The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 24
Sayuri: olhos castanhos.




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Quando Sasuke e eu chegamos à Vila da Areia, somos surpreendidos por uma tempestade de areia que nos faz esconder o rosto com os braços, porém, apesar disso, nós somos recebidos rapidamente por dois shinnobis, como se eles estivessem de prontidão mesmo no meio dessa tempestade, que nos levam direto ao Kazekage. Não é difícil perceber que algo está errado quando chegamos em um local fechado. Os shinnobis parecem ansiosos, como se alguma coisa fosse acontecer a qualquer momento. Percebo que estou toda cheia de areia e praguejo baixinho. Me pergunto se eu conseguiria me adaptar aqui se estivesse no lugar de Akemi. É bem provável que não.

Dentro do prédio, nos escoltam até a sala de Rasa. Um dos shinnobis batem na porta e depois de alguns segundos escutamos um “pode entrar” vindo lá de dentro. A sala do Kazekage é bem diferente da sala do Hokage, enquanto a de Konoha é ampla e tem uma janela enorme que nos garante uma vista bonita da vila, a de Sunagakure é um pouco menor e toda fechada, com apenas algumas janelas circulares dispostas atrás da mesa. É um pouco claustrofóbica para mim. Sasuke e eu paramos lado a lado de frente para Rasa.

— Que estranho — ele diz, encarando nós dois. — Eu imaginava que todos os shinnobis de Konoha que deveriam estar aqui, já estavam.

— Nós escutamos sobre uma festa de aniversário e resolvemos dar uma paradinha para comer bolo — digo, sorrindo.

O Kazekage olha para mim com uma cara de poucos amigos e Sasuke dá um passo a frente, acabando com a minha diversão como sempre.

— Estávamos seguindo um rastro da Doragon — Sasuke mente. Eu olho para ele e Rasa também. — Seguimos até um pouco mais longe da vila, onde ele some, então resolvemos parar aqui um pouco só para garantir.

O Kazekage alterna o olhar entre mim e o Uchiha, sem acreditar realmente na história de Sasuke.

— Vou mandar ninjas para investigarem isso, vocês não precisam ficar — ele diz.

— Sinto muito, Kazekage-sama — Sasuke intervém. — Mas eu acredito que os seus ninjas não conseguiram encontrar nada. Já estávamos a horas seguindo esses rastros e a areia já havia apagado mais da metade. Eu sugiro ao senhor nos deixar passar ao menos um dia aqui. As pessoas nessa organização são inteligentes, não sabemos se podem ter se infiltrado aqui na Vila da Areia. Com a sua permissão, nós ficaremos aqui em sigilo absoluto até termos certeza que tudo está fora de perigo.

Rasa se recosta na sua cadeira, ainda incerto se deixa ou não ficarmos aqui, mas reflete sobre as palavras de Sasuke. No fim, ele acaba cedendo e nos designa dois quartos no prédio. Sasuke agradece e praticamente me empurra para fora da sala. Pelo fato do Kazekage não ter demonstrado nenhuma hostilidade por nós dois, os shonnobis que estavam nos acompanhando vão embora, dando mais privacidade à mim e Sasuke.

— Por que você falou do aniversário, Sayuri? — ele fala baixinho, andando comigo pelo prédio até acharmos nosso quarto.

— Para ele se tocar de que é uma péssima ideia.

— Eu não sei se você sabe, mas ele não convidou a gente para esse tal aniversário, então não era nem pra gente estar sabendo disso — ele balança a cabeça, irritado.

Dou de ombros e seguimos nosso caminho em silêncio. Os quartos são um do lado do outro e, dentro do meu, eu apenas jogo minha mochila em cima da cama, tomo um banho rápido e logo estou do lado de fora, esperando por Sasuke. O tempo que ficaremos aqui não será gastado dentro de um quarto. Se algo acontecer realmente, precisamos estar mais do que alertas.

Quando saímos, ficamos andando pela vila e nada de muito interessante acontece. Observamos alguns chunnins treinando com seus senseis e isso me deixa um pouco nostálgica, lembrando de quando o time sete treinava junto. Em nenhum momento nós vemos Akemi, apesar de vermos um ou outro shinnobi da Folha aqui e ali. Isso me intriga. Akemi havia sido designada como líder deles, então ela não deveria estar para lá e para cá dando ordens? Uma sensação ruim toma conta de mim. Será que alguém havia feito algo com ela?

Compartilho minhas preocupações com Sasuke e ele dá a idéia de perguntarmos para alguém. Paramos o primeiro shinnobi que passa na nossa frente e ele nos informa que a última notícia que teve de Akemi foi que ela estava no hospital. Sasuke e eu trocamos um olhar quando ele diz que ela foi parar no hospital por causa de uma confusão com o filho mais novo do Kazekage na arena de treinamento. Nós agradecemos e o homem segue seu caminho.

— O que você acha? — pergunto a Sasuke.

— Não sei. Nunca confiei em nenhum shinnobi da Areia.

— Você nunca confia em ninguém — resmungo e se ele escuta não demonstra.

Nós concordamos em dar uma olhada no hospital e, do lado de fora do prédio, a tempestade havia dado uma trégua e os ventos tinham parado. Suspiro aliviada enquanto caminhamos. Assim que entramos no hospital, um garoto segura a porta para que eu passe. Ele está usando capuz, mas eu consigo distinguir as feições masculinas em seu rosto. Um momento se passa enquanto passamos um ao lado do outro, eu entrando e ele saindo. Nesse exato momento, uma sensação mais estranha que não ver Akemi toma conta de mim, como se todos os meus sentidos entrassem em alerta. Quando eu olho em sua direção, na intenção de ver o seu rosto, só consigo ter um vislumbre de seus olhos. São de um castanho brilhante, me traz a sensação de que já vi esses olhos em algum lugar.

Quando Sasuke e eu passamos pela porta, eu viro para trás para ver se o homem ainda está por perto, mas, para minha surpresa, ele havia sumido. Olho de um lado para o outro, procurando, mas não vejo ninguém além de outras pessoas. Parecia que eu havia imaginado tudo. Sem entender nada, volto para o lado de Sasuke com a sensação esquisita incomodando em meu peito.

— Você sentiu isso? — pergunto à ele, ainda olhando para os lados, procurando o tal homem encapuzado.

— Senti o que? — ele pergunta, sem dar importância para a minha agitação.

Sei que tentar explicar a Sasuke o que acabara de acontecer seria uma missão impossível, então apenas me contento em me conformar que provavelmente havia sido só uma sensação estranha e nada além sairia disso. Nós perguntamos na recepção em qual quarto Akemi está e nós pegamos o elevador até o terceiro andar depois que a recepcionista nos informa.

No caminho, eu levo uma mão ao peito, pensando novamente no que havia acabado de acontecer. A visão daquele homem me pareceu um mau presságio, como se algo muito, muito, ruim fosse acontecer em breve. Ao meu lado, Sasuke continua inabalável, em silêncio e pensativo. Me pergunto o que pode estar passando por sua cabeça, mas ele continua sendo o homem indecifrável que sempre foi. Tentar entender seus sentimentos apenas olhando em seu rosto é uma missão impossível. Quando o elevador se abre, damos de cara com os filhos do Kazekage saindo de um quarto no final do corredor e Akemi saindo de outro no meio do corredor, acompanhada de uma senhorinha. Sasuke e eu saímos do elevador e todos ficam parados, encarando uns aos outros, menos Akemi que começa a se despedir da senhora e, quando a idosa passa por nós e entra no elevador, Akemi finalmente vira na nossa direção. Primeiro ela olha para Gaara e seus irmãos e depois percebe a presença minha e de Sasuke.

Assim que seus olhos param em mim, ela fica surpresa com a nossa presença, mas não tanto quanto eu imaginei que ficaria. Sem perder tempo, eu começo a dar passos em sua direção para perguntar sobre o que realmente havia acontecido na tal arena de treinamento, mas acabo parando no mesmo lugar quando vejo os olhos de Akemi, ainda cravados em mim, se encherem de lágrimas. É então que ela vem na minha direção e me abraça tão forte que eu preciso firmar meus pés no chão para não acabar caindo e a levando junto.

— Ei... — eu coloco as mãos em suas costas, acariciando seus cabelos com uma delas. — Shh. Tudo bem, tudo bem.

Atrás dela, eu vejo Gaara tentar se aproximar, mas Temari o segura, impedindo-o de continuar. Eu levanto meu rosto e olho para Sasuke que já está me observando. Com um movimento de cabeça, ele diz para que eu a tire daqui e se vira para o os três irmãos à nossa frente, dizendo que precisa conversar com eles.

— Vamos para o seu quarto, Akemi — digo em seu ouvido e ela balança a cabeça, concordando.

Ela termina o abraço e quando meus olhos encontram os olhos castanhos dela, brilhando por causa das lágrimas, por um momento eu penso no homem que passou pelas portas do hospital, porém, infelizmente, eu deixo isso para lá nesse momento. No futuro, eu pensaria no erra que isso fora.

Eu passo uma mão por sua cintura e nós duas caminhamos para o elevador. Saímos do hospital rapidamente e vamos para o prédio do Kazekage. Nós duas damos de cara com Rasa saindo e atrapalhando nossa passagem. Akemi levanta o rosto para olhar para ele e sua expressão fica carregada de raiva. Para minha surpresa, ela passa por ele, empurrando-o para o lado e, sem saber o que fazer, eu apenas vou atrás dela. Em seu quarto, o cheiro de amaciante é forte e parece que seus lençóis acabaram de ser trocados ou acabaram de voltar da lavanderia. Akemi senta em sua cama e se encolhe, abraçando as pernas. Eu coloco uma coberta em seus ombros e puxo uma cadeira para me sentar em seu lado.

— Você está melhor? — pergunto, vendo que seus olhos continuam úmidos, mas que ela parara de chorar.

— Estou — ela diz. — Desculpe. Fiquei surpresa com você e Sasuke lá no hospital. Não sei o que me deu para abraçar você daquele jeito.

— Tudo bem, não se preocupe com isso — digo.

— Então, o que você está fazendo aqui? — ela pergunta, virando o rosto para mim.

Eu explico tudo o que Kakashi havia dito para mim e Sasuke, sobre o aniversário de Rasa e o medo de Kakashi que a Doragon pudesse acabar vendo nisso uma oportunidade de atacar e por isso achou melhor mandar à mim e à Sasuke para ajudar em qualquer coisa. Akemi escuta tudo atentamente, sem me interromper em nenhum momento. Quando eu termino, ela fecha os olhos com força e joga o corpo para trás, se esticando na cama, e encostando a cabeça na parede atrás de si.

— Esse cara é inacreditável — ela diz, abrindo os olhos. — Eu havia escutado algumas coisas sobre essa festa, mas não dei importância porque, bem, eu estava muito machucada e só pensava em deitar um pouco aqui — ela fecha os olhos de novo.

Um minuto de silêncio se passa entre a gente até eu,reluntantemente, abrir a boca para falar de novo.

— Akemi... O que aconteceu? — pergunto.

Ela fica olhando para algum ponto na sua frente por um tempo muito longo, até penso que ela não me responderá e já estou me preparando para mudar de assunto quando sua voz se faz presente e é a vez dela de começar a me explicar as coisas como eu havia feito minutos atrás. Ela me conta tudo, desde o passado dela, a morte de seus pais e seu irmão, a luta na arena entre ela e Gaara, até o momento em que ela acordou no hospital e uma senhora chamada Chiyo apareceu para conversar com ela. Quando ela me conta o assunto da conversa, eu fico chocada, mas não tanto quanto deveria, pois já imaginava que aquela marca dela tinha alguma ligação com Gaara depois de tudo o que vi os dois passarem juntos. Quando ela termina, já está com lágrimas nos olhos de novo, e é a minha vez de ficar calada, pois realmente não faço a menor ideia do que dizer.

— Akemi, eu...

— Por favor, não fala nada — ela diz, fechando os olhos com força de novo. — Não vamos conversar sobre isso. Me fala sobre outra coisa, qualquer outra coisa.

Vendo o desespero dela, eu a respeito e não comento nada sobre o que ela acabou de dizer. Me recosto na cadeira, pensando no que falar.

— Tá bom — digo por fim. — Você acabou de me contar algo íntimo seu, então vou contar algo íntimo meu — ela limpa os olhos e vira a cabeça para mim, prestando atenção. — Você sabe que eu sou uma Uchiha — ela balança a cabeça, concordando. — Meu pai era irmão do pai de Sasuke. Nós dois crescemos juntos no distrito dos Uchiha, nos vendo todo santo dia e até brincávamos bastante juntos — ela ergue as sobrancelhas, surpresa, e eu dou uma risada. — Sim, eu sei que é difícil de imaginar nós dois nos dando bem, mas houve uma época que era assim. Até que não era mais. Sasuke mudou comigo de uma hora para outra, ele começou a ser muito implicante e eu, é claro, revidava. A partir de então nós vivíamos brigando muito e a convivência entre nós começou a se tornar insuportável e nossos pais resolveram nos separar pelo nosso próprio bem, antes que acabássemos nos matando ou algo parecido — eu cruzo os braços, esticando as pernas, e me perdendo em lembranças. — Alguns meses depois, Itachi, irmão mais velho de Sasuke, massacrou o nosso clã, como você já deve ter escutado a história — ela balança a cabeça, concordando de novo.

— Por que Sasuke mudou com você? — ela pergunta, parecendo bem interessada. Eu levanto a cabeça e olho em seus olhos.

— Eu sei lá — dou de ombros. — Homens, Akemi. São assim mesmo, eles são loucos e nos enlouquecem juntos — eu me espreguiço, finalmente sentindo o cansaço da viagem. — Acho que já vou indo. Meu quarto é aqui nesse mesmo corredor, o Kazekage meu deu uma suíte bem mais ou menos, mas eu estou tão cansada que só vou cair na cama e dormir. 

— Sayuri — Akemi chama e eu olho para ela. —, você poderia ficar aqui até eu pegar no sono?

— Claro — sorrio para ela e me aproximo da cama. — Afasta para lá. Se você puxar o lençol de mim eu te jogo da cama.

Ela ri e se afasta, me dando espaço para sentar. Nós nos enfiamos debaixo da coberta e ela apaga a luz do abajur.

— Nós provavelmente estamos quebrando toda a tradição de brigas entre os Senju e os Uchiha dividindo uma cama — digo, rindo.

— Não estou nem aí para tradição — ela diz. Sua voz parece distante no escuro do quarto. — Espero que possamos ser boas amigas por muito tempo.

— Sendo sincera, eu também espero.

Escuto quando ela sorri ao meu lado.

— Boa noite, Sayuri.

— Boa noite.

Nós viramos uma para cada lado e, diferente do que eu imaginava, Akemi pega no sono bem rápido. Minutos depois de termos dito boa noite uma para outra, eu escuto sua respiração ficar lenta e tranquila. Mesmo com várias preocupações na cabeça (a pessoa desconhecida que havia ido à Vila dos Artesões que poderia ser alguém do meu clã, a Doragon, Sasuke/Itachi, minha vila), eu também consigo pegar no sono rápido igual à Akemi.

—x—

A lua cheia brilhava no céu e eu estava no jardim de casa, brincando um gatinho branco que sempre aparecia por aqui algumas vezes. Ele foge da minha mão quando tento alcançá-lo, mas quando me afasto ele corre na minha direção. Enquanto me divirto com ele, espero minha mãe voltar de uma missão. Ela havia mandando um bilhete dizendo que provavelmente chegaria hoje e eu gostava de recer meus pais depois de uma missão com muitos abraços e perguntas sobre o que havia acontecido e suas técnicas de luta.

Dentro de casa, meu pai está em frente a lareira, meditando, e eu posso vê-lo pela porta de vidro, parecendo muito concentrado. Um vento muito forte me pega de surpresa, bagunçando meus cabelos. O gatinho em minha frente eriça os pelos e dá um miado alto, saindo correndo logo depois, como se algo o tivesse assustado. Eu mal tive tempo de perceber o que estava acontecendo antes de ouvir o grito do meu pai.

— Sayuri! — o ouço gritando por mim. Sua sombra se assoma acima de mim e logo eu o vejo de braços abertos em minha frente.

Com os olhos arregalados, eu vejo várias kunais caindo nas costas de meu pai. Ele faz uma careta de dor e eu fico olhando tudo petrificada, sentindo tanto medo dentro de mim que não consigo nem piscar. Só consigo me mexer de novo quando o vejo caindo em um joelho. Corro até meu pai e vejo que as kunais estão brilhando em azul, sugando seu chakra. Eu percebo um fio saindo de todas elas, como se alguém estivesse as segurando a distância. Meus olhos seguem o fio até o final, encontrando o nosso agressor. Eu fico horrorizada quando vejo quem é.

— Itachi?! — digo, incrédula e com a voz trêmula de medo. A alguns passos de distância, meu primo está com uma expressão vazia no rosto e seus olhos brilham vermelhos. — P-por que você está fazendo isso? — minha voz mal sai e eu nem sei se ele realmente me escuta.

— O que você acha que tá fazendo, garoto?! — vocifera meu pai, tentando se levantar.

Mas as kunais brilham de novo, dessa vez com eletricidade, fazendo um chiado horrível. Meu pai grita de dor agora, quando é atingido.

— Acabando com esse clã amaldiçoado de uma vez por todas — Itachi responde a pergunta de meu pai.

Ao meu lado, com dificuldade, meu pai acaba conseguindo fazer um jutsu que quebra a ligação dos fios das kunais com Itachi, o que distrai meu primo o suficiente para que meu pai me pegue no colo. Pela primeira vez noto que um dos olhos do meu pai é lilás e tem linhas pretas circulares. Na época eu não fazia a menor ideia do que era aquilo, mas hoje sei que ele portava o rinnegan no olho esquerdo, que ele mantinha escondido por uma mecha de cabelo. Ele usa esse olho para conseguir se teletransportar comigo. Não sei para onde ele planeja ir, mas devido à perda de chakra, nós apenas chegamos até o outro lado da nossa casa. Ele me deixa no chão, caindo de joelhos na minha frente e um pouco de sangue começa a escorrer de sua boca.

— Papai! — eu pego em seu rosto, tentando mantê-lo consciente de algum jeito. Meus olhos se enchem de lágrimas.

— Sayuri — ele diz com um pouco de dificuldade, erguendo a cabeça para me olhar. —, quero que você corra o mais rápido que conseguir e não olhe para trás, entendeu? O papai vai proteger você.

— Mas... — eu sinto as lágrimas escorrendo por minhas bochechas.

— Preste atenção, Sayuri, eu vou...

Ele não consegue terminar de falar, pois seu grito corta o silêncio da noite quando seu corpo é envolvido por correntes grossas, cheias de espinhos. Ele é arremessado contra uma árvore com tanta força que o tronco se parte ao meio. Mais uma vez ele cai de joelhos e, ofegante, ele se apóia com as mãos na grama e fecha os punhos com força. Quando ele levanta a cabeça, eu penso que nunca havia visto meu pai com tanto ódio estampado em seu rosto. o seu olho direito, que porta o mangekyou sharingan eterno, está sangrando e ele cospe sangue na grama. Ele olha na minha direção.

— Corre! — ele grita para mim, enquanto tenta se levantar. — AGORA!

            Um trovão faz barulho no céu, onde já começa a se formar uma tempestade de raios. Não sei se meu pai jogou algum tipo de jutsu em mim ou se meu extinto de sobrevivência fala mais alto, mas eu faço o que ele manda e corro o mais rápido que minhas pernas permitem, sem olhar para trás.

Enquanto corro para longe do distrito Uchiha e para longe da Vila da Folha, minhas lágrimas continuam caindo junto com uma chuva fina por meu rosto, minha visão vai ficando vermelha a medida que eu avanço e eu consigo ver tudo com uma nitidez que eu não conseguia ver antes. Quando chego a floresta, consigo ver minha mãe antes mesmo que ela me veja e corro ao seu encontro, gritando por ela. Assim que ela me vê, para de andar e me recebe em seus braços. A chuva fica mais forte.

— Sayuri? — sua voz está carregada de preocupação. — O que houve? — ela me segura pelos ombros  e se agacha na minha frente, olhando em meu rosto. — Os seus olhos...

— O papai... — tento falar em meio aos soluços. — O Itachi...

Não consigo continuar apenas choro ainda mais e abraço minha mãe, envolvendo seus ombros e escondendo meu rosto em seu pescoço.

Antes que minha mãe tome a decisão de ir correndo até a nossa casa ver com os próprios olhos o que está acontecendo, um falcão para em um galho próximo. No animal há um selo e assim que minha mãe o libera, o chakra de meu pai se transforma em sua imagem. Ele está de joelhos no chão, mutilado e ensanguentado, parecendo muito fraco.

— Yuki — ele diz. —, se você estiver vendo isso, eu peço desculpas a você e a Sayuri, não sei se consigo proteger vocês por muito mais tempo. Acredito que o nosso clã tenha sido alvo de um massacre feito por Itachi e não sei se vou conseguir sobreviver a isso — ele tosse e cospe sangue. — Preciso que vocês fujam para o mais longe que conseguirem e se escondam em algum lugar seguro. Não confiem em ninguém — ele olha para a gente, como se estivesse olhando para os olhos de cada uma. — Eu amo vocês.

O jutsu se desfaz ao mesmo tempo em que ouvimos uma explosão muito forte vinda da nossa casa. Uma fumaça escura começa a subir em direção às estrelas no céu.

— NÃO! — minha mãe grita, caindo de joelhos no chão. — Não! Não, não... — ela começa segura a cabeça com a mão e depois dá um soco tão forte no chão que a terra racha ao redor de seu punho. Ela dá um grito tão alto e dolorido que reverbera pela floresta silenciosa, suas lágrimas, assim como as minhas, se misturam com a chuva.

Minha cabeça começa a doer tão forte quanto meus olhos ardem e, com um gemido de dor, eu chamo a atenção da minha mãe. Limpando as lágrimas, ela vem em minha direção. Seus braços me carregam em seu colo e ela corre comigo o mais rápido que pode. Eu desmaio em seus braços, com a sensação terrível de ter perdido meu pai e toda a minha família.

Acordo com um sobressalto, tão ofegante que é até difícil puxar ar para os meus pulmões. Pela janela, posso ver que está começando a amanhecer, mas o quarto ainda está envolto em sombras. Ao meu lado, Akemi ainda dorme tranquilamente, minha agitação apenas provoca nela uma mudança de posição. Devagar, eu saio da cama e vou até o banheiro. Jogo água gelada em meu rosto e me apoio na pia, tentando normalizar a minha respiração. As noites e madrugadas no deserto sempre são frias e eu me sinto arrepiar da cabeça aos pés enquanto minha respiração começa a normalizar.

Quando me olho no espelho, eu vejo que minhas bochechas estão molhadas. Levo meus dedos até elas e vejo que são lágrimas. Há muito tempo eu não sonhava com o massacre e a morte do meu pai, então não me surpreendo com o fato de que sonhar com isso mais uma vez traz lágrimas aos meus olhos. No silêncio do banheiro, minha barriga protesta, com fome, e eu lembro que não comi nada na noite anterior. Não faço a menor idéia de conseguir comida, mas ficar aqui dentro do quarto de Akemi não vai me deixar mais calma, então afasto o sono e vou até a porta, abrindo-a devagar para não acordar Akemi.

Depois de abri-la, eu tomo um susto tão grande que quase deixo um grito escapar. Gaara estava parado na frente da porta, provavelmente pensando se deveria bater ou se deveria ir embora porque Akemi ainda está dormindo. Ele me olha um parecendo um pouco confuso por eu estar saindo do quarto de Akemi e eu fecho a porta com cuidado atrás de mim.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto.

O corredor está quieto e escuro, me pergunto se Sasuke estaria em seu quarto e se ele sequer se perguntou aonde eu poderia estar, mas logo tiro esse pensamento da minha cabeça.

— Quero falar com ela — ele diz. Eu suspiro.

— Às cinco e meia da manhã? — balanço a cabeça. — Eu acho que quando ela quiser falar você, ela vai te procurar. Acredite, a cabeça dela tá uma confusão — ele não diz nada, só fica parado, me encarando. — Quer saber, Gaara? Vamos tomar um bom café — eu encaixo meu braço no dele e o puxo corredor afora. — Ou você me mostra onde achar comida e eu tomo um bom café enquanto você fica me olhando.

Mesmo parecendo contrariado, ele caminha comigo. Quem nos olhasse assim agora nem imaginaria que a alguns dias atrás estávamos trocando socos e ameaças. Gaara me leva então para o lugar onde eu acho que seja a casa que divide com seus irmãos, tudo está quieto e, dentro da cozinha, eu começo a preparar algo para que eu possa comer. Atrás de mim, ele se senta à mesa e nós ficamos em um silêncio mortal. Assim que eu termino, coloco um prato onde eu vou sentar e um na frente dele.

— Deixa eu te perguntar uma coisa — digo, depois de engolir a primeira colherada. —, os shinnobis aqui na Areia costumam usar capuz?

— Não... Quer dizer, não sei, talvez. Por quê?

— Nada, só curiosidade — digo, lembrando do meu encontro estranho de ontem com um homem encapuzado.

Nós comemos em silêncio por um tempo até Gaara quebrá-lo de novo.

— Como ela está? — ele pergunta.

Eu levanto os olhos do prato e olho para ele. Seus olhos me encaram com algo parecido com culpa misturada com preocupação e mais alguma coisa que não consigo identificar. Eu deixo a colher no prato e me recosto na cadeira.

— Eu não posso te responder isso porque não estou sentindo o que ela está sentindo, mas tivemos uma conversa ontem e, sendo bem sincera com você, ela está muito abalada — digo.

— Ela disse sobre o que a senhora Chiyo conversou com ela?

Balanço a cabeça, concordando.

— Sim, ela me disse, mas não vou dizer nada a você sobre isso — eu levanto e levo meu prato para lavar na pia. — Como eu disse, eu acredito que quando ela quiser conversar com você, ela vai te procurar.

Nós não falamos mais nada e, depois que eu termino de lavar o prato, me despeço dele e vou para o meu quarto. Tomo um banho bem demorado, observando o sol nascer pela janelinha. Depois disso, eu me encontro com Sasuke e nós ficamos andando pela vila, vendo os preparativos para o aniversário do Kazekage dessa noite começarem a tomar forma. A todo momento fica alerta, procurando aquele cara de capuz, por algum motivo não consigo deixar a sensação ruim, que senti ao vê-lo, de lado.

O dia vai passando devagar e na manhã seguinte Sasuke e eu teríamos que ir embora. Eu vejo Akemi uma hora ou outra, nós nos falamos pouco, pois ela está muito ocupada com os shinnobis de Konoha, mas fico feliz de ver que ela pelo menos saiu do quarto. No fim da tarde, a vila está toda enfeita, principalmente com luzinhas bonitas em cada casa e barraquinha. Ao cair da noite, eu já estou pronta para a tal festa e Sasuke também está. Nós saímos de nossos quartos, de banhos tomados, e o cheiro do sabonete que ele provavelmente usou toma conta de todo o corredor.

Nós nos encaramos por uns segundos enquanto fechamos as nossas portas. Ele desvia o olhar primeiro, mas eu não consigo fazer isso tão rápido. Continuo o encarando até o momento em que ele passa por mim e some no final do corredor. Eu suspiro e me encosto à minha porta, passando uma mão no rosto. Eu me pergunto se as coisas tivessem sido um pouco mais fáceis entre nós dois no passado como seria nossa relação agora. Eu me arrasto pelo corredor, subitamente sentindo uma vontade de me trancar no quarto e não de sair e fingir que estou feliz pelo Kazekage.

Do lado de fora, as ruas estão cheias de pessoas felizes, andando de um lado para outro ou com amigos ou com suas famílias. Me sinto um pouco solitária e não encontro nem mesmo Akemi andando por ali. Eu paro em uma barraquinha para comprar alguns mochis para comer e estou conversando animadamente coma vendedora quando sinto aquela mesma sensação esquisita de novo. Olho para trás e vejo aquela mesma pessoa do hospital passando entre algumas pessoas. O rosto está coberto pelo capuz exatamente como estava mais cedo, mas ele vira um pouco o rosto na minha direção e eu consigo enxergar seus olhos pela segunda vez. Olhos castanhos. Ele se afasta rapidamente e eu agradeço à mossa da barraca e digo que voltaria mais tarde para comprar. Começo a seguir o tal homem encapuzado pelas ruas.

Eu não sei o que estou fazendo. Talvez seja só um shinnobi patrulhando a área. Se fosse alguém suspeito, alguém já teria o parado. Então por que não consigo me livrar dessa sensação esquisita? Eu o perco de vista quando ele entra em um beco escuro. Quando eu paro na entrada, não vejo nada e nem ninguém. Com cautela, eu começo a caminhar por ali e já estou quase para me virar e ir embora e esquecer tudo isso quando vejo um vulto saindo da curva que o beco faz para outra rua. Eu me assusto um pouco, mas não demonstro isso enquanto me coloco em uma posição de alerta. O homem fica de frente para mim, de cabeça abaixada. Meu coração golpeia meu peito.

— Quem é você? — pergunto, franzindo o cenho.

Por debaixo do capuz consigo escutar uma risadinha que faz os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Eu acho que você não gostaria de saber, Sayuri Dobutsu — ele diz, revelando parcialmente o rosto. Posso ver agora seus lábios, formando um sorriso sinistro.

Meus olhos se arregalam tanto que quase pulam para fora. Ele tira a capa e o capuz e a coloca novamente, dessa vez do lado certo. Eu encaro a cor vermelha e as aspirais pretas como se fossem as piores coisas do mundo — e talvez sejam mesmo. Eu recuo um passo para trás, pensando em como fui estúpida em vim atrás dele sozinha. Se eu tivesse chamado Sasuke... Mando o pensamento para longe. Pensar no que eu poderia ter feito não vai me ajudar em nada. Tiro uma kunai da bolsinha que carrego presa às minhas costas e me coloco em posição de ataque.

— Por que vocês estão aqui? — pergunto, ameaçadoramente.

— Que pergunta idiota, Sayuri — ele tira uma espada de algum lugar do seu corpo e a lâmina brilha no escuro. — Eu só quis fazer uma visitinha. Para uma pessoa especial.

Antes que eu tenha tempo de pensar, ele ataca. E ele é tão rápido que é como se ele tivesse se teletransportado de um lugar para o outro. Em um momento estava a vários passos de distância de mim e no outro a lâmina de sua espada está bem diante dos meus olhos. Eu ativo meu sharingan e me defendo com a minha kunai. Nós ficamos cara a cara, ele forçando sua espada contra mim e eu forçando a kunai contra ele, as duas se chocam com um barulho alto.

Agora mais perto, vejo novamente seus olhos. Aquele marrom brilhante agora mais intenso por conta da escuridão e então, com assombro, eu me lembro de onde eu já havia visto esses mesmos olhos. Akemi. Ele tem os meus olhos dela, de um castanho bonito e brilhante. Ele se afasta e me ataca de novo, eu defendo da melhor maneira que posso, usando meu sharingan. Não consigo pensar em qual relação ele poderia ter com Akemi, pois começam a soltar fogos de artifício e o barulho abafa todos os meus pensamentos. Quando eles explodem coloridos no céu, eu sinto uma mão tocando em minha cabeça e acabo desmaiando.

Quando acordo, percebo que minhas mãos estão presas atrás das minhas costas e algo afiado pressiona minha garganta. Assim que recupero o foco dos meus olhos, eu vejo o rosto do meu raptor na minha frente. É mesmo do capuz. Agora está mais claro e eu posso ver melhor seu rosto, as semelhanças entre ele e Akemi são nítidas. A lâmina de sua espada está encostada na minha garganta e ele está agachado na minha frente, me encarando com curiosidade.

— Eu adoro o poder do Yuna — ele diz. — Porque dá para derrubar um Uchiha em segundos.

— Quem é você? — pergunto, anotando mentalmente esse nome “Yuna” em minha mente.

Takashi — ele diz, ficando de pé. — Você conhece a minha irmã. Akemi.

Meus olhos se arregalam pela segunda vez no dia e eu abro a boca, mas nada sai. Então ele é o tal irmão que Akemi acredita que está morto. Como ela reagiria se soubesse que ele está bem vivo e trabalhando junto com a organização que está atrás dela? Eu não consigo nem me imaginar estando na mesma situação. Mexo minhas mãos, tentando me soltar, mas elas estão tão bem presas que a única coisa que consigo é quase deslocar os ombros. Eu vejo mais alguém se aproximar, mas antes que eu possa levantar a cabeça para ver quem é, Takashi se mete na frente dos meus olhos e eu só consigo ver a outra pessoa contornando ele e indo para trás de mim.

— Infelizmente vamos ter colocar você para dormir um pouco — ouço a voz de Takashi. — Esses olhinhos verdes podem ser perigosos quando despertados.

Ele sorri. Alguns fios de seu cabelo caem na frente de seus olhos enquanto ele me encara com uma expressão doentia estampada em seu rosto, e eu sinto a mão novamente em minha cabeça. Meus olhos começam a pesar imediatamente e a última coisa que eu vejo antes de cair na escuridão mais uma vez são várias capas vermelhas se aproximando e me cercando.


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