Mirror Myself In You escrita por LadyDelta


Capítulo 11
Changes.


Notas iniciais do capítulo

EEEEEEAI??? Tudo belezinha?

Pronta para três capítulos hoje? Não????? Poxa, que triste, porque é o que terão ( ͡° ͜ʖ ͡°)

Lenço na mão? Água e posição confortável? Vão precisar, eu acho.

Então seria o Pov da Galateia 7/8 mas como o 7 cresceu demais eu dividi ele, então agora vai ser Pov da Galateia 7/9. Um capítulo postado agora e os outros dois até uma da manhã.

Música para o capítulo: Hayd - Changes

~Boa leitura



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Residência Merok - 19h:05min – Galateia Pov.

Desci do carro fechando a porta em minhas costas, andando lentamente até as escadas, subindo degrau por degrau da forma mais lenta possível. Essa semana Liane não me mandou nenhuma mensagem, o que só prova que ela realmente ficou chateada comigo com o que aconteceu. Empurrei a porta de entrada da casa e franzi o cenho por ver um homem sentado no sofá enquanto conversava com David. Olhei para eles e segui para escada sem sequer lhes cumprimentar, parando no meio do caminho por ver que Liane a descia de cabeça baixa.

— Lily... – Chamei receosa e ela ergueu a cabeça no susto, sorrindo antes de vir me abraçar.

— Graças a Deus! Eu achei que você não fosse vir e que estava com raiva de mim. – Falou chorosa e lhe abracei de volta.

— Eu nunca ficaria com raiva de você por querer me proteger. – Garanti e ela se afastou para pegar minha mão e me puxar para irmos pro segundo andar.

— Eu estourei também, não devia ter gritado com você. Me desculpa. – Pediu e neguei com a cabeça.

— Você não tem que me pedir desculpas. Eu que tenho. Realmente não pensei no que estava fazendo e saber que isso te chateou me deixou muito triste. Eu sinto muito. – Sussurrei e ela fechou a porta do quarto.

— O cara na sala é o pai do meu “namorado”. – Fez aspas com os dedos e arregalei os olhos colocando minha mochila no chão. – Eu não quero falar com ele, mas disse que faria isso se você não viesse. – Alertou e sorriu. – Muito obrigada por vir.

— Eu viria de qualquer jeito mesmo. Estava com saudade de você. – Confessei e me joguei em sua cama. – O que vamos fazer hoje? – Perguntei e ela se jogou ao meu lado.

— Hoje à noite nós duas teremos de ir para um evento com eles. –  Contou e fiz uma careta. Eu odeio quando tem algum evento e sou obrigada a ir neles e agir como se fosse uma filha querida por David, que age como se me amasse incondicionalmente. Sinto repulsa durante quase todo o evento e tento me afastar o máximo possível de fotos. Liane também não gosta da situação e normalmente nós duas ficamos em um canto tentando fazer companhia uma para outra.

— Eu odeio esses eventos. – Reclamei. – Mas o que faremos antes disso, nós duas. – Perguntei e ela suspirou.

— Alguma coisa que envolva não sair desse quarto, por favor. -  Pediu e me sentei com um sorriso.

— Trouxe a história. Essa semana consegui escrever quase tudo, então só falta o final. – Alertei indo até minha mochila e pegando o amontoado de folhas.

— O que te fez ter vontade de escrever? – Perguntou aceitando as folhas.

— Nada em particular. Não é por causa da nossa mãe, embora ela escreva de um jeito perfeito, mas... Eu achei que se tentasse passar um pouco do que sinto para qualquer outro lugar que não fosse dentro de mim, me ajudaria. Na verdade, o diário que me deu tem muita influência sobre isso. Escrever nele me deixa mais leve, então eu pensei que se passasse algumas sensações para uma realidade que não existe... Sei lá, achei que saberia lidar melhor com as coisas.

— Por isso a fantasma só é vista pela menina que se muda para casa e a avó dela, que também é médium? – Perguntou e me encolhi. – A médium é uma representação minha? – Perguntou e assenti. – Quem é a melhor amiga que não pode ver a menina que morreu? – Questionou e dei de ombros fingindo não saber. – Vou fingir que não sei, mas... Isso aqui. – Sacudiu as folhas no alto e sorriu. – É muito especial.

— Você ainda nem leu. – Murmurei.

— Mas você me mostrou os rascunhos e, os diálogos que vi lá são de muita profundidade. Não sei se isso deveria soar como um elogio, mas dado as circunstâncias... Você é igualzinha a nossa mãe. – Falou carinhosa e sorri por saber que ela se referia a boa qualidade de escrita.

— Fale isso depois que ler.

— Tudo bem, chata. Eu comprei um videogame pra você e alguns jogos. – Apontou para estante onde ficava sua televisão e sorri. – Deixei aqui no meu quarto mesmo, mas depois você leva pro seu, antes de ir para escola na segunda-feira. – Se aconchegou nos travesseiros e sorri indo até o console, analisando os jogos que ela havia comprado.

— Meu Deus! Você comprou Mortal Kombat, eu te amo. – Falei animada e ela riu.

— Já instalei todos, então é só você jogar o que quiser. – Comentou e pelo espelho da porta do seu closet vi nossos reflexos. Ela sentada na cama com minha história e eu aos pés da mesma com o controle do videogame nas mãos. Seu olhar veio para mim e sorri carinhosa por ela sorrir também.

— Acabei de ter uma ideia para o título. – Falei e ela desviou a atenção para capa.

— Sério? Mas e esse aqui? – Mostrou e neguei com a cabeça.

— Isso era só provisório. O novo título tem a ver com você. – Contei e ela ergueu uma sobrancelha em curiosidade.

— Comigo?

— Sim. Na verdade, conosco, mas... Mais com você. Como eu me sinto em relação a você e quando estou com você. – Contei e ela me olhou divertida.

— É mesmo? E como você se sente?

Sete meses depois – Residência Pamdin – Galateia Pov.

O tempo que se passou depois daquele fim de semana na casa da minha mãe foi o mais bizarro possível para mim. Eu nem sei dizer exatamente quanto foi depois que a merda aconteceu, só que hoje, faz quatro meses desde a ultima vez que fui na casa dela, porque foi o dia que ela disse que iria me emancipar quando eu fizesse 16 anos e que até lá não iria interferir em nada que eu quisesse fazer. Depois disso eu percebi que não precisaria mais ir na casa dela, sendo que antes dessa informação, eu já não tinha mais um mínimo de vontade de estar lá.

Liane combinou comigo que ela sempre viria nos fins de semanas e graças a isso eu não preciso mais sair da casa da tia para ir me encontrar com o único motivo que me fazia ir para aquela mansão. Tem algumas exceções de dias, como hoje. Que Liane não veio me visitar porque precisava comparecer em um evento com os pais, o que me deixa muito feliz não precisar ir em todos eles, como hoje, que me recusei a sair e nem David ou minha mãe questionaram. O ruim, é que me sinto mal por deixar a Liane sozinha, mas até ela concordou comigo que meu humor não estava adequado para situação e que eu deveria ficar em casa para dormir o mais cedo possível, o que fiz quando deu oito horas da noite.

Rodei para o lado incomodada com o som insistente e abri os olhos despertando do meu sono, notando meu celular tocar sobre a mesinha do meu abajur, o peguei ainda sonolenta e atendi a chamada o guiando até meu ouvido de olhos fechados.

— Alô? – Perguntei bocejando e acendi o abajur para olhar as horas em meu relógio de pulso. Não tem condição de ser um horário normal para se ligar pra alguém. Pelo sono que estou sentindo, isso significa que não dormi o suficiente, nem o insuficiente.

Galateia, Liane está com você? — A voz perguntou e pisquei algumas vezes tentando me situar e focar nos ponteiros, vendo que era duas da manhã. Espera! Essa voz.

— Mãe? – Perguntei confusa. – Por que você está ligando pra mim? – Reclamei e ouvi seu suspiro do outro lado.

Esqueça isso por um momento. A Liane, ela está com você? — Tornou a perguntar e olhei em volta confusa.

— Não... Por quê?

Ela sumiu! – Falou e arregalei os olhos me levantando da cama em um salto.

— Como assim ela sumiu? O que aconteceu? – Perguntei acendendo a luz do meu quarto.

— Ela disse algo sobre bissexualidade ao lado do namorado no evento que estávamos e depois sumiu. Não atende as minhas ligações, não atende as do pai dela. Eu achei que ela estivesse com você, já que agora passa todos os fins de semana aí. — Falou rapidamente e andei de um lado para o outro. Realmente tem quatro meses que eu não piso na casa dela, então Lily sempre vem pra cá, o que não é a questão hoje.

— Não, ela não está aqui. Vou tentar ligar pra ela. – Alertei preocupada. Liane sumir sem dar qualquer tipo de aviso é muito bizarro, já que ela nunca fez isso antes.

— Tudo bem, vou tentar outra vez também. – Avisou e encerrou a ligação. Passei o dedo pelo ecrã do meu celular e franzi o cenho pela notificação no WhatsApp, alertando um áudio de Liane. Arregalei os olhos e fui rápida em clicar sobre. Eu sabia que ela não ia sumir sem falar nada, não combina com a personalidade dela fazer isso.

Galateeeeeeia eu tô indo fazer uma coisa muito legal. Eu tô... Tô... Com uma moça muito linda, mas muito, muito linda que eu achei na festa hahahahahaha. Bebi um pouquinho, mas nada de muito, então não se preocupe. Eu não vou aparecer hoje! Se mamãe te ligar, manda ela ir tomar no cu, porque meu limite de ser marionete já acabou. Estou cortando os cordéis hoje. Eu aaaaaamo você e prometo te mandar mensagem quando acordar. Não fique preocupada comigo, beijos.

O áudio terminou e abri o teclado para digitar uma resposta, desistindo do que escreveria ao ver a hora que ela me enviou a mensagem. Onze horas e quarenta minutos. Ela me mandou essa mensagem onze horas e só agora nossa mãe percebeu que ela sumiu? O que mais ela é capaz de fazer para mostrar como não está “nem aí”? Meu Deus, todas as outras coisas, ok. Agora só notar que a Lily sumiu horas depois?

— Tudo bem. Se divirta e não esquece de me mandar mensagem assim que acordar, por favor. Eu te amo muito.— Enviei o áudio e saí do quarto indo até a cozinha para beber água. Não vou avisar minha mãe que sei onde a Liane está, ela não merece saber, porque não se esforça um minuto para agir feito mãe. Ela não faz nem o mínimo.

— Ué! Acordada essa hora? – Ouvi a voz de Vicent que estava na cozinha tomando leite e abri a geladeira.

— Liane “sumiu” e minha mãe ligou para saber se por um acaso ela está aqui. – Alertei sem muito interesse e ele arregalou os olhos.

— Caralho! Sério?

— Sim, só que ela não sumiu, me mandou mensagem avisando que não ia para casa e que está tudo bem.

— E você contou pra tia?

— Não avisei e nem vou. – Alertei enchendo um copo com água e ele se escorou no balcão me olhando curioso.

— Qual é! Sério que não vai avisar? – Perguntou e assenti. – Poxa Ninfa, sei que tá chateada com a parada que ela fez, mas agir assim não vai melhorar as coisas. – Murmurou e bebi meu copo de água, voltando a guardar a jarra dentro da geladeira.  – Se fosse minha mãe, ela estaria surtando nesse momento.

— Acontece que a minha mãe não é igual a sua. Liane “sumiu” da festa era onze da noite e ela só notou agora. A única coisa em comum que ela tem com sua mãe, é a cor do cabelo. – Falei saindo da cozinha e indo em direção ao meu quarto de novo. Chateada? Sério que ele usou essa palavra para definir meu sentimento de repulsa, aversão, rancor e raiva? Ela destruiu algo único pra mim! Toda uma conectividade que eu tinha foi pisada e exposta para pessoas que nem sequer chegariam perto de entender o que significava. Acho que agora eu entendi o que as primeiras cartas que a Sara leu para mim significavam, eram a minha mãe.

Dois meses depois - Escola particular – Intervalo entre as aulas – Galateia Pov.

Olhei as horas em meu relógio de pulso e desviei a atenção para janela por saber que falta mais da metade do dia para ir pra casa, fora que Liane ainda não respondeu a minha mensagem. Eu estou preocupada com ela nesses dois meses que se passaram. Está se divertido e tudo, mas desde o dia que me mandou mensagem ao sair do evento que tem parecido distante de alguma forma. Não que ela esteja fazendo isso de um jeito ruim, mas parece que sair e se divertir com os amigos dela tem deixado ela tão energética em passar tempo com eles, que o que passa comigo, se torna um tédio. Além de quê, ela começou a falar de uns assuntos que eu não faço a mínima ideia. Nem sei se ela vai me visitar esse fim de semana, o que é muito estranho, porque antes, eu tinha certeza que sim.

Mas acho que tenho que parar de me preocupar tanto com isso. Sara me disse para esquecer um pouco e que as coisas só estão agitadas, o que também é um fator que vale a minha atenção no momento. Desde o acontecimento que rolou na piscina, antes mesmo de Lily terminar o namoro forçado dela, que Sara vem demonstrando bastante interesse nela, comentando sobre ela em toda oportunidade que tem e me fazendo perguntas sobre. Ela acha que não, mas eu já percebi que seu interesse é amoroso. Por mais que Sara seja uma “vidente”, quando se trata da vida dela, parece um cavalo com viseira, tanto que nem percebe que de dez assuntos que trata comigo, oito deles envolve a Lily. Ela praticamente trás Sam para minha casa todo fim de semana, mesmo quando nós não temos nada o que falar e quando a Liane chega ela parece que está observando o sol nascer.

Liane provavelmente não percebeu nada disso e eu não sei se devo contar, visto que da última vez que falei da Sara, ela surtou e quase matou ela, fora que foi a primeira vez que brigamos e, para ser sincera, ultimamente quando vem me visitar ela não parece estar tão normal como antes e isso é estranho, porque começou com pequenas mudanças, mas agora mesmo que todo mundo me diga que é só coisa do momento, sinto que tem algo muito diferente nela e que cada dia que passa, só modifica ainda mais.

Bufei cansada, tentando desviar meus pensamentos e passei com certo desgosto a página do livro que Liane me deu de presente há cerca de sete meses, suspirando pela frase que se iniciava. Meu passatempo favorito dos dias tem se resumido a ler isso para me irritar, rir e julgar na maioria do tempo. Neguei com a cabeça pelas primeiras palavras e me levantei para ir ao banheiro, acompanhando o diálogo com um pouco de desgosto. “sinto que poderia voar ao seu lado” vai se foder! Voar? Sério? De todas as frases possíveis e disponíveis para esse momento... Voar?

— Palhaçada. – Sussurrei focando nas frases seguintes e arregalei os olhos por sentir meu corpo se chocar com alguém, tão aleatoriamente que não consegui manter meu equilíbrio e caí para frente, derrubando a pessoa por soltar o livro e tentar lhe segurar par evitar a queda. Fechei os olhos pelo baque do meu corpo no meio do chão e fiz uma careta. Abri os olhos desgostosa e travei completamente em fazer contato com as írises verdes. PUTA QUE O PARIU! TINHA QUE SER A VICTÓRIA? DE TODAS AS PESSOAS PRA EU ESBARRAR?

— Machucou? – Perguntou preocupada e pisquei algumas vezes por ela falar comigo.

— Não... Me desculpe. – Pedi por ter batido nela. Claramente a culpa é minha por sair por aí lendo um livro.

— Que isso, eu também não estava olhando, me desculpa também. – Pediu e olhei para seu corpo que estava sobre o meu. PORRA! Eu não sou derrubada nenhuma vez nas aulas de karatê, mas caio que nem uma banana podre justo embaixo da garota que tenho... É, faz sentido! Eu tenho uma queda por ela. – Aqui, me dê a mão. – Falou saindo de cima de mim e estendeu a mão para me ajudar a levantar, o que aceitei de bom grado, olhando em volta para procurar meu livro. – Toma. – Falou e olhei para trás, vendo que ela o segurava. Engoli em seco o pegando e seus olhos focaram nos meus por um momento antes dela sorrir. ESPERA! POR QUE ELA SORRIU?

— Obrigada. – Agradeci me virando para voltar pro meu lugar. Eu nem sei o que eu ia fazer quando levantei. Meu Deus, eu nem lembro em que página eu estava lendo. O que diabos acabou de acontecer aqui? – Porra. – Sussurrei abrindo o livro para procurar a página que estava e movi os olhos em direção ao grupo de Victória sem virar meu rosto, os arregalando e voltando a focar em meu livro ao notar que ela estava olhando pra mim. O que é isso? Por que ela está olhando pra mim? Quer dizer, ela ainda falou comigo, não foi? Como? Por quê? Eu preciso contar isso para Sara.

— Boa tarde alunos. – O professor da vez saudou entrando na sala e fechei o livro em minhas mãos, um pouco nervosa com a situação que aconteceu. De todas as pessoas do mundo para eu esbarrar, por que justo na Vick?

XxX

Coloquei a planta no lugar e juntei a terra com as mãos, chegando à quantidade perto do pé e apertando a raiz no chão, sorrindo por ela ficar firme e bem bonitinha no lugar que escolhi pra planta-la.

— Olha, ficou muito bonito. – Tia Cass falou animada e sorri olhando para Sara, que estava ao nosso lado, um pouco inquieta.

— O que você quer falar? – Perguntei e ela negou com a cabeça várias vezes.

— Nada.

— Não precisa ter vergonha da tia Cass, não é mesmo tia? – Perguntei e ela assentiu erguendo a colher de jardineiro suja de terra.

— Eu me encaixo em qualquer assunto, pode fazer o teste. – Garantiu e olhei para Sara de novo, vendo-a fazer uma careta.

— Tá bom... Eu beijei sua irmã ontem. – Contou e ergui uma sobrancelha.

— Liane? Onde? – Questionei confusa. Lily era pra ter vindo me ver ontem, na verdade, sexta-feira, mas não veio e até agora não me mandou nenhuma mensagem. O que só reforça a minha teoria de que ela está meio estranha desde que começou a beber, um pouco distante.

— Na boca? – Perguntou e pisquei algumas vezes em tédio.

— Isso é meio obvio, Sara. Você vem arrastando asa pra ela desde o incidente na varanda que eu tenho notado. – Alertei e ela me olhou confusa.

— O que diabos é arrastar asa?

— Se insinuar com intuitos amorosos. – Tia Cass falou e ergui a mão para ela bater.

— Tá certíssima, tia. – Comemorei e Sara olhou de uma pra outra em confusão.

— Mas não estou arrastando asa, eu as perdi quando caí do céu. – Falou convencida e lhe olhei em silêncio por alguns segundos. – As pessoas que arrastam asa pra mim. – Deu de ombros e tia Cass riu.

— Posso dizer que eu adoro essa menina aqui. – Bateu de leve nas costas dela e Sara sorriu.

— Eu sei, todos me adoram, sou adorável. Mas enfim, de onde surgiu isso? A expressão no caso. Não faz o menor sentido.

— É uma analogia de como o galo corteja uma galinha. – Expliquei.

— E como que você, madame de palavras chiques, sabe disso?

— Meu pai era veterinário e eu morava na roça antes de vir pra cá. Eu conheço várias coisas assim, como por exemplo “emendar os bigodes”. – Contei e tanto ela quanto tia Cass me olharam estranhas.

— Ok, isso aí eu não faço a mínima ideia do que seja. – Tia falou e ri jogando um pouco de água no pé da flor.

— Meu pai usava muito quando precisava falar com um cliente dele, vivia dizendo que ele não parava de emendar os bigodes sempre que precisavam conversar. Ele queria dizer que o senhor falava sem parar. – Expliquei e Sara negou com a cabeça.

— Um dia você terá de me fazer uma lista com essas frases e me mostrar para eu rir. – Pediu.

— É uma lista bem pichilinga. – Alertei, rindo da cara de paisagem pela qual ela me olhou. – É curta. – Murmurei. – Mas enfim. Beijou a Liane onde?

— Ah! Eu fui com uma amiga em um barzinho ontem e ela estava lá com uns colegas. Cheguei para puxar assunto e a gente o terminou se beijando. Não sei como, só aconteceu.

— Foi exatamente assim que conheci o Jason. – Tia falou nostálgica e suspirou. – Bons tempos. Era festa, dança e muitos beijos. – Contou e sorri junto de Sara. – Mas me admira Liane estar bebendo e não aqui em casa. – Comentou e me olhou preocupada. – Ela ainda está naquele ritmo que me disse?

— Infelizmente. – Lamentei e voltei a atenção para Sara. – Ela estava bem?

— Estava sim! Ela estava jogando sinuca e parecia estar se divertindo muito.

— Eu espero que ela não se envolva tanto com a bebida. – Murmurei realmente aborrecida com a situação. Eu não esperava que cortar os cordéis fosse resultar na minha irmã bebendo durante grande parte dos seus dias.

XxX

Arrumei minhas coisas no guarda-roupa e Liane suspirou da minha cama, jogando uma bolinha para o alto em desânimo. Neguei levemente com a cabeça e mudei uma peça de roupa do lugar. Ela chegou tem alguns minutos, mas não parece estar no seu normal e isso me deixa muito triste, visto que depois de tanta coisa que aconteceu nesse ano, a culpa não é exatamente dela de estar desse jeito.

— Eu preciso te contar uma coisa. – Murmurou e olhei para trás em curiosidade. Ela está agindo meio estranha e um pouco distante, por mais que todos estejam dizendo que é só um momento, para mim está parecendo muito mais que isso. Tudo bem que a merda que aconteceu antes disso já tinha deixado tudo estranho demais, mas é como se ela estivesse mudando seu jeito de ser e isso era bom para ela, porque estava lhe deixando feliz, mas ela tem bebido muito e as coisas então ficando diferentes de como costumavam ser.

— Se for sobre uma nova bebida, não quero saber. – Resmunguei um pouco aborrecida e ela bufou.

— Não é sobre isso. – Reclamou. – Não exatamente sobre isso.

— Então?

— Ontem eu estava em um barzinho com a Kate. – Começou e revirei os olhos.

— Então foi por isso que não veio ontem? – Perguntei e ela suspirou.

— Você parou de ir lá pra casa. – Reclamou. – Agora eu sou obrigada a vir aqui? – Perguntou e fechei a porta do guarda-roupa.

— Não! Você não é obrigada a vir aqui. Você nem precisa falar comigo se agora isso te incomoda tanto. – Reclamei usando um ponto que realmente parece estar acontecendo. Ultimamente passar um tempo com ela parece estar sendo chato no seu ponto de vista.

— Mas você está muito agressiva.  Eu não disse que estou incomodada, foi uma observação.

— Eu estou agressiva? – Perguntei chocada. – De “eu te amo” você mudou drasticamente para “talvez eu vá te visitar esse fim de semana”.

— Você parou de ir lá pra casa! – Acusou.

— Por um motivo muito justo! Eu não vou voltar pra lá. Nossa mãe até disse que vai me emancipar, usando o resto da falta de interesse dela e você quer que eu vá pra lá? Depois disso e depois do que ela fez? – Perguntei chocada. – Daqui a quatro meses eu faço 15 anos e depois disso, no meu próximo aniversário, eu serei como se estivesse com maior idade.  Você vai fazer 18 e vai ser como se eu também estivesse fazendo. Você acha que eu ainda tenho condições de ir pra lá?

— Não... Mas você me culpar por não vir aqui todo fim de semana, também não é justo. – Murmurou.

— Eu não estou te culpando, Liane. Pelo amor de Deus. Você está agindo estranho. – Acusei. – Não é por você não vir me ver, é pôr as vezes, me mandar mensagem não fazendo ideia de quem eu sou. Você tá parecendo outra pessoa depois que começou a beber. - Falei aborrecida.

— Você também está parecendo outra pessoa, e nem por isso eu fico te julgando ou querendo te controlar.

— Eu não pareço outra pessoa. – Reclamei. – Você que está mudando tanto que não sabe mais lidar comigo.

— Já se perguntou que talvez você que seja difícil de lidar? – Perguntou e arregalei os olhos em surpresa. – Espera! Eu não quis dizer isso. – Falou e olhei para o chão. – Droga, esquece que eu disse, por favor. Não foi sincero e eu falei só para rebater. – Pediu. - Eu só queria te contar o que aconteceu ontem, mas você começou a falar disso. – Murmurou e lhe olhei decepcionada. É meio óbvio que ela bebeu antes de vir para cá e não está totalmente normal.

— Você beijou a Sara. – Falei e ela arregalou os olhos. – Ela me contou isso porque esteve aqui hoje de manhã.

— É... Mas eu que queria ter contado. – Reclamou.

— Por quê?

— Por que a vida é minha. – Falou séria e suspirei cansativa.

— Tudo bem, eu não vou discutir com você. – Alertei e ela bufou. – Ela já estava interessada em você, de qualquer forma. – Alertei e ela ergueu uma sobrancelha.

— Sério?

— Claro. Ela arrasta um caminhão por você, desde que brigou com ela na piscina. Não reparou? – Perguntei confusa.

— Não? Ela não parecia interessada em mim, estava sempre implicando comigo por tudo. – Murmurou. – Ela é bem bonitinha e fofa. – Falou divertida e ri me jogando ao seu lado.

— Bom, ela gosta de você.

— Humm eu notei. Enfim, como foi a sua semana? – Perguntou jogando a bolinha que segurava para cima e foquei no objeto que subia e descia.

— Eu me esbarrei com a Vick na escola. – Contei sem muito interesse. – Única coisa mais ou menos da semana, de resto, fiquei aqui, estudei, fiz torta de cereja, participei da minha aula de karatê e joguei videogame. – Revelei o resto da minha semana e ela assentiu. – E a sua semana? Como foi?

— Mamãe me comprou uma moto e eu a batizei de Laila. – Contou. – Saí com Kate e os amigos dela e comecei a tocar com eles. A gente foi em uns barzinhos também e eu aprendi a jogar sinuca. – Falou animada e sorri

— Você parece estar se divertindo.

— Nossa eu estou. Passar tempo com os amigos dela é uma das coisas mais legais. Meu pai também não está mais pegando no meu pé, já que eu ameacei ir embora depois do que a mamãe fez. – Falou e suspirei pousando a cabeça em seu braço.

— Você não vai mesmo embora, né? Eu não sei como sobreviveria aqui sem você. – Sussurrei e ela riu.

— A gente combinou de ir junto, não foi? Então... Não se preocupe que não vou a lugar algum. – Beijou minha cabeça e sorriu. – Amanhã à noite eu vou sair na minha moto para passear por aí, você quer vir comigo? Vai ser divertido e a gente pode ir andar pelo parque. – Convidou e sorri.

— Eu quero sim.

XxX

Ajeitei o capacete na cabeça e o travei embaixo do meu queixo, logo ajustando as proteções em meu corpo antes de me aproximar de Lily, que já estava no campo e me esperava pacientemente até eu terminar de me arrumar. Como ela prometeu ontem, hoje quando deu seis da tarde ela foi me buscar de moto na casa da tia e a gente passou grande parte do tempo só andando pela cidade sem um destino fixo, até que do nada ela decidiu que deveríamos vir treinar beisebol, então aqui estamos, só nós duas nessa parte do campo.

— O que você acha disso aqui? – Perguntou erguendo o taco de beisebol e sorri.

— Acho que você não vai acertar nenhuma bola. – Debochei e ela riu rodando o objeto na mão.

— Que irmã inocente a que eu tenho. Na escola eu praticava todo tipo de esporte possível. Você nunca reparou na parede do meu quarto? – Perguntou e sorri lembrando das várias medalhas e fotos comemorativas dela, além de pequenos troféus na sua estante.

— Você sempre se empolgava em uma coisa só e esquecia de me contar sobre o resto. – Lembrei e ela riu.

— Tem razão, mas... Sua irmã aqui é muito boa. – Rebateu a bola que a máquina jogou em sua direção e bati palmas animada. – Sua vez. – Me entregou o bastão e suspirei o segurando com força.

— Acho que não consigo acertar isso.

— Qual é, basta focar na bola que é sucesso. –  Alertou.

— Eu sou horrível em esportes. Única coisa que sou boa é no karatê. – Contei movendo o bastão quando a bola veio, errando feio. – Não disse. – Murmurei e olhei para cima quando uma gota pingou em minha mão e logo várias outras começaram.

— Porra, que merda. – Xingou escondendo o celular e ri me mantendo no lugar e focando na máquina que arremessaria outra bola. – Você vai ficar aí? – Perguntou e olhei para o lado, vendo que ela estava escondida embaixo da proteção do lugar, mesmo que a chuva só estivesse começando.

— Eu quero acertar isso e não é como se eu estivesse triste. Estou passando tempo com você, então isso me deixa feliz. – Alertei e errei a bola quando ela foi jogada em minha direção de novo.

— Meu Deus, sua posição está toda errada. – Lily deixou o celular no local seguro e veio em minha direção. – Dobra um pouco esse joelho. – Pediu e assenti fazendo o que pedia. – Agora, foca na boca da máquina, não tira os olhos de lá. – Explicou e foquei a atenção, rodando o bastão quando a bola veio em minha direção, sorrindo grande por acertar a bola e ela voar longe. – Aaaaaaeeeh. – Comemorou e me abraçou de lado.

— Acha que foi boa? – Perguntei curiosa e ela bateu a mão sobre meu capacete, fazendo um som irritante soar perto dos meus ouvidos.

— Foi perfeita. Você tem uma tacada boa.

— Depois de errar duas vezes.

— Ossos do ofício. Você não tem a sorte de principiante, infelizmente. – Olhou para cima por um momento e sorriu. – Olha, eu até que gosto de ficar na chuva com você, mas essa aqui tá muito gelada. Nós podemos deixar para brincar depois? – Perguntou e ri largando o taco ao lado da grade.

— Podemos sim. – Concordei e ela foi até a máquina a desligando.

— Vamos comer alguma coisa? Você nunca comeu um hambúrguer, não quer tentar? – Perguntou e neguei com a cabeça.

— Não estou com fome e só o nome parece estranho. – Confessei a fazendo rir.

— Vai se arrepender de dizer isso. Kate praticamente enfiou um na minha boca quando falei que nunca tinha comido. Agora eu praticamente só como isso. – Contou e sorri.

— Sua saúde talvez esteja chorando nesse momento.

— Pode até estar, mas eu estou feliz. – Riu animada e fomos em direção a sua moto.

— Daqui a três meses é o seu aniversário. – Revelei e ela assentiu concordando. - Eu fiz uma coisa pra você. – Contei.

— Sério?

— Sim e ainda farei um bolo, se você for na casa da tia, podemos comemorar. Também é aniversário do tio Jason, mas ele e a tia vão sair.

— Não se preocupe, eu estarei lá pra gente comemorar. – Garantiu e sorri animada. Desde que ela se rebelou contra os pais, nós temos passado pouco tempo juntas, mas ainda assim estou feliz, porque isso significa que ela não é uma prisioneira naquela casa.


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Notas finais do capítulo

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