SPIN OFF - Carta Para Você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 8
Feliz Décimo Sexto Aniversário, Sophie!


Notas iniciais do capítulo

É... todo mundo cresce! E cá estamos para o aniversário de 16 anos da Jibblet!
Espero que gostem!
Boa leitura!



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Oi Tia Ziva...

Não, eu não tenho mais 8 anos de idade!

Oi Ziva!!

Tão impessoal... Quer saber...

Oi Tia Ziva!

Sou eu de novo, a Sophie. Eu só queria... bem, só queria dizer que estamos todos com saudades de você! Principalmente o Tony. Já faz quase três anos que você se foi e não deu mais notícias desde aquela madrugada quando você ligou para a mamãe e o papai. Você não falou com mais ninguém, nem com o seu confidente do subsolo, ou melhor dizendo, com o Jimbo...

Sei lá... talvez eu ainda acredite em milagres de aniversário, talvez eu só seja uma boba mesmo, mas sabe, hoje é o meu aniversário, ainda é aí em Israel, o fuso horário me confirma isso. Então... tudo o que eu queria era que você desse notícias, que ligasse, fizesse uma chamada de vídeo, mandasse uma mensagem! Só para dizer que você está bem.

Tia Ziva, você não faz ideia do quão estranho estão todos... desde o momento em que Tony voltou ao NCIS depois que ele te encontrou (é, eu sei, ele me contou! E eu sei que você contou para meus pais!), nada tem sido igual. Ninguém fala sobre você dentro do escritório, ninguém comenta sobre o seu nome, parece até aquela tradição aborígene australiana na qual não se pode falar o nome da pessoa depois que ela morreu... O problema é que você não está morta! Você está viva, ou pelo menos é isso que as minhas pesquisas me disseram. Por favor, não nos deixe assim. Você não tem ideia do tanto que o Tony tá sofrendo... Com a sua partida, parece que meu pai perdeu uma filha, minha mãe a melhor amiga, o Tim uma irmã, o mesmo para a Abby e o Jimbo... você nunca vai conseguir saber o tanto que eu estou sentindo a sua falta, Tia Ziva.

Eu nem quero saber o tamanho da sua dor, perder um pai deve ser uma das piores dores possíveis, mas não se esqueça, sua verdadeira família está aqui, você é uma cidadã desse país, você faz parte do NCIS e dessa família desconjuntada que é a Família Shepard-Gibbs!

Contudo, se você não quiser me responder – e porque responderia, já que não respondeu os outros cento e vinte e-mails... – saiba que você sempre será bem-vinda de volta, é só falar quando vai desembarcar que vamos estar na porta da área de desembarque te esperando de braços abertos.

Estamos... estou com saudades!

Sophie.

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Olhei para mais um e-mail que mandava para Ziva... ela ainda era a minha tia, mas devido ao fato de que ficava estranho chamá-la de Tia quando ela tinha a idade da minha irmã mais velha, eu parei de fazer isso, a verdade era que ninguém tinha notado, mas eu sim... não sabia se era por mágoa ou porque era a passagem natural do tempo, só sei que suprimi o Tia há um tempo. Ou talvez tudo tenha começado com toda aquela confusão da morte do Eli David na casa do Vice-Diretor Vance, Ziva ficou estranha, consumida pelo desejo da vingança e, por mais que meus pais tenham dado um sermão de horas nela, dentro do porão, por mais que eles tivessem explicado que nenhuma vingança traria o pai dela de volta, nada a fez mudar de ideia. E ela caçou Ilan Bodnar, o mandante da morte do pai dela, até os confins da terra, e quando o encontrou, agiu sozinha e depois de uma briga, o matou. No dia seguinte ela apareceu diferente, tinha vendido até o velho Mini Cooper e trocado por um belo Camaro vermelho, mas não era mais a Tia Ziva, era uma mulher tão amargurada que até o Tony estranhou o comportamento da namorada. Então, veio Parsons e sua investigação que queria, porque queria, a cabeça do meu pai... Para protegê-lo, tanto ela quanto Tim e Tony entregaram os distintivos, minha mãe ficou por um clique de pedir a demissão dela... mas, Ducky e papai a convenceram de que eles precisavam dela ali, sendo a fortaleza e a cabeça deles dentro da agência. Com tudo quase resolvido, ou melhor dizendo, com o plano em ação, Tony e Tim voltaram para o NCIS, meu pai foi enviado em uma Missão pelos Marines – algo que quase me matou de medo! – e a Tia Ziva nunca mais voltou, indo para Israel e ficando por lá.

Tony tentou de tudo para trazê-la de volta. Ficou meses atrás dela até que a achou, mas não a convenceu. Ele teve que voltar, não podia ficar tanto tempo assim afastado do cargo... Só que a minha Tia não voltou com ele.

Na mesma noite em que Tony embarcou para o país, ela ligou para o meu pai e minha mãe. Lembro que estávamos na sala, papai tinha um pacote de gelo no supercilio aberto – um resquício de sua volta repentina à Corporação. – e quando o telefone jurássico dele tocou e no visor mostrou o nome Ziva, eu achei que ela estava voltando.

Com a conversa no viva-voz, a primeira coisa que ela disse, depois de papai a chamar pelo apelido Ziver, foi:

— Tem mais alguém, além da Jenny, ouvindo essa ligação?

— Sim, a Ruiva está aqui.

Fez-se um silêncio absurdo e eu entendi o recado. Mamãe se levantou junto com papai e, antes de descer para o porão, apenas soltou:

— Eu não vou fechar a porta, e confio em você de que não vai ouvir do alto da escada.

Era o claro recado de que eu não era bem-vinda a escutar nada.

Como eu fora criada para respeitar as regras, eles desceram para o porão e eu fui para o meu quarto, coloquei meus fones de ouvido, abri o app de música que Tim tinha me indicado para baixar e fingi que o mundo não existia. Dormi assim e não soube de mais nada.

No dia seguinte, Tony desembarcou no país, sozinho e com uma carinha que me dava agonia só de ver. Por dias ele não quis falar sobre o que aconteceu em Israel, e, por ele se negar a falar e por todos estarem magoados demais pela deserção de Ziva, ninguém falou mais no nome dela.

Até um dia... seis meses depois que ele voltou para o país... eu apareci no Estaleiro depois da aula de krav maga, tinha esquecido as minhas chaves e tive que pegar as de mamãe, na hora que desci do elevador, a primeira pessoa que vi foi Tony, isso não era novidade, novidade era que ele estava sozinho ali.

— Oi Meu Italiano de Araque Preferido! – Saudei. – Te abandonaram aqui hoje?

Ele só levantou a cabeça e eu não precisei nem de um segundo para saber o que se passava em seus pensamentos. Ele, assim como eu, sentia falta da Ninja do Mossad, claro que de maneiras diferentes, mas sentíamos falta dela.

Tudo o que eu fiz foi jogar a minha mochila no chão, correr na direção dele e abraçá-lo.

Foi a primeira vez que vi Tony chorar.

— Ninguém fala mais dela, Tony. Mas eu acho isso tão errado! Eu sinto falta dela também! Eu mando e-mails todas as semanas...

— Eu também, Peste Ruiva.

— E ela te responde? – E lá ia eu chorar de novo.

— Não. E a você?

— Nenhuma resposta. Nem um “Estou viva e bem!”

Tony se levantou da cadeira e me chamou.

— Vamos tomar um café, ou no seu caso, um suco.

Fomos para elevador e levamos mais de duas horas conversando sobre a Ziva, Tony me contou tudo o que acontecera em Israel, os motivos de Ziva não querer voltar com ele e de como ele sentia falta da mulher que era o grande amor de sua vida.

No fim da nossa nada pequena pausa, ele me fez prometer que eu não contaria nada daquilo para ninguém. Foi o que eu fiz.

E assim tem sido os últimos três anos. Eu mando mensagens para Ziva toda semana, e toda vez menciono Tony, porque sei que ela também o ama. Porém não recebo respostas.

E, mesmo com toda falta de consideração com os meus e-mails, eu continuo mandando. Para que ela saiba que ela tem uma família.

E o de hoje foi uma tentativa desesperada de fazê-la conversar comigo. Um pedido de aniversário que só ela poderia cumprir.

Eram cinco e meia da manhã do dia 25 de março de 2016, já se passaram quase três anos desde que ela se foi e ela nunca mais deu notícias. E eu tinha oficialmente 16 anos, grande coisa!

Desliguei o notebook, coloquei-o na mochila, junto com o carregador, eu até o levava para a escola comigo, mas preferia mesmo era escrever no caderno, muitos me chamavam de atrasada, mas tinha coisa que eu gravava melhor quando escrevia, além do mais, toda santa vez que eu ligava o note, acabava era entretida no chat com o pessoal, assim, eles não trabalhavam na agência e nem eu estudava, a consequência, não eram más notas, mas sim que meus pais sempre sabiam e tudo isso acabava em um sermão enorme. Assim, só o utilizava em último caso.

Me arrumei para mais um dia na escola, e o mais engraçado, se antes eu reclamava que tinha que ir de uniforme, hoje dava graças a Deus, afinal, não precisava gastar minhas roupas ou ser criativa para ir parar naquele lugar. Já pronta, me virei para meu consultor de moda, também conhecido como Jet.

— E então, Jet, como estou?

E meu pastor alemão só deu uma ganida e tampou os olhos com as patas.

— Vou entender isso como um: “Suas olheiras estão gigantes e todos vão percebê-las!”

Ele latiu uma vez. Isso significava sim, eu acho. E me olhei no espelho, passei um pouquinho de corretivo e um protetor solar com base para ver se dava um jeito na cara de Panda Ruivo e, quando me achei com uma aparência aceitável, desci as escadas.

Ainda era cedo, porém meus pais já estavam acordados. Mamãe me encarou como se tentando ver se algo havia mudado em mim nas últimas horas, ela fazia isso todo santo ano, para se certificar de ela ainda não estava tão velha assim. E, sinceramente, para uma mulher de 47 anos, minha mãe estava muito bem e nem um pouco velha como ela vivia clamando por aí, e olha que tinha dia que ela tinha os horários mais estranhos de trabalho do mundo.

Papai foi o primeiro a me abraçar e me desejar feliz aniversário, e antes de desfazer o abraço, sussurrou no meu ouvido:

— Eu sei o que a senhorita estava fazendo. E essa tentativa de esconder as olheiras não me engana.

— Tentando por uma última vez. – Dei de ombros.

— Ela não vai voltar, filha.

— Eu já deveria ter desistido pai, hoje foi a última vez.

Ele me deu um beijo na testa e logo foi empurrado por mamãe que veio me desejar felicidades e me abraçar apertado, e como sempre fazia, me agradeceu. Antes eu achava estranho, até que no meu décimo aniversário eu tive a coragem de perguntar o motivo do agradecimento... quando ela me contou, eu achei que não precisava disso, mas, talvez, ela não esteja agradecendo só a mim, no final das contas.

— Tudo bem, mamãe. A senhora não está velha! Vai por mim. Está muito bem! – Falei o que ela queria ouvir.

— Eu tenho uma filha de 16 anos, eu estou velha. Tenho que começar a aceitar isso. Dentro de três anos irei fazer 50.... ou me acostumo ou me acostumo com a ideia!

Papai só riu do drama. Todo ano era a mesma história, o problema era que, antes era divertido escutá-la murmurando coisas como ficar velha, cabelos brancos e rugas. Agora, nem tanto mais. Desde que vovô Jack faleceu, há dois anos, eu não gosto de pensar na velhice como um todo, pois isso significava que o tempo dos meus pais na Terra estava acabando, e isso me assustava e amedrontava em um nível inimaginável.

Como de costume, eu não pedi nenhum presente, não precisava de nada, assim não via motivos que as pessoas gastassem dinheiro comigo. Tudo o que eu queria era a minha família comigo, teria esse pedido satisfeito à noite, ou quase, já que minha Tia desaparecida não daria as caras e, para aqueles que insistiam em presentes, eu sempre recomendava uma instituição de caridade, para que eles fizessem a doação do valor que gastariam com o meu presente a ela.

Tomamos café da manhã, um especial.  Papai se levantava – ainda mais - cedo na data do meu aniversário para me paparicar. Então na mesa tinha, além dos croissants que eu tanto amo, panquecas com gotas de chocolate e o meu preferido:

— E lá vamos nós tomar o Melhor Chocolate Quente Do Mundo! – Levantei a minha caneca como se fazendo um brinde.

A escola foi como todos os outros dias. Emilly depois de me desejar Feliz Aniversário, começou o falatório usual. Enquanto ela falava, Lilly passou por nós em seu uniforme de líder de torcida e nos cumprimentou, já fazia um tempo que ela tinha trocado a nossa companhia pela companhia das demais líderes de torcida, mas pelo menos não deixou de dar um oi.

— E então, quantos presentes você vai ganhar?

— Nenhum, Emilly.

— Como não?! É o seu aniversário? Dezesseis anos!! Acorda! Você já pode até beber em alguns estados! E pode dirigir também!

— Eu já tenho carteira, apesar de que papai a confiscou no momento em que eu saí do Departamento de Trânsito depois de pegá-la. E não tenho interesse em bebida, vi em primeira mão o que ressaca causa.

— Mesmo assim, Sophie. Algo de especial pelo menos?

— Não. E falando em Especial... Como assim sua mãe virou Agente Federal agora?

Emilly grunhiu.

— Nem me fale. Agente da Receita Federal.

Eu ri.

— Eu quem digo, “nem me fale”, eu acho que vou precisar de terapia depois que vi Dona Diane sentada na cadeira da minha mãe no NCIS. Por um breve momento eu achei que estava em outra realidade!

— Você sabe que ela adorou isso, né? – Minha amiga me perguntou.

— Não duvidei nem por um segundo. Mas, e o Senhor F?

— Papai?! Ele ainda está assustado com isso tudo. E adivinha?

— Eles brigaram, de novo!

— Isso! E dessa vez foi hilário. Qualquer psicólogo diria que eu vivo em um ambiente hostil, mas cara, eu morro de rir com as discussões dos dois.

— Se elas forem tão divertidas quanto as do meus pais... - Comentei.

— Ou falando nos seus pais... já faz um tempo que sua mãe não manda seu pai dormir no porão.

— Nem me lembre, a última vez ele ficou por lá por quase um mês, foi tanto tempo que até compramos um sofá novo para lá. – Eu ri ao me lembrar da cena.

Emily riu comigo até a nossa primeira aula. E, como tínhamos horários completamente diferentes, só nos veríamos na hora do almoço.

E meu dia passou tranquilamente, eram poucos que sabiam o significado da data, pois eu não me expunha em nenhuma rede social desse jeito, afinal, eu ainda era um alvo em potencial, por ser filha da temida Diretora Jennifer Shepard-Gibbs, do NCIS. Mas o que nunca me impediu de ter uma conta no Twitter, desde que todos os serviços de localização estivessem desativados e eu não postasse nada da minha vida pessoal, meus pais e todos os meus irmãos e irmãs, não virão nenhum problema em eu ficar chorando pelos meus personagens e shipps favoritos no mini-blog. Era até engraçado, pois tinha um tal de @ElfLord que me seguia... isso sem contar um tal de @AMETony, a @CrazyForSnacks, o @AutopsyGremlin e a @LabQueen. Tinha até uma tal de @LadyBoss e um tal de @Engomadinho me seguindo... Sim, minha família me achou por lá, só porque eu usava o username de @LittleRed.

Com o fim do meu dia de aula, eu estava mais morta do que viva, assim, segui direto para casa, meu adorado Melvin me dando aquela carona especial, com direito a mimo.

Ele, sabendo da minha paixão por chocolates, tinha me presenteado uma caixa de cookies caseiros com gotas de chocolate, feitos por sua esposa, deixando a caixinha embrulhada no banco de trás!

— É por isso que eu te adoro, Melvin! – Falei assim que abri a caixa e dei um biscoito a ele. – A Diretora pode ou não saber sobre isso?

— Tem alguma diferença, Sophie?

— Claro que tem!! Se ela não puder saber, eu vou comer tudo antes que ela chegue. Agora, se ela puder saber, vou dividir com ela! – Disse com a boca cheia.

— A segunda opção. Vai que isso te causa uma crise de enxaqueca...

 - Vira essa boca para lá!! – Falei. – Muito obrigada pela carona, Melvin! Salvou minha pele. Eu acho que não chegaria em casa inteira de jeito nenhum hoje! Boa noite! E mande um abraço para a Meghan, e agradeça a ela por mim! – Desci do carro e corri para dentro de casa.

Fiz o restante dos meus deveres enquanto aguardava minha família chegar. Os primeiros que apareceram foram Kelly, Henry, William e o pequeno Jack, meu sobrinho mais novo.

— Ninguém chegou ainda? – Minha irmã me perguntou depois que me abraçou.

— Não. Devem estar agarrados no NCIS. – Respondi e fui cumprimentar Will, que tinha uma caixinha nas mãos.

— Toma tia Soph. Pra você! – Ele me estendeu a caixinha. – Feliz Aniversário. – Me deu um abraço apertado e um beijo.

— Obrigada, Loiro!! – Baguncei os cabelos da pequena cópia de Henry.

Henry foi o terceiro a me cumprimentar e só falou:

— Você não gosta de presentes, mas não íamos deixar o desse ano passar em branco!

— Eu já deveria saber disso. E você, pequeno Jack, o que acha disso tudo? – Pequei meu sobrinho no colo, ele sim, fazia jus ao sobrenome Gibbs, apesar de não carregá-lo em seu nome. Jack só me olhou com seus grandes olhos azuis claros, iguais aos da mãe e do avô, e me abriu um sorriso com quatro dentes.

— Vou considerar esse sorriso uma felicitação, e muito obrigada! – Beijei os cabelos escuros dele. – Agora vamos abrir o presente. Will, me ajude, por favor? – Chamei meu outro sobrinho que já estava ansioso para ver o que era. E quando acabamos de rasgar o papel, eu só soube rir de Kelly. – É assim que você diz que quer ir ver O Fantasma da Ópera novamente, Kells? – Mostrei os quatro ingressos.

— Nessa ópera, somos só Ducky, a mãe, você e eu. Éramos cinco, mas Ziva não está mais aqui!

— Creio que Ducky e mamãe ficarão felizes com a lembrança. E falando neles.... – Parei ao escutar o barulho do portão da garagem sendo aberto e de quatro carros parando na frente de casa. – Quem quer receber o vovô e a vovó comigo? – Perguntei para os meus sobrinhos.

Will saiu correndo até a lavanderia, carreguei Jack comigo, enquanto ele balbuciava qualquer coisa como “vó”.

— Uhn... Kelly! Henry! Acho que o Jack acabou de falar a primeira palavra! – Gritei parando no meio da sala de jantar.

Os dois vieram correndo, meus pais escutaram a mesma coisa, apressaram o passo, e quando apareceram, papai tinha Will nos braços.

— Qual foi? – Todos me encararam em expectativa.

Não precisei responder, Jack falou novamente:

— Vó.

— Sério?! – Kelly e Henry murmuram descrentes.

Papai encarou o neto mais novo e levantou uma sobrancelha. Jack permanecia agarrado no meu cabelo e agora apontava para minha mãe e continuava a falar “vó”. Mamãe o tirou dos meus braços e distribuiu um monte de beijos nas bochechas gordinhas dele. Deixei uma parte da minha família lá no meio da sala e fui abrir a porta para o restante, que já se amontoava na porta, sendo possível ouvir os pulos de Abby.

— Oi gente!! – Disse assim que os vi. Ao mesmo tempo fui engolida pelo abraço de Abby e a falação dela, ela me apertou tão forte que eu nem consegui me mexer.

— Abbs... - Tim a chamou.

— Me desculpe, Jibblet, é que eu tô emotiva hoje!

— Não mais do que eu! – Mamãe falou alto. – Além de ser o aniversário de 16 anos da minha filha, meu neto acabou de dizer a primeira palavra. E foi “vó”!

Foi o que bastou para que todos fossem para perto dela e de Jack, só restando uma pessoa na porta, Tony, e ele tinha algo nas mãos.

— Feliz Aniversário, Peste Ruiva! Eu queria te dar um presente diferente, mas acho que esse presente não vai mais aparecer, assim, acho que esse serve. – Ele me estendeu o objeto.

— Eu disse que não queria presente. – Falei o abraçando, depois de fechar a porta.

— Mas você vai me agradecer ao ver o que é. Você estava procurando por isso há um tempo e não encontrou em lugar nenhum. – Ele jogou um braço nos meus ombros e nós fomos até onde a família estava, vi que mamãe agora tinha Will no colo, e papai tinha Jack e tentava, inutilmente pelo visto, ensiná-lo a falar vovô.

Paramos na porta e eu abri o pacote.

— Achei que a Malagueta não ia querer presentes. – Ellie falou. – A propósito, feliz aniversário! – Ela veio e me abraçou.

— Obrigada, Ellie. E não quero, Tony que nunca me escuta e sempre me dá alguma coisa. – Respondi.

— Então abre logo! – Kelly falou do sofá.

Acabei de tirar o papel e...

— EU NÃO ACREDITO!!! ONDE VOCÊ ENCONTROU ESSE DVD??? – Olhei para Tony.

— Não disse que você ia gostar? – Ele piscou para mim e foi brincar com Will que tinha se levantado do colo da minha mãe e vindo na nossa direção.

— Dá para mostrar o que é? – Mamãe pediu.

Virei a capa do DVD na direção dela e ela começou a rir.

— Jethro, agora você vai entrar no mundo de Shakespeare! – Ela avisou ao meu pai que ainda estava distraído com Jack.

— Como? – Foi tudo o que ele disse.

Mamãe se levantou, tomou a minha coletânea de The Hollow Crown da minha mão e só a mostrou para o papai.

— Eu não diria que ele vai conhecer Shakespeare, ele já sabe quem ele foi, eu iria mais além e diria que ele vai conhecer o Tom Hiddleston!!

— Quem é esse tal de Tom... ? – Agora nós tínhamos a atenção dele. Kelly começou a gargalhar na hora.

— Esse príncipe aqui. – Apontei para o dito cujo na capa do DVD.

— Outro inglês? Não era o tal de Lewis?

— Louis, pai! Ele ainda é, na música assim como todos os meninos da 1D. O Hiddleston é no cinema, no teatro...

— Não me diga que eu vou ter que te levar para ver uma peça de Shakespeare por conta desse aí? – Ele me olhou zangado.

— Não é uma má ideia, mas acho que a mamãe me leva, né mãe?

A essa altura, todos estavam rindo.

Me voltei para Tony.

— Muito obrigada! E foi no melhor momento, a segunda temporada, com o Benedict Cumberbatch vai estrear em maio...

Papai bufou.

— Mais um inglês?! Jen, será que você pode me atualizar de quantos ingleses essa garota gosta?

Depois dessa, mamãe, entre risadas, me pediu para trocar de assunto, e ficamos conversando e entre acabar de preparar o jantar e colocá-lo na mesa, a hora passou e papai ainda não tinha se conformado de que a minha lista de amadinhos tinha aumentado consideravelmente.

O jantar foi barulhento, além de alimentar duas crianças, já que Jack já estava comendo papinha, e tentar agradar o paladar de criança de cinco anos de Tony, o que era quase impossível, conseguimos manter uma linha de conversa na qual todos participavam, não por muito tempo, já que Ducky tinha sempre que começar uma história lá do tempo da vovozinha...

Como não poderia deixar de ser, teve bolo e cantaram os parabéns. Kelly teve a audácia de me chamar de velha. E depois que nos matamos de comer doces, que arrumamos a cozinha (eu e Tony, afinal, meus pais não abriram mão da escala e foram ficar com os netos e o restante da família, Tony que muito gentilmente se prontificou a me ajudar e conversar sobre a pessoa desaparecida da família.) finalmente eu pude ir para sala de estar novamente.

Assim que entrei, papai, saiu e ficou sumido por uns cinco minutos, reaparecendo com uma caixinha na mão. Uma caixinha menor do que a Will havia me entregado mais cedo naquela noite.

— Agora eu estou realmente se graça, são três presente e eu não comprei nada! – Ellie murmurou, ela ainda estava se ajustando à família.

— Jethro, eu achei que nós tínhamos combinado que não daríamos presentes. Que faríamos as doações que ela pediu!

— Jen, esse aqui foi uma promessa que fiz há muito tempo. Será que você vai se lembrar, Ruiva? – Me abraçou pelo ombro e me entregou a caixinha.

Olhei para caixa de papel, não tinha nada de especial, nem um laço tinha, ou seja, era um presente só do meu pai mesmo. E, enquanto pensava no que ele havia falado, levantei a tampa e dei de cara com a chave do Dodge Hemi, minha carteira de motorista e os documentos do carro, que agora estavam no meu nome.

— Pai. – Eu falei mais assustada do que feliz.

— Eu te prometi, não foi?

— Mas, papai.... é o seu carro!— Tornei a falar, meus olhos não deixando o documento com o meu nome nem por um segundo.

— NÃO! – Mamãe chiou. – Jethro você me prometeu que não deixaria aquele foguete na mão da Sophie antes que ela completasse 21 anos!

Kelly deu um pulo.

— O senhor deu o Dodge para ela?!

Papai era mestre em ignorar quem ele queria e resolveu se focar só em mim.

— Pai, isso não é justo.

— Isso mesmo! Não é justo! Eu nunca ganhei um carro!! – Kelly comentou.

— Ruiva, só aceite.

— Mas... a história desse carro. O senhor comprou o motor, o vovô o reconstruiu do jeito que o senhor queria fazê-lo! Pai... significa muito mais para o senhor, é, basicamente, o último presente que o vovô Jack te deu! Eu não posso aceitar! – Comecei a chorar.

— Ruiva, vem comigo. – Papai me pediu. Quando me levantei para segui-lo, vi que mamãe ainda bufava de raiva, Kelly tinha uma cara de quem não acreditava que isso estava acontecendo e todos os demais só observavam a cena.

Achei que ele iria para o porão, afinal todas as nossas conversar sérias aconteciam lá. E me lembrei que a última conversa séria que tivemos foi exatamente sobre o vovô, dois dias depois que ele fora sepultado. Contudo, ao invés de seguir para dentro da lavanderia e ir para o porão, ele abriu a porta que dava para a garagem, caminhou até o Dodge e abriu a porta do passageiro, se sentou lá e apontou para que eu ocupasse o banco do motorista.

Fiz o que ele mandou e me sentei ali, me sentindo oprimida e ao mesmo tempo saudosa, esse carro me lembrava o vovô e aquela tarde do casamento da Kelly, quando passeamos nele pela primeira vez.

— Sophie. – Ele começou quando eu não olhei para ele.

Limpei os olhos, já estava chorando.

— Sim?

— Esse carro é seu.

— Mas pai!

Ele colocou um dedo na frente dos meus lábios.

— Eu sei o que você disse, mas saiba que seu avô iria querer isso. Ele estava do meu lado quando eu te falei que te daria esse carro, e a última vez que falei com ele no telefone, uma semana antes dele... bem, ele me lembrou disso. Disse que queria estar aqui para que pudesse ser o seu primeiro carona.

Eu comecei a soluçar ao me lembrar de um momento bem específico.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Vovô tinha sido o primeiro a me colocar atrás de um volante, eu tinha doze anos e estava em Stillwater. Foi aquele verão bagunçado onde um maluco estava querendo explodir o NCIS e a equipe trabalhava sem parar, buscando todas as pistas para encontrá-lo. Mamãe trabalhava como louca e Kelly ainda estava se adaptando à presença de Will na vida dela, tudo estava tão fora dos eixos, que mamãe achou melhor me mandar para a casa de vovô, para me preservar de ter um colapso nervoso. Eu passei três meses lá, ajudando o vovô na loja, sendo paga com doces caseiros, recebendo encaradas dos desafetos de papai e, a melhor parte.

Vovô tinha uma velha pick up, ainda mais velha do que a que papai tem, e aquela coisa vivia mais quebrada do que funcionando. Um domingo, saímos cedo para ir à missa, e quando entramos na caminhonete, ela não ligou. Sendo um Gibbs, é claro que ele não gostou, mas disse que arrumaria depois. Fomos para a igreja a pé mesmo e quando voltamos, vovô me mandou trocar de roupa, pois ele iria me ensinar a consertar um carro, uma lição futura para quando eu tivesse o meu próprio.

Passamos o dia inteiro dentro da garagem, ele falou comigo passo a passo do que estava arrumando e me fez de ajudante, eu passava as ferramentas e observava. Para falar bem a verdade, eu não aprendi nada, só via um monte de graxa e cabos, mas me diverti bastante.

— Agora, Pestinha, ligue o carro, não se esqueça de colocar em ponto morto antes de virar a chave.

Ajustei a marcha atrás do volante, e virei a chave. Não pegou de primeira.

— Pise mais fundo no acelerador, quando virar a chave. – Ele mandou.

Foi o que fiz e a pick up rugiu para a vida.

Ele deu um sorriso e apenas disse.

— Ótimo! Agora vamos dar uma volta para testá-la. – E, ao invés de subir no banco do motorista, ele subiu do lado do carona. – Ande, Ruiva. Vamos lá!

— Vô... eu nunca dirigi. Só manobrei os carros do papai e da mamãe na garagem lá de casa. O máximo que fiz foi tirá-los da garagem.

— Então você sabe o que fazer. Essa aqui é igual a do seu pai, só precisa manter o giro um pouco mais alto. Agora vamos rodar.

Eu estava tão apavorada, que deixei a caminhonete morrer umas duas vezes, antes de conseguir me concentrar no que tinha que fazer.

— Com calma, Sophie. Tire o pé da embreagem devagar.

Tirei e o carro se moveu.

— E se nos pararem? Vamos presos! E isso é tudo o que mamãe não precisa na cabeça dela! E o papai vai vir igual a um maluco até aqui... acho melhor não, vovô!

— Ninguém vai te parar, porque o neto do xerife é da sua idade e já está dirigindo.

Acreditei no que vovô me disse e me concentrei no que tinha de fazer. Andamos não só por Stillwater, mas pelas redondezas também, sempre em estradas vicinais para não chamar atenção. Ele me fazia parar do nada, só para que eu aprendesse a arrancar como uma pessoa normal. Quando voltamos para a casa dele, guardei a pick up e desci feliz da vida, vovô só me olhou e disse:

— Eu sabia que alguma coisa do Leroy tinha passado para você, e pelo visto foi isso, você ama carros e dirigir tanto quanto o seu pai, mocinha!

Eu só soube rir, o restante do verão foi mais do mesmo, e quando eu vi, estava voltando para D.C., dirigindo a velha pick up, com vovô do meu lado.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

E lembrando desse dia, eu disparei a chorar ainda mais.     

— Vovô foi o meu primeiro carona. – Falei entre soluços.

— Eu sei. – Papai me respondeu. – Ele me falou que te colocou para dirigir por toda Stillwater e, também, que você dirigiu até que pegaram a interestadual quando ele te trouxe de volta. Mas quando meu pai disse que queria ser o seu carona, ele se referia a ser seu carona quando você estivesse dirigindo esse carro. Ele disse que, no fim das contas, ele sempre soube que acabaria na sua mão, afinal, Kelly gosta de carros caros e chiques.

— Mas papai... e o senhor?

— Eu tenho o meu. – Ele apontou para a velha pick up.

— E a mamãe? Ela não ficou nada feliz com a troca de dono....

— Ruiva, eu dou um jeito nela. Afinal, ela queria te dar um carro, você tem sido uma adolescente bem tranquila, se levarmos em conta a criança que você foi.

Senti meu rosto corar ao lembrar de cada travessura que fiz.

— Mas nunca passou pela cabeça dela, esse carro. – Eu falei passando a mão pelo volante.

Ele riu, alto.

— Claro que não! Esse aqui sempre vai ser “aquele foguete amarelo”! Ela queria te dar um Volvo, porque é o carro mais seguro do mundo e ela tem certeza de que você herdou os meus genes quanto à direção. Mas ela vai se conformar quando ver você dirigindo esse aqui. – Ele deu um tapa no painel.

— Papai, eu agradeço, mas eu acho que não precisa. Eu tenho o Melvin, ele até me deu uma caixa de cookies caseiros hoje!

Papai beijou a minha testa.

— É por isso que eu sei que estou fazendo a coisa certa, filha. Você tem a mesma responsabilidade da sua mãe, e merece ser mimada, afinal, tem quantos anos que você não ganha um presente no seu aniversário ou de Natal?

Dei de ombros, a minha última festa tinha sido aos dez anos, depois dessa, passei um aniversário em um parque de diversões com alguns amigos e, bem... entramos na adolescência e cada um foi para um canto, sendo que meu último presente de verdade foram os ingressos para o show da One Direction. Quanto aos Natais, agora só fazemos amigo secreto. Os únicos que ganham presentes do Papai Noel são Will e Jack. 

— Pense nesse como uma compensação por todos esses e por todos o que eu perdi. – Papai completou.

— Tudo bem. – Encarei o painel do carro.

— Mas eu te peço uma única coisa, Sophie.

Me virei para papai.

— Que é?

— Cuidado. Eu sei que correr pode ser divertido, e é. Porém, eu quero que você seja responsável, você já provou o pavor de se ver cara-a-cara com um caminhão, lembre-se dessa sensação quando quiser dar uma de piloto de Fórmula 1. Eu estou te dando esse carro, acreditando que você é responsável, que você é madura o suficiente para tê-lo e permanecer com ele sem fazer nenhuma besteira. Esse é o meu voto de confiança em você, e, se me decepcionar, eu te tomo o carro, te tomo a carteira, e você só vai dirigir de novo quando comprar o seu carro.

— Tá bom. Eu vou fazer valer esse voto de confiança. Mas papai....

Ele levantou uma sobrancelha na minha direção.

— E a manutenção?

— Kelly nunca me perguntou sobre isso!

— Kelly nunca ficou com um carro por mais de três anos! E todos os carros dela foram tirados da concessionaria zero, né? – Retruquei.

— Nisso você está certa, Ruiva. Mas, e isso fica entre nós, eu tomo conta dessa parte até que você saia de casa de vez e leve esse foguete embora.

— Isso ainda vai demorar, papai. Sabe por quê?

Ele, que já estava para sair do carro, só me olhou.

— Eu jamais vou abandonar vocês!

— Eu nunca duvidei disso! Agora vamos voltar antes que a sua mãe venha nos tirar daqui pela orelha.

Voltamos para a sala, minha cara de choro não passou despercebida por ninguém. Vi que tanto Jack quanto Will já dormiam.

— Só estava esperando vocês dois para me despedir. – Kells falou. – E sabe, Moranguinho, desculpe o ataque, é que...

— Você foi para a igreja dentro daquele carro no dia do seu casamento. Eu sei, Kells.

— Então, toma conta daquele Dodge. Não vou dizer que vou tomá-lo de você, porque não sei nem dirigir aquilo, meus carros são automáticos, mas eu gosto daquele carro e cabe a você preservar essa parte da minha história! – E minha irmã me abraçou apertado. – Caramba... dezesseis!

— E você trinta e três e dois filhos!!

— Tudo bem, paramos aqui! Tudo de bom para você, Moranguinho! – Me deu um beijo na testa. E foi se despedir dos demais antes de pegar um dos filhos e ir para a porta.

Henry veio em seguida e me desejou quase a mesma coisa, só não pediu para dirigir o carro, porque o papai o mataria.

E eles se foram, aos poucos o restante da família se foi também, todos me pedindo uma chance de ganhar uma carona.

Antes de Ducky ir embora, ele ainda me presentou com uma história da primeira vez em que ele dirigiu nas ruas americanas e bateu o carro em outro, que levava no porta-malas um certo Marine que nós conhecemos muito bem, e já dá para imaginar o tanto que demorou para ele me contar essa história, né?

Quando todos se foram, mamãe me chamou, batendo a mão no sofá para que eu me sentasse ao seu lado.

— Sim. – Parei na sua frente.

— Eu não tenho um presente para te dar, pensei em comprar alguma coisa, mas não quis ir contra os seus desejos, porém, eu tenho um pedido para te fazer. – Ela me puxou de volta para o sofá.

— Pode fazer.

— Seja responsável. Eu sei o quão rápido aquele carro pode ir, eu sei que é uma delícia dirigir correndo, mas eu não quero que você vire estatística, Sophie. Eu quero que você possa curtir aquele carro por quantos anos ele ainda ficar de pé, porém não quero saber de acidentes, ou que você foi presa por dirigir alcoolizada ou por excesso de velocidade. Estou confiando na pessoa que se você se tornou e no julgamento do seu pai, porque sei que ele jamais te daria um carro, ainda mais aquele lá, se não confiasse que você será responsável.

— Eu vou fazer a senhora se orgulhar de confiar em mim.

— Espero que sim. Agora... – Ela pegou o celular, discou o número do Melvin. – Boa noite, Melvin, desculpe o horário, só queria te informar que não precisa vir me pegar ou pegar a Sophie amanhã. – Uma pausa. – Sim, pode ir direto para o Estaleiro. Meus compromissos são só à tarde. – Outra pausa. – Muito obrigada, e diga a Meghan que os cookies estavam deliciosos. Boa noite! – E ela desligou.

— O que foi tudo isso, Jen?

— Ora Jethro. Tenho que ser a primeira pessoa para quem Sophie dará uma carona. Afinal, eu a carreguei por oito meses dentro da minha barriga e sei lá quantos anos no colo e como pagamento, ela vai me levar para Estaleiro antes de ir para a Escola amanhã!

Eu vi na cara de papai que ele estava começando a se arrepender de ter me dado o Dodge. Já mamãe, ela parecia feliz, agora sim, ela tinha uma motorista para qualquer coisa.

Na manhã seguinte, me levantei mais cedo, me arrumei, peguei minha mochila e desci. Tomei um café tranquilo ao lado dos meus pais e quando deu sete horas, chamei mamãe.

— Eu não posso me atrasar para a Escola e ainda tenho que atravessar a cidade para te deixar no NCIS!

Como sempre, ela se levantou da mesa, acabou de se arrumar, passou por papai, deu um selinho nele e disse:

— A cozinha hoje é sua, Jethro. Te vejo no Estaleiro.

E nós duas fomos para a garagem. Quando liguei o carro, tive a plena certeza de que toda a rua escutou o ronco do motor.

— Como se a cor dele não chamasse atenção, o ronco também serve para avisar que você está chegando. – Mamãe falou, mas ela tinha um sorriso no rosto. – Vamos logo. Vamos chocar um pouco essa vizinhança com esse muscle car!

Dirigi pelo trânsito quase pesado com facilidade, como vovô disse, eu meio que tinha herdado isso de papai. E quando chegamos no Estaleiro e eu parei na guarita de segurança e abaixei o vidro para mostrar a identidade e quem eu estava levando, o Marine que fazia a segurança quase deu uma síncope.

Deixei mamãe na porta principal, todos os agentes, sem exceção, estavam olhando para o carro e tentando descobrir quem desceria, assim que viram a Diretora descer sozinha e ainda dizer bem alto: “Te espero no fim do expediente para me pegar. E tome cuidado, Sophie!”, se viraram para o carro e para mim. Pelo retrovisor vi Tony e Abby caminhando com enormes sorrisos nos rostos.

Quase na saída, cruzei com papai. Ele fez questão de parar a pick up e soltar:

— Belo carro!

— Eu sei, foi o meu pai quem me deu. – Respondi entrando na brincadeira.

— Ele tem bom gosto e nenhum juízo na cabeça para dar um carro desses para uma garota tão nova.

— Deve ser exatamente isso que a minha mãe deve estar pensando agora! – Ri.

— Agora vai e seja responsável, filha!

Dirigi até a escola, meu plano era chegar quase em cima da hora e parar o mais longe da porta principal possível. Tive essa sorte.

Passei o dia todo sentindo o peso das chaves e do chaveiro na minha mochila, por uma estranha razão, eu não queria que as pessoas me vissem com o carro, tinha sido da turma das sombras, da turma que não mexe e nem é perturbada por ninguém por muito tempo para querer chamar atenção agora.

Porém, nem tudo é do jeito que nós queremos. E, ao fim aula, quando coloquei o pé no estacionamento, vi que tinha uma horda de pessoas ao lado do meu carro.

Meu carro. Gostei de como isso soava.

— O que foi agora? – Emily perguntou, tirando as chaves do Mini Cooper dela da mochila.

— Acho que estão de olho no carro.

Ela esticou o pescoço.

— Amarelo canário. Muscle car. Me lembrou o carro do Tio Gibbs!

Eu olhei para ela.

— AH! PODE PARAR!! AQUELE DODGE?? Minha mãe jurou que o Tio Gibbs jamais deixaria alguma das mulheres da casa encostar naquilo e... – Minha amiga parou: - É seu ou é emprestado?

— É meu! – E eu não contive o tamanho do sorriso quando falei.

— Amiga, agora vá lá e mostre para essa escola quem é que manda. Não tem sensação mais poderosa do que esfregar na cara daqueles idiotas do futebol, que você é dona e proprietária de um carro. Falo por experiência. Vou ficar aqui te observando!

E lá fui eu. Tirei as chaves da mochila, pedi licença para todos aqueles jogadores de futebol e de basquete e, chegando perto do carro, mesmo diante de várias risadas, destranquei-o, entrei e fechei a porta.

Em dois tempos a horda ficou muda.

Ela é a dona desse carro? – Uma das líderes de torcida perguntou.

E como Emily bem disse, era bom pisar nos enjoados de vez em quando, assim, aproveitando que o sol estava forte, coloquei os óculos escuros, afivelei o cinto e, girei a chave, acelerando um pouco mais do que seria necessário, só para o motor V8 roncar alto.

Pela janela vi Emily levantar as mãos fazendo joinhas com cada uma para mim.

E, se eu já tinha feito barulho, o que custava deixar uma marquinha a mais, né? Assim, acelerei fundo e saí cantando pneus, quando passei por Emily ela tirava foto da cara de besta dos jogadores.

Ser integrante da turma que não chama atenção é bom, mas... quer saber, chamar a atenção também era bom.

E ainda melhor quando eu estava dirigindo o meu próprio carro.

Não contive o sorriso que se espalhou no meu rosto.

Talvez o que papai disse no estacionamento do NCIS seja verdade, ele tinha bom gosto e juízo nenhum quando me deu esse carro. A única certeza que tinha era: Eu ia me divertir e viver muito atrás do volante desse Dodge Hemi 1971, amarelo canário...

Ah, eu ia sim!


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Notas finais do capítulo

É... agora que o Sr. e a Sra. Gibbs não vão dormir nunca mais!!!
Espero que tenham gostado!
xoxo



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