Grissom e Sara estavam aproveitando o silêncio da sala de estar, era de noite, e suas filhas estavam dormindo. Todo sábado, eles abriam uma garrafa de vinho, sentavam-se no sofá, e ali ficavam curtindo a companhia um do outro. Esse ritual que fora criado quando se conheceram, e tinha sido abandonado por um tempo, voltou junto com seu casamento, quando voltaram a morar juntos na mansão. Era realmente gostoso fazer isso, e tinha um gostinho nostálgico, que fazia a chama do relacionamento deles permanecer acesa. Algumas vezes, principalmente quando as filhas dormiam na casa de alguma amiga, eles aproveitavam a sala de estar mesmo para ficarem juntos.

Aquele dia em especial era atípico, Donuts, o gato, ronronava em volta do casal e Gilbert já havia tirado ele do sofá uma porção de vezes.

— Por que não deixa ele ficar aqui com a gente?

— Por que esse é o nosso momento, não nosso e do gato. – Ele zombou. – Acho que vou mudar de ideia e começar a deixar ele dormir no quarto das meninas. – Franziu o cenho.

Eles riram, mas logo o gato venceu. E se juntou ao sofá. Eles ficaram então calados, curtindo o momento e a companhia um do outro. Eles simplesmente adoravam fazer aquilo.

— Mãe! Gil! – A agora, não tão pequena Jujuba cortou o silêncio e o clima suave daquele ambiente. – Júlia Um tá tendo um surto no banheiro. – Ela rolou os olhos.

— Olha o jeito que você fala da sua irmã. – Repreendeu.

— Ai mãe, você sabe que eu adoro ela. De verdade. Mas ela está insuportável essa semana…

— Júlia… – Fora a vez do pai a repreendê-la.

— Ai Gil. – Bufou a garota. – É por que não são vocês que dividem o quarto com ela. 

— Deixa que eu vejo o que está acontecendo. 

Gilbert se levantou do sofá, deu um beijo na esposa que o agradeceu por ir ver o que estava acontecendo. Ele subiu as escadas e foi até o banheiro do quarto das filhas, dando dois toques na porta.

— Ju. É o pai. Tá tudo bem?

— Chama a mamãe. Eu preciso é da mãe. – Ela gritou de dentro do banheiro.

— Eu posso aju…

— A mãe! – Exclamou ela nervosa de dentro.

— Tá bom, eu estou indo chamar ela.

— Rápido! 

Grissom estranhou, geralmente ela não tinha predileção por algum dos pais. Porém ela realmente estava estranha na última semana, Jujuba não estava de toda errada. Preferiu logo voltar a sala e chamar Sara.

— Ela quer você. Parece que há algo errado. – Ele disse um pouco preocupado.

— Onde ela está?

— Banheiro.

— Estou indo lá.

Sara tirou o gato do colo e o deixou acomodado no sofá, foi apressada até o banheiro. Embora ela suspeitasse o que tivesse ocorrido, ela não estava muito preparada para a conversa que viria a seguir. Chegou no quarto das meninas e foi até a porta do banheiro.

— Ju, sou eu. Posso entrar?

— Pode.

Ju destrancou a porta e deixou a mãe entrar. Em seguida fechou a porta e Sara mesma quem trancou. A menina parecia bastante nervosa. Sara logo percebeu que estava certa, e ainda que não soubesse exatamente como lidar com isso, sorriu. Ela não havia tido mãe e lembrava da mesma expressão quando isso aconteceu com ela, só que muito mais cedo, tinha apenas nove anos. Para ela, na época, os adultos que a cuidavam não souberam lidar com a situação, ela havia passado por muitos lares adotivos ruins. Suas filhas, no entanto, tinham uma mãe dedicada, que daria um jeito de tratar isso de forma delicada, ainda que não soubesse bem como.

— Filha, está tudo certo. – Ela sorriu para a menina. – Isso é algo extremamente normal para sua idade. Já havíamos falado sobre isso quando aprendeu sobre educação sexual na escola, lembra?

— Eu estou um pouco assustada. – Fora a única coisa que conseguiu dizer.

— Não precisa meu amor. Todas as meninas passam por isso, algumas mais novas, minha primeira menstruação foi com nove anos, sabia? Outras tem com doze ou treze anos. 

— A Júlia Dois não menstrua ainda. – Constatou.

— Meu amor, a sua irmã passou por um transplante mais nova, e até hoje toma algumas medicações. Isso faz com que o desenvolvimento do corpo dela em alguns aspectos seja mais lento mesmo. Talvez ela comece a menstruar agora, talvez daqui alguns anos. Cada corpo é um corpo. Mas isso não impede que vocês duas conversem sobre isso. Você teve várias mudanças de humor ultimamente e vocês andaram brigando, coisa que raramente acontece. Talvez devesse explicar para ela o porquê.

— É, eu sei. Vou pedir desculpas pra ela.

— Essa é minha filha. – Ela disse orgulhosa. – Agora vai tomar um banho quentinho, eu vou pegar um absorvente para você e umas roupas limpas e te trago aqui, pode ser.

— Pode sim.

Sara separou algumas roupas para Ju, mas antes de levá-la fora até o quarto buscar um pacote de absorventes. Ela geralmente usava coletor, mas sempre tinha um ou dois pacotes por precaução. Estava saindo do quarto quando deu de cara com Grissom. Seus olhos logo fixaram no que sua esposa carregava.

— Você não está falando sério né? – Ele disse surpreso.

— Nossas meninas estão crescendo. – Ela riu, mas também estava inconformada.

Ela seguiu para o banheiro do quarto das filhas e deixou tudo lá para Ju. Ficou aguardando no quarto, sentada na cama desocupada, quando Jujuba entrou no quarto.

— A miss escandalosa já está melhor? – Disse com sarcasmo.

— O que anda acontecendo com você? – Sara disse em tom de repreensão. – Você poderia pegar mais leve com a sua irmã.

— Ela que começou sendo grossa comigo na escola. – Se defendeu. – E por causa de um garoto ainda por cima. – Rolou os olhos.

— Garoto? – Sara questionou.

Nesse momento Ju saia do banheiro, já de banho tomado e roupa limpa. Pegou apenas o final da conversa.

— Eu juro que ia te pedir desculpas. – Disse irritada. – Mas o que eu vou fazer agora vai ser cavar um buraco no pátio e te enterrar viva.

— Hey, vocês duas, podem parar? – Sara disse irritada, dando um basta. – Cadê as minhas duas filhas que morreriam uma pela outra? As que diziam que eram gêmeas. As que ficavam sem comer quando a outra ficava doente? Vocês se amavam e agora parecem gato e rato.

— Desculpa mãe. Acho que eu só estou um pouco… Não sei dizer. Desculpa. – Ela suspirou. – Desculpa Júlia Dois.

— Tudo bem, a mamãe tá certa. Desculpa Júlia Um, eu não devia ter falado sobre o garoto.

— Bom, mas agora que falou...– Sara disse curiosa. – Eu estou querendo saber.

— Não é nada demais mãe. É só um garoto na escola, ele parece legal. E… Eu gosto dele. – Ela disse envergonhada.

— E… – Jujuba incentivou.

— Tem mais? – Sara olhou para Ju.

— Eu vou te fritar viva. – Ameaçou a irmã. – Aff… Certo. Eu admito. – Disse por fim. – Eu beijei ele. Foi só um selinho. 

Sara ficou estática. Agora a menstruação parecia algo muito mais fácil de lidar do que essa informação. Ela imaginava que Ju já se interessasse por garotos, Jujuba era mais tranquila e infantil nesse quesito, mas Ju não. Ainda sim, não imaginava que tão nova ela já teria beijado alguém.

— Em defesa da Júlia Um, até eu mesma tenho que admitir que ele é bom bonito. – Ela se adiantou em falar quando percebeu que a mãe ficou paralisada.

— Ok.– Sara falou por fim. – Muita informação para a mãe de vocês para uma noite só. Vamos fazer o seguinte, está tarde, vocês duas vão dormir agora e amanhã falamos sobre garotos, beijos e o quanto vocês não tem idade para isso ainda, pode ser?

— Tá bom. – As meninas riram.

— Agora vamos para cama as duas.

Elas prontamente foram para a cama, e se deitaram. Não era mais costume Sara dar beijo de boa noite nas meninas, já que elas se sentiam muito velhas para essas coisas “infantis”, mas a morena achou que hoje seria uma boa noite para exceções.

Primeiro se despediu de Jujuba, e em seguida fora até Ju.

— Hey Ju. – Sussurrou. – Você está bem? Sem cólica? Dores de cabeça? 

— Tô bem mãe.

— Qualquer coisa você me chama, tá?

— Chamo sim. Obrigada. 

Sara desligou a luz e deixou o quarto das garotas, indo para o seu. Elas estavam crescendo e ela não sabia exatamente como lidar com essa fase da adolescência.

— Como ela está? – Grissom fazia palavras cruzadas sentado na cama.

— Elas estão crescendo em um ritmo assombroso, eu não sei que estou conseguindo acompanhar. – Admitiu enquanto buscava algo no banheiro do casal.

— São apenas duas crianças ainda. – Ele disse para tranquilizar ela. – Você deveria ser bem pior na idade delas. – Ele brincou. 

— Na realidade não. Eu não tive a oportunidade. – Admitiu com certo pesar. Sara voltava do banheiro carregando um estojo, como uma nécessaire.

— Desculpa. Às vezes esqueço que você teve uma infância difícil. Eu sinto muito. 

— Não sinta. Está tudo bem agora. – Ela sorriu para ele. – Tirando o fato que nossas filhas já tem treze anos. – Ela rolou os olhos rindo. – Que menstruam e já se interessam por garotos.

Grissom soltou as palavras cruzadas na hora. 

— Elas o que?

Sara demorou para responder. Pegou uma seringa, tirou a tampa da agulha e aplicou em si mesma. Ela fechou os olhos logo após a aplicação.

— Gil, você já teve a idade delas. – Ela voltou ao assunto em seguida, já guardando o kit que levaria para o banheiro. – É tudo flerte, coisa inocente. Elas acham certos garotos atraentes. Mas com certeza não do modo que eu te acho atraente. – Falou lasciva. 

— Você está tentando mudar de assunto. – Ele ergueu a sobrancelha. – Só não sei se quer tirar o foco das meninas ou dessa injeção que sabe que eu não aprovo.

Ela sorriu, e logo após levar a nécessaire de volta para o banheiro, voltou com o robe entreaberto.

— E estou conseguindo? – Ela mordeu o lábio inferior.

— Um pouco. – Admitiu tirando os óculos e deixando em cima da cômoda ao lado da cama.

— Bom, acho que a gente podia começar uma nova maratona. – Ela piscou. – Podíamos começar pela cozinha dessa vez, eu adoro todas as ideias que você tem quando transamos na cozinha.

Quando eles falaram há anos atrás de estar juntos em todos os cômodos da casa, eles não estavam brincando. Obviamente estabeleceram alguns limites, não estavam inclusos o quarto das filhas, de Beth e a área dos empregados. Tirando isso, nenhum dos cômodos foi poupado. Sala, escritório, sala de jantar, cozinha, adega, diversos quartos e banheiros da casa, até mesmo a garagem, a piscina e o depósito foram explorados. Sara não sabia que eles tinham um porão até então. Eles realizaram essa maratona umas três vezes nos últimos anos, e sempre era sexy, excitante e extremamente prazeroso. Uma das vezes demorou em torno de três meses até conseguirem completar todos os ambientes, pois uma maratona só terminava depois que absolutamente todos os cômodos fossem riscados da lista.