindo a atenção das três. – Mas vejo que estão se recuperando aos poucos. – em seguida, ele exibiu alguns papéis que carregava nas mãos – Isso é bom, pois temos trabalho a fazer.