Wedding lost escrita por Kris Loyal


Capítulo 5
Capítulo 5 – Passo 1: Mudar de atitude.




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Peeta passara o dia evitando Cashmere. Não queria vê-la, não quando ela causou tantos problemas na sua casa, não quando ela debilitou ainda mais seu casamento já frágil.

Suspirou audivelmente e afundou-se em sua cadeira de couro. Lembrou-se de que da última vez que veio visitá-lo na empresa, Katniss sentou-se naquela cadeira e tirou o letreiro de acrílico que continha seu nome, alegando que a presidente agora era ela. Lembrou-se de como riu da situação e de como riu ainda mais quando Liesel*, sua secretária na época entrou, falando algo como “senhor Mellark, precisa assinar algumas coisas” E Katniss a interrompeu dizendo que o senhor Mellark não assinava mais nada ali.

A garota que tinha apenas 19 anos na época, ficou confusa, pois Katniss havia falado com tanta certeza e seriedade que ninguém duvidaria.

Passou as mãos pelos cabelos bagunçando-os, porém sem dar atenção a isso. Sentia tanta falta da sua Kat... Que ria por qualquer idiotice, que perdia os lápis do seu escritório prendendo-os no cabelo, que preferia discutir um problema até resolver, em vez de se isolar.

Pegou o porta retrato que ficava sobre sua mesa e olhou seu sorriso junto ao de Katniss e a cara amarrada de Ryan.

Ryan. Sentia falta do seu filho também.

— Droga de vida. — murmurou.

— Peeta? Eu posso entrar? — era Cash, ele sabia. Suspirou mais uma vez e soube que tinha que resolver aquilo logo. Não podia mais adiar.

— Entra.

Cashmere parecia um pouco cansada, mas ainda com a postura impecável e as roupas sempre muito bem combinadas.

— Oi, Peeta. — Peeta não conseguia entender por que de todas as outras secretárias o chamarem de “senhor Mellark” mesmo sem ele ter requerido isso e Cashmere ter insistido, todo esse tempo, em chamá-lo de Peeta. Ou conseguia, mas não queria pôr na cabeça aquela hipótese.

— Olá, Cash.

— Bem, eu queria te pedir desculpas por ontem...

— Devia mesmo. — principalmente depois do problema que causou, completou mentalmente.

Cashmere parou como se tivesse sido atingida por suas palavras. Mas ele a incentivou a continuar. 

— Vamos, continue Cashmere.

— Eu queria pedir desculpas e dizer que se você quiser me despedir eu vou entender, pois quando eu decidi dizer a verdade, eu já sabia que isso poderia custar meu emprego e mesmo assim quis arriscar. Se você decidir por me demitir, eu entenderei.

Peeta avaliou sua postura para então falar;

— Você quer continuar trabalhando aqui, Cash? A escolha é sua. Você não será demitida se não quiser, só passará para uma outra área.

— Para qual área?

— Será secretária do acionista da ala G. Você já conhecia minhas atribuições, então se dará bem com as dele. E a secretária dele ficaria em seu lugar aqui, como minha secretária. Como é mesmo o nome dela?

— Clove.

— Clove, sim.

— Secretária do acionista da ala G... No prédio ao lado. — sorriu tristemente e depois brincou — Não tinha como ser mais longe de sua sala?  

— Não, na verdade foi o mais longe que eu consegui. — Peeta revidou em tom de brincadeira, mas falando a verdade. E ela sabia que era verdade.

Cash passou seus olhos azuis pela mesa até observar o porta retrato.

— Ela é muito bonita. Sua esposa.

— Ela é. — respondeu o loiro, baixo.

— Se a ama tanto quanto demonstra pra mim, por que não se acerta com ela? Por que não se resolvem?

— É complicado, Cash. — suspirou.

— O quê? A família dela e a sua são inimigas, tipo Romeu e Julieta? Ela tem alguma vingança contra você tipo no clássico Senhora de José de Alencar?  Há uma maldição sobre vocês como Daniel Grigori e Lucinda Price em Fallen? Vocês...

— Cash, para com suas loucuras literárias, você sabe que não tem nada a ver com isso.

— O que é então? — insistiu a loira — Ela deixou de te amar, é isso?

Peeta calou-se. Aquela pergunta martelava tanto em sua cabeça e o machucava só por existir. Há algum tempo atrás, uma pergunta como essa sobre Katniss nunca teria surgido em sua mente, nem por brincadeira. Agora ela o assombrava sempre que podia.

— Não quero falar sobre minha vida, Cashmere.

— Tudo bem. Eu... Eu só acho que não é possível que ela não te ame mais. Simplesmente não é. — falou rápido enquanto pegava sua bolsa e saía da sala. Lá fora gritou — Venho pegar minhas coisas amanhã.

Naquela noite, na hora do jantar, Peeta chegava em casa. Ele decidiu trabalhar um pouco menos hoje na esperança de conseguir conversar com Katniss, nem que fosse apenas algumas palavras. Ele só precisava de poucas palavras para explicar que aquilo com Cash tinha sido um mal entendido.

Estranhou quando saiu do carro e encontrou as janelas de vidro abertas e as luminárias ligadas. O ambiente parecia alegre assim, mais iluminado, coisa que não parecia há tempos.

Entrou e a primeira pessoa que encontrou foi Nita.

— Boa noite, Doutor Peeta.

— Boa noite, Nita. O que tem para jantar hoje? Eu ainda não comi.

— Eu não sei, senhor. Na verdade, eu estava de saída. Dona Katniss me dispensou e disse que faria o jantar hoje.

O rosto de Peeta foi da confusão à surpresa. Quanto tempo fazia desde que Katniss tinha cozinhado alguma coisa?  Depois de algum tempo, em sua confusão mental, ele ouviu Nita chamar:

— Senhor? O senhor vai querer alguma coisa? Se não, eu já vou sair.

— Tudo bem Nita, pode ir. Tenha uma boa noite.

A simpática senhora lhe ofereceu um sorriso simplório e seguiu em frente. Nita era empregada da casa desde que Katniss e Peeta conseguiram dinheiro suficiente para pagar uma. Ela era rechonchuda e parecia ter um carinho especial por Ryan, por tê-lo visto crescer, porém nem a aproximação de anos com aquela família a fez parar de chamar o casal de “Senhor Mellak” ou “Doutor Peeta” e “Dona Katniss”. O único que ela chamava apenas pelo nome era Ryan, e sempre que falavam nesse assunto ela insistia que tinha se acostumado assim.

Peeta adentrou devagar em casa, como se estivesse calculando seus próprios movimentos para não cair em uma possível armadilha. Colocou a bolsa de couro que levava na mão no aparador e, afrouxando a gravata, seguiu para a cozinha.

Seus cabelos estavam presos em um coque mal feito, porém que ficava bonito nela. Usava roupas simples e um avental, e parecia não estar muito ligada aos acontecimentos ao seu redor. Katniss mexia uma panela, seu olhar fixado no caldo, porém sua mente, era nítido, estava muito longe dali. Quando percebeu a presença de Peeta, que a observava encostado no batente, elevou os olhos até ele, parecendo levar segundos para pensar em como cumprimentá-lo.

— Peeta. Chegou mais cedo hoje. — falou dando um pequeno sorriso. Esse era o máximo que ela conseguia fazer no momento.

— Sim. — respondeu ele, cauteloso — Eu queria conversar com você.

Ela assentiu, querendo dizer que escutaria, porém sem emitir som algum. Parou de olhá-lo também, voltando sua atenção à panela, mas lhe dirigindo olhadelas para que ele entendesse que ela ouvia.

 — É sobre Cashmere. É... Bem, eu não vou negar que ela me beijou. Ela.  — começou dando ênfase no “ela” e Katniss assentiu, sorrindo tristemente de um modo que até Peeta percebeu o teor ácido daquelas palavras — Mas não como você está pensando, Katniss. Cash só estava confusa, ela só achou que gostava de mim, mas se enganou.

— Então se “Cash” — falou o apelido com desdém — é inocente, quem seria culpado?

Arrependeu-se assim que as palavras lhe saíram da boca. Não era para acusar, não era para tratar com desdém, não era para fazer a situação pior do que já era... Mags repetiu aquilo tantas vezes e ela ainda não tinha conseguido se controlar.

Decidiu que se não se retratasse logo a briga começaria, então todo o esforço que ela tinha feito até agora iria por água abaixo.

Peeta parecia confuso com o conflito interno que a esposa demonstrava e se sentiu até um pouco aliviado por sua resposta desdenhosa. Na verdade ele estava preocupado com sua calma, pois pensava que se Katniss não o ironizasse, nem o acusasse, significava que ela não se importava. Simplesmente não se importava com a situação e isso era mais perturbador que qualquer coisa.

Ele já suspirava, preparado para começar uma briga que com certeza perderia, quando a ouviu romper o silêncio que eles nem perceberam que havia se instalado:

— Bem... Okay. Tudo bem. Eu fiz moqueca de camarão, sei que você adora. Vou chamar Ryan para ajudar a pôr a mesa.

Katniss passou pelo marido que a seguiu com o olhar sem entender nada. Como assim? Ela não iria brigar, xingar, ameaçar, chorar e ameaçar novamente?

Foi até a panela e cheirou a comida. Não parecia envenenada. Para ter certeza, pegou uma colher bem cheia e seguiu para o quintal com ela, quase que correndo.

— Desculpa ai amigão, mas você tem que quebrar essa para mim. Boa sorte.

E assim despejou na vasilha de Will*, o cachorro da família. Will cheirou o camarão, depois lambeu tudo em dois segundos, consumindo até o molho.

— Isso aí, amigão. E aí?  O que achou? Tudo certo?

— Pai, por que você tá’ falando com o Will? — a voz de Ryan o assustou e Peeta quase pulou quando o viu.

— Nada. Eu só estava falando com ele, oras. Ele parece tão triste esses dias.

— Acho que é por que não tenho tido tempo para caminhar com ele...

— Bem, então caminharemos com ele amanhã, okay? — planejou o pai, ainda sorrindo nervoso, com medo de ser descoberto. Will parecia bem e sem qualquer sinal de “morte instantânea”.

— Okay. Mamãe está esperando para jantar.

— Então vamos. — respondeu Peeta, andando devagar, ainda olhando para Will para ter certeza de que ele estava bem. Quando Ryan desapareceu, ele ainda teve tempo de levantar o polegar para o cachorro.

— O que faziam lá fora? — Katniss parecia ter recuperado seu juízo de todo, depois de vários minutos no banheiro, sentada no chão, absorvendo a frieza. Era assim que ela tinha que ficar: de cabeça fria.

 — Papai estava falando com o Will. Disse que o achou um pouco triste.

— É sério? Deve ser por que ele não tem passeado. 

— Foi o que eu disse. — afirmou Ryan.

Peeta ainda permanecia quieto, estranhando a normalidade daquela família. Desde quando sua família era normal?

— Mas amanhã vamos passear com ele. Bem, o pai falou que vai.

— E vou. Nós vamos. — respondeu Peeta, acordando do transe — Se quiser pode ir conosco, Katniss.

— Claro.

Ela aceitou passear com o cachorro, o que era totalmente estranho. Peeta sabia que ela odiava passear com Will por que o cachorro era enorme, não obedecia e ficava puxando-a para todos os lugares.

Depois de servir a comida no prato e se sentir seguro mais uma vez quando ouviu o latido sadio de Will, Peeta se deparou com um outro probleminha: O suco. Não tinha testado o suco.

Olhou para o copo de Katniss e para seu próprio copo. Pegou seu celular e por debaixo da mesa, discou o número da própria casa. Sem demora, o telefone começou a tocar.

— Como vão os treinos, Ryan? — puxou assunto com o filho para que Katniss fosse obrigada a ir até o telefone. Quando a mesma deu as costas para atendê-lo, ele trocou seu copo com o da esposa, recebendo um olhar de confusão do filho.

— Gosto mais desse copo.

— Mas eles são iguais, pai.

Peeta deu de ombros e desligou o celular para que o telefone parasse de tocar e Katniss voltasse à mesa.

— Parou de tocar antes que eu chegasse a ele. — explicou a morena — E é o telefone sem identificador de chamadas, então nem dá para ver quem foi.

“Sei bem disso” pensou Peeta. Mas o que ele realmente fez foi apenas dar de ombros novamente.

Katniss levou o suco à boca e tomou. Todos começaram a comer, mas como silêncio estava incomodando, Peeta cutucou Ryan em um assunto que ele sempre estava disposto a falar: suas idas à casa de Gale.

Era extremamente irritante para Peeta que o filho dele demonstrasse mais afeto a um desconhecido que ao próprio pai, mas naquele momento, era melhor Gale do que nada.

Meia hora depois, quando todos tinham terminado Ryan pediu licença e subiu, dizendo que precisava dormir, pois acordaria cedo. Katniss começou a tirar a mesa e Peeta ainda a observava, tentando entendê-la.

Quando ela já estava lavando a louça, decidiu ajudar em vez de ficar o tempo todo só a analisando. Ela lavava, ele secava, tudo em silêncio. Um silêncio que era muito melhor do que as brigas que eles tinham, sempre que estavam sozinhos.

— Katniss. — chamou-a, quando ela fez menção de se retirar e subir. Como ela continuou andando, então ele pegou-a pelo braço e a chamou novamente — Katniss, espera.

Ela o olhou nos olhos e estava tão magoada. O teatro de esposa equilibrada que tinha conseguido sustentar até agora ruindo aos poucos só por ver aqueles olhos azuis de perto. Lembrou-se de como observava aqueles olhos com devoção, quase como se fossem sagrados. Segurou o choro: os olhos dele sempre foram sua fraqueza.

— Me desculpa por essa situação toda.

— Há alguma coisa que eu precise desculpar? — olhos de Katniss estreitaram, meio que o acusando com o olhar, mesmo não tendo essa intenção.

— Não. Não há. — Ele parecia tão seguro. Tão sincero. Por que não podia simplesmente ser verdade? Katniss pensava essas coisas e acabava concluindo que nada na cabeça dela poderia ser simples. Nada. —  Mas eu peço desculpas mesmo assim. Eu sinto muito, Kat.

Kat.

Ah, que saudades ela sentia daquele apelido.

Mais saudade ainda tinha do pronome possessivo que outrora vinha antes dele:

Minha Kat.

Olhou para Peeta que a fitava, meio aflito, esperando uma resposta. Os olhos azuis analisando-a novamente, a segurança que apenas ser tocada no braço por ele trazia.

Queria que ele voltasse a chamá-la de “minha Kat”. Queria que voltasse a olhá-la com devoção como fazia, queria voltar a sentir o carinho que ele a oferecia, sempre mais que ela. Queria sim, seu casamento de volta.

E olhando agora para ele de perto, todos os conselhos que Mags deu fazia sentido para ela agora. Então antes que pudesse pensar mais e estragar tudo, seguiu um dos primeiro preceitos que Mags ditou como primordial: Seja amável.

Levou sua mão livre ao rosto dele, acariciando tão de leve que era até difícil de Peeta sentir. Tocou na bochecha, no queixo e depois sorriu minimamente, antes de dizer:

— Tudo bem, Peeta.

Após isso, subiu as escadas indo para seu quarto e pensando que, por mais louco que parecesse, agora, vendo a importância que esse teste teve, ela iria sim aceitar a ajuda de Mags com sua lista de ações “salvadora de casamentos” maluca. Iria tentar qualquer coisa para salvar sua união com o homem que era para ela como uma lareira quente em um inverno rigoroso. Sorriu e apertou seu travesseiro, torcendo com toda a sua alma para que desse certo.

Enquanto que ainda na sala, Peeta permanecia quieto, absorvendo ainda a sensação de tê-la tão perto de novo.

Ele não entendia bem o que estava acontecendo, mas sorriu quando percebeu que mesmo sem saber o que era, deduziu que era algo bom.


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Notas finais do capítulo

Liesel* : Homenagem à Liesel Meminger, de A Menina que Roubava Livros. Amo-a ♥
Will* : Homenagem á Will Traynor, outro personagem amado por demais ♥


Gente esses dois são fofos, vocês não acham não?
Espero que o toque cômico do "quase envenenamento" de Peeta tenha chegado até vocês. Pobre Will, a cobaia ...

Espero vê-los nos comentários.
O próximo capítulo se chama "Passo 2: fazer uma visita agradável". Será que faremos algum progresso?