Saiu do banheiro ansiosa, e encontrou um Grissom completamente tranquilo, sentado na cama e recostado na cabeceira. Talvez ele já estivesse acostumado com aquilo, mas ela jamais se acostumaria, era impossível não ficar nervosa enquanto aguardava o resultado. Devia ter comprado o teste mais rápido, mas falaram que aquele apesar de levar mais tempo tinha uma taxa de confiança muito maior. Para ela 0,01% faria muita diferença.

— O resultado já saiu? – Estranhou pela rapidez. 

— Não. Na realidade eu não consegui ficar esperando no banheiro. – Admitiu ansiosa. – Esses dez minutos passam muito devagar. – Respirou profundamente. – Me dá até dor de barriga.

— Sar, querida. Sente-se aqui comigo. – Ele falou com voz suave e deu dois tapinhas no colchão ao lado de na cama, indicando o local para ela. – Você fica muito ansiosa. 

— Eu sei, mas é que eu quero tanto… Nós queremos. E eu sei que vai acontecer quando tiver que acontecer, mas às vezes eu sinto que meu relógio biológico está batendo e sei lá. – Deu uma pausa. Suspirou. – Você está certo, eu não deveria ficar tão nervosa.

Ela caminhou até a cama e sentou-se ao lado do seu esposo. Ele a recebeu em um abraço, e ela ficou encolhida nos braços dele. Estava cuidando o smartphone com o cronômetro ligado. Nisso tocou uma notificação, era uma lembrança da sua galeria de fotos. Ao clicar teve uma surpresa. Ela sorriu.

— Griss… Olha isso. –  Ela disse em sobressalto.

— Hm… – Ele virou seu rosto para a tela.

— Hoje faz cinco anos que você me pediu em casamento. – Ela sorriu para ele.

— Com certeza a melhor decisão da minha vida. – Ele beijou o topo da cabeça dela.

…

Tudo havia sido planejado com carinho. Sara estava voltando de viagem após fechar um negócio profissional pelo qual trabalhou duro por meses. E ele a recebeu no aeroporto com uma rosa. Rosa que anos depois viraria um quadro pendurado no quarto do casal. 

Ele a pegou no aeroporto e fora para um grande hotel, lá tudo estava preparado e com a desculpa de uma comemoração pelo grande negócio que Sara fechara. Ele a surpreendeu  em um jantar romântico, e um pedido de casamento. Ela ainda se lembrava das palavras.

— Eu quero contar sobre quando nós nos conhecemos, há dois anos atrás. – Ele sorriu.

— Eu me lembro disso.

— Sim, e eu também como se fosse ontem. Quando nós nos conhecemos eu disse que você estava louca. – Ele riu com a lembrança.

— Eu acho que nunca voltei ao normal. – Ela riu brincando.

— Talvez. – Ele deu os ombros. – Mas na realidade, eu tinha tanto medo daquilo ser verdade, de Ju não ser minha filha biológica, que eu realmente não imaginava o que estava por vir. Através desse erro, o destino me deu uma filha maravilhosa que eu pude acompanhar crescer, e que mesmo não tendo meu sangue, ela tem meu coração. Na realidade meu corpo inteiro. – Ele riu. – E então, quando a verdade veio a tona, eu ganhei outra filha, uma que talvez não me queira tanto como pai, mas que eu amo e que eu vou passar todos os dias tentando conquistar. – Ele suspirou. – Por fim, ele me trouxe você, e eu não posso negar, foi difícil. Você não tem idéia do quanto eu quis não te amar, eu nem sabia como era amar após Laura, eu tinha medo de perder, eu tinha medo de você estar aqui e amanhã não estar mais… E esse medo te afastou de mim, e eu tenho consciência que eu quase te perdi, na realidade, por um tempo eu te perdi, teu coração não era meu, mas agora é. – Ele sorriu emocionado.

Sara também estava, ele podia ver isso nos olhos dela. Ela sorria, seus olhos estavam mareado, ainda sim, ela não falava nada, apenas deixava que ele falasse.

— E eu me sinto completo novamente, não somente como pai, como família, mas como homem. Eu sinto que eu recuperei algo em mim que eu havia perdido há muito tempo, eu recuperei uma parte do meu coração que eu pensava estar morto, recuperei minha fé. Você restaurou minha fé. – Ele deu uma pausa, tateou os bolsos, mas ainda sim, não pegou nada, apenas precisava se lembrar onde estava. – E nós passamos tantas coisas juntos esses últimos anos, momentos ruins e bons. A gente superou muita coisa junto. O que aconteceu entre nós não foi algo que simplesmente surgiu, foi algo que a gente criou e que a gente deixou crescer e fortalecer. Você entra na adega, rouba meu vinho, se senta no meu sofá como se fosse seu, e fica lá pensando na vida. Eu, desço as escadas, às vezes na esperança de te encontrar lá, às vezes te encontro lá de surpresa. Você divide meu vinho comigo, e às vezes conversamos em silêncio, outras em palavras. Mas nos comunicamos. – Ele agora finalmente pegava a caixa do bolso. – Mas às vezes, durante a noite, eu desço as escadas e eu não te encontro lá sentada de lado no sofá, distraída. O mais engraçado é que eu sei que não está em casa, que está no seu apartamento, ainda sim, eu desço aquelas escadas e tenho a esperança de te ver ali... E quando isso ocorre, eu me sinto vazio.  

Ele então se levantou da cadeira, se posicionou a frente de Sara e se ajoelhou, ficando com um joelho no chão e o outro para frente. A caixa ainda estava fechada, mas estava de frente para ela. Finalmente Sara entendia do que tudo aquilo se tratava, estava emocionada com as palavras, mas agora, sabendo a pergunta que viria, ela se sentiu sem ar. Ela não tinha voz.

— Eu achei que tinha perdido a capacidade de amar, e então eu te conheci e descobri que eu estou pronto. Pronto para amar incondicionalmente e pronto para dividir integralmente a minha vida com você. Você está pronta para dividir a vida comigo? Sara Ann Sidle, você aceita se casar comigo? – Ele então abriu a caixa e novamente colocou a frente dela.

Meu Deus. Ela estava emocionada demais. Ainda antes de dizer qualquer coisa as lágrimas começaram a escorrer de seu rosto. Seu coração estava acelerado demais. E ela tinha que lembrar que tinha que respirar, se não ela simplesmente parava.  Ela olhou tudo em volta, a cidade brilhava e voltou a olhar para ele, ali ajoelhado. Ainda não tinha voz, ela queria dizer algo, mas não conseguia.

— Sar… – Ele disse após alguns segundos de espera. – Eu preciso de uma resposta.

Ele também estava ansioso. Havia planejado aquilo durante dois dias inteiros. Ele havia pensado muito sobre a possibilidade de um não, de ela não estar pronta para o próximo passo assim como ele. Eles nem estavam juntos a tanto tempo. Um local sem público sem ninguém olhando para eles durante a resposta havia sido pensada meticulosamente, não queria colocá-la sob a pressão de um público que teria a atenção toda atraída para ela. Ainda sim, pareceu não ter resolvido a questão, pois ela estava igualmente nervosa. E agora, ele não conseguia mais pensar nisso, ela não poderia dizer não, ela tinha que estar pronta. Ela precisava estar pronta.

Seu rosto estava alegre e ansioso. Ainda sim, ele estava nervoso, ainda não tinha dito nada.

— Meu Deus Gil, tudo isso foi tão perfeito. – Ela sorriu para ele. – Eu te amo tanto. – Ela tremia. – Eu estou nervosa… – E estava mesmo. Não sabia o que pensar, era uma resposta tão simples, ela sabia qual era, ainda sim, parecia não sair.

— É somente dizer se você aceita ou não aceita casar comigo. – Ele aguardava na mesma posição.

— Eu…

— Sara? – Ele não aguentava mais de ansiedade.

— Eu aceito, é claro que eu aceito. – Finalmente ela conseguiu falar. – Gil, eu… Você me deixou sem palavras. – Lágrimas de felicidade escorreram pelo seu rosto. Estava emocionada. – Eu queria dizer algo, eu queria dizer mais, mas eu não consigo pensar em nada… E-eu… – Ela respirou profundamente. – Nossa… Eu não esperava por isso. – Eu te amo Gilbert Arthur Grissom, e eu quero passar a minha vida inteira ao seu lado.

Nenhum dos dois cabiam mais de emoção. Após colocar a aliança de noivado no dedo de Sara, ele se aproximou dela e eles se beijaram profundamente. Eles não eram de tirar fotos, ainda sim, acreditaram que aquele momento deveria estar gravado para sempre.

…

— Eu achei que ia infartar aquele dia. – Admitiu ele olhando para a foto com carinho. – Demorou tanto para me responder.

— Você me surpreendeu mesmo aquela noite. Eu juro que não esperava aquele pedido. Mas não havia outra resposta certa, e eu posso te dizer que hoje, cinco anos depois, eu continuaria te dizendo sim, sim e sim.

Eles sorriram um para o outro. E deixando o telefone de lado, eles se beijaram. O beijo foi profundo e apaixonado, exatamente da mesma maneira que era há cinco anos. 

O despertador do seu telefone tirou a atenção deles fazendo terminar o beijo, era o cronômetro avisando que os dez minutos haviam passado. Ela se desvencilhou dos braços de Gilbert e deu um beijo rápido em seus lábios antes de sair da cama.

— Hoje tem que ser nosso dia de sorte. – Ela sorriu para ele.

Correu para o banheiro e em seguida voltou para o quarto com o teste em mãos e uma expressão frustrada na face. Seu marido da cama já sabia exatamente o que isso queria dizer, era mais um resultado negativo para a pilha de testes que ela já havia feito ao longo do último ano. Não estava grávida.

— Eu sinto muito Sar… – Ele suspirou e tinha um olhar de culpa.

— Tudo bem Gil, a culpa não é sua. Eu só não sei o que está acontecendo comigo.

Ele se levantou da cama, foi até ela e a abraçou, confortando-a. Ele não queria que ela visse, mas seus olhos estavam mareados. Respirou profundamente.

— Tá tudo bem Gil.

— Eu sei que não está. – Ele a reconfortou. – E eu sinto muito por isso.

Apesar da frustração Sara se sentia feliz por ter o apoio do marido, até pouco mais de um ano, ele não pensava em ter mais filhos, a ideia havia partido dela e demorou um pouco para Grissom aceitar. As filhas estavam crescendo e Sara sentia falta de ter uma criança brincando pela casa. Além disso, ela gostava da ideia de terem mais um filho juntos, que pudessem criar e educar juntos, e que fosse tão amado pelas meninas como Noah seria.

Entretanto, desde que começaram a tentar, eles não conseguiam. Fazia somente um ano que tentavam, e a cada menstruação atrasada, a cada pequeno sintomas que pudesse ser uma gravidez, ela corria para farmácia e comprava um ou mais testes. Esperançosa que pudesse finalmente estar gestando essa criança tão esperada. E nada. Simplesmente não ocorria.

Eles voltaram para cama. Grissom parecia estranhamente calado, ainda sim, aconchegou sua esposa em seus braços, confortando-a.

— Eu tenho ido em uma ginecologista. – Sara puxou o assunto depois de alguns minutos de silêncio.

— Você não havia me falado isso. – Ele estranhou.

— Eu não queria te preocupar, era apenas rotina. Eu pensei que toda aquela situação que passamos com o Noah, as cirurgias de emergência, enfim, isso pudesse ter de alguma forma ter comprometido a minha fertilidade. 

— Eu poderia ter te acompanhado, não precisava fazer isso sozinha.

— Tá tudo bem. – Ela sorriu mediante a preocupação do marido. – Eu fiz alguns exames, estou aguardando os resultados ainda, mas parece que eu estou bem. Vou começar a tomar algumas medicações para estimular a ovulação, e quem sabe dá certo.

— Talvez o problema seja eu. – Ele sugeriu. – Eu já não sou mais nenhum menininho. Talvez eu também devesse fazer um checkup.

— Você faria mesmo isso?

— Claro, meu amor. – Ele sorriu para ela. 

Então ela se virou para ele, colocou as mãos em seu rosto e começou a beijá-lo.

— Você… – O beijou. – É… – O beijou. – O… – O beijou. – Melhor… – O beijou. – Marido… – O beijou. – Do… – O beijou. – Mundo…

Ele não pode deixar de rir.

— Só me prometa que vai pegar leve consigo mesma. Não vamos fazer disso um cenário de frustrações e frustrações. Quando tiver que acontecer acontecerá.

— E se nunca acontecer Gil?

— Nós já temos uma família maravilhosa, querida. Duas filhas adolescentes, saudáveis e inteligentes, um gato que eu tenho vontade de colocar para adoção às vezes e um ao outro. – Ele sorriu. – Isso é maravilhoso. Pelo menos no meu ponto de vista. Se algum dia tivermos mais um filho ele vai vir para agregar, mas se isso não acontecer, eu estou feliz pelo que já temos e você também deveria estar.

— Você está certo. Estou fazendo uma tempestade em copo d’água. – Ela sorriu para ele. – Nós vamos com mais calma. Eu prometo.

— Mas nada nos impede de seguirmos praticando arduamente. – Ele falou com malícia.

— Você é incorrigível senhor Grissom. – Ela riu.

— E você adora isso senhora Grissom. – Rebateu.