Pelos Olhos Teus escrita por Victoria Aloia


Capítulo 7
Capítulo 6 - A Praça


Notas iniciais do capítulo

Olá você que acompanha a história! Sinto muito não ter postado semana passada. Porém, como recompensa, temos dois capítulos hoje.
Bom proveito e boa leitura.



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Não demorou muito para que Augusto soubesse de tudo. De fato, Melissa cumprira com sua promessa e contara cada detalhe a ele. E com isso foi aceso o barril de pólvora que Augusto se tornou inconscientemente. Eu nunca o vira tão irritado quanto no dia que ele explodiu. Era um dia bastante tedioso de janeiro e o clima estava muito quente. Eu navegava  na internet quando a janela de nossa conversa emergiu no canto da tela do grande trambolho que era meu computador.

Augusto me mandou uma mensagem e eu, ingênua, apenas acreditei quando ele me disse que estava tudo bem e só queria conversar. Não fazia ideia de que ele sabia de tudo, ou do que eu enfrentaria ao seguir sua instrução de nos encontrarmos na praça em vinte minutos. Somente peguei meu exemplar de Harry Potter e o Enigma do Príncipe, fechei as guias abertas no computador e fui de encontro ao que era o meu fim premeditado.

Cheguei adiantada e sentei-me no banco de concreto com cinco divisões anatômicas, que ficava abaixo de um pergolado de madeira com algumas plantas que subiam em espiral por toda a lateral do suporte e pendiam por entre as vigas da cobertura, projetando uma sombrinha precária no banco. 

Comecei minha leitura e não devia ter passado mais que cinco minutos que eu chegara quando ele veio ao meu encontro. Eu estava sentada na segunda divisão do banco e ele sentou-se ao meu lado, ocupando o primeiro lugar em silêncio. Não disse absolutamente nada e também não interrompi minha leitura. Percebendo que eu não diria nada até que ele me cumprimentasse, ele tampou minha visão colocando a mão sobre o livro aberto sobre meu colo. 

Fechei o livro e o encarei, continuava em silêncio. Então saltei um espaço no banco. Ele fizera o mesmo repetidas vezes até que chegamos à última divisão e me encarou dizendo que se eu saltasse mais uma vez, cairia então me levantei abruptamente. Ao fazer isso, ele segurou meu pulso e observou-me de cima a baixo, como se fosse a primeira vez que me olhava de fato.

Eu vestia um shorts jeans e uma camiseta um pouco larga pelos anos de uso, nada de especial. Corei com seu olhar que parou sobre meu rosto e encontrou meus olhos confusos pelo toque inesperado. 

— “Cigana oblíqua e dissimulada” - Ele disse.

— O quê?!

— Dom Casmurro, Machado de Assis.

— Não, Harry Potter - Eu falei apontando o livro em minha mão livre da sua.

— Quis dizer que você tem olhos de Capitu.

— Eu entendi o que você quis dizer. O que não entendi é o que isso tem a ver com a urgência de estarmos aqui. O que quer me contar e por quê não para de dar voltas?

— Não estou dando voltas, apenas me preparando para te confrontar - Seu olhar era sério dessa vez, sem aquele costumeiro par de olhos castanhos sorrindo divertidamente.

— Me confrontar sobre o quê, exatamente? - Eu já sabia o que me esperava, mas não seria eu a dar o primeiro passo para entrar naquele assunto - Podemos parar de enrolação? O que você quer me dizer?

— Você é quem tem que me dizer algo, não? Não tem nada que você queira me contar, Olívia?

Engoli em seco. Seu tom era urgente e com uma pitada de mágoa. Sua guarda estava em alta. Ele sabia. Ele sabia o lado dela. Eu a ajudei e ela o envenenou. Muito bem. E que lição tirei de tudo isso? Não confiar nas pessoas, certo? Claro que não. Quebrei a cara muitas vezes ainda.

— Não sei do que você está falando. - Tentei parecer casual e desentendida. Minha mente pensava uma coisa, mas o que começou a sair da minha boca eram palavras desconexas e com minha guarda a postos também, como se fôssemos começar a discutir.

— Jura? Vou te dar uma pista sobre o que você devia ter me contado: Melissa. Isso te lembra de algo ou ainda não sabe do que estou falando? - Ele soltou minha mão, ainda sentado, e continuou a me encarar com um olhar sério que nunca tinha visto antes.

— Certo. Sobre isso… Bem, não te contamos porque achamos que você ficaria muito mal e acreditaria que estávamos com ciúmes ou inventando coisas.

— Primeiro: Todos sabem?  - Ele se levantou e deu um passo à frente.

— Sim - Era incrível a força da pressão que eu sentia em meu peito naquele momento.

— Segundo: vocês achavam que eu ficaria mal. Perfeito. E como acha que eu me sinto agora? Muito bem, aposto.

— Não é assim. Só não contamos pois achamos que você não acreditaria em nós.

— Ah, faz total sentido. Eu com certeza duvidaria dos meus amigos só porque comecei a namorar.

— Você estava feliz e… - Tentei me aproximar dele, mas ele recuou mais que o dobro da distância.

— Eu estava sendo enganado e traído.

— Não queríamos bagunçar sua cabeça… - Ele me interrompia como alguém extremamente nervoso.

— Tarde demais para isso. Todos vão seguir seu caminho e duvido muito que vá ser a mesma coisa a partir de agora. Eu confiava em vocês e vocês me apunhalaram pelas costas.

— Ei! Não fomos nós que te traímos e quase engravidou - Foi a minha vez de se exaltar.

— Espera um minuto. Como assim ela quase engravidou? De quem?

— Estava torcendo para não ser seu, com certeza.

— Não. Seria impossível - Ele se sentou no banco novamente.

Naquele momento, um grande alívio preencheu meu coração e se espalhou por todo o meu corpo. Eles não tinham transado ainda. As histórias que Melissa fazia questão de espalhar pelos corredores da escola eram falsas, assim como ela. E ela não cumpriu sua parte completamente pois Augusto estava realmente confuso com a informação de sua quase gravidez. Sentei-me ao seu lado e expliquei o que acontecera na casa da Paula. Ele estava em choque. Mais calmo, mas ainda assim espantado com o que Melissa fizera com ele. De fato, não era justo. Ele entendeu nosso ponto de não contar nada e depois voltamos cada um para sua casa na esperança de esfriar a cabeça, não só daquele sol de verão. 

***

É estranho como tudo aconteceu depois disso. Ainda nos falávamos, mas era algo bastante superficial. Passado o episódio da praça, foi complicado conversar com ele. Augusto parecia cada vez mais distante, não respondia às mensagens de ninguém, parou de ir à praça e, durante quase todo o restante das férias, não o vimos em lugar algum.Talvez Breno tenha conseguido falar com ele, mas se o fez não nos contou. Eles eram mais próximos que eu, então não me surpreenderia se isso acontecesse. 

Quando se tratava de Augusto, tudo era muito subjetivo e imprevisível. Ele era escorregadio. Provocava e negava logo em seguida, lançava a rede só para ter o prazer de puxá-la de volta pouco antes de você a pegar. Cada palavra tinha um duplo sentido, cada frase era aberta a interpretação de propósito para brincar com a sua mente. Me imaginava namorando-o, mas era assustador não saber com qual versão dele eu passaria o dia.

Aquelas férias foram um tanto quanto esclarecedoras. Em parte porque eu, mesmo com toda a dúvida que ele me proporcionava, ainda estava certa de que ele era alguém especial. Por outro lado, passei a me descobrir e, ainda que eu estivesse no mesmo colégio que ele, com a nossa relação andando em uma corda bamba eu poderia escrever meu futuro sem conhecidos por perto. 

O que nos anos passados era assustador para mim, se tornou algo pelo qual eu ansiava no ensino médio. Não que eu tivesse feito algo de marcante na antiga escola, mas pensaria um pouco mais em mim dali em diante e não precisaria de nenhum “fantasma do Natal passado” para me levar de volta ao que eu queria enterrar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado e te aguardo nos comentários! Até o próximo capítulo.



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