Mirror Myself In You escrita por LadyDelta


Capítulo 10
Training Wheels.


Notas iniciais do capítulo

Olááááá. Tudo bem? Então, ontem eu não apareci por meio de né? Avisei que não daria porque tô trabalhando igual uma mula em cima de relatórios. Quem me segue no Twitter sabe disso e se você não faz isso e ficou me xingando ontem, Jesus tá te vendo, tá bom?

Me segue lá gente, eu não mordo não, interajam comigo também, sou um ser humano bonitinho, pareço um pinscher.

Vai lá -> @LeidiDeuta

Bora bater um papinho oushe, você também, parece que tem medo de socializar ಠ_ಠ

Tá, pergunta aqui porque estou curiosa e me deu vontade de achar música nova. Me diga aí a música que mais está participando da sua vida no momento. É sério, me manda o nome e o artista por obsequio.

Me: Sia - Unstoppable, inclusive estou ouvindo agorinha também.

Acho que era isso?

Pov da Galateia 6/8

Éééééééé tá acabandoooooo o 8 é do tempo atual da fic, ou seja, chega de passado nessa bagaça por um tempo.

Música do capítulo: Training wheels - Melanie Martinez

~Boa leitura.



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Mansão Merok – 14h:20min – Galateia Pov.

Peguei meu presente de aniversário e Liane sorriu ao meu lado, se sentando e me observando atentamente enquanto eu desembrulhava ansiosa. Ela me prometeu isso no inicio do ano e até hoje estou querendo descobrir do que se tratava, mas ela se recusou a me dar uma dica, apenas dizendo que eu iria usar para escola e afins.

— O que acha que é? – Perguntou divertida e fiz uma careta parando de desembrulhar para erguer a caixa em curiosidade na tentativa de descobrir pelo peso, mas nada que eu tinha conhecimento era tão pesado desse jeito.

— Não sei, é pesado.

— Sério? Será um cachorro? – Perguntou e lhe olhei em silêncio.

— Você não seria capaz de colocar um cachorro dentro dessa caixa e lacrar ela assim, fora que disse que eu usaria na escola. Como que um cachorro me ajudaria na escola? – Perguntei e ela riu divertida, se jogando para trás no sofá.

— Tem razão, eu não seria capaz. Você pode tentar abrir mais rápido se está curiosa. – Brincou e lhe dei língua antes de voltar a tarefa de abrir o presente, franzindo o cenho ao ver a maleta personalizada como folhas de jornais.

— É uma maleta? – Perguntei confusa.

— Por que não abre para conferir?

— Mas você também é chata hem! Por que não me diz logo? – Resmunguei divertida e ela riu alto.

— Qual seria a graça em te contar quando você já está com o presente na mão?

— Tá. – Reclamei destravando os lados e arregalando os olhos pela parte de cima soltar totalmente. – Meu Deus! Eu quebrei? – Perguntei assustada e ela voltou a rir, passando o braço por meu ombro.

— Por que toda vez que alguma coisa acontece você consegue se tornar mais nenê do que já é? – Perguntou divertida e revirei os olhos.

— Eu não sou nenê!

— E também não quebrou, burrinha. – Deu um tapa na minha testa e resmunguei um xingamento, olhando para o presente em meu colo por ela tomar a parte que achei ter quebrado da minha mão, só então reparando na máquina de escrever em meu colo.

— O que achou? – Perguntou divertida e sorri clicando nas teclas em empolgação, rindo pelo som que ela fez quando chegou ao limite.

— É maravilhosa, Lily. Foi você que personalizou? – Perguntei encantada com a máquina, passando a mão sobre os detalhes em folhas de jornais e revistas e deslizei os dedos sobre as teclas brancas.

— Foi sim! Eu comprei as coisas e a Kate me ajudou. – Contou animada e a pegou da minha mão para coloca-la sobre a mesa de centro, o que me levou a erguer do sofá para sentar ao seu lado no chão. – Olha só. Esse botão aqui você aperta para colocar a letra em maiúsculo e esse outro aqui em cima, serve para fixar esse botão e ele ficar travado, assim tudo que escrever vai sair em maiúsculo. – Explicou apertando as teclas e assenti várias vezes seguidas. – Aqui do lado, embaixo dessa rodinha fica a trava, que você precisa soltar pro cilindro correr. – Continuou a explicação e tirei sua mão do objeto, o que a fez me olhar em confusão. Sorri carinhosa e me inclinei lhe abraçando apertado, escondendo o rosto em seu pescoço e sentindo seus braços me apertarem de volta.

— Eu amo você, amo muito. – Declarei e ouvi sua risada.

— Eu também amo você. – Falou beijando o topo da minha cabeça e nos separamos no susto ao ouvir um som de chave caindo no chão. Olhamos para os lados em confusão e nossa mãe se abaixava para pegar o objeto, olhando em nossa direção logo depois.

— O que estão fazendo? – Perguntou. – Hoje não é fim de semana, é terça-feira. - Alertou interessada ao desviar a atenção para máquina de escrever.

— Liane me deu uma máquina de escrever. – Contei e ela se aproximou se abaixando um pouco para analisar o objeto.

— É mesmo? E por que não me pediu uma se gosta delas? – Questionou. – Eu compraria uma nova. Essa parece ser meio antiga. – Observou e Liane olhou para o outro lado aborrecida com o comentário.

— Porque a Lily me deu de coração e eu não preciso dizer a ela do que gosto. – Falei um pouco amarga por perceber que ela nem sequer estava se lembrando que hoje é o meu aniversário. – E não preciso que você me dê nada. – Alertei me lembrando de sua frase anterior sobre hoje ser terça-feira.

— Você está aborrecida por que acha que esqueci que hoje é seu aniversário? – Perguntou e olhou diretamente para mim. – Eu não me esqueci, só não sei o que lhe dar, então depositei uma quantia maior na sua conta esse mês, assim você pode comprar o que quiser. – Alertou e neguei com a cabeça.

— Mas eu não quero nada. – Falei e olhei para Liane. – Hoje tia Cass vai me levar ao teatro para assistir uma peça muito legal. Você quer vir? – Convidei e Lily sorriu.

— Claro que eu quero. Tem ingresso pra mim? – Perguntou curiosa e sorri.

— Eu pedi para ela incluir você. – Contei animada e dei uma leve encolhida por sentir uma mão bater sobre minha cabeça ao pousar sobre ela antes de fazer um leve carinho.

— Feliz aniversário. – A voz da minha mãe soou e levei ambas as mãos a cabeça quando ouvi o som de seus saltos se afastarem e olhei para trás em confusão, a vendo subindo as escadas. Olhei para Liane confusa e ela deu de ombros antes de sorrir e se curvar na mesa.

— Aqui, essa parte serve pra você regular a folha de acordo com as normas formais de texto. – Falou empolgada e me inclinei para olhar de perto o que ela explicava. – Eu já deixei regulado, então é só colocar a folha. – Continuou contando e meu sorriso ficou no rosto em toda sua explicação do meu novo presente.

Três dias depois – Vestiário do ginásio – 15h:56min – Galateia Pov.

Abri meu armário meio sonolenta e bocejei cobrindo a boca em extrema preguiça. Acho que tenho que parar de dormir nas aulas de educação física ou Débora vai começar a me cobrar presença e eu precisarei fazer exercícios para pagar, mas o que eu posso fazer se fico com tédio e dormir parece a melhor opção? Fora que hoje eu acabei dormindo demais e só acordei quando ela alertou o término de sua aula. Isso nunca aconteceu, eu sempre saí cinco minutos antes do fim das aulas.

— Quem chegar por último é um ovo podre. – Ouvi o grito de uma menina e revirei os olhos focando minha atenção no armário.

— Não é justo, você nos empurrou. – Ouvi outras meninas reclamarem e espiei pela porta do armário em curiosidade, arregalando os olhos por ver que Victória também tinha entrado no recinto e tirava seu traje de banho em despreocupação. Abri a boca em choque e tentei desviar a atenção para as outras meninas que eram sete, enfiando minha cabeça dentro do armário ao ver que elas também despiam os trajes que usavam. Mas o que está acontecendo aqui? Elas sempre saem tirando a roupa na frente das pessoas assim?

— Você é lenta demais na corrida. Ain, amiga! Olha só pra isso, meus peitinhos estão gelados. – Uma menina falou e neguei com a cabeça fechando os olhos logo em seguida. Que tipo de conversa é essa?

— Eu não digo é nada, engordei uns quilos e o traje tá apertando a minha bunda. Olha só, a alça está marcando. – Alertou e olhei na direção delas, quase acertando a porta do armário na minha cara ao tentar voltar ela para dentro do mesmo ao ver que todas estavam nuas e que Victória vestia o sutiã alheia ao que diziam. Mas que demônio? Por que estão nuas? Isso é algo comum aqui? Tirar a roupa assim? Pra que tem as cabines se elas vão se trocar aqui?

— Então meninas. – Ouvi a voz da professora e me encolhi focando no fundo do meu armário. – Excelente treino hoje. Camila, você estava meio lenta. – Alertou.

— Claro, essa merda de traje apertando minha bunda. Eu engordei porque fiquei na minha avó esse fim de semana e ela não para de me entupir de comida. – Reclamou e juntei os lábios para evitar rir.

— O seu traje já era um número menor. – Débora avisou.

— Mas cabia perfeitamente. Não se preocupe que até semana que vem eu volto ao peso normal e na próxima aula estarei perfeita. – Avisou e fechei o armário pronta para sair dali e ir para sala, visto que eu já estava com meu uniforme padrão e não tinha motivos para continuar, mas foi me virar e ver todas juntas que meu corpo simplesmente travou e meu olhar foi para o chão, procurando alguma coisa para focar. Eu deveria ter ficado no armário! O que eu faço agora? POR QUE ESTÃO TODAS NUAS?

— Sei, vocês estão inventando desculpas! Mas tanto faz, só estejam preparadas para semana que vem. – Reclamou e veio em minha direção. – Galateia, como vai? – Perguntou tocando meu ombro e dei um sobressalto pelo susto, lhe olhando em total pânico. – Ainda se sentindo mal as vezes? Quer que eu te ajude a ir até a enfermaria? – Perguntou preocupada e simplesmente assenti evitando olhar para as meninas.

— U-uns dias são piores que os outros. – Menti para tentar disfarçar minhas mãos levemente trêmulas com a situação. Mas o que está acontecendo? São só meninas nuas. Tá, a Victória está em meio a elas, mas... SÓ ESTÃO NUAS! ISSO NÃO FAZ SENTIDO.

— Tranquila, é um longo processo de adaptação. – Falou carinhosa e praticamente comemorei em alívio quando ela me guiou para fora do vestiário. – Você parece estar se saindo melhor ultimamente. Tem feito terapia? – Perguntou interessada e neguei com a cabeça algumas vezes.

— Estou conseguindo sozinha por enquanto, mas não descartei a ideia de procurar ajuda.

— Isso é bom. Eu lembro de uma aluna minha que tinha o seu mesmo problema, mas isso foi quando eu tinha uns 22 anos, logo no início da carreira. – Começou a contar e prestei atenção em suas palavras.

Papelaria Passione – 19h:23min – Galateia Pov.

Fechei os olhos soltando um suspiro ao terminar de colocar a ultima caixa no lugar e peguei o estilete disponível o usando pra cortar a fita que lacrava o papelão, abrindo os quatro cantos para revelar os cadernos novos que haviam chegado da encomenda que Sara havia feito.

— Esses são todos aqui? – Perguntei erguendo um dos objetos para lhe mostrar, já que estava em uma estante mais a frente, organizando uns cadernos de desenho.

— Isso! Todos juntos. – Avisou depois de olhar para trás rapidamente e foquei minha atenção em arrumar tudo em seu lugar, por um momento me lembrando do que aconteceu hoje na aula de educação física, sentindo meu rosto esquentar de vergonha.

— Sara! – Chamei e ouvi um som nasal dela para que eu falasse o que queria. – Hoje na escola aconteceu uma coisa estranha. – Comecei ela parou de mexer nos cadernos para se virar em minha direção.

— Aleluia, achei que não ia me contar nunca. – Resmungou e arregalei os olhos, logo negando com a cabeça. Ela já deixou claro que é muito sensitiva e que eu sou como uma televisão ligada. – O que aconteceu?

— Eu estava no vestiário, só que eu sempre vou pra lá mais cedo, só que dessa vez acabei dormindo demais e fui na hora que a aula acabou. – Contei e ela se escorou na estante que estava para cruzar os braços e me olhar.

— E?

— As meninas! Elas estavam se despindo, no meio do vestiário. – Falei em descrença e ela deu uma risadinha de lado.

— Mas é o vestiário! Queria que elas fizessem o quê? Sentassem no chão e tomassem chá? – Perguntou e neguei várias vezes seguidas com a cabeça.

— Não! Tem cabines lá, para todos os lados, mas elas estavam... No meio, onde ficam os armários. – Reclamei.

— E você ficou incomodada com isso?

— Sim? Eu me assustei! Do nada me viro e as meninas estão nuas, brincando umas com as outras e dizendo coisas como “meu peito está gelado” e “isso marca a minha bunda”. – Contei e ela cobriu a boca para rir. – Não ri de mim! Foi estranho demais. Eu não sabia onde enfiar a minha cara, fora que a Victória também estava lá. – Voltei a reclamar. – Eu quase bati minha cara na porta do armário para esconder minha cabeça lá e não ter de olhar para elas. Depois quando tentei ir embora o meu corpo travou e não consegui nem voltar para o armário, nem sair do vestiário. Minha sorte foi a professora vir falar comigo e me tirar de lá achando que eu estava passando mal por ficar perto da piscina. Eu menti pra minha professora, Sara.

— É! Uma vez que sai, não tem como voltar, lindinha. – Falou e franzi o cenho.

— O quê? Sai de onde?

— De onde? Do armário! Sua lerda. – Acusou e franzi o cenho.

— O quê?

— Galateia, meu anjo. Presta bastante atenção no que acabou de me contar. – Começou e ergueu um dedo da mão direita. – Você estava em um vestiário feminino. – Ergueu outro dedo. – De uma aula de natação. – Ergueu um terceiro. – E te deixou desconfortável o fato de meninas, juntas em um banheiro feminino, ficarem nuas.

— Tinha cabines! – Alertei em defesa.

— E você é gay! – Acusou e arregalei os olhos. – Não tem nenhum outro motivo para ficar desconfortável perto de meninas nuas sendo que você é uma MENINA. Era um vestiário feminino. As meninas só devem usar a cabine para cagar e tomar banho. – Falou e fiz uma careta por suas palavras. – Você teve um gay panic. – Avisou e negou com a cabeça várias vezes. – Pobre bebezinha, atacada injustamente em seus primeiros passos no vale. – Lamentou e soltei um suspiro de frustração.

— Às vezes eu não entendo nada do que você diz. – Reclamei e ela riu vindo em minha direção.

— Isso que dá ter um vocabulário muito formal pra maioria das coisas. Você é gay. – Alertou e me encolhi no lugar.

— Não sou não!

— A não? Então deixa eu ver aqui. – Falou séria e simplesmente segurou nos dois lados da barra da blusa que usava e a puxou para cima, tirando a peça do seu corpo.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – Gritei em pânico e ela mexeu os braços de um lado para o outro.

— Estou tirando minha roupa? A loja está fechada e só tem nós duas aqui, ambas meninas. – Ergueu os braços para tirar seu sutiã e cobri os olhos com ambas as mãos.

— Veste isso! – Reclamei e ela riu divertida.

— Tá bom, olha... Não vou tirar, pode tirar a mão dos olhos. – Pediu e neguei com a cabeça várias vezes.

— Veste sua blusa de volta. – Pedi.

— Para de frescura e olha logo pra mim. – Bradou e lhe olhei reclusa, sentindo meu rosto esquentar de vergonha por ela estar só de sutiã. – O que te incomoda? – Perguntou.

— Você está seminua! – Falei o óbvio e ela riu jogando a cabeça para trás.

— Estou. Mas porque te incomoda? – Questionou e foquei a atenção no chão. – Se você não olhar pra mim, eu vou fazer você tocar em mim. – Ameaçou e dei três passos para trás.

— Você não ousaria.

— Depois de te ver tendo esse gay panic? Ah, eu ousaria sim. Você olha ou suas mãozinhas vão tocar os meus seios. – Tornou a ameaçar e neguei com a cabeça ao perceber que ela não conseguiria isso.

— Você pode tentar, mas minha mão só vai pra onde eu quero que ela vá. – Falei e arregalei os olhos por seu rosto corar e seu olhar desviar para o chão.

— Sempre quis apanhar de mulher bonita. – Falou e empurrei seu ombro em descrença, ouvindo sua risada antes de pegar sua blusa para vestir de novo. – Enfim, gay panic.

— Você é louca! – Acusei e ouvi sua risada alta.

— Eu só queria te mostrar que estava certa. – Brincou e pisquei algumas vezes. - O que foi? – Perguntou divertida e olhei para o chão.

— Pode me mostrar mesmo? – Pedi lhe olhando e ela ergueu uma sobrancelha.

— Depende, te mostrar o quê?

— Você é gay e aparentemente eu também sou. Então você pode me mostrar como é? Digo... Interesse e essas coisas.

— Estou um pouco confusa. Você quer saber se realmente é gay e quer que eu te mostre de um jeito literal?

— Basicamente. Nada está claro pra mim. – Murmurei e ela afastou para me olhar estranha.

— Certo. Eu não sei um jeito de fazer isso.

— Eu sei. – Alertei e ela me olhou confusa.

— Que seria?

— Você pode me beijar. – Propus e ela arregalou os olhos assustada.

— No rosto? – Perguntou.

— Não?

— Espera! Como assim te beijar? Tá maluca? Olha meu tamanho. – Falou chocada e guiei a mão de minha testa até a dela, onde pela medição eu parecia mais alta. – Vai se foder! – Bateu em minha mão e ri divertida. – Olha a minha idade pra sua! Eu recentemente fiz 16 e você tem 12. Eu não quero parar na cadeia não.

— Você só vai presa se for maior de idade

— Galateia, as vezes quando sua boca tá fechada, você parece mais inteligente. – Reclamou e me encolhi no lugar. – Eu não vou beijar uma pirralha de 12 anos.

— Mas... Era só um teste. – Reclamei.

— Vai fazer esse teste com alguém da sua idade. Eu não estou disponível.

— E quando eu tiver 13? Assim você pode se sentir menos culpada. – Murmurei e ela abriu a boca em descrença.

— Você tá se ouvindo? Quem é você e o que fez com o bebê que eu conheci?

— Eu só quero aprender a beijar. – Me defendi e ela negou com a cabeça várias vezes.

— Vai beijar outra pessoa, minha boquinha não. – Alertou e fez uma careta.

— Não precisa fazer essa cara de horror, eu pelo menos sou bonitinha. – Murmurei e ela soltou uma risada.

— Você é linda, Galateia. Mas é uma criança inocente! Eu não vou beijar você.

— Nem com 13?

— Olha pra minha cara! – Pediu e lhe olhei fazendo um bico. - Vai beijar alguém do seu tamanho. – Mandou.

— Você tem o meu tamanho, só é mais velha. – Comentei. – Você não cresce? – Perguntei emburrada e ela estreitou os olhos.

— É assim agora? Eu me recuso a te beijar e você zoa o meu tamanho? – Falou aborrecida e me encolhi.

— Desculpa. – Pedi arrependida. – Mas e se eu tiver 13? – Propus de novo e ela me olhou com os olhos estreitos. – Você só vai me beijar, só isso.

— Não se trata disso! Eu sou mais velha que você.

— Por favor. – Pedi juntando as mãos e ela negou com a cabeça voltando para a estante que estava antes e começando a organizar os cadernos de volta no lugar.

 - Essas crianças de hoje em dia. – Reclamou e fui para seu lado, lhe observando enquanto arrumava os cadernos.

— Sara...

— Tudo bem, ano que vem eu te beijo. Antes disso, se tocar nesse assunto de novo eu acerto um livro na sua cara. – Ameaçou e assenti várias vezes seguidas. – Eu estou falando sério! Não quero ouvir uma palavra que comece com B sair da sua boca. – Bradou e me encolhi.

— Até lá como eu descubro se sou gay?

— Ainda dúvidas? – Perguntou e assenti.

— Acho que sim.

— Meu Deus! Um caso perdido mesmo. Já sei, a sua colega de sala! Qual era mesmo o nome dela? Vitória?

— Victória. – Corrigi.

— Tá, Victória. Beija ela. – Mandou e arregalei os olhos em total pânico. O que diabos? Por que eu beijaria a Vick? - Meu Deus! Mais gay impossível. Você está toda vermelha. – Falou divertida e levei a mão ao rosto o sentindo quente. – Eu diria que você é um partidão futuramente. Linda, inteligente e rica.

— Eu não sou rica. – Reclamei. – Minha mãe que é.

— Tudo bem. Sua mãe que deposita dinheiro na sua conta rica. – Falou e neguei com a cabeça.

— Eu não uso esse dinheiro.

— Deveria. Se ela não te dá carinho e afeto, pelo menos usa o dinheiro dela pra comprar coisas que gosta. - Falou e voltei para minha sessão para arrumar os cadernos que mexia antes.

— Eu não quero nada.

— Ouça a voz dos mais velhos. Aproveita que pode comprar o que sentir vontade.

— Ah, você é tão pequena que esqueço que é mais velha. – Falei ajeitando um livro e ela olhou para trás com os olhos estreitos.

— É assim agora? Eu falo que aceito te beijar e você ganha liberdade pra zoar o meu tamanho? – Perguntou e acabei rindo. – Para de rir, criancinha. – Resmungou e foi minha vez de fechar a cara. – Retiro o que eu disse, não vou estar disponível para você ano que vem. – Falou se concentrando no que fazia e suspirei cansativa.

— Você deu a sua palavra.

— Tá... Talvez eu esteja, mas se zoar meu tamanho, acabou. – Alertou e neguei com a cabeça sorrindo. Ela é meio esquisita na maioria do tempo. – Termina isso aí logo e vai jogar com a minha irmã que TEM A SUA IDADE. – Falou alto e revirei os olhos. - Se não daqui a pouco ela aparece chorando aqui. – Falou e suspirei terminando de colocar o caderno no lugar.

— Já acabei. Vou ir jogar com ela, qualquer coisa me chama. – Passei por ela e deixei um beijo em seu rosto.

— Tá, some pra lá e me deixa trabalhar em paz. – Falou com um tom divertido e ri indo para os fundos da loja, que levava para sua casa.

Quatro anos atrás – Residência Pamdin - 20h:45min – Galateia Pov.

Deixei o caderno de lado me deitando na cama com os braços atrás da cabeça e Liane saiu do banheiro soltando um suspiro antes de se jogar ao meu lado na cama em desânimo. Franzi o cenho por seu humor estar diferente do comum desde que chegou. É como se alguma coisa estivesse lhe aborrecendo.

— O que houve? – Perguntei curiosa e ela me olhou confusa.

— Como assim?

— Tem alguma coisa errada acontecendo, dá pra notar na sua voz e nos seus movimentos. O que aconteceu? – Indaguei e ver seus olhos marejarem me fez me mover rápido para mais perto do seu corpo e lhe abraçar. – Deus, o que aconteceu? – Lhe puxei para meu peito e beijei o topo da sua cabeça com carinho.

— Não é nada. – Sussurrou fungando e neguei várias vezes com a cabeça.

— Lily, impossível não ser nada. Você está chorando. – Alertei preocupada. – Você não é de chorar. O que está acontecendo? – Tornei a perguntar e ela me abraçou mais forte.

— Eu odeio aquela casa. Mamãe não faz nada, só aceita tudo que meu pai decide e eu não aguento mais. – Voltou a chorar e lhe abracei mais forte. Liane tem passado por muita coisa desde que eu me mudei da sua casa e sei que ela não me conta nem metade.

— O que ele fez? – Perguntei preocupada.

— Eu tenho que ser namorada de um rapaz que é filho de um amigo dele. – Falou baixo e arregalei os olhos. – Não é justo! Primeiro me tiram do karatê, me tiram você, meu baixo e agora querem tirar minha liberdade. Eu não aguento mais viver assim. – Se encolheu mais e lhe apertei mais forte. – Mas... – Começou e fiquei atenta as suas palavras. – Pelo menos isso significa que você não vai passar por nada disso e é o suficiente. – Falou e tensionei meu corpo por suas palavras.

— Não! Lily, olha aqui pra mim. – Falei segurando seu rosto com ambas as mãos e lhe guiando para me olhar, sentindo meus próprios olhos marejarem por lhe ver chorando. – Não me use como desculpa para aceitar tudo que fazem com você. Não é o suficiente! Você não pode aceitar essas coisas pensando no meu bem, tem que pensar em você, nos seus sentimentos.

— Mas... Eu não quero que você passe por isso.

— Eu não vou passar por isso. Seu pai me odeia, nossa mãe não liga o suficiente para pensar em mim e se por acaso tentarem, eu digo não. – Alertei. – O que podem fazer comigo? Me mandar embora? – Perguntei e olhei em volta. – Já mandaram. Não aceita esse tipo de situação porque acha que é melhor pra mim, por favor. Pense em você, na sua felicidade.

— Minha felicidade seria ir embora daquela casa, para bem longe.

— Um dia você poderá ir para longe de todos. – Garanti.

— Mas não quero ir pra longe de você, Galateia. – Reclamou e neguei com a cabeça lhe apertando mais forte.

— Nós podemos ir para longe juntas. Olha, eu quero sair para conhecer o mundo todo e seria maravilhoso se você pudesse vir comigo. - Convidei e ela sorriu.

— Eu tenho vontade de conhecer a Itália. – Contou animada e sorri por isso lhe fazer parar de chorar.

— Sério? A Itália parece ser muito legal.

— Sim, minha amiga Kate, tem uma tia que mora lá e no inicio do ano que vem ela vai ir visitar e me convidou. – Contou e sorri guiando a mão para mexer em um dos seus cachinhos, enrolando o mesmo em meu dedo. – O que você fez essa semana? – Perguntou curiosa e sorri.

— Eu meio que estou em uma amizade colorida com a Sara e comecei a escrever uma história sobre como eu me sinto em relação a nossa família. – Contei e ela se sentou na cama no susto.

— O quê? A Sara é um ano mais velha que eu! – Alertou e ri da sua reação. – Não ri! Isso é um assunto sério, Galateia. Você tem 13 anos e ela fez 17 recentemente. Isso é muito errado. – Bradou e me sentei também, voltando a rir.

— Lily, ela só tá me ensinando a beijar. – Contei e seus olhos se arregalaram em descrença.

— Aquela égua velha tá beijando a minha irmãzinha? – Perguntou perplexa e juntei ambas as mãos as fechando frente minha boca para rir. – Ah, mas eu vou tirar satisfação com ela amanhã mesmo! Quem ela pensa que é? Pra beijar a minha irmã não vai ser tão fácil assim não. EU VOU DAR UM SOCO NA CARA DELA. – Gritou e neguei com a cabeça.

— Deixa ela quieta, foi eu que pedi. – Confessei e seus olhos voltaram a se arregalar.

— Como assim você que pediu?

— Você está mais surpresa com o fato de eu ter pedido ela, do que isso significar que gosto de meninas. – Alertei e ela negou com a cabeça.

— Você gostar ou não de meninas não tem nada a ver! Eu também gosto de meninas, mas isso não vem ao caso. Ela é velha! Não devia ter aceitado.

— Ela tem 17 anos, Liane. Do jeito que você está falando, ela parece ter uns 25.

— Se ela tivesse 25 você teria... – Contou nos dedos e me olhou. – Você teria 21. – Falou como se fosse um absurdo e voltei a rir. – Meu Deus! Para de rir. Quando ela tiver 20, você vai ter 16.

— Lily, calma. Eu só estou beijando-a, nada além disso. Não precisa se preocupar. Veja ela como se fosse minha professora de beijo. – Pedi e seus olhos se estreitaram.

— Eu vou ver ela como escrota que está se aproveitando da minha irmãzinha inocente. – Reclamou e neguei com a cabeça.

— Para com isso. – Pedi e me encolhi. – Se te incomoda tanto... Eu paro. – Murmurei e ela abriu a boca em surpresa.

— Tá falando sério?

— O quê? De verdade?

— Claro, eu não quero que fique chateada comigo. – Falei aborrecida e ela negou com a cabeça.

— Então para imediatamente. Galateia, não pode. Você é mais nova! Ela tem o quê? O dobro ou triplo da sua experiência. Tem várias meninas da sua idade por aí que eu tenho certeza que adorariam te beijar, vai beijar elas e deixa que da Sara eu me encarrego de quebrar uns dentes. – Reclamou e me encolhi no lugar. Quando Sara me falou sobre, não pareceu tão errado, mas do jeito que Liane está me olhando agora...

— Desculpa. – Pedi sentindo meus olhos marejarem e ela suspirou.

— Esquece isso por hoje. – Reclamou e me abraçou de lado. – Eu resolvo amanhã. Agora me diz, como assim escrevendo uma história? Como é? – Perguntou animada e limpei os olhos para sorrir.

— Então, tem uma garota que é médium. – Comecei a contar e ela assentiu várias vezes. – Então ela se muda pra uma casa nova com os pais e lá era a antiga residência de uma outra menina que morreu, onde agora só habita seu espirito. – Continuei e ela ficou me olhando atentamente enquanto eu contava o que estava escrevendo, me dando toda a atenção do mundo e fazendo várias perguntas à medida que eu revelava algo novo.

— Eu posso ler? – Perguntou empolgada e sorri.

— Eu ainda tenho que escrever umas coisas, então levo para você no próximo final de semana quando for para sua casa. – Alertei.

— Tudo bem.

XxX

Ri divertida ajudando Sam com seu prato e olhei para Vicent que voltava com uma taça de sorvete. Me afastei um pouco para deixar os dois sozinhos e fui procurar Liane pela casa, arregalando os olhos e apressando o passo ao ver que Sara também veio e eu não a vejo tem uns dois minutos.

— Liane? – Chamei preocupada entrando no meu quarto atrás dela e andei pela casa toda, parando subitamente ao perceber que ela não ia querer que eu me metesse na conversa se fosse ter uma, então só tem um lugar que ela pode estar. Corri até a varanda dos fundos e vi que ela segurava Sara pela gola da blusa e a mantinha presa na pilastra que tinha ao lado da piscina. – Liane! Pelo amor de Deus, solta ela. – Pedi não me atrevendo a sair de onde estava e Sara me olhou em desespero.

— Não olha pra ela! Olha pra mim. Ela não vai sair de onde está porque tem aquafobia. – Bradou e puxou Sara um pouco para frente, batendo suas costas no cimento. – Eu te arrastei pra essa merda de lugar justamente por isso, sua escrota do caralho. – Rosnou. – Você sai por aí beijando crianças. – Bradou. - A. Minha. Irmã. – Apertou mais as mãos na gola da blusa dela e engoli em seco.

— Lily, por favor, solta ela. – Pedi.

— Não. – Negou irritada. – Eu estou com vontade de te jogar nessa piscina e afogar você nela de tanta raiva que estou sentindo. – Rosnou. – Mas se eu fizer isso ou socar a sua cara, a Galateia nunca vai me perdoar. – Reclamou. – Mas se você beijar ela de novo ou encostar nela, juro por Deus que arrebento todos os seus dentes. – Bradou e a empurrou para o lado, onde ela tropeçou e quase caiu no chão, só não caindo por conseguir se segurar na rede. – Está avisada. Da próxima vez eu já vou chegar te acertando um murro na cara, então é melhor não ter uma próxima. – Alertou vindo em minha direção.

— Lily... – Tentei segurar seu braço e ela o afastou antes que eu conseguisse.

— Eu vou pra casa por hoje. – Murmurou e me aproximei receosa.

— Liane...

— Não chega perto dela, você ouviu? – Praticamente gritou e dei um sobressalto por sua voz irritada. – Você também parece que não pensa! – Bradou e arregalei os olhos me encolhendo. – Uma que não pensa e outra retardada que deveria pensar, mas não fez isso.

— Lily...

— Não! Não vem com Lily pro meu lado. Você fez merda e eu não vou te apoiar nisso. Você é minha irmãzinha e eu te amo! Mas isso não significa que vou passar a mão na sua cabeça quando fizer algo retardado como isso. – Falou e me encolhi ainda mais. – Quer ser amiga dela? Seja amiga dela, AMIGA. - Gritou a última parte e senti meus olhos marejarem. – Eu estou brigando com você porque eu me importo com você. – Falou e sequei as lágrimas com o torso da mão por ela estar brava comigo. É a primeira vez que ela faz isso, que sua voz se altera comigo. – Eu vou pra casa e estou chateada com você. – Alertou e ergui a cabeça lhe olhando, vendo a decepção em seu rosto. – No próximo fim de semana eu não estarei mais chateada, mas no momento estou e não vou passar esse fim de semana aqui. – Falou antes de passar por mim e sair. Olhei para Sara que já havia se levantado e ela tentou arrumar a gola da blusa antes de me olhar e negar com a cabeça.

— Ela não está errada. – Falou e voltei a limpar as lágrimas me encolhendo.

— Eu sei. – Sussurrei olhando para trás, vendo Liane sair do meu quarto com sua mochila nas costas e andei rápido em sua direção. – Lily. – Chamei alto e ela parou de caminhar sem se virar em minha direção, só esperando pra ver o que eu falaria. – Eu sinto muito por chatear você. – Pedi e ela ergueu a cabeça se mantendo de costas pra mim. – Obrigada por se preocupar comigo. – Sussurrei. – Me manda mensagem quando chegar em casa. – Pedi e ouvi seu suspiro antes dela sair sem me responder. Limpei os olhos indo para meu quarto e fechei a porta em minhas costas, me jogando na cama logo em seguida. Eu não queria que ela ficasse brava comigo.


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Notas finais do capítulo

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