Pelos Olhos Teus escrita por Victoria Aloia


Capítulo 9
Capítulo 8 - O acampamento


Notas iniciais do capítulo

Olá, você que acompanha minha história!
Mais um capítulo para ti. Espero que goste!



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Alice era alta, loira de cabelos longos e lisos, um corpo bem padrão para a época. Logo chamou a atenção dos meninos, que a olhavam como hienas olham para um pedaço de carne. Eu odiava aqueles olhares. Nenhuma mulher deveria receber aquele olhar, afinal não somos um bife em exposição no açougue. Estava na cara que Alice também não estava muito à vontade com a situação. Enquanto caminhava para o fundo da sala, sentando atrás de Lena, ela puxava a barra da camiseta branca do colégio para esconder suas curvas aparente sob a calça jeans. Os meninos, sem exceção, a encarando de cima a baixo e seguindo-a com o olhar.

Quando o alarme sinalizando o fim da primeira aula tocou, recolhi minhas coisas e fui até a mesa de Alice oferecer apoio e chamá-la para nosso grupo. As meninas mais populares da turma também a encararam, mas com o estigma ridículo de rivalidade. Acreditei que aquele era o certo a fazer, então. A apresentei às meninas no meio do corredor a caminho do laboratório de Biologia e, desde então, ela passou a integrar nosso grupo também.

Antes de sermos liberados para o intervalo, a coordenadora entrou na sala para apresentação dos programas extracurriculares. Entre construir um robô para a abertura dos jogos interclasses, coreografar a apresentação do quinto ano para a dança de formatura, e coordenar um acampamento do nono ano nas férias de julho, o último foi meu preferido. Nunca tinha tido a chance de acampar e essa era a oportunidade perfeita. Além disso, o colégio fornecia o acampamento de graça para bolsistas que se voluntariassem para serem os instrutores durante as atividades e também as programassem antes do evento para aprovação prévia da coordenação. 

Aquela era uma chance incrível de colocar minhas habilidades de liderança e didática em prática, além de contar muito no currículo para aplicação em estágios durante a faculdade. Fiquei bastante animada e conversei com as meninas para irmos todas juntas. Elas adoraram a ideia e já sabiam de alguns outros alunos que iriam também, da nossa classe e das outras duas do segundo ano.

Passamos as semanas conversando para ver qual função cada um teria, quais seriam ass atividades, contando as expectativas e torcendo para nossas propostas serem aprovadas. Era difícil se concentrar nas aulas com um turbilhão de ideias em minha mente. Após a aprovação das gincanas, foi anunciado que também iriam alguns professores para nos auxiliar na coordenação das atividades. Quanto mais próximo estava o dia do acampamento, mais ansiosa e animada eu ficava. Criei muita expectativa para aqueles cinco dias em meio à natureza e amigos. 

As provas do segundo bimestre chegaram ao fim, e com elas a semana do acampamento. Depois de pegar meu boletim, fui para casa o mais rápido possível, deixando Augusto e Mad para trás. Fiz minhas tarefas em casa, deixei tudo pronto para o dia seguinte, inclusive o livro para o tempo dentro do ônibus e minha roupa para o dia seguinte. Deixei a excitação invadir meu corpo e coloquei meu celular para tocar as músicas no último volume. 

***

Eu adorava cidades do interior. O clima mais ameno que a cidade grande, poder tomar sol sem se preocupar com a poluição que se misturaria ao protetor solar; a brisa fresca que os ventos do campo trazem, e não aquelas rajadas de vento gelado nos corredores formados pelos altos prédios da cidade; a vista do verde… Eu realmente poderia morar em uma cabana no campo sem tecnologia, apenas alguns bons livros, eletrônicos básicos e uma horta. Era um sonho. Conforme a paisagem se transformava perante a janela do ônibus em movimento na estrada, eu imaginava a vida das pessoas que moravam naquelas casinhas avulsas que vemos na beira da estrada. Eles seriam felizes se tivessem a minha vida na cidade grande? 

Fui despertada dos meus devaneios quando Mad se remexeu no banco ao meu lado, enroscando suas unhas pretas no meu fone e arrancando-os da minha orelha. Poucos segundos depois ela também foi despertada pela gritaria que tomou conta do ônibus, nos avisando que havíamos chegado ao Camp Cecil.

Nesse momento acabávamos de passar por um portal de tijolos vermelhos, que alicerçavam um mini telhado com uma placa com o nome do local e que protegia o portão de madeira na entrada do terreno. O ônibus embicou para uma parte gramada para estacionar e descemos. Como as vagas eram limitadas para os instrutores, formávamos um grupo pequeno de dez pessoas, sem contar os professores, para dar conta de setenta alunos do nono ano. Fomos divididos em dois grupos de cinco para ficar nas cabanas.

Saindo de trás do ônibus, pude ter a vista quase completa de todo o lugar. Uma guia logo apareceu, vestindo uma camiseta laranja, seu cabelo ruivo preso em um rabo de cavalo passando pelo boné também laranja, um apito pendurado no pescoço por um cordão, adivinhem, laranja e segurando uma prancheta. Ela era alta e magra. Parecia uma cenoura ambulante. Ela nos apontou para os pontos mais primordiais e passou uma folha para cada um com um formulário para nos inscrevermos nas atividades que gostaríamos e disse o horário para nos encontrarmos novamente para maiores informações. 

De costas para o portal, encarando aquele terreno que parecia não ter fim, podíamos ver as cabanas. Havia três tamanhos delas: as duas primeiras eram para os funcionários do próprio acampamento e para os três professores se acomodarem; depois vinham mais duas cabanas, onde ficaríamos; e por fim um corredor sem fim de cabanas menores para os campistas. Todas tinham o mesmo aspecto rústico e acolhedor, com uma espécie de caminho de pedras que levavam da porta das cabanas até um caminho central para a casa grande onde eram feitas as refeições e tinham algumas salas para atividades in door, sem falar no espetacular salão para a festa de boas vindas e de encerramento. Como não estávamos em número igual de meninas e meninos, tivemos que nos misturar. Em uma cabana ficaram Lena, Giu, Kira, Teo e Tomas. Na outra ficamos eu, Mad, Augusto, Alice e Mateus (um outro menino da nossa sala com quem desenvolvemos uma afinidade, mas que se fingia de ignorante para poder ficar com os populares quando era bastante inteligente e geek). 

Quando entramos na cabana, nos deparamos com duas camas de solteiro, uma beliche, um sofá confortável de três lugares que se transformava em um sofá-cama e uma porta para o lavabo. Ao lado desta, tinha uma outra porta que interligava as cabanas por um corredor único que levava aos vestiários feminino e masculino.

Depois que terminamos de nos instalar, preenchemos as fichas e pregamos no quadro de cortiça fixado do lado de fora da porta de entrada. Fomos avisados que teríamos a tarde livre para ir até o lago, ou só nos dispersarmos para conhecer o acampamento. A partir das 20:00h começaria a roda na fogueira para assar marshmallows, cantar, tocar violão, e claro, contar histórias de terror. Era algo bastante americanizado, mas eu gostei. Fora uma experiência diferente de qualquer maneira. 

Depois de serem passadas as informações da programação do dia seguinte, cada grupo dirigiu-se à sua cabana. As camas já estavam arrumadas com cobertores extras para a noite fria que o clima estava prometendo. Eles já tinham decidido quem ia ficar com qual das camas, tirando no palitinho quem dormiria no sofá-cama. Eu e Alice fomos mais devagar para a cabana e quando chegamos, vimos Mateus e Mad na beliche, mortos de cansaço. Ambas fomos em direção às camas de solteiro e mal deitamos, levamos um susto de Augusto que acabara de voltar do vestiário.

Alice não conseguia dormir por conta da história que contaram. Segundo ela, nunca gostou dessas coisas. Ela virava de um lado pro outro a procura de seu sono que não vinha, e Augusto, deitado no sofá-cama, estava olhando para o teto. Já eu tinha minha “amiga” insônia para me fazer companhia, mas fiquei paralisada quando ouvi a conversa que se seguiu: 

— Também não consegue dormir? - Augusto perguntou, mas algo me dizia que ele não se referia a mim.

— São, aquela história me deixou... Sei lá... Amedrontada. - Ela disse quase sussurrando, com medo de que pudesse acordar alguém.

—  Não se preocupe, não é nada de mais, é só uma "historinha pra boi dormir".

— Como se fosse fácil esquecer aquela história. Quando eu ficava assustada com alguma coisa, meu pai me fazia cafuné até eu dormir, mas ele não está mais aqui e eu já tenho idade o suficiente para "enfrentar os meus medos". Mas acho que não vou conseguir dormir hoje e amanhã temos que acordar cedo para as atividades.

— Bom, se você quiser, e se não achar problema nisso, eu posso fazer cafuné em você - Augusto agora falava com voz de criança.

— Não, não precisa, vou tentar dormir sozinha. - Ela falou virando pro lado.

— Ah, larga de ser séria Ali, você precisa relaxar mais. Além disso, não tem problema algum eu fazer cafuné em você. Somos amigos e eu não vejo nada de mais. - Dizendo isso, ela já se encostou na cama ao lado de Alice fazendo carinho em seus cabelos.

— Você é ótimo em confortar as pessoas, sabia? - Pude ver apenas a silhueta dos dois, apertados na cama de solteiro e dividindo um cobertor. Aquilo me afetou.

— É, eu sei sim. Agora, se ficarmos quietos, o sono vem.

Eu virei para o outro lado, encarando a parede. Não conseguia ver Alice encostando sua cabeça no ombro de Augusto, deitada com ele do jeito que eu queria estar. Conforme foi passando o tempo, fui vencida pelo cansaço e adormeci.

No dia seguinte, Mad e Mateus acordaram mais cedo e viram Alice e Augusto dormindo na mesma cama, do mesmo jeito que adormeceram.

— Mats, você não vem tomar café? Se demorarmos não vamos estar dispostos para as atividades. - Disse Mad, já a caminho da porta.

— Já estou indo, pode ir na frente Mad e guarde lugar para a gente. Vou tentar acordar os dorminhocos aqui. - Mateus disse indo até a cama de Alice, na esperança de acordá-los.

— Guto, acorda, vamos fazer as atividades...- Ele tentava despertar o amigo, sem sucesso - Você vai perder o café da manhã, mano.

Ao ouvir isso, Augusto saltou da cama, já calçando o tênis, o que fez Alice acordar também.

— Nossa, que barulheira, seus animais! - Eu estava cansada, dormira pouco e muito tarde. E ainda tinha que me preocupar com meu cabelo encaracolado parecendo um ninho de passarinhos.

— Nossa digo eu! O que aconteceu com seu cabelo, ou melhor o que aconteceu com vocês dois, hein? - Mateus desviou o olhar do meu cabelo para Augusto e Alice com um sorriso malicioso no rosto.

— Deixa de ser idiota, não aconteceu nada. A Ali não conseguia dormir e eu fiquei com ela até ela dormir... 

— Que vocês ficaram até dormir é óbvio… - Augusto deu um soco no braço de Mateus e Alice revirou os olhos.

— Bom, vamos indo senão vamos perder o café. E você vai assim? - Augusto disse olhando para mim, que ainda estava de pijama.

— Não vou me trocar com vocês aqui. Por que vocês não vão na frente enquanto eu e a Ali nos aprontamos?

Os dois saíram e nos trocamos ali mesmo. O café já havia sido servido, então não era de bom tom as instrutoras se atrasarem. Fiquei me perguntando o que realmente acontecera na noite anterior. Nenhum dos dois negou quando Mateus fez a brincadeira… 

Depois do café, as atividades correram normalmente até a noite. Nos reunimos com o pessoal da outra cabana e fomos assistir algum filme para relaxar. Eu não gostava de filmes de terror, então peguei um casaco de moletom e fui para o lado para ler em um lugar mais silencioso, e talvez até pensar sobre o motivo de o acontecimento da noite anterior ter me incomodado tanto. Pensei já ter superado o que sentia por Augusto, depois de tanto tempo voltando a nos tratarmos como amigos. Alice deve ter ficado com medo da história, pois ela saiu da cabana e foi até a margem do lago e se sentou perto de uma canoa que estava virada na areia seca e fofa. Não acho que tinha me visto sentada na cadeira de balanço pouco atrás.

Na volta do acampamento, Mad me contou que a galera começou a perguntar pelos dois, já que Augusto também havia sumido pouco depois de Alice ter saído.

— Gente, onde estão o Guto e a Ali? - Perguntou a Giu.

— Vi a Ali ir em direção ao lago, e o Guto deve ter ido até ela. - Respondeu Lena.

— Nossa, mas a Alice deve ter muito medo de coisas de terror para sair da cabana e ir para o lago nesse frio. - Kira se pronunciou.

— Como dizem na minha querida Bahia, "tem caroço nesse angu"! - disse Teo

— Como assim? Não estou entendendo nada. Você está insinuando que os dois saíram da cabana sozinhos de propósito? - Perguntou Tomas, já com um sorriso malicioso no olhar.

— Não estou dizendo nada, mas Mad e eu vimos os dois juntos quando acordamos. - Mats deu sua visão dos fatos.

— Isso não vai prestar! - Disse Giu.

— E porque não? - Quis saber Teo.

— Porque a Liv gosta do Augusto. - Disse Mad se dirigindo a todos da cabana.

***

— Te encontrei. Está com frio? - Ouvi a voz de Augusto, dando um pequeno susto em Alice.

— Mais ou menos. Vim para cá já que está todo mundo assistindo filme de terror e eu não quero que aconteça o que aconteceu ontem.

— E por quê não? Qual o problema de o pessoal ficar falando... A gente não… Bom .... Você sabe... Mas, de qualquer forma, é só não ligar porque ... Eu não ligo que fiquem falando.

— É... Você não, mas tem gente que sim. - Alice meneou com a cabeça para o lado. Não sei se conseguiram notar minha presença, mas nenhum deles olhou para trás. - Além do mais, eu gosto de ficar vendo as estrelas... Na cidade não dá pra ver assim. - Ela cortou o assunto.

— Lá vem você com esse papo de poluição e blá blá blá... Mas você tem razão, na cidade não se vê, por exemplo, aquela estrela cadente... Faz um pedido. - Disse Augusto colocando seu moletom no ombro de Alice e passando o braço por trás dele.

Depois de um tempo ali sentados, conversando e observando as estrelas, eles foram devagar em direção a cabana. Esperei um pouco até sair também pois não queria que soubessem que estive ali o tempo todo. Me senti estranha, como se estivesse espionando-os e invadindo a privacidade deles. Não ouvia muito do que diziam, pela distância de onde estavam e porque tentei ao máximo me concentrar na leitura de Orgulho e Preconceito no meu Kindle.

Quando cheguei, todos já tinham ido embora e Mad, Mateus, Augusto e Alice já estavam dormindo. Com o passar dos dias, as atividades eram cada vez mais desafiadoras e sempre colocavam Alice na equipe de Augusto, fazendo os dois começarem a ficar mais próximos um do outro e me deixando cada vez mais de lado. Até que na penúltima noite, eu não conseguia dormir, mas me mantive deitada ouvindo música em meu fone de ouvido quando vi Augusto se levantar e sair da cabana. Calcei meu tênis e peguei minha jaqueta saindo atrás dele sem notar que Alice também não estava em sua cama. Consegui vê-lo descendo o caminho até o lago e pensei em chamá-lo, mas poderia acabar acordando os campistas. Quando chegou onde Alice estava, sentou-se ao seu lado, falou algo que ela respondeu com um aceno positivo e os dois se beijaram.

***

Até eu digerir toda aquela cena me senti com  raiva, angústia, inveja e desapontada com Ali. Ela sabia que eu ainda gostava de Augusto e o beijou mesmo assim. Voltei para a cabana e tentei dormir, mas as lágrimas brotaram em sinal de decepção. Novamente fui desapontada por um alguém próximo em relação à mesma pessoa. 

Quando o Sol raiou, Mateus e Mad me viram já acordada sentada no sofá-cama, que estava desmontado. Mats me chamou para tomar café, mas Mad pediu que ele fosse na frente. Ela me conhecia tão bem a ponto de conseguir enxergar em minhas olheiras que eu não conseguira dormir e ainda havia chorado por um bom tempo. Contei para ela o que vi e sua expressão não demonstrava incredulidade como eu imaginei, e sim um misto de raiva e tristeza. Quando contei para ela sobre a história de Augusto com Melissa, ela passou a nutrir um sentimento de rancor por ele. Contudo, agora era diferente. Ela me disse que eu não podia mais ficar aceitando as migalhas que ele me dava e tentar seguir com a minha vida.

Fomos para o refeitório depois de Mad me ajudar com os vestígios de uma noite péssima. Não ajudou muito a cena que me deparei ao chegar até a mesa onde sentávamos junto com os outros:

— Onde vocês dois estavam? - Mats perguntou para Guto e Ali.

— Espera aí! Vocês não dormiram na cabana ontem? - Teo gostava de ver o circo pegar fogo. Passei a entender melhor qual era a dele no período que passávamos juntos no colégio.

— Nos distraímos olhando as estrelas, e quando vimos, o sol já estava nascendo! O nascer do sol não é lindo? - Respondeu Augusto com um quê de apaixonado em sua voz.

— Realmente! - Alice encarou Guto e depois baixou o olhar com um sorriso. Ela evitou olhar para mim desde que entrei no refeitório com Mad.

— Vocês ficaram! Eu sabia que isso ia acontecer! - Tomas não era muito diferente de seu gêmeo nem mesmo na personalidade. Que ótimo.

— Pois é! A noite deles deve ter sido ÓTIMA! - Eu disse ironizando a última palavra com um tom de desdém e uma pontada de ciúmes.

— Nossa, aí sim hein Guto! - Teo falou dando um tapa no ombro do amigo.

— Podemos ir logo tomar café, ou vocês estão achando que a comida vai vir voando até a gente? - Mad também estava brava com Augusto. Será que eu não podia manter minhas emoções sob controle pelo menos uma vez na vida?

— Vamos porque o pior não é nem a comida sair voando e sim a Mad jogá-la em nós! - Brincou Kira.

— Tem gente que acordou com o pé esquerdo hoje. – Disse Augusto.

Fizemos mais duas gincanas e fomos liberados para nos arrumar para a noite de despedida. Eu estava ajudando na decoração do salão, então cheguei depois de todos já estarem prontos para a festa. Quando abri a porta, dei de cara com Mad que me alertou sobre Augusto querer falar comigo. Ela nos deixou a sós e acompanhou Alice e Mats até o salão para encontrar nossos amigos. 

Augusto estava sentado na ponta da minha cama com um ar apreensivo. Ele vestia uma calça jeans escura, uma blusa cinza, por baixo de uma jaqueta verde militar e botas estilo Timberland. Sua preocupação logo veio a tona:

— O que foi aquilo antes do café? Como você soube que minha noite foi boa? Alice falou algo para você?

— Deve ter sido, não? Ficar observando as estrelas e depois o nascer do sol! Poucas coisas são tão românticas quanto essa, principalmente no campo. E não, Alice não me falou nada. Eu… Só deduzi. Vocês dormiram juntos uma noite, e não estavam no quarto ao amanhecer. Vocês podiam ter avisado, fiquei preocupada a princípio, mas depois percebi o que estava acontecendo.

— Sem querer ser grosseiro, mas não preciso te contar o que acontece na minha vida. Você meio que perdeu esse direito quando escondeu de mim sobre a Melissa. 

— Não acredito que você ainda está remoendo isso! Quer saber, você tem razão. Você não precisa me contar da sua vida, mas seria bacana ter alguma consideração pelos seus amigos. Eu ainda tenho com você.

— Ei! Não falei por mal…

— Não, você está certo. Agora eu preciso me arrumar, se você me der licensa.- Peguei minhas coisas e saí pelos fundos em direção ao vestiário o mais rápido que pude. 

Enquanto a água quente escorria pelo meu corpo e o vapor embaçava o vidro da janela do banheiro, eu começava a colocar meus pensamentos em ordem. Não poderia deixar que isso acontecesse de novo. Não tinha tempo para me preocupar com isso, e tinha uma festa decorada por mim rolando no salão ao lado. O que eu estava fazendo? Saí do chuveiro e fui me arrumar. Como já estava em cima da hora, peguei um vestido branco de alça, vesti uma meia calça para não passar frio, calcei minhas botas estilo coturno e para finalizar, peguei  minha jaqueta jeans. Fiz uma trança lateral bem rápida e deixei que alguns cachos se soltassem. Fui em direção ao salão com a intenção de me despedir do acampamento e desse sentimento. 

Passei pelos fitilhos pendurados na entrada, a iluminação era por conta das cordas de luz que cruzavam o salão de ponta a ponta e por luminárias típicas nas paredes e sobre as mesas de bebidas e doces. Uma mesa só para biscoitos, marshmallows e chocolates; na mesa de bebidas tínhamos a incrível variedade de água, refrigerante e ponche de frutas. Uma música pop estava tocando e todos estavam dançando, cada grupo com sua rodinha. Quando cheguei à minha, a primeira coisa que ouvi foi um comentário de Tomas para Mats, que me encarou de cima a baixo, fazendo Augusto e Teo também virarem seus olhares para minha pessoa: 

— Gostaria de um babador moço? - Disse Tomas fazendo gesto de garçom de restaurante chique que carrega um paninho no antebraço.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui. Comente o que você gostou, o que não gostou, suas impressões... Quero saber tudo!
Até o próximo capítulo.



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