Jamais engane um duque escrita por Miss Sant


Capítulo 17
Capitulo 17


Notas iniciais do capítulo

Eles chegaram em Londres!



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Eles mal haviam chegado a Londres, assim que puseram os pés em casa, sobrou tempo apenas para puxar fundo o ar uma vez e tomar nota de pequenas coisas: a primeira, seu marido mal conhecia os próprios funcionários; a segunda, todos ficaram surpresos, mas foram receptivos e acolhedores; a terceira e última foi o turbilhão de convites sobre a mesinha ao lado da porta. Então é assim que funciona, solteira e machada, duquesa e alva como as nuvens do céu. Era tedioso a previsibilidade da alta sociedade.

Após o cansaço da viagem Lilian e Gabriel apenas dormiram, exaustos e juntos sobre lençóis macios e sedosos que cheiravam a jasmim. Não demorou muito para que seu marido retomasse sua vida, ele saiu apressado pela manhã, sem ao menos tomar um café decente, pois precisava resolver questões no parlamento. A duquesa foi abordada no meio da tarde pelo mordomo, avisando que o senhor da casa havia deixado as correspondências para ela. Convites para bailes, convites para jantares, convites para piqueniques, um cartão de visitas de Lorde Nicholas. Oh céus, finalmente alguma diversão! Nicholas era um refresco, e ele a aguardava na sala de visitas.

— Ora, ora milorde, sinto em lhe dizer que está atrasado, agora sou uma mulher casada.

— Vejo que sim. Boa tarde Lady Kahn!

— Boa tarde Lorde Nicholas! A que devo a visita?

— Quis saber como a vida de casada tem a tratado.

— Surpreendentemente bem.

— Não tivemos a oportunidade de conversar.

— E sobre o que deveríamos conversar?

— Lilian querida, deveria ter me contado suas intenções com Gabriel, assim eu não faria papel de bobo.

— Nicholas, o último papel que lhe cabe é o de bobo.

— Por outro lado, temos um amigo em comum que executa a peça com maestria.

— Perdão, não entendi o que quis dizer.

— Ah eu creio que entendeu muito bem.

Lilian notou, talvez um pouco tarde demais, que havia algo diferente em Nicholas, seu olhar não refletia diversão, mas cautela, era como se ele estivesse estudando cada contração que o rosto de Lilian fazia.

— Não gostaria de se sentar? Podemos tomar um chá, ou o que preferir.

— Não, não, estou à vontade.

— Qual o motivo da sua visita?

— Não posso visitar velhos amigos?

— Não consigo dizer quão amistosas são suas intenções.

— Então somos dois.

Ela respirou fundo, e impaciente recostou-se no sofá. Nicholas não a seguiu. Lilian serviu uma xícara fumegante de chá e apreciou a fumaça subir. Seu corpo já previa um incêndio se aproximando.

— Minhas intenções são sempre amistosas, de fato nunca faço nada que precise travar uma batalha, não entro em guerras.

— Não, a senhora prefere meio escusos eu imagino, uma dama que não suja as mãos.

— Não sem necessidade.

— Necessidades as vezes são bem egoístas, não concorda?

— Ora, pare de dar voltas! Diga logo o que quer!

— Você ama Gabriel?

A xícara tremeu entre seus dedos.

— Meus sentimentos não lhe dizem respeito.

— Por que se casou Lilian? Você estava sóbria, por que não impediu Gabriel?

— Seu amigo é um duque, ele deveria honrar seus compromissos e saber seus limites.

— Ele estava fora de si.

— Então é minha culpa se ele bebeu tanto que esqueceu os pudores?

— A questão é, ele não bebeu o suficiente para perder a decência.

— O que está insinuando? Que eu seduzi um homem cambaleante para ter o privilégio de ser uma duquesa? Por Deus, Nicholas!

— Claire é sua prima.

— E era noiva de Gabriel. Ele devia muito mais a ela do que eu.

— Me doí admitir que eu estava errado a seu respeito.

— Lamenta não ter impedido o casamento? Não fique tão atormentado, nem mesmo a rainha podia tirar Gabriel do meu caminho.

— Lilian...

— Nicholas.

— Me dê um bom motivo, não irei te julgar.

— Isso me parece impossível, seus olhos dizem muito. Você não está disposto a ouvir, já fez todas as conclusões necessárias.

— Mas são verdadeiras?

— A verdade é relativa milorde.

— Não, a verdade é apenas uma, as pessoas que moldam de acordo as suas vontades.

— E não é assim o mundo?

Nicholas tomou alguns instantes para olhar Lilian. Tentou pegar em seu rosto alguma singela contração de vergonha, medo ou constrangimento, algo que negasse sua culpa, algo que provasse o mínimo de sua inocência, mas não havia. Aquele rosto espelhava autoridade, certeza, um fio de felicidade e volumosos traços de convencimento. Irredutível e maldosa. Nicholas ficou possesso ao ver que se deixou levar. Ele acreditou nela, sem justificativas, sem grandes pedidos de absolvição pelos pecados anteriores, Lorde Hastings via Lilian como uma mulher que foi erroneamente julgada. Fora vê-la com a intenção de oferecer o benefício da dúvida, mas a mulher portava uma felicidade singular, um orgulho, ocupava a casa como se aquela posição fosse destinada a ela. Enquanto seu amigo foi forçado a casar-se, a abandonar quem ele amava, a largar seus princípios, a sentir-se um canalha indigno. Ele não permitiria.

— Tem toda razão Lady Kahn. Se me der licença, tenho assuntos urgentes a resolver.

Nicholas estava quase passando pela porta quando Lilian o questionou.

— Vai procurar Gabriel?

Ele balançou a cabeça de forma assertiva e Lilian engoliu em seco, havia chegado a hora.

— Ele deve estar em sessão no parlamento.

— Obrigada. Sinto que lhe devo uma vantagem, sugiro que se prepare para sua primeira batalha.

— Me importo mais com guerra.

Nicholas devolveu a fala de Lilian com um sorriso desdenhoso, e saiu pisando forte. Ele sabia, e logo seu marido saberia. Ela que jurou não entrar em guerras sentia que deveria rodear-se de um arsenal de armas e escudos para enfrentar o que a esperava. Os piores dias de sua vida estavam por vir. 

                                                                                          ******

Nicholas estranhou tudo naqueles dias, a bebedeira descontrolada e amnésica de Gabriel, a ausência de lagrimas de Lady Claire, a expressão receosa de Lady Lilian e a excepcional tranquilidade dos pais de uma noiva abandonada, traída e trocada. Gabriel era seu amigo de anos, ele o respeitava. Ver seu amigo questionar seu caráter e dignidade foram um baque familiar para Nicholas. Ninguém merecia passar por um mar de autopiedade.

Por isso, e porque era um grande curioso Nicholas Gratham, o Lorde de Hastings, levou a fatídica garrafa de vinho a um velho boticário, o homem idoso, porém muito inteligente servia à grandes mistérios, vez ou outra diziam que estava envolvido com bruxaria. Jean-Baptiste Montré era francês, pertencente a uma família tradicional que servia a corte de Luis XIV, contavam que os seus descendentes fugiram para a Inglaterra após a serie de envenenamentos que abalou Versalhes. O rei-sol declarou guerra a todo e qualquer tipo de poder, condenou-se aqueles que serviam chás para curar dores e aqueles que liam o futuro. O estopim para a deserção foi o tratamento dado a amante querida do Rei, Madame de Montesepan, condenada a uma vida sem luxos, longe e esquecida pela corte.

A família de Montré, que nada tinha a ver com bruxarias e acreditavam apenas nos milagres através das plantas, correram para esconderijos em terrar inglesas. Mais um século depois, Jean-Baptiste Montré, era um boticário bem estabelecido, que vez ou outra servia ao governo britânico com uma erva para sossegar as almas atormentadas pela guerra. Nicholas sabia que teria sua ajuda, pelo simples fato de sua mãe ter recorrido a ele para salvar uma ou duas vidas.

Assim que entregou a garrafa ao homem, Jean-Baptiste gargalhou.

— Logo você caindo em golpes de mulheres duvidosas, milorde?

— Não entendi.

— O vinho até disfarça o gosto, mas o cheiro é perceptivo. Sente o azedume?

— Sim. O que é isso?

— Barbitúricos: kava, scutellaria, valeriana. Esse tipo de coisa não deve ser misturado com álcool, pode causar morte, em doses pequenas, e eu imagino que tenha sido esse o caso, causa sonolência, distúrbio da realidade e um grande esquecimento.

— Por que falou em golpe de mulheres duvidosas?

— Alguns homens eram roubados assim em bordeis de beira de estrada.

— Então está me dizendo que é fácil enganar um homem assim? Ele não tem como se defender?

— Até tem, mas a maioria se vê encantado por seios fartos e a ideia de se enfiar pelas saias da moça que mal nota o que há no copo.

— Obrigada senhor Montré.

— Quem foi o azarado?

— Aqui está o seu pagamento. – Nicholas estendeu para o homem uma bolsa cheia de moedas.

— Imagino que deva esquecer essa conversa?

— Exatamente.

Lembrava que saiu da loja com o estômago embrulhado, seu amigo ainda estava viajando, esse não era um assunto para se tratar por cartas. Ele não sabia como encarar Gabriel, como dizer que ele havia sido enganado, afinal que homem gosta de ser passado para trás? Visitou Lilian para ter certeza de suas atitudes, afinal tinha um grande afeto por ela, mas não restavam dúvidas.

Encontrou Gabriel assim que pisou na calçada, para sua surpresa ele parecia feliz. E ele vinha lhe dar péssimas notícias. Isso não era algo que deveria ser discutido na calçada. Seu amigo o convidou para entrar e ficar para o jantar. Hastings não soube como dizer sim, em questão de segundos ele despejou no duque tudo o que sabia: Gabriel foi enganado. Quais os meios que justificavam esse fim? Isso cabia a ele resolver.

 


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Notas finais do capítulo

SOCORRO!



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