The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 4
Akemi: o baile de máscaras.




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Depois que os três chegam, a manhã fica simplesmente insuportável. Vejo Neji aqui e ali, mas em nem um momento tenho tempo para falar com ele. Além disso, tenho que fazer o o possível para me esconder não apenas de Gaara, mas de Temari e Kankuro também. Afinal, o que eu faria se eles me reconhecessem? Não gosto nem de imaginar. Não é um trabalho fácil, pois os Caçadores Anbu me arrastam de um lado para o outro e em todos esses lugares os três parecem estar. Eu fico me esquivando, ando mais rápido que eles e tento me esconder atrás de um ou outro Caçador com altura suficiente para deixar fora de vista alguém do meu tamanho. Até que em um momento tenho o azar de parar atrás de Ranmaru.

Ele vira a cabeça, tentando ver quem está ali atrás. Seu olho lilás encontra o meu sob a máscara e eu me afasto subitamente. Sinto-me péssima, pois Gaara está bem na minha frente. Ele está esperando fora de um dos restaurantes junto de Temari enquanto Kankuro está lá dentro comprando algo. Sinto minhas mãos suarem e só penso em sair correndo, mas Ranmaru perceberia que tem algo errado comigo e não quero ter que me explicar caso ele comece a me provocar.

— O. que. você. está. fazendo? — ele pergunta pausadamente, percebo a raiva em sua voz e isso faz eu me encolher para longe dele. Sei bem o tipo de jutsu no qual ele é especialista e não estou a fim de ser um de seus alvos.

— N-nada — gaguejo. Onde eu estava com a cabeça para me esconder atrás de Ranmaru? Podia ter encontrado Ai ou Reiji. Droga, penso.

— Hunf! — ele vira a cabeça para frente novamente, mas ainda posso escutar sua voz. — Você é patética, Akemi.

Meu dia já está suficientemente péssimo sem que ele precise me chamar de patética. Em um momento de total impulso, seguro seu ombro com força e o viro de frente para mim. Seus olhos de cores diferentes transbordam com uma raiva que eu nunca vi igual, imagino que ele não pensaria duas vezes se precisasse me matar.

— O que é, caramba? — ele cerra os punhos. — Você não cansa de estragar minha vida? Me deixa em paz!

— Nós éramos amigos, Ranmaru. Fazíamos parte do time do Camus-sensei e nos dávamos super bem, então por que...  — ele me interrompe.

— Acho que eu ainda não fui claro o suficiente com você — ele se aproxima de mim ameaçadoramente, ficando tão próximo que se não tivéssemos de máscara, eu sentiria sua respiração. — Eu quero você longe de mim. Fica fora da minha vida! Entendeu?!

Balanço a cabeça afirmativamente. Ele se vira novamente e sinto meu coração murchar. Não faz muito tempo que Ranmaru e eu éramos inseparáveis. Só nos desgrudávamos quando tínhamos que ir para casa. Na época, eu dividia um apartamento com Naruto, pois, assim como ele, eu também não tinha meus pais por perto, mas, mesmo assim, Ranmaru e eu conseguíamos nos manter juntos na maior parte do tempo. Nunca tive muitos amigos, mas os que eu tinha considerava como irmãos. Naruto, Ai e Reiji continuam comigo até hoje, mas Ranmaru preferiu se afastar e me tratar com um desprezo que me machuca um pouco mais a cada dia. Não entendo o motivo e provavelmente nunca vou entender.

Felizmente, Gaara e seus irmãos não estão mais em nenhum lugar visível. Posso respirar um pouco mais aliviada. Os Caçadores Anbu se dispersam, não tem motivo para continuarmos andando em um amontoado. Observo Ranmaru se afastar, ele não devolve meu olhar. Suspiro, triste, e caminho até o portão de entrada da Vila da Folha. Kotetsu e Izumo estão entretidos com alguma coisa e nem percebem quando eu saio. Fico feliz com isso, pois não queria ter de dar explicações sobre o que estou indo fazer na floresta.

Quando já me sinto longe o suficiente da vila, subo em uma árvore e me sento em um de seus galhos. Encosto-me ao tronco da árvore e abraço minhas pernas, deixando-as junto de meu peito. Tiro minha máscara Anbu e escondo minha cabeça entre minhas pernas, sinto lágrimas queimando em meus olhos. Hoje devia ser um dia feliz, afinal é meu aniversário, mas tudo o que consigo sentir é tristeza. Sinto falta da minha família, do abraço reconfortante de minha mãe, da gentileza do meu irmão e do sorriso caloroso de meu pai. Os perdi tão cedo que se não fosse pelas fotos que tenho no pingente de meu cordão, eu não me lembraria mais de seus rostos. Levanto a cabeça e puxo o cordão de dentro da minha blusa. Abro o pingente e vejo os rostos de meus pais. É uma foto que eles tiraram comigo quando eu tinha um mês de vida. Meu kekkei genkai havia sido passado para mim por parte da minha mãe, e fisicamente sou muito parecida com ela. Temos os mesmos cabelos longos e castanhos e olhos da mesma cor, já meu pai tem cabelos pretos e olhos azuis. Olho para os braços de meu pai na foto, ele está segurando meu irmão no colo, na época ele já tinha três anos. Takashi sempre foi um menino muito bonito. Com os cabelos verde escuro do nosso pai e os olhos castanhos da nossa mãe, ele fazia várias meninas suspirarem. Era uma loucura quando aparecia alguma menina na nossa casa querendo se declarar para ele. Sorrio com a lembrança.

Quando eu era menor me sentia como se fosse filha de celebridades. Meu pai era o último de seu clã e minha mãe era uma Senju. Por causa das habilidades do meu pai e dos antepassados de minha mãe, eles eram um casal conhecido e muito respeitado. Depois da morte deles e de meu irmão, minha guarda foi para minha tia, Tsunade — sim, minha mãe era irmã dela. Meus avós tiveram minha mãe depois que minha tia completou catorze anos. Foi uma gravidez difícil para minha avó, pois ela já tinha uma certa idade, mas a minha mãe conseguiu nascer e cresceu uma mulher incrível —, porém ela nem sequer ficava na Vila da Folha por mais de dois dias. Só aparecia para me ver e depois ia embora. Por isso tive que me tornar independente aos dez anos de idade. Depois que Tsunade se tornou a Quinta Hokage ela passou mais tempo na aldeia, mas nunca foi uma tia de demonstrar amor e carinho, então só nos encontrávamos esporadicamente e, por isso, sinto falta constante de meus pais.

Sinto lágrimas rolarem por minhas bochechas e fecho o pingente, segurando-o com força na mão. Não consigo me segurar e choro livremente. Minha família inteira foi morta quando eu tinha apenas dez anos de idade e a cada dia mais a falta deles abre um buraco em meu peito.

— Por quê? — pergunto a mim mesma, soluçando. — Por que vocês me deixaram?

Um barulho vindo da floresta me faz parar de chorar subitamente. Coloco a máscara Anbu o mais rápido que posso, se for algum inimigo, não posso deixar que ele me veja vulnerável desse jeito. Fico alerta e pego uma kunai.

Realmente aparece alguém, mas não é um inimigo. Pelo menos eu acho que não. São duas pessoas. Dois Caçadores Anbu da Vila Oculta da Névoa, um homem e uma mulher. Eles saem de trás de uma das árvores, ela começa a ajeitar sua saia e o vejo fechar o zíper da calça. Quando percebo o que eles estavam fazendo me sinto mal por estar olhando, parece que eu estava espiando. A garota olha para cima, na minha direção, ela está sem a máscara Anbu e vejo o quanto é bonita. Sinto meu rosto corar, talvez ela pense que eu estava espionando. Desvio o olha do dela e volto a sentar quieta no meu lugar. Segundos depois, ela aparece sozinha na minha frente.

— Oi — diz, colocando uma mão na cintura.

Levo um susto tão grande que acabo gritando a plenos pulmões, segurando a kunai contra meu peito. Ela inclina a cabeça para o lado como um pássaro, me analisando. Seus olhos incrivelmente verdes me fitam com uma intensidade intimidante. Ela é tão bonita que me sinto uma mosca ali, de frente para ela.

— Nossa — ela dá uma risadinha, expondo os dentes brancos e perfeitos. —, para uma Caçadora Anbu você é bem barulhenta.

— Você me assustou — digo, guardando minha kunai.

— Assustei? — ela ri novamente, sentando em minha frente. — Que estranho, dali debaixo parecia que você estava me espionando.

— O que? — sinto meu rosto queimar por trás da máscara. — Claro que não. Eu não estava... — ela me interrompe, rindo.

— Relaxa, garota — a mulher faz um movimento com a mão para que eu esqueça isso. — Eu estou brincando com você. Sei que não estava fazendo isso.

— Ah... — é a única coisa que consigo dizer. Dou uma espiada lá embaixo novamente e vejo que o cara que estava com ela outrora desaparecera. — O seu namorado, ele... — ela me interrompe novamente.

— Ah, meu Deus, não — sua risada é melodiosa. — O Laito não é meu namorado. Eu hein! Tenho pena da garota que se submeter a isso.

— Entendi. Desculpe então — olho para os meus pés, desviando o olhar do dela.

Não vejo, mas sinto seu olhar em cima de mim. Sei que ela está me analisando de novo e isso faz eu me sentir vulnerável.

— Ah, qual é? Tira essa máscara — sua voz me faz levantar a cabeça para olhá-la. — Apesar de ser uma Caçadora Anbu, eu não estou usando máscara agora. É grosseiro de sua parte estar com a sua.

Ela sorri sem mostrar os dentes, incentivando-me a fazer o que disse. Lentamente vou tirando a máscara, rezo para que meu rosto não esteja inchado ou vermelho por causa do choro. Mas quando tiro a máscara completamente ela não parece perceber que chorei minutos atrás, isso me deixa mais aliviada.

— Tá vendo? — ela inclina a cabeça para o lado novamente. — Bem melhor assim, não é?! Agora podemos nos conhecer direito. Prazer — ela estende a mão para mim. —, sou Sayuri Dobutsu.

Mesmo hesitante, aperto sua mão.

— Akemi. Senju.
            De repente um silêncio se instala entre nós duas. Sayuri fica me encarando por um tempo que parece longo demais. Eu sabia bem o porquê dela estar assim, meu sobrenome sempre causa esse tipo de reação nas pessoas. Um vento sopra entre nós e ela parece sair de seus pensamentos.

— Uau — ela sorri. — Uma Senju. Quem diria.

— Não é como se estivéssemos extintos — digo, dando de ombros. — Seu sobrenome é bem diferente.

— Ah, sabe como é... Venho de um clã e tudo mais — ela dá de ombros. — Essa sua máscara é bem legal — ela pega minha máscara Anbu e a observa. — Você mesma que fez?

— Ah, não — respondo. — Foi um presente.

— Sério?! — ela tira os olhos da máscara e me encara com estranho interesse. — Presente de um namorado?

É a minha vez de rir. Balanço a cabeça, negando.

— Não, definitivamente não.

— De quem foi então?

Começo a estranhar seu súbito interesse em mim. Nós nunca nos vimos na vida e agora ela está me fazendo mais perguntas do que eu acho necessário. Mas, pode me chamar de ingênua, eu até que gosto do jeito que ela conduz a conversa. Ela parece ser tão confiante e segura de si. Fico feliz que alguém assim tenha tirado um tempo para se interessar por mim.

— É um presente do Sexto Hokage — ela coloca a máscara na minha mão novamente. — Ele disse que ia dar para uma pessoa especial para ele, mas aparentemente essa pessoa foi embora da vila — é a minha vez de olhar para a máscara. — Aí ele me deu assim que entrei para os Caçadores Anbu. Acho que viu potencial em mim ou algo do tipo, não faço ideia — olho para Sayuri novamente. — Eu só lembro de me sentir muito lisonjeada por isso, afinal é um presente do Hokage.

— Entendo — ela diz. Seu sorriso volta novamente. — Ei, você vai para o baile de máscaras hoje a noite?

A mudança súbita de assunto me pega de surpresa.

— Não sei... Acho que não.

— Por que não? Está tentando fugir de alguém?

Meus olhos encontram com os dela e sinto um pânico crescer dentro de mim. Como ela sabe que é exatamente isso que estou tentando fazer? Tenho vontade de ir embora. Sayuri parece ser uma pessoa de raciocínio rápido e isso me apavora, pois tem uma possibilidade grande dela acabar deduzindo o que está acontecendo comigo.

— Não. Por que estaria? — tento soar segura como ela, mas falho consideravelmente.

Sayuri sorri.

— Bem, não é dá minha conta — ela fica de pé. — Espero encontra-la lá — ela pula da árvore e grita lá debaixo: — Até mais, Akemi.

Observo Sayuri se afastar e sinto uma inveja dela. Queria poder ser segura daquele jeito. Ela parece ser uma pessoa que não depende de ninguém enquanto eu ficaria perdida se perdesse meus amigos. Seguro meu colar entre os dedos. Será que seria uma boa ideia ir para esse baile? Bem, eu só ia saber se fosse, não é?

—x—

A noite chega rapidamente e com ela vem a minha ansiedade. Neste exato momento, estou sentada em minha cama, de frente para o meu armário sem saber o que vestir. Imagino que um baile exija algo sofisticado e bonito, mas não tenho nada deste tipo. Nem um salto alto se quer. Que tipo de mulher não tem algo assim? Deixo um suspiro escapar e deito na cama, de peito pra cima. Encaro o teto, as estrelas fluorescentes que grudei ali brilham no escuro do quarto. Enquanto as observo, penso que queria ser uma estrela apenas para ficar lá em cima no céu, longe de qualquer problema.

Será que seria uma boa ideia ir para esta festa? Me pergunto pela milésima vez. É bem provável que Gaara vai estar lá. E como não tenho nenhuma máscara para este tipo de ocasião ele iria me reconhecer em poucos segundos. Será que realmente quero isso? Que ele saiba do meu paradeiro depois de tantos anos? Será que tenho forças para isso?

Meus pensamentos são interrompidos quando a porta do quarto é aberta subitamente. Por ela entram Reiji e Ai. Eles estão muito bem vestidos, de terno e máscaras elegantes. Sento-me na cama e os observo. Vejo que Reiji está trazendo consigo um vestido e um sapato.

— Sim, vocês podem entrar — digo, sentando-me na posição de lótus.

— Desculpa — Reiji diz, sorrindo. Ele parece bem feliz, mais do que de costume. — Feliz aniversário!!!

Ele puxa Ai pelo braço, surpreendendo-o, e praticamente o joga em cima de mim. Antes que o garoto possa se afastar, Reiji nos surpreende novamente com um abraço bem apertado. Ele quase esmaga Ai e eu. Apesar de estar com falta de ar, sinto meu coração se encher de alegria. É tão bom tê-los por perto. Eles definitivamente são a luz para a toda a escuridão do meu dia.

— Reiji, você tá esmagando a gente — digo, fazendo uma careta.

— Me solta, Reiji, caramba — Ai diz, finalizando o abraço. — Feliz aniversário, ovelhinha — ele me dá um beijo na bochecha.

— Obrigada, meninos— meu sorriso devia estar chegando na minha nuca. — Estou tão feliz que vocês vieram me ver.

— Você acha mesmo que íamos esquecer seu aniversário? — Reiji segura meu queixo e levanta minha cabeça. Ele franze o cenho. — Espera, você não parece nada bem. O que aconteceu?

— Foi o Ranmaru de novo, não é? — Ai se senta ao meu lado. Ele não é muito de demonstrar sentimentos e nem qualquer outra coisa, Ai sempre mantem a mesma expressão no rosto todos os dias, como se tudo o enchesse de tédio e nada o surpreendesse, mas agora preocupado e curioso. — Aquele cara não tem jeito mesmo. Como se os problemas dele fossem culpa sua.

Ranmaru é o menor dos meus problemas, mas não estou a fim de compartilhar isso com eles. Então, deixo acreditarem que é tudo culpa de meu antigo amigo. Afinal, não é como se ele fosse um santo sem culpa nenhuma.

— Mas ele não se afastou de vocês — digo, cutucando uma unha. — Então, provavelmente o problema sou eu.

— Akemi — Reiji coloca uma mão em meu rosto e o vira gentilmente para ele. —, não se atreva a pensar assim. Os problemas de Ranmaru são culpa dele e apenas dele. Você não pode se culpar por isso.

Ele esfrega minha bochecha com cuidado e sorri. Reiji é sempre tão positivo que isso me contagia às vezes. Sorrio junto dele.

— Olha aqui, ovelhinha — Ai diz, chamando minha atenção. — Trouxemos uns presentes para você — ele traz até a cama as coisas que vieram em suas mãos. — Sabíamos que você não ia ter nada para vestir hoje à noite, então trouxemos algumas coisas. O que você acha? Considere um presente de aniversário.

É meio humilhante saber que dois homens têm plena consciência que não tenho nada feminino e sexy no meu guarda-roupas, mas quando seguro o vestido em minhas mãos fico tão maravilhada que esqueço isso. É um vestido longo azul escuro, quando se meche ele brilha contra a luz. O tecido é tão fino e fluido que parece ser feito de água. As alças delicadas e a costa nua dão um toque elegante a ele. O sapato é preto de salto — um pouco mais alto do que eu imaginava. E a máscara é a coisa mais linda que eu já vi; é azul escuro também para combinar com o vestido. Ela parece um pássaro com as asas abertas. É tão linda que demoro um pouco para entender que é minha.
— São maravilhosos — digo, deslumbrada. Encaro meus amigos. — Onde vocês conseguiram tudo isso?

— Nós temos nossos contatos — Reiji pisca pra mim. — Vá experimentar.  

Faço o que ele manda e vou para o banheiro. Lá dentro, coloco o vestido e vejo o quanto ele fica perfeito em mim, as medidas estão todas certas e o caimento é ótimo. Meus pés demoram um pouco para se ajustar aos sapatos, mas consigo me manter de pé. Antes de colocar a máscara, faço meu cabelo. Com alguns grampos prendo-o em um coque, deixando alguns fios soltos para emoldurar meu rosto. Faço uma maquiagem simples, mas bonita. E finalizo com a máscara. Encaro meu reflexo no espelho, estou tão bonita que demoro a acreditar que sou eu mesma ali. Abro a porta e encontro meus amigos do lado de fora.

— Você está maravilhosa — Reiji diz, vindo até mim.— Tenho certeza que vai deixar Neji maluco desse jeito.

— Hunf! — Ai cruza os braços. — Que Neji o quê — ele me encara. — Você está linda, Akemi, mas deixa esse Neji para lá.

Sorrindo, dou um beijo em sua bochecha. Ai e Neji nunca se deram muito bem, eles apenas se aturam por minha causa.

— Nós podemos ir? — pergunto, ajeitando o vestido. Os meninos colocam suas máscaras; a de Ai é azul e a de Reiji é marrom, combinam com as cores de seus cabelos. Eles vêm até mim.

— Claro, senhorita — Reiji abre a porta do quarto. — Primeiro as damas.

—x—

Não é bem um baile de máscaras. Não vai ser uma festa dentro de um salão ou algo do tipo. A festa vai ser pela rua mesmo, altos falantes foram instalados nos postes de luz elétrica e tocam músicas sem nenhuma pausa. As ruas estão abarrotadas de pessoas andando para lá e para cá com umas máscaras bem bonitas e outras bem exóticas. Inconscientemente procuro Gaara por entre as pessoas, mas não o encontro em lugar nenhum. Sinto um alívio imediato, talvez ele não tenha vindo participar.

Apesar de estar bem cheio, não demora muito para que Neji me encontre. Ele cumprimenta Reiji e apenas dá uma aceno de cabeça para Ai que fica com uma expressão carrancuda no rosto. Meu namorado está excepcionalmente bonito hoje; ele usa um terno feito sob medida para ele, seus cabelos longos estão soltos e a sua máscara é completamente branca. Me sinto feliz por tê-lo ao meu lado hoje. Pelo menos, se tiver o azar de encontrar com Gaara, não vou estar sozinha.

— Acho que eu não vou te deixar sair do meu lado hoje — Neji diz, segurando-me pela cintura.

— Por que não? — sorrio.

— Bonita deste jeito? Vai saber quem vai querer roubar você de mim — ele dá de ombros.

— Ah, até parece — eu lhe dou um beijo.

Nós quatro andamos juntos pela multidão. Neji entrelaça seus dedos aos meus e tento me manter calma, não posso deixar Gaara estragar minha noite esteja ele onde estiver. Em um certo momento avisto Sasuke conversando com algumas pessoas. Não sou de ficar reparando nele, mas o garoto está bem bonito também. Ele está com um terno diferente, mais escuro do que qualquer um que eu tenha visto hoje, sua máscara é preta e cobre apenas um lado do rosto. Será que eu devia dizer a ele que descobri o nome do Tigre da Névoa no qual ele estava tão interessado? Antes que eu possa tomar a minha decisão, sou surpreendida por Sayuri. Ela vem até mim com mais quatro pessoas.

Sayuri já é bonita naturalmente, mas nesse momento ela parece brilhar. Está usando um longo vestido vermelho bem colado ao corpo, com uma fenda para uma das pernas. Seus cabelos rosa e longos caem em ondulações, como uma cachoeira, por seus ombros. Seus lábios estão destacados por um batom vermelho intenso dando a ela um ar de perigo. E sua máscara é tão bonita quanto a minha, é preta como a de Sasuke, mas com detalhes delicados e pedras preciosas adornando quase todo o rosto. Ela para na minha frente com um sorriso nos lábios.

— Então, você veio — diz. — Que bom.

Antes que eu responda, um dos garotos que está com ela toma a dianteira. Ele está usando uma máscara branca como a de Neji, o que destaca incrivelmente seus olhos verdes. Eu percebo que é o mesmo garoto que vi com Sayuri na floresta horas atrás. Lembro-me vagamente dela tê-lo chamado de Laito. Com um movimento rápido, ele segura minha única mão livre e dá um beijo nela. Fico surpresa, mas não puxo a mão.

— Sou Laito — ele levanta a cabeça e me lança um olhar bem safado. — E você, quem é?

Novamente, antes que eu possa responder, Sayuri o puxa para trás. Ele solta a minha mão bruscamente e Neji termina o movimento me colocando um pouco mais atrás dele, claramente tentando me proteger de algo. Reviro os olhos, pensando já sou bem grandinha para cuidar de mim mesma.

— Ela tem namorado, Laito — Sayuri diz, olhando para o garoto. — Não percebeu?

O menino apenas dá de ombros. Sinto que Neji está ficando com ciúmes, pois sua mão já está apertando a minha de uma tal maneira que já está ficando dormente.

— Este pequeno detalhe nunca me atrapalhou antes — Laito pisca para mim.

Antes que Neji exploda de ciúmes vou para frente dele, ficando de costas para ele, mesmo eu usando salto ele ainda consegue ser mais alto. Solto sua mão e a coloco em minha cintura. Fico admirada só de pensar que ele acha que eu o trocaria por Laito, mas imagino que seja o ciúmes falando mais alto. Com um gesto possessivo, Neji coloca suas duas mãos em mim e me puxa de encontro com seu peito. Se houvesse algo que pudesse nos deixar colados tenho certeza de que ele não hesitaria em usar.

— Sinto muito pelo meu amigo — Sayuri lança um olhar feio para Laito e depois sorri pra mim. — Bem, aproveite a festa — ela pisca para mim e para Neji. Por um momento não entendo o que quis insinuar com isso, mas quando entendo sinto minhas bochechas corarem.

Sayuri sai andando e percebo que Reiji a segue com o olhar. Ele está com uma expressão tão bobinha no rosto que não consigo conter uma risadinha. Meu amigo sempre foi conhecido por se apaixonar fácil, não duvido que agora Sayuri tenha sido uma de suas vítimas. Ele solta um suspiro apaixonado e tenta encostar a cabeça em Ai, mas o garoto apenas se afasta e revira os olhos. Reiji vem para minha frente.

— Será que você pode me apresentar para ela? — penso em dizer não, afinal, por mais simpática que Sayuri seja, ela parece ser o tipo de mulher que não se apaixona na mesma intensidade que Reiji, mas ele está tão feliz que fico triste só de pensar em acabar com as suas expectativas.

— É claro — sorrio. — Por que não?

— Obrigada — ele me dá um beijo na bochecha e começa a andar para longe, puxando Ai junto consigo.

Neji finalmente afrouxa seus braços ao redor de mim e me deixa livre. Sinto um pouco de raiva por ele ter se tornado tão possessivo minutos atrás, não tinha necessidade disso. Não sou o tipo de pessoa que trai o namorado, já estamos juntos há quatro anos, ele devia saber disso.

— Será que você pode pegar algo para tomarmos? — pergunto sem olhá-lo.

— Você ficou chateada? — ele segura meu rosto em suas mãos, me forçando a olhar em seus olhos. — Me desculpe, não sei o que deu em mim — ele me dá um selinho que não correspondo.

— Só pega algo para a gente, tudo bem? Vou esperar aqui.

Viro de costas para ele e o escuto suspirar antes de ir fazer o que pedi. Um dos Caçadores Especiais Anbu encontra comigo, ele começa a falar sobre uns relatórios que precisam ser entregues para o Hokage ainda esta semana, é sobre alguma missão que eu não fazia ideia de que tinha acontecido. Ele me entrega alguns papeis e os leio com atenção. Quando chego ao nome daqueles que participaram, percebo com espanto que não foram mencionados. Franzo o cenho.

— Onde está o nome dos participantes? — olho para o homem em minha frente.

— Pelo o que sei eles preferiram manter sigilo, não sei porque.

— Hum — entrego os papéis para ele novamente. — Obrigada por me manter informada sobre isso, amanhã vamos ver se os achamos. Aproveite a festa agora — sorrio.

— Sim, senhora.

Respeitosamente o homem faz uma reverência e sai andando. Sinto-me extremamente cansada e este sapato está acabando com meus pés. Olho ao redor, procurando Neji, mas meus olhos encontram outra pessoa. A alguns metros de distância, vejo Ai e Reiji, eles estão de costas para mim, conversando com Ranmaru, que é exatamente a pessoa que meus olhos encontram. Ele está usando um terno cinza e uma máscara da mesma cor, um pouco mais simples que a de meus outros dois amigos. Provavelmente Reiji está falando sobre o quanto Sayuri é bonita, mas Ranmaru parece nem está prestando atenção, pois seus olhos me encaram com uma intensidade que eu nunca tinha visto antes. Ele parece querer me despir até a alma. Sob seu olhar, me sinto um pouco desconfortável. Não consigo dizer o que ele está pensando e, sinceramente, nem sei se quero saber.

— Ele tem um olhar bem intenso, não é?

A voz de Camus—sensei me assusta, mas não desvio o olhar de meu antigo amigo. Meu professor para ao meu lado e eu finalmente olho para ele. Camus é um homem extremamente bonito, tão bonito que qualquer kunoichi tem ou já teve algum tipo de paixão secreta por ele. Eu mesma já tive a minha um tempo atrás. Ele parece ser a imagem da perfeição: tem lindos e profundos olhos azuis, claros como o gelo, seu cabelo é cor de areia e chega, em ondulações, até seus ombros, e seu corpo nem preciso falar que é muito bem cuidado. E para completar todo seu visual, ele tem uma seriedade que apenas o deixa mais sexy.

— Até demais — digo, encarando meu antigo professor agora. Ele está usando um terno branco e uma blusa social azul escuro por baixo. Para a minha surpresa, ele não está usando máscara.

Camus sorri e cruza os braços. Tempos atrás seu sorriso teria me feito suspirar o dia inteiro.

— Você nunca entendeu, não é, Akemi? — seus olhos encontram os meus.

— Nunca entendi o que?

— Acho que, além da sua beleza, a sua ingenuidade é o que chama tanto a atenção dos homens. Você faz aflorar neles uma vontade enorme de protegê-la.

— Eu faço? — sorrio, sem graça, achando essa conversa muito estranha. — Homens? Do que você está falando?

Ele ri e passa um dedo por minha bochecha.

— Acredito que você vá entender logo — ele pisca para mim. — Aproveite a festa. Feliz aniversário.

— Espera. Camus-sensei... — mas ele já está andando para longe.

Solto um suspiro, um vento frio faz minha pele se arrepiar e abraço a mim mesma. Pergunto-me o que Camus quis dizer com “você faz aflorar neles uma vontade enorme de protege-la”. Não imaginava que pereço tão fraca aos olhos do sexo oposto. Aliás, de quem é que ele estava falando? Sei que não era de Neji, pois apesar de ser super protetor comigo, ele sabe que não sou fraca. Levanto a cabeça e meus olhos encontram novamente os de Ranmaru. Meu rosto toma uma expressão de surpresa. Será que...

Antes que meu pensamento possa se completar, alguém esbarra em mim com tanta força que não vou ao chão por pura sorte. Porém, quase torço meu pé, o sapato me faz virá-lo em um ângulo bem estranho, agradeço mentalmente por não tê-lo quebrado. O impacto da pessoa comigo me faz virar de frente para ela. Um pavor invade meu corpo e fico com falta de ar por um instante quando reconheço quem está de frente para mim.

— Gaara — sussurro. Meus olhos estão tão arregalados que faltam pular para fora.

O garoto cruza os braços quando escuta seu nome sair de minha boca. Ele não está usando máscara como a maioria das pessoas, mas pelo menos colocou um terno vermelho. Está até sem aquela cabeça de areia. Não sei como o convenceram a tirá-la, mas ele parece bem desconfortável sem o objeto. Seus olhos verde água me observam de uma forma muito mais profunda que os de Ranmaru. Ele franze o cenho e seus olhos tomam aquela expressão de raiva que eu conheço muito bem. Sua boca forma uma linha fina e seus olhos ficam tão intensos que causaria pânico em qualquer pessoa que tivesse o azar de vê-lo assim.

Meu coração bate tão acelerado que faz meu peito doer. Eu mal consigo respirar e meu corpo inteiro está tremendo mais que vara verde. De todas as pessoas que poderiam aparecer agora, porque tinha que ser justamente ele? É claro que eu não iria poder evita-lo para sempre, mas planejava adiar esse encontro o máximo que eu pudesse. E agora ele está bem na minha frente. Como pude ser tão descuidada a ponto de deixa-lo se aproximar desta maneira? O que eu faço?, penso. Poderia correr, mas minhas pernas não me obedeceriam. Poderia dizer algo, mas minha boca está travada. Então, o que eu faço? O que eu faço? Pense em alguma coisa, Akemi. Rápido!, digo a mim mesma.

— Você devia prestar mais atenção por onde anda.

Sua voz, baixa e grave, me traz certas lembranças que pensava muito bem ter esquecido. Não entendo como é possível que elas voltem assim tão facilmente. Ele começa a andar para longe de mim, mas não o deixo ir muito longe. Minha voz o faz parar bem ao meu lado.

— Mas... — me sinto patética por estar me enrolando tanto com as palavras. — Foi você que esbarrou em mim.

Ele me observa pelo canto do olho, mas não me atrevo e devolver o olhar. Ele me encara apenas por alguns segundos, mas sinto como se fossem horas, umas horas bem demoradas. Seu braço encosta no meu rapidamente, mas é o suficiente para que eu fique mais dura que uma pedra.

— Se você não ficasse parada no meu caminho isso teria sido evitado.

E ele vai embora. Em nenhum momento ele demonstrou ter me reconhecido e isso me deixou confusa. Esta máscara que estou usando não cobre meu rosto inteiro e tenho certeza que qualquer pessoa que me ver vai saber minha identidade. Então como ele pode não ter me reconhecido? Será que depois de tantos anos eu me tornei insignificante assim para ele?

Meu peito dói tanto que acabo caindo de joelhos no chão. Puxo o ar com força para os meus pulmões, mas não sinto nada além de um aperto forte no peito. O que tem de errado comigo? Por que ainda não tenho forças suficientes para encará-lo? Eu sabia que vir a esta festa não era uma boa ideia! A última coisa que sinto antes de desmaiar são duas mãos me segurando, impedindo-me de ir ao chão. Depois tudo fica escuro.

—x—

Quando recobro a consciência demoro um pouco para abrir os olhos. Queria poder ficar assim por um longo e demorado tempo. Queria simplesmente não conseguir mais acordar. Ou apenas esquecer tudo o que aconteceu no meu passado.

Escuto alguém falando comigo, mas não consigo assimilar o que diz. Minha cabeça dói tanto que até abrir os olhos é um sacrifício, mas o faço mesmo assim. Minha visão se ajusta rapidamente e Kankuro entra em meu campo de visão. Assim que percebo sua presença, levanto tão rápido —por medo de Gaara estar com ele — que tudo gira ao meu redor. Ele não está aqui, percebo logo. Respiro aliviada, mas ainda estou fraca demais para me manter de pé.

— Ei, vai com calma — Kankuro vem até mim e me dá apoio.

— O que você está fazendo? — pergunto, sentando-me chão. Percebo que nós dois estamos em um beco, a escuridão nos engole completamente. Só consigo ver o irmão de Gaara porque ele está bem perto de mim. Levo uma mão até meu rosto e com espanto percebo que estou sem máscara. Eu olho para ele com os olhos arregalados. — Minha máscara... Ela...

— Eu tirei — Kankuro senta-se ao meu lado. — No momento em que te trouxe para cá eu a tirei do seu rosto.

— Então quer dizer que...

— Sim, eu te reconheci desde o momento em que coloquei meus olhos em você naquele portão, Akemi — ele solta um suspiro. — Aparentemente foi só eu.

Sei que ele está falando sobre Gaara. Eu o encaro.

— Por que não contou para ele?

— Por que deveria contar? — seus olhos encontram os meus. Vejo a semelhança gritante que ele tem com o pai. São incrivelmente parecidos. — Eu vi o que aconteceu quando você o encontrou momentos atrás, imagine o que teria acontecido se ele te reconhecesse.

— Obrigada — digo, abaixando a cabeça.

Lembro que Kankuro e eu éramos bem próximos antes. A única que não gostava de mim era Temari, ela nunca confiou em mim. Por ser de uma vila diferente, eu acho. Nunca entendi qual o problema que ela tinha comigo, mas não importa mais. Nós temos vidas separadas agora.

— Você precisa falar com ele, Akemi — Kankuro abaixa a cabeça. Ele apoia um de seus braços em uma perna. Desde a última vez que o vi, ele não mudou nada apenas cresceu e criou mais músculos.

— Sem chance — digo, fazendo um esforço para ficar de pé. — Quero esquecer a existência dele.

— Por que você diz isso? — ele levanta a cabeça para me olhar.

— Você ainda pergunta? Depois de tudo o que ele fez, é o mínimo que posso fazer pelo próprio bem.

Ele solta um suspiro triste e se levanta também.

— Ele sabe que hoje é seu aniversário, sabia?

Olho em seus olhos para ver se está falando sério. Não vejo nenhum sinal de ser mentira e isso me deixa surpresa. Então quer dizer que ele ainda lembra. Sinto meus olhos arderem e viro de costas para que Kankuro não me veja caso eu começasse a chorar. Mas não me permito isso. Não posso.

— Hoje de manhã, antes de virmos para cá, ele foi até meu quarto e me disse apenas uma frase: “hoje é o aniversário dela” — a voz de Kankuro chega até meus ouvidos, mas ao invés de me deixar feliz apenas me causa mais dor. — Acho que ele estava feliz até perceber que não fazia ideia de onde você estava. Depois dele... — Kankuro não termina a frase e eu sei muito bem por que. — Bem, depois do que aconteceu, ele procurou por você, procurou bastante, todos os dias, até... — eu o interrompo.

— Já chega! — cerro meus punhos. — Eu não quero escutar mais nenhuma palavra.

— Qual é o seu problema, Akemi? — escuto seus passos se aproximando de mim. — Você não pode fugir assim. Tem que resolver isso de uma vez.

— Eu não quero resolver nada! — grito, virando de frente para ele. Minhas lágrimas já caem livremente por meu rosto agora. — A única coisa que eu quero é que ele suma da minha vida de vez! — um soluço escapa por meus lábios. — Eu não aguento mais isso, Kankuro. Ele destruiu minha vida uma vez, não vou permitir que isso aconteça de novo!

— Mas, Akemi... — ele segura meus ombros, mas eu o interrompo de novo quando me desvencilho de seu toque como se ele tivesse me dado um choque.

— Não! — abraço a mim mesma e abaixo minha cabeça, meu corpo inteiro treme por causa do choro. — Quando amanhecer, eu espero que vocês já estejam longe daqui. Eu o quero longe da minha vila e longe da minha vida! — levanto a minha cabeça e encaro Kankuro. — Não temos nada para resolver. Você e Temari vão leva-lo embora daqui e você não vai dizer nada sobre mim. Entendeu?

— Sim.

Sei que Kankuro não está satisfeito com o que eu digo, mas não me importo. É a minha vida e só eu sei o que é bom para ela. E definitivamente não é ter Gaara de volta nela. Eu não posso nem suportar ficar no mesmo lugar que ele quem dirá conversar cara a cara. Não, o que ele fez comigo já foi o suficiente.

Limpo minhas lágrimas, mas é em vão, pois elas continuam caindo. Pego meus sapatos e minha máscara que estão jogados no chão e começo a andar para longe de Kankuro. Não tenho nada contra ele, mas ele tem uma semelhança tão grande com Gaara que só olhar para seu rosto já é dolorido.

— Se cuida, Kankuro. Adeus.

É a última coisa que digo antes de sair do beco. Estou parecendo uma mendiga. Meu cabelo está bagunçado, o vestido está sujo e a maquiagem está escorrendo por minha bochecha. Não me importo, eu só quero chegar em casa e esquecer do dia de hoje. Para sempre.

Enquanto ando de volta para o meu apartamento, não percebo, mas alguém me observa. Através da escuridão a única coisa visível é seu cabelo ruivo. Ele estava ali o tempo todo, escutando minha conversa com seu irmão, mas eu não percebi nada.

Não consigo chegar até meu apartamento. Estou fraca demais, por causa da tristeza e por não ter comido nada o dia inteiro. Encosto-me a uma parede e choro até não poder mais. A rua está vazia então me deixo colocar para fora toda a dor que sinto. É quando uma mão entra em meu campo de visão, isso me faz levantar a cabeça para ver quem está na minha frente. Fico surpresa quando vejo seu rosto. É Ranmaru. 

— Tô vendo que você precisa de ajuda — ele diz, me olhando de cima com uma expressão severa no rosto.

Hesito um pouco antes de colocar minha mão trêmula na sua. Ele me puxa para cima e eu vou de encontro com seu peito. Ele me mantem assim por um instante, sei que está tentando deixar eu me acalmar um pouco pra podermos começar a andar. Sinto-me grata por ele está fazendo isso apesar de não fazer ideia do motivo. Afinal, ele me odiava até poucos segundos atrás. Sinto uma de suas mãos descer de minhas costas até minha cintura e a outra ir até a minha nuca. Aperto seu terno entre meus dedos quando percebo o que ele está fazendo. O abraço me pega de surpresa. Ele me aperta contra seu peito enquanto seu queixo descansa em cima da minha cabeça.

— Vem — ele me carrega no colo. O que me faz soltar um arquejo de susto. Não podia estar mais surpresa. — Vou te levar para casa.

Desisto de tentar entender porque ele está fazendo isso e encosto minha cabeça em seu peito, escutando as batidas de seu coração. Me deixo ser embalada pelo som de sua respiração enquanto ele anda e, antes mesmo que eu perceba, acabo adormecendo em seus braços.


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