Jamais engane um duque escrita por Miss Sant


Capítulo 18
Capitulo 18




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Seu marido a encontrou mais cedo do que ela havia planejado. Imaginou que Nicholas encontraria Gabriel ao final da tarde, e que ela enfrentaria o duque no início da noite, mas não. Não houve tempo para elaborar qualquer pensamento coerente, não houve tempo para arranjar uma desculpa convincente, não houve tempo nem mesmo dela se despir para o banho. Seu marido abriu a porta com uma força desnecessária, gritou com Doroth para que ela saísse do quarto e bateu a porta com um estrondo.

A duquesa teve tempo de vestir um penhoar e virar-se na cadeira para encarar Gabriel. Lilian estava absorta, seu corpo paralisado, sua mente em total desconexão. Afinal, o conto de fadas acabara, e Gabriel finalmente descobriu o que ele acreditava ser verdade. Sua língua coçou para lhe contar o que realmente aconteceu, que tê-lo arrastado para o altar foi a melhor coisa que já acontecera a ele, mas seu marido assumiu uma postura diferente das últimas semanas de casado, naquele momento, proferindo palavras vis, ele era o sexto Duque de Kahn. E ela sua infeliz e ardilosa duquesa, a mulher que roubou o amor da sua vida.

— Como pôde? Como pode uma mulher ser tão... Como pôde fazer isso com a própria prima? Eu deveria ter ouvido os boatos e tê-la deixado chafurdar no escândalo, diretamente para o ostracismo.

— Mas não consegui não foi? Afinal é um homem honrado. – Lilian abraçou a personagem, como sempre fizera.

— Diferente de você.

— Claro, vossa graça. Perdoe-me por ser uma cobra ardilosa que lhe tirou o amor de sua vida. – Usou de ironia.

— Por quê? O que você ganhou com isso Lilian? Certamente não era dinheiro o problema. E com toda certeza também não era amor. Se não me amava, nem precisa do meu dinheiro, para que me submeter ao sofrimento gratuito?

Levantou-se com um suspiro e se pôs a andar pelo quarto, passos lentos e controlados. Parou próxima a janela, a tempo de olhar para a cama. Revirada, bagunçada, podia jurar que ainda emanava calor. Fechou os olhos lentamente e pensou nas risadas e nos momentos deliciosos compartilhados. Chegou a hora de pôr um fim na felicidade. Nunca durara tanto mesmo.

Respirou profundamente, arqueou a sobrancelha, e deixou aparentar um leve sorriso nos lábios.

— Não tenho a menor ideia, vossa graça. Talvez estivesse entediada? Eu avisei a Claire que seria uma péssima ideia me convidar para a temporada em seu ducado, meu refúgio estava ótimo. Mas minha prima insistiu em minha companhia, e eu prezo muito pela minha família. De repete eu me vi em meio a jantares, soirées e bailes intermináveis. Tudo ficava absurdamente chato. E então tinham os seus olhares apaixonados, o casamento eminente... Mas quer saber o que realmente aguçou minha curiosidade?

— Se puder me conceder essa gentileza.

Ela sorriu.

— Eu custei a acreditar que sua índole fosse tão impecável. Não era possível que tivesse realmente esperando por minha prima todo esse tempo. Um duque inocente, que se constrangia quando os companheiros citavam um bordel... Não, aquilo estava errado. E no final eu estava certa. Você mentiu para Claire, não a merecia tanto quanto eu... – iria completar a frase de um modo ingênuo, de um modo que revelaria algo que ela não precisava. – Tanto quanto eu mereço o amor de minha prima.

— E o que ganhou com isso? Não tem meu amor, nunca o teve.

— Eu nunca o quis. Para ser sincera, eu me senti tentada por seu título, sua proteção, ser a Duquesa de Kahn.

— Então, é mesmo a pior das mulheres.

— Não exagere.

— Você me enganou, me fez acreditar que a tinha desonrado quando sei bem que não era nenhuma inocente quando se deitou comigo. As coisas que fez, as coisas que desejou...

— Ora, então agora sente repulsa? É engraçado, pois lembro de você gemendo contra a minha boca, e não correndo para vomitar. Um homem quebrar promessas tão fácil, não é mesmo? Ouço agora julgamentos do homem que disse que jamais pensaria mal de mim pelos meus desejos.

— Não seja baixa! Ao menos guarde o resto de respeito, eu achava que tinha me envolvido com uma mulher de alguma decência.

— Vou contar-lhe uma coisa, caro marido. Me orgulho absurdamente de não ser como outras mulheres que vivem na ignorância. Tenho absoluta certeza de que ambos aproveitamos nossos desejos e prazeres carnais.

— Jamais voltarei a tocar em você. Não consigo nem mesmo olhar para você. Toda vez que o faço lembro de tudo, do olhar de Claire, de toda a tramoia.

Lilian percebeu que seu marido pouco sabia sobre as expressões dos outros. Se fosse mais atento saberia que Claire exalava alívio, não pesar.

— Então conte-me, querido, o que pretende? Por acaso o honrável e tradicional Duque, irá submeter os anos imperiosos de história dos seus ancestrais à mancha de um divórcio? Ou pretende pedir uma anulação, e daqui a uns meses renegar o seu herdeiro? Porque isso pode acontecer, na verdade, uma pequena vida, fruto da nossa indecorosa união, pode estar florescendo agora no meu ventre.

Lilian colocou as mãos na barriga de forma teatral. E Gabriel sentiu-se enjoado.

— Sabe que te odeio, não sabe? Que a desprezo, se pudesse eu teria evitado que nossos caminhos se cruzassem, eu nunca a amei, nunca irei amá-la. Não tenho o mínimo de respeito por você.

— Algo mais para colocar na sua lista de ofensa, vossa graça?

— Irei viajar.

— Então ao menos ainda me dá satisfações de sua agenda, será que aos poucos conquistarei um espaço em seu coração? – Lilian fez uma voz afetada, e reuniu forças para não se contrair diante do olhar feroz do duque.

— Caso esteja esperando meu herdeiro, me comunique e retornarei de imediato.

— Posso saber para onde vai? Para ao menos ter para onde mandar a carta.

— Para qualquer lugar que não me lembre você.

— Sinto lhe dizer, que se bem me recordo, inauguramos algumas residências de maneira nada decorosa, acaso vai por todas as casas abaixo?

— Lilian, saia da minha frente, o mais rápido possível ou...

— Ou?

Lilian aproximou-se perigosamente de Gabriel, e ergue o rosto para encará-lo.

— Ou o que? Vai me bater vossa graça? Seu ódio é tanto que seria capaz de usar a força contra uma mulher?

Gabriel estava enojado, a mente embaçada pelo ódio, desolado pela traição. Mas seu corpo traidor não resistiu a Lilian, ele nem mesmo tentou. Aquela cigana, cobra ardilosa, tinha o enfeitiçado, envenenou sua alma, possuiu seu corpo. Ele não resistiu. Gabriel levou a mão ao rosto de Lilian, ela fechou os olhos. Ele correu um braço pela sua cintura e aproximou seus corpos, ela tremeu. Lilian estava ali, diante dele, poderosa, mesquinha, adorável e vulnerável.

Se ela o tivesse dito palavras diferentes, se não tivesse sapateado em sua dor, gargalhado às custas de um golpe, ele certamente a perdoaria. Não tão cedo, não tão rápido, mas não conseguiria resistir. A verdade é que queria que ela implorasse.

E então Lilian abriu os lábios, e Gabriel não resistiu. Puxou sua esposa para um beijo. Sempre o melhor beijo de sua vida, nada nunca seria igual. Não iniciara com um suave recostar de lábios, sua boca avançou na da esposa com urgência e ela respondeu institivamente, sua língua se apoderou da dela, e juntos emitiam sons de satisfação. Gabriel estava se perdendo, sua fúria se dissolvendo quando se lembrou... Ela o enganara. O feriu, e ele precisava machucá-la de volta.

— Tão barata quanto uma meretriz.

Gabriel pode jurar que a viu tremer, que sentiu um lampejo de fragilidade. Em questão de segundos Lilian se recuperou, assumiu uma postura altiva, e fez um reverencia afetada.

— E diferentemente de Claire, vossa graça, eu estou ao seu dispor.

Lilian andou até a porta com uma postura impecável, virou-se para Gabriel, deu um sorriso afetado e soltou um beijo antes de se virar e trancar a porta contigua do seu quarto.

Respirou fundo.

Contou até 20, o exato tempo que levou para Gabriel sair do quarto. E então, ainda parada atrás da porta ela desabou. Se ele tivesse a abordado de maneira diferente. Se tivesse sido ao menos gentil, se demostrasse algum sentimento por ela, algum indício de que o tempo que passaram juntos foi real, que ela não era apenas uma substituta para a mulher da vida dele, mas a mulher da vida dele... Lilian teria se perdoado, e que Claire a perdoasse teria lhe contado tudo, teria lhe entregue sua alma. Mas Gabriel assumiu o que ela sempre desconfiara. Claire, e nenhuma outra, a não ser ela, seria amada por ele.

Irônico, Lilian amava Gabriel que amava Claire, que amava Daniel que dizia amar Claire de volta. Deveria ser injusto que uma única mulher recebesse tanto amor, e que outra nunca o conhecesse.

Lilian desabou a chorar. Ouviu soluços, emitiu imprecações, fez juras que jamais cumpriria e então constatou e aceitou o obvio. Acabara envolvida numa rede de segredos que não eram seus, obrigada a cobrir mentiras que não eram suas, e a viver uma personagem que não era ela. Segurando seu ventre, desatou a entonar uma prece.

— Não permita que tenha uma criança crescendo aqui, nenhuma criança merece viver num lar desfeito, eu não suportaria ser a portadora de uma vida triste para a minha própria criança, por favor Deus, não permita...

 

                                                                                        ******

A fúria cega o homem, e o rancor corroí a melhor das naturezas. Assim que Lilian saiu do quarto, Gabriel correu para casa Montgomery, precisava ter notícias de Claire, precisava contar a ela que foram enganados, que ela ainda a amaria para sempre. Antes de sair pediu ao seu secretário que providenciasse uma vaga em um navio, qualquer navio, para qualquer lugar, contato que ele estivesse fora da Inglaterra nas próximas horas.

No caminho, o duque pensou em soluções. Poderia convencer Claire a fugir com ele, viveriam felizes nas américas... Era provável que ela não suportasse a vergonha. Gabriel chegou à casa Montgomery, e descobriu que só restavam o mordomo, a governanta e alguns empregados, a família havia viajado. Quando questionou o destino, disseram que foram para a Escócia, Lorde e Lady Montgomery precisavam conhecer a nova família da filha.

Poucas coisas deixariam Gabriel mais abalado do que ele já estava. Então descobrir que sua ex-noiva tinha se casado, não provocou mais do que uma risada sarcástica. Claire não lhe devia nada, muito menos deveria esperar anos até se reestabelecer, a coitada deve ter se casado com um caça dotes desesperado por medo de jamais conseguir um bom partido, afinal foi dispensada por um duque. Mais uma vida arruinada pelos caprichos de Lilian.

Lilian... E pensar que achou que poderia amá-la. Tudo o que pensou sobre aquela mulher, tudo o que desejou com aquela mulher... No início da manhã, ele saiu apressado, mas antes perdeu bons minutos observando sua esposa dormir, o que sentiu naquele momento só poderia ser descrito como paz. Sua vida se desenhou na sua frente naquele momento, conseguiu ver-se dez anos a frente, ao lado de Lilian. Gabriel quase poderia dizer que tinha se apaixonado.

Voltou cavalgando o mais rápido que pode para cair direto no banco de uma carruagem com suas malas. Já era noite, sua casa estava acessa, e quando olhou para cima viu sua esposa emoldurando uma das janelas, ele podia jurar que tinha visto uma sombra de tristeza, ela limpando com a mão direita uma lagrima que escapou sorrateira... Mas talvez seus olhos o enganaram. Quando a encarou novamente absorveu tudo naquela imagem. Lilian emoldurando a janela de sua casa, com cachos negros espalhados em seu colo, um vestido escuro, um colar de rubi, e a postura de uma rainha. Ela ergueu as sobrancelhas, e esboçou um riso leve. Ele se sentiu desafiado. Era como se sua esposa duvidasse do que ele estava fazendo, o homem mais correto de Londres, fora o que ela usou para descrevê-lo uma vez, e ele se orgulhava disso. Mas onde a honra havia o levado? Onde a honra levara qualquer homem? Não eram os libertinos os homens mais afortunados? Os canalhas que conquistavam corações? Seu pai era o melhor dos homens, e ganhara da vida a infeliz possibilidade de criar um bastardo. Não, estava farto! Agora conheceriam um novo Gabriel.

Ele tocou na aba do chapéu cumprimentando Lilian e partiu. A maior das ironias foi seu secretário achar uma vaga num navio que ia para a França. Iria fazer sua fama nas terras de sua esposa. 

 


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Notas finais do capítulo

Só a decepção



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