SPIN OFF - Carta Para Você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 7
O Segundo Bebê de Kelly


Notas iniciais do capítulo

É... e a família vai aumentar de novo!!
Boa leitura!!



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 — Kelly, tudo bem? – Henry me perguntou pela milionésima vez.

E pela milionésima vez eu estava contando mentalmente os dias. Acontece que o meu sono e o fato de que ainda estava amanhecendo não estavam cooperando com o meu cérebro cansado.

— Kelly, se você não me responder, eu vou derrubar essa porta! – Ele ameaçou. E para Henry ameaçar derrubar uma porta eu já estava aqui dentro há tempo demais.

— Só um minuto. – Falei.

— O que aconteceu? – Pude escutar ele se escorando na porta e se sentando no chão.

E eu continuava a contar, agora usando os dedos da mão.

— Bem... nada de extraordinário.

Mas era extraordinário porque bem... não foi planejado.

— Então se importa de sair daí?

Fiz uma careta. E me olhei no espelho. Não tinha outra opção, não mesmo. Respirei fundo e abri a porta. Henry se levantou no momento que a porta se abriu e me olhou, duas orbes verdes completamente assustadas com o meu comportamento estranho.

— Eu vou ser direta, não tem como ser de outro jeito.

Henry deu um passo para trás e cruzou os braços. Creio que ele estava pensando em outra coisa, muito provavelmente nas nossas últimas brigas, já que passamos as duas últimas semanas brigando, brigamos tanto, ou melhor, eu briguei tanto com ele que cheguei ao ponto de arrumar uma mala para mim, outra para Will e ir para a casa de meus pais, quase matando os três moradores de susto quando parei cantando pneus na entrada da garagem e comecei a chorar no instante exato em que abriram a porta.

— Kelly, calma. Eu sei que as coisas estão um tanto...

— Eu estou grávida, Henry. De novo. – Falei.

Eu vi sua reação em câmera lenta, vi o desespero deixar as suas feições, vi os olhos começarem a brilhar no instante em que o cérebro dele processou a informação e o enorme sorriso começar a crescer em sua boca.

— Grávida?! Vamos ser pais de novo? – Ele encurtou a distância entre nós com uma passada, me pegando em um abraço de urso, me levantando e me rodando.

— Sim, eu estou grávida e não faça isso. – Pedi assim que ele me colocou no chão, tudo rodava e eu tive que baixar a cabeça para respirar.

— Me desculpe. – Falou e me levou para a cama, onde se sentou do meu lado, jamais me deixando. – Melhor?

— Um pouco. – Joguei a cabeça para trás e acabei por me deitar, estava começando a ficar muito enjoada.

Henry ao meu lado era incapaz de ficar quieto e logo começou a passar a mão na minha barriga, depois apoiou a cabeça ali e começou a conversar com o bebê, que ainda não passava de um amontoado de células.

— Will vai ser irmão mais velho! – Disse depois de falar um monte de coisas sem sentido na direção da minha barriga.

— Sim.

— Será que vai ser um menino ou uma menina?

— Ainda não sei.

— Dessa vez colocaremos Sophie de madrinha!

— Isso é uma afirmação ou uma pergunta?

— Uma certeza. Ela era nova demais para ser madrinha do Will, será desse.

— E o padrinho?

— Sorteio igual fizemos com o Will.

— Falando no Will... está quieto demais... – Comentei e apurei meus ouvidos tentando escutar meu filho que tinha acordado com toda a bagunça e eu não sabia para onde Henry o havia levado.

— Deixei-o no quarto brincando. – Henry disse e se levantou para buscar nosso pequeno. Voltou dois minutos depois com um Will com a expressão fechada e agarrado a um hipopótamo de pelúcia e Nemo atrás deles.

— Hei bebê!! – Cumprimentei meu filho, assim que Henry o colocou na nossa cama.

— Mama. – Me falou e se deitou em cima da minha barriga.

— Acho que ele já sabe... – Henry disse.

— Nada é só manha mesmo. – Comentei.

E meu filho começou a bater na minha barriga, como que me indicando que tinha algo ali.

— O que foi? – Perguntei.

Will só apontava.

— Sabe o que tem aqui? – Perguntei e segurei a sua mãozinha nervosa. – Tem um bebê. Você vai ser irmão mais velho.

Will tombou a cabeça.

— Imão? – Falou e me lembrou demais a Sophie quando era pequena e não falava o “r” entre as sílabas.

— Sim. Irmão.

Meu bebê franziu o cenho e resolveu que se deitar em cima de mim era melhor do que entender o significado de “irmão”.

Henry, que tinha se deitado do meu lado, pegou a minha mão esquerda e a beijou.

— Você já tem certeza? – Me perguntou com todo o cuidado.

— Não fiz nenhum teste, se é isso que você está perguntando. Mas os sintomas são os mesmos e eu já cansei de ver marinheiras com eles. Eu estou grávida, Henry. Só preciso saber de quanto tempo...

— Não é só fazer as contas? – Ele me perguntou todo inocente.

— E o que você acha que eu estava fazendo dentro do banheiro? Sou da área de biológicas, amor. Passei longe das exatas... – Fiz piada.

— Para quem vamos contar primeiro? – Quis saber.

— Eu não tenho humor para outro jantar não... o do Will foi o primeiro e o último.

— Aquele entrou para a história...

— Nem me fale. Mas acho que vou contar para a Sophie primeiro... até porque vou precisar dela para me ajudar no final da gravidez... principalmente tomando conta do Will.

— Uma babá de graça.... – Henry riu.

— Bem isso. Aquela lá não dorme mesmo, fica acordada até altas horas, vai ser uma ótima babá. Depois eu dou uma barra de chocolate belga pra ela e Sophie fica feliz.

— E se ela contar para o seu pai?

— Melhor ainda... aí ele não fica todo sentimental comigo... – Respondi e procurei por meu celular. – Dá para... – Pedi ao meu marido, já que Will tinha desmaiado em cima de mim.

Henry se esticou, pegou meu celular e me entregou.

— E que Sophie faça a fofoca junto com Tony!!! – Ri assim que acabei de mandar a mensagem.

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— Mas quem manda uma mensagem para outra pessoa a essa hora da madrugada? – Resmunguei, quando escutei o barulho de notificação do meu celular. – MORRA!! ME DEIXA DORMIR!! – Falei.

— Já acordou filha? – Papai perguntou do corredor.

— Acho que sim... – Respondi e me sentei na cama, pegando o aparelho e vendo que era uma mensagem de Kelly.

Papai abriu a porta do meu quarto e deu um passo para trás.

— Bom dia! – Falei sem abrir a cara. – O que foi?

Meu pai só apontou para o meu cabelo.

— Dormiu com ele molhado?

— Úmido. Tá tão ruim assim?

Meu pai só meneou a cabeça concordando.

— Tanto faz... é sábado e eu não vou sair de casa... tenho que estudar. – Falei e me joguei para fora da cama, ainda tentando desbloquear o celular.

— Mas já com essa coisa na mão?

— Culpe a Kelly. Ela quem me mandou mensagem. Ninguém que eu conheço está acordado a essa hora da manhã. Pai, são seis da manhã de um sábado, tem dó, né? – Comentei procurando o meu moletom dentro do meu quarto. Até que prestei atenção no conteúdo da mensagem.

Parei. Completamente atônita. Jet, que sempre ficava me observando zanzar dentro do meu quarto com cara de sono, se pôs em alerta.

— MEU DEUS!! – Gritei.

— Não me diga que a sua irmã te deu ingressos para o show daquela banda...

— Não!! Nada disso! Muito, mas muito diferente disso! – Respondi ao meu pai e virei para ele. – KELLS ESTÁ GRÁVIDA!!!!

Foi a vez do meu pai ficar parado no meio da porta!

— Eu preciso contar para a mamãe! Cadê a mamãe? – Perguntei passando por baixo do braço de meu pai e saindo correndo até o quarto dele. – MÃE!! MAMÃE!!! – Entrei gritando.

Minha mãe se encolheu debaixo das cobertas, fingindo que não estava ali.

— Acorda, mãe!! Tenho boas notícias.

— Eu não quero saber ser a One Direction vai fazer outro show em D.C., e nem em que nova série o Tom Hiddleston está, ou se vai ter outra temporada de Sherlock.

Pulei na cama ao lado dela e apoiei meu queixo no seu ombro.

— A senhora vai ser vovó de novo!! – Falei feliz. – Kells está grávida.

Parecia que tinha eletrocutado minha mãe, pois em um piscar de olhos ela se levantou.

— Como você sabe disso? – Me perguntou.

Mostrei a mensagem.

— Por que para você? – Mamãe questionou tirando o celular da minha mão.

— Porque eu sou a pessoa mais linda da família! – Respondi convencida e ganhei um tapão na cabeça. – Também não era para tanto, né pai?

— Fica quieta e pare de pular. – Ele falou nada feliz. – Por que a Kelly não me conta isso? – Olhou para minha mãe.

— E você pergunta pra mim, Jethro? – Ela estendeu as mãos e eu consegui roubar meu celular de volta.

— Vou contar para a Abbs e pra todo mundo!! – Pulei da cama e sai correndo para o meu quarto.

— Deve ter sido pra isso que a Kelly contou primeiro para Soph... a fofoqueira espalha a mensagem. - Papai comentou injuriado.

— Eu não sou fofoqueira!! – Gritei de volta.

Com a evolução da tecnologia não tínhamos mais uma sala de chat, não... tínhamos um grupo de mensagens no celular.

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Eu: Tenho novidades!! Cadê todo mundo??

Abbs: Eu estou aqui... o que você está fazendo acordada tão cedo?

Tony: Quando não é o pai é a filha.... Peste Ruiva, por que tão cedo?

Ellie: Qual é? Hoje é sábado!

Tim: O que foi, Soph?

Eu: Que rufem os tambores!!!

Tony: Peste Ruiva pare com isso!!

Eu: Aprendi com você!! Se te irrita é porque aprendi certo!

Tim: É isso aí, Pequena!!

Jimbo: O que eu perdi?

Eu: Ainda nada...

Breena: Oi! Acordou cedo, Sophie!

Eu: Bom dia, Breena!!

Ducky: Sophie, por que toda essa falação tão cedo?

Eu: Bom dia, Ducky!! Eu estou tentando contar!!!

Ellie: Então conta!! Eu não acordei cedo à toa!!

Eu: A KELLS VAI SER MAMÃE!!!

Tony: Ela já é!

Eu: DE NOVO, SUA ANTA!!!

Tony: Ahn...

Abbs: MEU DEUS!! OUTRO BEBÊ!!! QUE LINDO!! EU AMO BEBÊS!!! É PARA QUANDO??? É MENINO OU MENINA??  ELA TÁ BEM?? E O HENRY?? Ele tá feliz?? E o Gibbs?? Ele vai ser vovô de novo!!!! A Jenny também!!! AAAAAA

Eu: Ainda não sei... ela não me deu detalhes. Talvez nem tenha ainda...

Tony: Outro bebê?? A Kelly e o Henry não..

Ducky: Anthony, por favor! Olhe quem é a administradora deste grupo!

Mamãe: Tony, se comporte!

Kells: Eu estou lendo as mensagens!

Abbs: KELLY!!!! EU TÔ TÃO FELIZ POR VOCÊS!!

Kells: Obrigada Abbs!

Abbs: É para quando?

Kells: Não sei.

Mamãe: Podia ter ligado e nos contado... a sua irmã quase que matou o seu pai do coração.

Eu: Vocês sabem que eu estou aqui, né? E agora eu sou “a sua irmã”? Quanta falta de consideração...

Tony: Olha a adolescente reclamando....

Eu: Tony, a gente conversa no privado...

Tony: Tô morrendo de medo!

Mamãe: Vocês dois parem!

Eu: Sim senhora.

Tony: Sim senhora...

Breena: Então, Kelly, quando tiver mais informações, passa para gente! Eu estou muito feliz que a Victória vai ter com quem brincar!!

Kells: Eu tinha me esquecido disso! Vão ser poucos meses de diferença!

Breena: Tem preferência?

Kells: Não. Desde que venha saudável. Mas, por enquanto, a mamãe aqui precisa correr... a beleza dos três primeiros meses...

Eu: Como esvaziar uma conversa... Kelly Gibbs-Sanders sabe muito bem como fazer isso.... tchau gente... até logo... e de nada!!

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Tony: Ficou no vácuo, Peste Ruiva!

Eu: Fiquei nada você me respondeu, lesado!!

Mamãe: Eu mandei vocês dois pararem!!!

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Pois é... dessa vez não teve jeito, Kelly teve que tirar uma licença-saúde da Marinha, motivos: hiperêmese gravídica, uma coisa que eu nem sabia que existia, mas que significa que os enjoos e as náuseas no primeiro trimestre de gravidez são tão fortes que podem deixar a futura mamãe e o bebê em risco. Minha irmã passou tanto mal, mas tanto mal, que a médica dela recomendou repouso e descanso, fora um monte de vitaminas para que ela tomasse, porque, para piorar, Kells não conseguia comer nada sem passar mal, assim, um tanto debilitada, ela acabou acampando com o Will, o Henry e o Nemo aqui em casa. E eu virei babá do meu sobrinho.

Dizer que foi uma confusão é apelido, é ser educada, porque foi o caos! Minha irmã não podia ficar sozinha por muito tempo, primeiro por que ela não estava seguindo a dieta à risca e segundo por causa de Will que sempre que via Kelly indisposta, começava a chorar. Assim, minha mãe remarcou todas as reuniões dela para a parte da tarde, ficando com Kells pela manhã que era o pior momento da minha irmã. Noemi assumia na tarde e eu chegava sempre por volta das quatro, então rendia Noemi e sempre ficava tomando conta de Will, e não raro saía com ele, Nemo e Jet para dar uma volta pelo bairro, assim meu sobrinho gastava energia e minha irmã podia descansar.

Um dia, estava dando um passeio relativamente longo com Will que parecia que tinha sido ligado na tomada e esqueceram de desligar, quando papai e mamãe passaram por nós...

— Não está um tanto longe de casa? – Mamãe perguntou assim que papai parou o carro.

— Ele não para de correr... e Kelly está em um dia particularmente ruim... passou mal o dia todo. Henry vai leva-la ao hospital para ver se tudo está bem... e não quero que ele – e Will saiu correndo de mim. – Depois a gente conversa! Will volta aqui!!! – Gritei atrás do meu sobrinho. – Jet... atrás dele e traga-o aqui! – Ordenei ao meu cachorro que em um instante chegou até meu sobrinho e, parando na frente dele, vez com que ele parasse de correr.

Logo escutei passos, papai tinha descido do carro e assobiava. Will parou na hora, olhou, procurando de onde tinha vindo o barulho e assim que avistou o avô, veio correndo com os braços abertos.

— Que moral, hein? – Falei...

— Um dia você vai ter também, mas por enquanto, você é só uma criança de um metro e setenta com quem ele gosta de brincar.

— Legal... – Murmurei quando Will finalmente chegou até meu pai e ele o pegou no colo. – Até agora tudo estava indo muito bem... só para constar. – Falei e me virei procurando pelo carro. – Cadê o carro?

— Sua mãe levou.

— E eu achando que teria carona.... – Me virei para seguir papai, com a guia de Nemo na minha mão, Jet foi andando do meu lado, sem precisar de coleira ou guia, as vantagens de ter sido treinado no Campo de Lejeune!

Papai foi brincando com Will, que apontava para tudo o que via e tentava falar os nomes, já eu fui guiando o incontrolável border collie do casal número 01 de D.C.

— Por Deus! Kelly e Henry têm que mandar adestrar esse ser!!! Ele para a cada segundo!

— Nem todos os cachorros são o Jet, Sophie. E você não teve que adestrá-lo.

— Não, ele já chegou perfeito para mim, né Jet? – Acariciei a cabeça do meu cachorro que andava obedientemente ao meu lado.

Will chamou a atenção de meu pai para alguma coisa que estava em uma árvore, um esquilo.

— Ai não... – Gemi em desespero, já sabendo qual seria a reação de Nemo.

E não deu outra, o border collie tentou me puxar até onde o esquilo estava. Tudo o que me restou fazer foi força no sentido contrário para que ele ficasse do meu lado.

— Esse cachorro ainda vai me matar de vergonha...

Papai riu.

— O senhor ri porque não é o senhor quem sai com ele todos os dias... tem gente que já até me olha torto...

— Discuta isso com Henry, nada de reclamar perto de Kelly.

À menção do nome da minha irmã, Will começou.

— Mama... mama.

— Já estamos chegando em casa, Campeão. Só mais um pouco. – Papai falou para Will que só ficou encarando em resposta.

Mais três quadras e muitos puxões na guia de Nemo depois, entramos em casa.

— Chegamos. – Anunciei, nem sabia se tinha alguém em casa.

Papai colocou Will no chão que foi logo querendo subir a escada atrás da mãe.

— Não, Will. Hora do banho! – Falei.

— Não. – Protestou o pequeno e se sentou de braços cruzados no chão.

— Sim! – Falei firme e o tirei do chão. – Só depois de estar limpo que você vai poder ver a sua mãe.

Will fez uma pirraça, que eu, já acostumada, nem liguei, só soltei a seguinte pérola.

— Continue assim, Alicia. – E na mesma hora ele parou, nem o Loiro gostava da outra tia.

Passei em frente ao quarto de minha irmã e escutei-a conversando com mamãe, hoje ela estava mal pra caramba.

Preparei o banho de Will enquanto ele estava distraído brincando com alguns carrinhos dentro do meu quarto, e virava e mexia ele jogava o carrinho para longe e Jet ia, pegava o brinquedo e colocava perto dele de novo, essa cena se repetia umas dez vezes, até que Will se cansava e resolvia se deitar em cima de Jet.

— Pronto, Loiro, hora do banho. – Falei, já devidamente pronta, pois meu sobrinho é mestre de espirrar água para tudo é quanto é lado, então eu praticamente me blindava com um roupão e uma touca pra não ter que ficar lavando o cabelo todo dia. E hoje Will estava barulhento, para tudo ele soltava gritos, seja para uma bolha, um brinquedo que ele tinha jogado para fora da banheira e Jet tinha jogado de volta para ele ou só apontava para mim e soltava:

— Tia, tia, tia.

— Sim, sou eu.

E lá ia ele tentar tirar a touca para puxar o meu cabelo.

— Não, Will. Você não vai molhar o meu cabelo hoje.

E ele se distraiu com as bolhas de sabão enquanto eu terminava de dar banho nele.

Com meu sobrinho devidamente limpo, alimentado e arrumadinho, resolvi que poderia deixá-lo ver Kelly um pouco, já era hora do cochilo dele.

Bati na porta ao escutar que agora era Henry quem estava lá.

— Entra! – Meu cunhado chamou.

— Licença... é só que tem alguém que está chamando a mamãe... – Falei com Will no colo. E ele logo se agitou ao ver os pais.

— Eu vou me levantar para dar o jantar dele. – Minha irmã tentou se levantar.

— Não precisa, Kells. Ele já tomou banho, jantou e tá com essa carinha de quem precisa dormir... – Falei ao ver que meu sobrinho esfregava os olhinhos.

— Muito obrigada, Moranguinho! – Kelly me agradeceu e eu vi o tanto que ela estava aliviada por alguém ter tomado conta do filho dela quando ela não pode.

— De nada... sempre que precisar. – Dei de ombros. Henry veio para perto de mim e pegou o filho nos braços.

— Oi Campeão... você não deu muito trabalho para a tia, deu?

Will só soube jogar a cabeça no ombro do pai e agarrar a gravata dele, pegando no sono quase que imediatamente.

— E você? – Perguntei - Tá mal assim?

Kelly se escorou na cama, levando a mão até a testa e respirando fundo.

— Você não faz ideia. Hoje foi o pior dos dias até aqui. E é a metade do primeiro trimestre. Mais seis longas semanas pela frente.

— Não tem previsão para melhorar?

— Tem para piorar... isso pode durar a gravidez inteira em alguns casos. Se for o meu... – Ela suspirou.

— Estou preocupada com o pouco que você está comendo... – Expressei não só a minha preocupação como a de papai também.

— Papai já falou isso. Mas não dá... nada fica. E eu já estou nervosa com isso.

— Não fique... li que faz mal para o bebê... – Comentei.

— Você entrou em site que fala sobre gravidez? Está querendo aumentar a família, Sophie? – Ela brincou comigo.

— Só curiosa com o seu diagnóstico... nunca tinha ouvido falar disso.

— É uma condição não muito rara, mas que quando cisma de acontecer, não tem mulher que fique de pé.

— Reparei... conseguiu te derrubar. Mas, você vai ao hospital?

Foi Henry quem respondeu essa:

— Vamos precisar de seus serviços de babá novamente. Eu não vou deixar a Kelly passar outra noite como essa. Ela não comeu nada e nem as vitaminas que ela tem que tomar ficaram no estômago.

— O que precisar Henry. Só não quero o berço no meu quarto...

Kelly balançou a babá-eletrônica.

— Nem nós, Sophie. Esse rapazinho aqui tem que aprender a dormir sozinho.

Henry nem acabou de falar, e minha mãe apareceu na porta.

— Oi Filha. – Me deu um beijo na testa. – Vai ajudar a sua irmã?

Olhei para Kelly.

— Meu Deus... olha o que me tornei... – Ela escondeu o rosto nas mãos. – Deixa que eu me viro... Sophie já tomou conta do Will, vai tornar a tomar e ela ainda tem que estudar, porque desde que chegou da escola está só por conta de mim...

— Minha matéria está toda em dia.

— Sei... – Kells não acreditou em mim. – Eu não te vi com a luz acessa até à três da manhã essa noite não, né? Você deixou de dormir para poder estudar, não é justo com você. – Se levantou da cama devagar.

Mamãe fez uma cara feia na minha direção. E eu dei de ombros.

Kelly logo tratou de nos enxotar do quarto. Henry levou Will para o quarto de hóspedes, onde papai tinha arrumado uma cama com grade para ele, mamãe ficou por perto, caso Kells precisasse de algo e logo me empurrou para o meu quarto.

— Vá estudar. Kelly pode acreditar nas suas mentiras, mas eu sei quando mente, Miniatura.

Revirei os olhos e corri para meu quarto, eu realmente tinha muita coisa para fazer, era meio do semestre e os professores estavam achando que nós ainda tínhamos gás para uma penca de trabalho manuscrito, provas, ensaios e apresentações.

Me sentei com a babá-eletrônica do meu lado, qualquer coisa que meu sobrinho precisasse eu sairia correndo para ajudar.

E, nessa corrida maluca, se passou os três primeiros meses da segunda gravidez de Kelly. Com o fim do primeiro trimestre, era para os enjoos diminuírem, só que isso não aconteceu e como o bebê não estava ganhando peso – e minha irmã começou a surtar com isso. – meus pais decidiram que era melhor ela ficar lá em casa, pois assim tudo o que ela teria que fazer era se concentrar no trabalho e no bebê não nascido, nós cuidaríamos do restante.

Ela voltou ao trabalho em uma escala mais leve, o que não quer dizer que ela tenha trabalhado menos e, mesmo estando com a cabeça ocupada com o trabalho, não raro ela me mandava uma mensagem assim:

Hei, Moranguinho... eu sei que o seu ano letivo já está acabando e que você tem provas e trabalhos, mas... você acha que está tudo bem com o Jack?

Ela tinha descoberto há duas semanas que teria outro menino. Ainda não tinha falado com Henry, nem com ninguém, só comigo, já que eu fui com ela no dia do exame. E, assim que a médica disse que ali dentro do útero dela tinha um menino, minha irmã foi logo falando:

— É o Jack! Ele vai se chamar Jackson!

— O vovô ficaria orgulhoso. – Falei me lembrando do meu avô que tinha falecido no ano passado.

— É uma homenagem a ele. Não sei o porquê, eu tenho a impressão de que ele – E ela apontou para a própria barriga. – Será mais um Gibbs do que um Sanders. Inclusive na aparência. E você será a madrinha dele.

— Com todo o prazer. – Respondi e a ajudei a descer da maca.

E desde esse dia, eu guardo esse segredo, Kelly tem medo de contar que será outro menino, de falar que já escolheu o nome e, bem... a gravidez não ir para frente... e toda vez que ela pensa nisso, minha irmã me manda a mesma mensagem.

Kells, como você mesma já disse, Jack é mais um Gibbs do que um Sanders, dentro de cinco meses ele vai estar aqui.— Foi a mensagem que mandei.

E se ele chegar antes da hora?

Só prova que todos os Gibbs são realmente apressados...

Obrigada... eu precisava ler isso.

E ela ia e voltava ao trabalho. E eu me concentrava nas minhas matérias, já que mamãe passou a chegar mais cedo para tomar conta de Will, que, mesmo com a presença da vovó Jen, só gostava de ficar no meu quarto, sentado do lado da minha cama, deitado com a cabeça no Jet e os pés em cima de Nemo, era só assim que ele ficava quieto e, como ele gostava de ficar aqui, minha mãe se apossava da minha escrivaninha e eu era relegada para o chão.

— Está conversando com quem? – Mamãe me perguntou, mesmo de costas para mim.

— Com Kelly. Ela quer saber como Will está... - Falei uma meia verdade.

Mamãe deu um sorriso de lado e se virou na minha direção.

— Sabe, filha, eu nunca pensei que Kelly fosse ter mais de um filho, para falar a verdade, eu nunca pensei que ela e Henry teriam filhos... os dois simplesmente surtaram quando ficaram do seu lado quando você era uma bebê.

Eu ri acompanhando a risada de minha mãe.

— E nunca imaginei que você se tornaria essa adolescente que deixa de sair com os amigos para tomar conta do sobrinho. Você me surpreendeu.

Arregalei os meus olhos.

— É sério, filha. Você tinha todo o direito do mundo de reclamar da presença da sua irmã casada dentro dessa casa, jogando a responsabilidade de tomar conta do filho mais velho dela em cima de você, enquanto todos nós só temos olhos para ela... qualquer outro adolescente já teria sumido durante os finais de semana para qualquer lugar e voltado tarde noite; já teria começado a reclamar dos choros e da bagunça que uma criança de três anos faz... mas você não. Você brinca com Will, leva-o para passear, dá banho... uma verdadeira babá, e ainda ajuda a sua irmã e a Noemi. Eu não poderia estar mais orgulhosa de você.

Senti meu rosto pegar fogo.

— Mas a senhora e o papai me criaram assim.

— E você é uma adolescente, Sophie... basta olhar suas amigas que tem irmãos pequenos... elas não ajudam os pais ou eu estou enganada?

Pensei nos casos que ouvi dentro da escola. A grande maioria saía correndo de casa, ou nem voltava para casa e vivia reclamando dos choros.

— Pelo seu silêncio, eu não estou errada. E eu queria te agradecer, filha. Por sua responsabilidade e por toda a ajuda que você nos dá. Pode ser que não conversamos mais tanto assim, por falta de tempo, mas tanto eu quanto o seu pai sabemos e notamos o que você está fazendo. E isso não vai passar em branco.

— Eu só estou sendo parte da família. – Foi a única explicação que encontrei.

Minha mãe abriu um sorriso e estendeu os braços. Na mesma hora eu corri para os seus braços abertos e a abracei.

— E obrigada por nunca se recusar a me abraçar quando eu preciso.

Aproveitei e dei um beijo na bochecha dela.

— E eu achando que você não faria mais isso...

— Parar por quê? Por que um bando de menina bulímica por opção acha ridículo? Pode ser com a família delas, com a minha não tem nada de ridículo.

— Por favor, continue pensando assim. – Mamãe beijou a minha testa. – Agora pode voltar para o seu estudo, daqui a pouco o seu pai chega e acaba o seu sossego.

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E eu tinha vencido os seis primeiros meses de gravidez, contra muitas probabilidades que eu nunca falei com meus pais ou meu marido e, agora, estava indo para o sétimo mês, com uma barriga bem menor do que a que eu tinha quando esperava Will, o que, claro, não me deixava feliz.

Tinha acabado de fazer um dos últimos ultrassons... Jack estava bem, dessa vez ganhou peso e, pelo menos agora, tinha o tamanho de um bebê saudável, porém não me deu a tranquilidade que eu precisava. E como eu vinha fazendo durante toda a gravidez, iria mandar uma mensagem para a única pessoa que vinha me apoiando mais do que eu imaginava que faria, só que ela fez isso primeiro:

Como está o meu afilhado?

Tive que rir, Sophie estava levando essa história de madrinha muito à sério.

Dessa vez bem. Ganhou peso e cresceu. Faltam dois meses, Moranguinho.

Eu não te disse que esse garoto é praticamente 100% sangue Gibbs? Se eu sobrevivi, Jack daqui a pouco estará aqui para tomar o meu lugar como o mais bagunceiro da família...

Pelo amor de Deus! Só você e o Tony já bastam.

E Sophie teve a audácia de me mandar um meme como resposta... Ah essa minha irmã.

Por mais que a minha sogra e Claire tenham insistido, Jack não teve um chá de bebê. Eu ainda tinha as coisinhas de Will, não precisava de outra festa para ganhar roupas, e, além do mais, eu não aguentava ficar muito tempo de pé e não aguentava cheiros fortes e falação.

E, quando eu falei isso, quase que o mundo acabou... as únicas pessoas que ficaram do meu lado foram papai e Sophie, que compraram a briga em meu nome e, vamos dizer, as coisas ficaram um tanto estranhas e ainda estão, pois cada vez que Caroline tenta me convencer que devemos fazer uma festa, porque o Prefeito de D.C. vai ser pai de novo, Sophie se levanta e diz que, se eu não quero festa, ninguém vai fazer nada.

E, assim, ganhei dois defensores que estavam prontos a qualquer momento, para me ajudar e me defender.

Sem chá de bebê, ainda sofrendo com enjoos intermináveis, com a minha sogra falando sem parar na minha cabeça e com a minha irmã e meus pais a ponto de me esconderem dela, cheguei ao oitavo mês.

— Eu não acredito que a Bruxa do Capitólio teve a cara de pau de aparecer aqui em casa para falar na cabeça da Kells! – Sophie estava revoltada em um nível que eu nunca vi.

— Sophie Shepard-Gibbs! Olhe os modos! – Jen ralhou com a filha que só se jogou no chão, se sentando aos pés de meu pai, com os dois cachorros ao seu lado e com Will em seu colo.

— Eu só disse o que todo mundo aqui queria dizer. – Sophie bancou a sincera e papai deu um tapa na cabeça dela.

— Tá bem, calando... - Falou exatamente igual ao DiNozzo.

— E o que, exatamente, Caroline Sanders queria? – Jen me perguntou.

Mudei a minha posição no sofá, ficando sentada ao invés de deitada.

— O de sempre. – Resumi.

Sophie bufou e levantou a mão.

— Eu não vou ouvir nenhum insulto novamente, Sophie.

Ela abaixou a mão e tentou distrair o meu filho, apontando para a imagem no livro que ela tinha na sua frente. Papai ao ver isso, teve que disfarçar o sorriso, diante do olhar matador de Jenny.

— Henry já sabe? – Papai perguntou e assim que ele fechou a boca, Will se levantou e começou a perguntar pelo pai.

— Papai chegou?

— Ainda não, Will. – Sophie tentou distrai-lo novamente.

— Quelo o papai...

— Ele já está chegando... – Minha irmã tentou novamente e meu filho cruzou os braços e se jogou no chão, um movimento muito parecido com o que a própria Sophie havia feito minutos antes, e ia começar a birra até que a Sophie, ao perceber isso, se levantou e saiu com ele para o jardim dos fundos, prometendo brincar na cama elástica.

Me afundei nas cobertas novamente.

— Ela foi incrivelmente desagradável. – Falei aos meus pais. – Soph ficou por muito pouco de não mandar os dois cachorros correrem atrás dela. Só não fez porque devido ao humor negro que Caroline estava, Will começou a chorar e então a Moranguinho resolveu que iria levá-lo para passear. Foi o passeio mais longo que os dois deram, e eu acabei ficando sozinha com minha sogra até que vocês dois chegaram e ela saiu correndo ao ver a cara do papai. Eu não acredito que, faltando sete semanas para o nascimento de Jack ela vai começar a me irritar igual me irritava antes do casamento! – Confessei. – Parece que tudo está dando errado nessa gravidez. Nada se encaixa! Eu não tive um único dia em que eu pude me sentar no sofá e ficar lendo para o meu filho ou cantarolando para ele. TODO dia eu tive um problema! – Comecei a chorar.

— Kelly... por favor, se acalme! – Jen me pediu, se sentando do meu lado.

— Eu não aguento mais isso! Foram os piores sete meses e meio da minha vida. Eu mal estou conseguindo levar essa gravidez a termo e todo dia minha sogra quer me encher a paciência, Claire vem falar de enxoval e quarto... A única coisa boa foi que depois que Sophie deu um sermão em Abby, ela e Ellie pararam com a ideia louca de fazer um chá de bebê escondido. Porque se eu tiver que ficar de pé por mais de duas horas e fingir, FINGIR que estou feliz, esse bebê nasce antes da hora, e eu nem sei se eu ou ele resistiremos. – Joguei a verdade na mesa.

— Como assim, filha? – Papai me perguntou, mas eu já chorava tanto que nem conseguia falar. Tinha recebido esse diagnóstico ontem, durante a consulta de rotina e isso tinha me consumido em um nível que eu estava querendo que o mundo acabasse, assim eu poderia morrer antes de que algo acontecesse com o meu filho. A única pessoa que sabia da verdade era minha irmã, o que explicava o comportamento dela com a minha sogra hoje.

Jen me abraçou, tentando me confortar e eu só pude chorar ainda mais. Logo, Sophie entrou, Will dormia em seu colo e, eu sabia que ela tinha escutado o meu desabafo.

— Papai, vem comigo colocar o Will na cama que eu conto para o senhor. – Falou baixinho.

Meu pai ficou entre me ajudar de alguma forma e tentar entender o que se passava.

— Vá com a Sophie, Jethro. Eu converso e tento acalmar a Kelly. – Jen falou, enquanto eu chorava no ombro dela.

Escutei papai se levantar e logo ouvi Sophie começar a contar a triste e completa história da minha segunda gravidez para ele, até que a voz dela foi diminuindo e não a escutei mais.

Passei a próxima hora chorando, desesperada e nem sentir o meu filho chutando dentro do meu ventre me deu a certeza de que, um dia, eu o teria em meus braços.

Não ouvi quando eles desceram e muito menos quando foi que meu pai e Sophie apareceram na sala, só sei que minha irmã me estendia uma xícara de chá, que pelo jeito era de maracujá e camomila e meu pai a caixinha de lenços.

— Obrigada! – Murmurei infeliz. Ao levantar os olhos, vi que em cima da mesinha de centro tinha uma vasilha com biscoitos.

— Você não comeu nada o dia inteiro. – Sophie falou, sentada ao lado de papai. – Vê se esses ficam... são seus favoritos.

Depois de tomar um chá, acabei de contar a verdade, que nem Sophie sabia.

— Eu estou oficialmente de licença médica até o nascimento e oficialmente de repouso forçado. Tenho que evitar me mexer muito e não posso, de forma alguma, carregar peso, o que significa que Will vai ficar sem o colo da mãe nas próximas semanas. Sou uma excelente mãe, hein?

— Não é a sua culpa, Kells. – Papai falou. – E não se preocupe com Will, não vai faltar colo para ele.

— Mas pai, ele é o meu filho! E imagina como ele vai se sentir quando eu me recusar a pegá-lo!!

— Para que que eu estou aqui? – Sophie perguntou. – Eu estou de férias, Kelly, vou tirar Will de casa pelo máximo de tempo que conseguir, e quando ele voltar, tudo o que ele vai fazer é se deitar do seu lado e dormir! – Ela me mostrou o plano. – Fizeram muito isso comigo... não me custa nada fazer isso com o Will.

— Posso pedir só mais um favor? – Pedi chorando.

— Claro, filha. – Jen me falou.

— Me deixem contar ao Henry sozinha. Eu não sei qual será a reação dele, mas eu preciso fazer isso sozinha...

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Dizem que o tempo passa, às vezes rápido demais, às vezes lento demais, dependendo da perspectiva de quem espera, mas ele passa. Foi um verão complicado, aliás, que verão não tem sido complicado nos últimos anos? Mas, mesmo com todo o temor de Kelly, junho virou julho, que virou agosto que agora está acabando... assim como o tempo de gestação dela. Pelas contas da médica, no máximo mais duas semanas, ou seja, até dia 10 de setembro meu sobrinho nasce. E eu não vejo a hora de conhecê-lo. E não vejo a hora de poder ver a reação de Kelly ao saber do que fizemos para ela e para Jack.

Como ela passou as últimas seis semanas praticamente enclausurada, só podendo sair no quintal e muito raramente dar uma caminhada no passeio, ela não tem noção do que eu, papai e mamãe fizemos para o quarto de Jack.

Tínhamos pintado o lugar, arrumado a mobília e todas as roupinhas, e ainda estávamos tomando conta de Will e o distraindo o suficiente para que ele não ficasse perguntando sobre a mãe.

Henry, nas vezes que precisávamos sair para arrumar as coisas, era quem ficava ao lado de Kelly. E, ele estava com mais medo sobre o que as últimas semanas de gravidez de Kelly iriam trazer do que ela. E, ele tinha tanto medo de perder a minha irmã, que, em uma noite, uma das raras noites em que ela conseguiu dormir, eu, sem querer, vi ele conversando com o meu pai.

Eu detesto ser intrometida e só estava na cozinha para pegar a mamadeira noturna de Will quando eu o ouvi chorar de medo e desespero. Fiquei tão sem graça e com o coração tão apertado de ouvir o meu cunhado assim que tratei de subir logo.

Assim, toda a arrumação do quarto, tudo o que fizemos, não foi só para Jack, mas para Kelly e Henry também.

— Acabamos? – Mamãe me perguntou quando eu terminei de arrumar a malinha da maternidade de Jack.

— Tudo no lugar, só esperando o reizinho chegar.

— Ótimo! Vamos embora, porque Will está quase matando o seu pai de cansaço! – Ela apontou para a janela onde era possível ver Will correndo igual a um maluco e papai já sentado no chão, só esperando o neto descarregar a bateria.

— Eu acho que papai já está se encaixando na categoria “morto”, mamãe. Olha a cara dele!

Minha mãe riu e depois fez uma carinha de arrependimento tão grande que eu fui obrigada a perguntar.

— Uma moeda por seus pensamentos.

Ela me deu um meio sorriso.

— Nada, é só que... deixa para lá.

— Mamãe...

— Só pensando como teria sido se fosse ali, correndo no gramado e ele te olhando.

— Ele estaria com a mesmíssima expressão de cansaço. Vai por mim, o Marine ali não aguenta me acompanhar até hoje! – Brinquei à medida em que descíamos a escada.

Cheguei na porta da cozinha para chamar os dois e papai só soltou:

— Corra atrás do seu sobrinho e tente pegá-lo. Eu desisto.

— O senhor desistiria se fosse eu? – Perguntei rindo.

— Eu desisti de você há muito tempo, filha... desde que você bancou a louca e subiu no palco naquele show...

Dei uma gargalhada.

— Pensar que eu poderia ter pedido o telefone do Louis naquele dia... eu fui uma besta! Imagine se eu fosse a namorada dele hoje?? – Brinquei.

— Ainda bem que não pediu... já bastou ele te desejar um feliz aniversário!

— Quem sabe, um dia eu não mando uma mensagem no direct do Instagram pra ele e ele me responde, né?

— Quer que eu tome o seu celular e arranque os fios da internet lá de casa, Sophie? – Papai falou sério.

— Só pensando alto, papai. Eu não tenho coragem... – Respondi alto e assim que estava no gramado, correndo atrás de Will, falei baixinho - Mas gostaria de ter!

E então, agosto virou setembro, minhas aulas voltaram e eu agora estava oficialmente no Ensino Médio. Minha reação à isso?

— Não muda nada, os alunos são os mesmos, a chatice é a mesma... só aumentou a cobrança porque agora querem que decidamos o que vamos ser... ou seja, um ensino fundamental com muito mais cobrança tanto na escola quanto em relação ao nosso futuro.

Mas eu não estava preocupada com isso, eu já sabia o que queria fazer e tinha que começar a convencer um certo Marine/Agente Especial de uma única coisinha: me deixar fazer faculdade na Inglaterra. Contudo, eu iria esperar a Kelly ganhar o Jack, esperar as coisas entrarem nos eixos para começar com a história de que “o gato subiu no telhado!” ou, a minha versão que começa com: “A Sophie vai para faculdade” e continua com “Minha opção de inscrição é Oxford, na Inglaterra...”.

Assim, minha primeira semana de aulas correu bem, a maioria do povo já estava falando em ganhar carros, pois fariam 16 anos ao longo do ano letivo, outros começavam a fazer planos para estudar no exterior e tudo o que eu conseguia pensar durante as aulas – principalmente na de biologia – era: será que a Kelly está bem?

A segunda passou, a terça também. A quarta-feira nos trouxe um susto, com um alarme falso de Kelly que assustou até o Jet. Já a quinta foi super tranquila e minha irmã estava até de bom humor quando mamãe e eu voltamos da aula de yoga.

Já a sexta-feira... era 04 de setembro e foi o caos.

A manhã começou como outra qualquer, custei a me levantar e quem foi me acordar, para minha total incredulidade foi Kelly.

— Anda logo, Moranguinho! Se a minha bexiga não me deixou dormir, eu não vou te deixar dormir!

Eu só não joguei o travesseiro, o soco inglês e a faca que tenho comigo nela, por respeito ao seu estado de grávida, mas vou te contar, vontade não faltou.

Depois de um café sonolento, me arrastaram para a escola, e eu estava muito parecida com o Tom de Tom e Jerry, naquele episódio em que ele escora as pálpebras com palitos de dente, que assim que Emily me viu ela só gritou:

— Ou você ficou revendo todos os clipes da 1D durante a madrugada, inconformada com o hiatos que a banda vai fazer ou seu sobrinho/afilhado nasceu.

— Alternativa A.

— Toca aqui amiga... eu também!

Estava no meio da aula de física, o professor tentava começar a explicar o tal do Movimento Retilíneo Uniforme, quando o meu celular começou a tocar dentro do meu estojo. Muito discretamente eu peguei para ver quem estava me ligando àquela hora da manhã.

Era minha mãe.

Quase que morri de susto.

— Senhorita Shepard-Gibbs. – Professor Wilson interrompeu a aula para chamar a minha atenção – Quer compartilhar com a turma o que de tão interessante tem na tela do seu celular?

Antes que eu respondesse, chegou uma mensagem, de Tony:

Estou do lado de fora. Sua mãe já ligou para a Secretaria pedindo que você fosse dispensada. A coisa tá séria, Peste Ruiva.

Meu professor chegou na frente da minha mesa e tomou o celular da minha mão para ler a mensagem em voz alta para toda a turma, claro que quando ele terminou, tinha uma mistura de horror e riso na face dos meus colegas de turma por conta do meu apelido.

— Foi minha mãe me ligando, senhor. Me desculpe por isso. – Falei um tanto vermelha demais.

Ele iria confiscar o meu celular, para minha sorte a secretária bateu na porta e me pediu para juntar os meus pertences.

Muito educadamente pedi o meu celular de volta.

— Que isso não torne a se repetir, Senhorita Shepard-Gibbs. Dá próxima vez eu confisco o celular e só o devolvo se seus pais vierem buscar.

— Sim, senhor, não vai se repetir. – Afirmei, peguei o telefone e o coloquei no bolso da saia, saindo quase correndo da sala. Quando me vi fora dos olhares dos demais, comecei a correr como uma louca até a portaria principal e o Sr. Dale abriu o portão no exato momento em que eu ia passar.

— Não corra, Ferrugem!!

— Hoje é sobre vida e morte, Sr. Dale!

— Não é assim que se vive, Sophie!! – Escutei o conselho quando já estava praticamente dentro do carro de Tony.

— Como a Kells está? – Perguntei no momento em que Tony arrancava o carro.

— Não sei, Sophie. O que sei é que ela começou a passar mal logo depois que vocês saíram, mas acharam que era outro falso alarme, mas a coisa ficou séria e Henry correu com ela para o hospital, ligou do caminho. O Chefe e a Jenny e o restante da equipe já foram para lá. Eu falei que te pegava.

— E não falaram mais nada?

— Nada.

— Minha mãe me ligou... achei estranho, ela sabe que não posso usar o telefone dentro da escola...

Tony fechou a expressão e se concentrou no trânsito.

— O que mais você sabe? – Questionei quando ele não me olhou por um tempo.

— Nada... só pensando. Tão diferente da última vez...

Não comprei o que Tony disse, achei que ou ele me escondia algo ou ele se arrependia de algo.

Ficamos em silêncio, eu conferia o meu celular a cada segundo, mandei mensagem para Abby e a resposta dela não foi nada animadora.

Ainda nada, Jibblet! Ela foi levada para a sala de parto direto. Creio que dessa vez terão que fazer uma cesárea de emergência.

Suspirei.

— O que Abby disse?

— Como você sabia que mandei mensagem para a Abby?

— Pela velocidade da resposta! – Tony piscou para mim.

— Kelly já está na sala de parto, mas nenhuma notícia.

— Nenhuma notícia é bom.

— Como pode ser bom, Tony?

— Significa que nada de ruim aconteceu. Notícias ruins chegam rápido.

— Kells estava com tanto medo...

— Vocês duas ficaram ainda mais próximas depois disso tudo, hein?

Dei de ombros.

— Deve ser porque agora eu sei exatamente o que estava acontecendo, né?

Tony riu.

— Droga... o tempo passou muito rápido. Parece que foi ontem que você estava dando um ataque de ciúmes no dia de Halloween.

— Você nunca vai esquecer isso, vai?

— Mas é claro que não... tenho cada uma das suas más notas escritas e guardadas, todas esperando o dia do seu casamento para que eu solte na frente do seu marido e de todos os convidados.

— Sabe qual é a parte boa disso? – Perguntei olhando para ele.

— Tem parte boa? São todos os seus micos!!

— Claro que tem!! E é a parte em que você também participou! – Joguei na cara dele.

— Eu não dei ataque de ciúmes.

— Tony, você saiu correndo de uma aranha gigante no dia de Halloween.., tomou um xingo homérico da minha mãe quando me ensinou a roubar doces nas máquinas do NCIS, levou bolada de neve na cara... isso sem contar o dia em que eu te acordei com um balde de água fria...

— É... melhor eu começar a preparar outro discurso para o dia do seu casamento...

— Melhor mesmo... porque você será desmascarado em um piscar de olhos.

— Eu odeio essa família... tira toda a diversão das coisas...

— Não tiramos não. – Retruquei. – Quem não sabe brincar é o meu pai!

— É... o chefe tem a mão pesada.

— Nem fala... no dia em que a Bruxa do Capitólio foi lá em casa eu tomei um tapa tão forte que fiquei vendo estrelinhas a noite inteira... e eu posso te jurar, uma delas estava dançando hula!

Tony teve a cara de pau de tirar as mãos do volante e imitar uma dançarina de hula, só ele mesmo para fazer isso e me fazer rir de chorar em um momento como esse.

Chegamos ao hospital, custamos a achar uma vaga para estacionar o carro e foi outra luta conseguir entrar na ala da maternidade, o maior problema é que, a enfermeira era tão, mas tão chata e cheias de tiques que Tony resolveu imitá-la dentro do elevador, o resultado, quando as portas se abriram, eu e ele estávamos chorando de tanto rir, o que, claro, não pegou bem diante do clima que estava na sala.

— Posso saber qual é a piada? – Papai foi o primeiro a perguntar.

Olhei para Tony, ele olhou para mim e falou que estava com fome, saindo para a cafeteria, como papai estava de costas para ele, aquele Italiano de Araque me sai andando imitando a enfermeira... eu não pude não rir.

— Sophie!! – Mamãe me xingou.

— O Tony!

— Ele não está aqui. E pare de dar essa desculpa.

— Ele estava imitando a enfermeira do posto de informações da entrada... só vendo como ela age e como ele estava imitando direitinho para entender! – Me defendi.

— Aquela loira, com o cabelo liso e ensebado e voz de fuinha? – Tim perguntou.

— A própria! – Concordei com o Tim e antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, uma mão voou de encontro à sua cabeça e à minha.

Tony voltou minutos depois, com um chocolate quente para mim  e um café para ele.

— Por que essa cara?

— Tapão na cabeça...

— Por quê?

— Porque eu estava rindo da sua imitação...

Tony começou a chacoalhar a mão, mas não terminou, o olhar assassino de papai não deixou. Assim, nos sentamos no canto, calados e sem notícias, por quase três horas.

Até que Henry apareceu, com um bolinho azul no colo, uma cara que era o misto de susto, alívio e alegria.

— Pessoa, conheçam Jackson, ou como a madrinha dele já o apelidou, Jack.

Meus pais foram os primeiros a chegarem perto do novo neto, Will, que dormia no meu colo, nem se mexeu.

— E a Kells, como ela está? – Perguntei junto com papai.

Henry suspirou.

— Ela deu um susto e tanto na médica, mas está bem... mais alguns minutos e irá ser transferida para o quarto. Nada demais e nada preocupante, diz a médica que pode ter sido mais um fator psicológico do que uma complicação.

— Ela tá bem mesmo, Henry? – Tornei a perguntar.

— Sim, Sophie, ela está. Ficou muito mais tranquila depois que segurou o Jack e viu que ele é saudável.

Ajeitei Will no meu colo, o danadinho já estava pesando pra caramba e me levantei para ver o meu afilhado. Infelizmente, com a correria, o meu presente surpresa tinha ficado em casa, escondido em meu closet. Papai, vendo o que eu estava fazendo, veio pegar o Will.

— Vai lá pegar o seu afilhado... – Deu um sorriso.

— Posso? – Pedi para a minha mãe.

Ela me passou o recém-nascido sem nem se preocupar, depois de tantos meses sendo babá de Will, eu estava mais do que acostumada em pegar bebês e crianças.

E, assim que coloquei meus olhos no pequeno...

— Kelly tinha razão... – Comentei.

— Razão em? – Henry me olhou, indo pegar o filho mais velho que começava a acordar.

— Quando ela descobriu que seria um menino, logo escolheu o nome, além da clara homenagem ao vovô, ela me disse que tinha certeza de que ele seria mais um Gibbs do que um Sanders... e ela não estava errada... olha esse garoto! Parece demais com o papai!

Abby, Tony, Tim e Ellie vieram conferir se eu falava a verdade.

— Ai meu Deus, é uma versão em miniatura do Gibbs! – Abbs falou passando a mão na cabeça de Jack.

— Espero que ele não tenha herdado a mania dos tapas.... – Tony comentou e esfregou a cabeça.

Isso porque ele estava de olhos fechados... porque na hora que abriu.

— Agora danou-se.... até o olho... corram para as colinas!! – Tony brincou. Henry só soube rir.

— Talvez seja ele quem vai colocar juízo na cabeça de vocês... – Disse o papai todo orgulhoso.

— Henry, queridíssimo cunhado, eu sou a madrinha dele e a maior prova de que, se eu quiser que ele seja bagunceiro, ele vai ser, olha o que eu fiz com eles! Até a Ellie já tá mais do que desencaminhada! Jackzinho aqui será um verdadeiro Gibbs, é só desenvolver as habilidades certas e é para isso que a Titia Sophie está aqui!

— Eu só não te dou um tapa agora, Sophie Shepard-Gibbs, porque você está com o meu neto nos braços.

— Papai... admita, nós dois e todos eles – apontei para a equipe - vamos sim, desencaminhar esse garoto! E o senhor sabe disso.

Minha mãe só passou a mão no rosto.

— Deixe a Kelly saber disso.

E essa foi a primeira fofoca que contaram para a minha irmã assim que liberaram as visitas, lógico que eu entrei com Jack no colo e o Will, vendo que a mãe finalmente estava sem aquele barrigão, tratou de escalar a cama e se deitar do lado dela. E sabem qual foi a reação de minha irmã sobre o plano de fazer de Jack uma versão melhorada e atualizada de mim mesma no quesito bagunça?

— Um dia você terá os seus, Sophie...

— Sabe o que diz um provérbio português sobre isso, Kelly? Eu achei na internet outro dia e é bem interessante...

— Não faço ideia! – Ela me respondeu rindo.

Papai fez um barulho estranho e mamãe pediu que parássemos com isso. Mas nem eu ou minha irmã demos ouvidos.

— O que dizia? – Ela quis saber, para o desespero de todos.

— Dizia mais ou menos assim: “A quem Deus não dá filhos, o diabo dá sobrinhos.” E, como eu já tenho um apelido bem interessante, dado a mim por Dona Diane, creio que é a minha obrigação, estragar esses meninos, e os pais que lutem para consertá-los.

Minha irmã riu alto. Henry ficou assustado.

— Como se você fosse realmente fazer isso. Eu vi como você cuidou do Will, Moranguinho... você não vai fazer isso... já não posso dizer o mesmo do papai.

E nós duas olhamos para papai e ele, bem, ele tinha uma cara de quem já tinha planejado o futuro dos netos, resta saber se os dois ou pelo menos um dos dois, iria seguir por esse caminho.

Até lá. Bem, até lá ainda teria um enorme caminho pela frente, que por mais bagunçado, caótico que possa ser com três crianças na família, não me esqueci da bebê Victoria, eu espero que seja muito mais tranquilo do que os últimos nove meses, afinal, dizem que crianças trazem alegria... apesar de tudo o que eu tive em troca até agora foi uma tremenda dor nas costas....


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham pegado a referência do dia 04/09... para quem não entendeu nada, é o aniversário do Mark Harmon... então uma pequena homenagem a ele (sim eu sou maluca e assumo isso!!)
Espero que tenham gostado!
Muito obrigada por lerem!
Até a semana que vem!!
xoxo



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