Pelos Olhos Teus escrita por Victoria Aloia


Capítulo 10
Capítulo 9 - Boas surpresas


Notas iniciais do capítulo

Olá você!
Mais um capítulo prontinho.
Espero que goste.



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Após aquele comentário de Tomas, as coisas começaram a ficar estranhas entre eu e Mats, mas não em um nível desconfortável, apenas estranho. Ele estava com um par de All Star preto, uma camisa branca em gola v, uma jaqueta verde escuro, calça jeans preta e uma blusa xadrez flanelada amarrada na cintura. Seu cabelo castanho ainda úmido do banho tinha um caimento perfeito em seu rosto. Ele aparentava uma mistura de James Bay com Cole Sprouse. Parece que eu nunca o tinha visto. Minha vista, de repente, o notara. Augusto passou o braço pela cintura de Alice e a puxou para perto, me encarando. Ficamos em silêncio pelo que pareceu ser uma eternidade, até que Kira pigarreou e disse:

— Achei que estivesse em uma festa…Que climão de velório, gente. Vamos animar, por favor?

— Vou pegar um ponche. Alguém quer alguma coisa? - Mats se ofereceu e cada um pediu uma coisa. 

— Eu te ajudo. - Eu disse.

Fui com ele pegar os comes e bebes para o pessoal. Era uma chance que podia aproveitar para conhecer outras pessoas e, quem sabe assim, me livrar do sentimento que tinha por Augusto. Fomos até as mesas em silêncio, até que eu falei que pegaria as comidas e ele pegaria as bebidas. Viramos de costas um para o outro e nos concentramos em nossas tarefas de escolher o que cada um tinha pedido. Ele limpou a garganta e perguntou:

— E aí, está pronta para voltar à realidade? 

— Vai ser meio difícil ver as estrelas na cidade, mas posso me acostumar de novo. E você?

— É, você tem razão. Vai ser difícil voltar. Vocês são mais legais do que pensava. 

— Como assim?

— Bom, vocês não julgam ninguém, respeitam a individualidade de cada um…Com vocês não tem tempo ruim. Com o pessoal do colégio é meio complicado. Tem sempre uma cobrança, uma pressão invisível sobre todo mundo. Você é sempre tão leve… Digo, vocês… - Ele ficou sem jeito e voltou a se focar nas bebidas para equilibrar os copos nas duas mãos. 

— Olha, também me surpreendi muito com você. Não é o que eu esperava. 

— E o que você esperava? - Ele se virou para mim, pronto para ir.

— Ah, talvez mais um garoto mimado e mesquinho. Sem ofensas. - Também me virei, tentando equilibrar seis pratos de papel com marshmallows, chocolates e alguns salgadinhos. 

— Bom saber que te surpreendi, então. Nesse caso, tenho uma pergunta: qual a melhor casa de Hogwarts e porque é a Lufa-Lufa? - Agora já andávamos em direção ao grupo, bem lentamente, quando respondi a pergunta.

— Nem vem! Corvinal é melhor. Os inteligentes dominam tudo!

— Exatamente. Se houvesse mais bondade no mundo, a sociedade seria diferente. Não acha?

— Olha, você tem um bom ponto. Parabéns, conseguiu me refutar. 

— Não é possível! Eu deixei a Olívia Maria Dubois sem palavras? Agora sim você pode falar que eu me acho. - Nós dois estávamos rindo quando chegamos na roda de volta. 

— O que é tão engraçado? - Quis saber Augusto.

— Nada de mais. É coisa de Harry Potter. - Mats respondeu.

— Nossa! Você ainda gosta de Harry Potter? - Augusto questionou Mateus com um tom de julgamento.

— Sim! Quem não gosta? A história é muito rica e incrível. 

— Eu acho que é coisa de criança. Quer dizer, já gostei também, mas quando eu tinha meus dez ou doze anos. 

— Nossa, e você é muito adulto, não é Augusto! - Mad falou, provocando-o.

— Eita! Que tal voltarmos para o clima de velório? - Giu tentou amenizar a situação que começou a ficar cada vez mais tensa. 

— Relaxa, cara. Foi só um comentário. Não precisa se afetar, não! - Mats também parecia estar mais alterado.

— Eu não sei vocês, mas eu quero dançar. Se vocês vão ficar discutindo por besteira, me avisem. - Lena não tinha muita paciência para picuinhas.

Kira e Giu pegaram Teo e Tomas pelo braço e os arrastaram para a pista no centro do salão. Lena foi atrás, seguida de Mad. Todos estavam se divertindo, mas de alguma forma a leveza da conversa se fora junto com minha animação. Alice, que estava enrolando com seus marshmallows de um lado para o outro no prato, parecia estar bem distante de onde estávamos. Virei o ponche de frutas de uma vez só e pedi licença para sair. Não podia deixar que aquela coisa tão ínfima me tirasse a empolgação, mas era inevitável ficar chateada com a situação. Fui em direção à porta e me apoiei no peitoril de madeira da sacada do salão, abraçando a mim mesma. Além de tudo o que eu estava sentindo, minha confusão mental e emocional, ainda me arrependia de ter saído com apenas uma jaqueta. 

A noite estava fria, com o céu sem muitas nuvens, o que possibilitava uma linda vista do luar. Meus colegas estavam se divertindo lá dentro, pelo menos a maioria deles. Tínhamos conseguido fazer algo bacana, uma experiência que ficaria conosco para sempre, e lá estava eu: remoendo alguma coisa que eu ainda não conseguira decifrar se era decepção, raiva, indecisão…Só sabia que não era bom sentir aquilo. Respirei fundo e encarei a lua cheia, em sua plenitude na imensidão do céu, fazendo companhia para as estrelas. Senti um arrepio na espinha, não sei se pelo vento ou por outra coisa. Comecei a sentir um cheiro de queimado e meu pensamento foi muito longe. Senti um peso no meu ombro direito e voltei à realidade. 

— Ei, você está bem? - Levei um pequeno susto ao ver Mateus ali do meu lado.

— Estou. Eu acho… Tinha alguma coisa queimando? 

— Acredito que não. Pelo menos até agora está tudo em ordem. Por quê?

— Nada, esquece. - Minha mente precisava parar de me pregar essas peças.

— Tudo bem, mas saiba que se quiser conversar, mesmo você sendo Corvina, eu estou aqui por você, ok?

— Obrigada. - Eu sabia que aquilo era algo que as pessoas sempre diziam umas às outras, mas algo no jeito como ele falou soou verdadeiro. Fechei o zíper da jaqueta tentando me manter aquecida. Acho que aquela roupa foi mais uma escolha errada que tomei em minha vida. 

— Toma, pode usar se estiver com frio. - Mateus desfez o nó da camisa em sua cintura e me entregou. 

— Obrigada. - Aceitei. Não era meu feitio aceitar as coisas assim de primeira, mas o vento estava realmente muito gelado para eu fazer cena àquela noite. 

— Não precisa agradecer… Me conta uma coisa? 

— … Sim… - Eu hesitei. Quem faz uma pergunta dessas tão do nada assim?

— Não precisa responder se não quiser, mas você começou a gostar do Augusto antes ou depois dele virar um babaca? - Ai! Ele realmente não cansava de me surpreender.

— Olha… 

— Lembra que se não quiser responder…

— Não, está tudo bem. Antes. Bem antes, na verdade. Mas está tão na cara assim que eu gosto dele? 

— Sim. Isso é um problema?

— Depende. Para ele ou para mim? Ele está com a Alice agora. E ela parece ser legal. Acima de tudo, somos amigos e quero vê-lo feliz. 

— Mesmo que ele seja um babaca?

— Ele tem seus momentos. Mas sim, mesmo que ele seja um completo idiota às vezes. 

— Isso é muito nobre da sua parte… - Aquilo me deixou um pouco sem jeito.

— Obrigada. Eu também tenho meus momentos…

— Mas então, me diga: quanto você gosta de coisas de criança, tipo Harry Potter? 

Engatamos uma conversa muito legal e descontraída sobre séries, filmes e livros. Ele me recomendou alguns filmes de ação e eu fiz uma lista mental de comédias românticas que ele tinha a obrigação de assistir. Perdemos tanto a noção do tempo, que só notamos o quão tarde estava quando alguns campistas começaram a ir em direção às cabanas. Mesmo assim, não paramos de conversar. Tudo fluía de forma natural. Eu não tinha que procurar assuntos em comum, pois eles surgiam conforme a conversa avançava. Assim como era no começo com Augusto. De forma gradual, ele começou a vir mais para perto, ficar mais de frente para mim. Tirou um cacho do meu rosto, mas assim que tocou minha pele ele recuou.

— Desculpe. Eu não quis…

— Não tem problema.

Ele voltou ao cacho insistente que teimava em ficar à frente do meu rosto, balançando ao vento. Colocou-o atrás da minha orelha e acariciou minha bochecha. Eu estava hipnotizada. Cada vez mais perto um do outro, a ponta de nossos narizes se tocaram. Estávamos quase nos beijando quando Alice irrompe à porta com um semblante de preocupação. 

— Finalmente te achei! - Ela falou soltando a respiração contida. - Ai! Desculpe. Interrompi alguma coisa, não foi? 

— Não, está tudo bem. - Mats voltou-se para o parapeito de madeira.

— É… Só estávamos… Conversando. - Falei corando fortemente. 

— Estava te procurando, Liv. Posso falar com você um minutinho? 

— Claro.

— Vou deixar vocês à sós. - Mateus entrou novamente, mas não sem antes passar a mão pelas minhas costas, em sinal de despedida.

— Bom… Eu queria te pedir desculpas. Desculpas porque eu sabia que você gostava do Augusto e mesmo assim… Bem, eu deixei acontecer. 

— Ali, está tudo bem. É cristalino que ele não sente o mesmo por mim. E você não tem que me pedir desculpas… A gente não tinha nada, de qualquer forma.

— Tenho sim. Devíamos nos unir e não apunhalar a outra pelas costas.

— Olha, não se preocupe. É sério. Está tudo bem. - Eu queria tanto que aquilo se tornasse verdade.

— Certo então. Você está bem mesmo com isso? 

— Sim. Eu lhes dou minha benção. - Nós duas rimos. Não havia motivos para privá-la da felicidade com alguém que a correspondia. Agora eu precisava correr atrás da minha. 

Alice entrou e me chamou na porta. Falei que já entraria e ela foi-se salão adentro. Olhei para a lua uma última vez naquela noite, respirei fundo mais uma vez e também voltei para dentro do salão. As meninas ainda estavam dançando, Teo e Tomas se arrumaram em um canto perto dos fenos decorativos e estavam quase dormindo. Mateus me ofereceu uma bebida e Augusto veio até mim pedir desculpas pela forma como tinha agido antes. Eu falei que não fora nada de mais e que estava tudo bem entre a gente. Pouco tempo depois, os professores avisaram no microfone que a festa estava se encerrando e que era melhor voltarmos para nossas cabanas e descansar, pois a viagem de volta seria logo pela manhã. 

Quando chegamos lá, Mad deitou na cama do jeito que estava de tão cansada. Augusto arrumou o sofá-cama e deitou com Alice, e Mateus pegou a cama de Alice por aquela noite. A viagem de volta foi bem tranquila. Todos estavam com sono ainda e boa parte do pessoal dormiu até chegarmos de volta no colégio, quase na hora do almoço. Fomos cada um para suas casas e seguimos assim o restante das férias. Nos vimos pouco, mas conversávamos pelas redes sociais. Assim que as aulas voltaram, Mateus se afastou ainda mais da turminha dos populares e passou a ficar com a gente, não só durante o intervalo, onde o apresentei à Cora, e pudemos nos conhecer melhor.

***

Como era de praxe, Cora passaria o ano novo na casa de praia que pertencia ao seu padrasto. Minha madrinha fora viajar naquele final de ano e Cora pedira para levar os amigos, no que minha madrinha ficou ressabiada, mas cedeu ao impor a condição de deixarmos a casa limpa, passar apenas um final de semana e ter um adulto nos acompanhando. Minha mãe logo se ofereceu, e também impôs que levássemos nossos respectivos irmãos. 

Eram condições bem justas, levando em consideração que tanto meu irmão mais novo, Lucas, quanto meu primo eram muito unidos e ficavam no quarto jogando videogame praticamente o dia todo. Cat pedira para ir viajar com os amigos para um sítio da mãe de Marcus, como presente de aniversário atrasado. Minha irmã era bem avançada para a idade que tinha e, com tanta gente na casa, Cat ter ido para outro lugar era uma preocupação a menos.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo chega ao final. Comente o que você está achando até agora... Além disso me ajudar a saber qual rumo dar para a história, críticas construtivas são bem vindas para melhorarmos, sempre!
Até o próximo capítulo.



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