The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 19
Gaara: o caminho até Sunagakure.




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Na manhã que vamos partir, eu sou o primeiro a deixar o apartamento. Ainda estou com tanta raiva de Temari e Kankuro por terem atrapalhado Akemi e eu que não consigo nem olhar na cara deles. Sendo assim, antes mesmo de o sol nascer eu já estou andando pela vila.      

Dizer que eu estou gostando do fato de Akemi estar indo para a minha vila é um efeumismo, mas, ainda assim, não consigo deixar certas preocupações de lado. Kakashi havia dito que ela poderia se esconder com a gente, mas ele não tinha visto aqueles caras na missão como nós vimos. No fundo, eu sinto que quando descobrissem que não está mais na Folha, não poupariam esforços para acha-la onde quer que fosse, e encontrá-la na Areia será apenas uma questão de tempo. Fecho os punhos com esse pensamento.

Além disso, outra coisa está em jogo: a saúde mental de Akemi. Tenho certeza que Kakashi não faz ideia do que aconteceu com ela oito anos atrás em Sunagakure porque se soubesse não teria a mandado para lá. Na minha cabeça é muito bom ter ela de volta, mas eu sei o quanto seria dolorido.

— Ei! Gaara!

A voz de Temari me tira dos meus pensamentos e eu observo ela e Kankuro vindo na minha direção. Eles param ao meu lado e cumprimentam os outros shinnobis que vão nos acompanhar quando eles começam a chegar também. O Hokage aparece logo depois e diz que vai esperar Akemi para que possa se despedir. Enquanto sinto o frio da noite bater em meu rosto eu me pergunto porque ela está demorando tanto.

Quando Akemi aparece, usando sua roupa ninja e uma mochila nas costas, ela caminha apressadamente até nós. Pede desculpas pelo atraso à Kakashi quando para ao meu lado e o Hokage então pode, finalmente, se despedir de nós. Ele fala com os shinnobis, aperta a mão de Kankuro e Temari e faz um aceno de cabeça para mim. E então ele se vira para a sua líder Anbu.

— Se você precisar de alguma coisa — ele diz, olhando nos olhos dela. —, mande uma nota em um gavião e nós estaremos lá em um piscar de olhos.

Akemi balança a cabeça, concordando. Antes de irmos, ela faz uma reverência demorada na frente dele e vem nos seguindo. Por incrível que pareça, nós andamos lado a lado por um longo tempo. É quase impossível, para mim, tirar os olhos dela, mas ela não devolve meu olhar em nenhum momento. Sinto vontade de me aproximar e perguntar se está tudo bem com ela, mas me seguro. Além de prestar atenção em Akemi, preciso me concentrar no que pode aparecer ao nosso redor.

Nós seguimos caminhando até o fim da tarde, quando fica claro que precisamos parar em algum lugar para montar acampamento e comer alguma coisa. Enquanto Akemi e Temari ajudam a fazer uma fogueira, Kankuro e eu somos arrastados até um lago para pescar. Nós dois nunca havíamos feito nada assim, mas fingimos bem estarmos interessados na tarefa.

— Tudo bem com você? — ele pergunta depois de um tempo.

— Por que você quer saber?

— Bem, talvez porque você é meu irmão — sinto os olhos dele em cima de mim, mas não me viro.

— É uma pena que eu não te considere como meu irmão.

Ele fica em silêncio e alguém atrás de nós grita que conseguiu pescar algo. Começo a me estressar por esse negócio ser tão difícil.

— Não vou ficar perdendo meu tempo com isso — digo para mim mesmo e jogo a vara improvisada por ali.

Começo a caminhar para longe e, como eu esperava, Kankuro vem atrás de mim. Dava para ver que ele também não estava gostando de tentar pescar.

— Ei, queria te dizer uma coisa — ele diz atrás de mim.

— O quê?

— Maki e eu estamos juntos.

Sinto uma pontada no peito, talvez de inveja por Kankuro sempre conseguir tudo aquilo que eu nunca tive: amigos, amor, atenção do nosso pai...

— Que bom para vocês — digo.

— Então, eu estava pensando — ele fica ao meu lado. — Quando chegarmos à vila, eu, você, Akemi e Maki poderíamos sair juntos...

Fecho um punho.

— Não.

— Bom, mas eu vou convidar a Akemi para que ele se sinta um pouco menos mal por estar lá. Muita coisa mudou desde que ela foi embora, talvez ela se divirta. Se você quiser ir, já está convidado.

Eu apresso o passo, me distanciando dele. Kankuro já estava me tirando do sério com toda essa conversa fiada. Quando eu chego no acampamento, vejo que Akemi amarrou os cabelos em um rabo-de-cavalo e está rindo de alguma coisa que um Caçador Anbu está dizendo para ele. Talvez já tenham trabalhado juntos e ele tenha algum tipo de intimidade com ela. Sem parar para pensar, sentindo uma raiva crescer dentro de mim pelo jeito que ele olha para ela, eu acabo me aproximando dele.

— Você bem que podia sair comigo quando estivermos lá na Areia — o escuto dizendo. Akemi sorri.

— Vamos estar lá a trabalho, seu idiota — ela empurra o rosto dele e os dois começam a rir.

Antes que eu tenha tempo de parar, seguro o braço de Akemi e praticamente a arrasto de perto dele. No inicío, ela fica sem reação, mas quando estamos do outro lado da fogueira, escondidos pelo fogo, ela puxa o braço da minha mão, mas estou segurando com tanta força que ela não consegue se soltar.

— O que você está fazendo?! — ela me olha incrédula. — Me solta! Você tá me machucando!

— Você devia ficar longe daquele cara — digo, baixinho, a soltando finalmente. Meus dedos ficam marcados no seu braço.

— Por quê? — ela segura o braço machucado com a outra mão. — O que você tem haver com isso?

Ela é sua, Gaara, você devia matar todos ali. Levo uma mão à minha cabeça quando a voz se faz presente. Para de se controlar. Mate-os! Eu seguro os braços de Akemi e a empurro contra uma árvore. Mal escuto seu arquejo, mas vejo seus olhos arregalados de medo. Não é assim que eu quero que ela me olhe. Preciso da sua ajuda, quero dizer, mas não consigo. Ofegante, eu encosto minha testa no ombro dela. Seu peito sobe e desce rapidamente.

— Ninguém aqui é seu inimigo — ela diz.

— Eu não tenho aliados — digo baixinho.

Akemi me empurra para trás quando eu a solto e me observa por uns segundos antes de ir embora. Fico olhando para o chão, meus olhos tremendo, sem acreditar que eu havia a machucado. Eu sento por ali, puxando o ar com força. Alguns minutos depois, Temari vem me trazer um peixe espetado em um graveto e um cantil de água.  Enquanto como, vejo que Akemi está sentada a alguns metros de mim, comendo sozinha. Ninguém mais tenta se aproximar dela. Aparentemente, ter uma ligação comigo é a pior coisa do mundo.

Ela estica o corpo quando termina de comer, jogando a cabeça para trás para fitar o céu. Enquanto ela observa as estrelas, eu observo seu rosto. Uma lembraça de quando éramos crianças surge em minha mente antes mesmo que eu tenha tempo de impedi-la.

Eu tinha sete anos na época. Do lado de fora da minha casa, estava acontecendo uma tempestade areia e toda a vila estava recolhida para não enfrentá-la. Os ventos fortes faziam ruídos ao passar pela janela, mas eu não estava prestando atenção nele. Estava concentrado em outra coisa. Na minha mão, eu segurava uma faca fina e longa. Sozinho, na sala de estar, eu tento a enfiar na mão, mas antes que ocorra o impacto, a areia se mete entre a minha pele e o objeto cortante. Sinto meu coração murchar dentro do peito.

— Não importa o que eu faça, a areia entra no caminho.

— Gaara-sama.

A voz de Yashamaru me pega de surpresa e eu quase deixo a faca cair da minha mão quando o vejo parado perto da porta.

— Yashamaru!

Elese aproxima de mim, me olhando de cima.

— Como membro do corpo médico, o nosso líder, senhor Kazekage, me pediu para cuidar de sua segurança e bem-estar pessoalmente. Por favor, Gaara, me dó ver você fazendo essas coisas — ele me olha sério, mas logo sorri. — Embora eu ache que a areia o protegeria de qualquer maneira.

— Yashamaru, me desculpa — digo, triste.

Ele me olha, surpreso, e depois olha para os curativos em seu corpo.

— Ah, por isso? — ele toca no curativo da testa. — Imagina. Isso é só um arranhãozinho.

De manhã, quando Yashamaru tirou um tempo para me levar para treinar minha areia, eu acabei me descontrolando e o machucando. De novo.

— O seu ferimento... Ele dói? — eu o encaro, sentindo vontade de chorar.

— Dói um pouquinho, mas vai cicatrizar logo.

Nós ficamos um tempo em silêncio até eu quebrá-lo novamente.

— Yashamaru — o chamo.

— O que foi, Gaara?

— Como é sentir dor? — eu olho para minha mão com um sorrisinho triste. — Sabe, é que, na verdade, eu nunca senti dor antes. Eu queria saber como é.

— Hum... Como eu posso explicar? É algo muito difícil... Ou talvez inquietante, eu diria. O que eu quero dizer é que, quando alguém é atingido ou cortado, é uma sensação muito difícil de suportar. Quando você está ferido, não se sente normal — ele sorri, sem graça. — Não estou explicando muito bem. Basicamente, é uma situação que você deve evitar, se for possível.

Ele coloca uma mão no meu ombro e me leva até o sofá, onde eu me sente, segurando a faca no meu colo. Ele fica arrumando algumas coisas pela sala.

— Yashamaru — o chamo de novo, seguindo-o com o meu olhar.

— Pode falar — ele diz, sem me olhar.

— Será que você não gosta de mim? Como os outros?

Ele se vira para mim e fica me encarando por uns segundos, até vim para a minha frente.

— Gaara, todos passam através da vida ferindo os outros e sendo feridos. Mas não é tão fácil a gente odiar um ao outro.

Sorrio.

— Obrigado, Yashamaru. Acho que eu posso estar ferido também, como todo mundo. Eu sempre estou sentindo dor. Eu sei que não estou sangrando, mas ultimamente, eu tenho sentido muita dor aqui — levo uma mão até meu coração.

Para a minha surpresa, Yashamaru se agacha na minha frente e pega a faca da minha mão. Com um movimento, ele faz um corte pequeno no dedo anelar. Um arquejo de surpresa sai da minha boca.

— Se ferir seu corpo, o sangue vai derremar seguido rapidamente por uma dor, mas, com o passar do tempo, a dor finalmente desaparecerá. Com a ajuda da medicina, pode passar ainda mais rápido. O que é mais perigoso é um ferimento no coração, porque não existe nada mais difícil de curar.

— Ferimento no coração?

— Sim. Ferimentos no coração são diferentes de ferimentos na carne. Ao contrário de um ferimento no corpo, não há remédio para um coração ferido e, às vezes, ele nunca sara. Mas, não se preocupe. Há uma coisa que pode remendar um coração partido. Mas é um remédio muito complicado, só pode ser administrado em você por outra pessoa.

— Então, fala. O que eu devo fazer? — pergunto, ansioso.

— Só tem uma coisa que cura um coração. Só uma. É o amor, Gaara.

— Amor...?

Ele se senta ao meu lado e antes que possa falar mais alguma coisa, escutamos batidas na porta e um jounin entra na sala.

— Desculpe aparecer assim, Yashamaru — ele diz. — Mas tem uma garota aí fora, acompanhada de uma mulher, que diz que precisava falar com o Gaara. Urgentemente.

— Hã... — Yashamaru parece confuso. — Se é tão urgente assim, pode deixar entrar.

Antes que o homem possa chamar as duas visitantes, a porta se abre e um pequeno vulto entra na sala. Atrás dela, vem uma mulher alta. A garota que veio me ver joga o capuz de seu xale para trás, espalhando areia pelo chão, e o rosto sorridente de Akemi se torna visível para mim e para Yashamaru. A mulher faz o mesmo e eu vejo que é Asami Senju, a mãe de Akemi.

— Gaara! — Akemi vem correndo até mim. — Olha, olha! — ela coloca um porta-retrato na minha mão. Nele vejo uma foto nossa que foi tirada dias atrás em um parquinho. Estamos rodeados por várias esculturas de areia que eu havia feito; eu com um sorriso tímido e Akemi com um sorrisão. — Chegou as duas fotos hoje lá em casa, mas eu não pude trazer as sua porque fiquei treinando com a mamãe. Mas eu vim agora. Enfretei a tempestade e tudo.

Ela olha para mim com o peito estufado como se fosse uma heroína que acabou de entregar algo muito importante depois de ter enfrentado muitos perigos. Tímido, eu murmuro um obrigado baixinho.

— Desculpe por isso, Yashamaru — a mãe dela diz. — Você sabe como ela é. Se eu não tivesse vindo trazê-la, ela não ia sossegar.

Yashamaru ri.

— Não tem problema, senhora Senju. A companhia de Akemi é sempre bem vinda. Mas o tempo está horrível, é perigoso sair assim.

Asami se aproxima da filha e faz carinho em seu cabelo enquanto ela tagarela ao meu lado.

— Ah, eu sei — ela suspira. — Ela me disse que se eu não viesse junto com ela, ela viria sozinha. Onde já se viu? Uma menina desse tamanho sendo tão mandona.

Os dois riem.

— Olá, Gaara — Asami sorri para mim e eu fico vermelho como uma pimenta. — Eu trouxe biscoitos e chá para comermos até a tempestade melhorar, você quer?

Eu olho para Yashamaru e ele me olha de volta, sorrindo. Quando eu viro de novo para a mãe de Akemi, balanço a cabeça silenciosamente, dizendo que sim.

— Akemi e eu vamos ajeitar na mesa então. Podemos, Yashamaru?

— Claro.

Saltitante, Akemi acompanha a mãe, falando pelos cotovelos. Eu nunca entendi como ela conseguia falar tanto, às vezes era até difícil acompanhar. Enquanto elas arrumam tudo, eu levanto do sofá e coloco a nossa foto ao lado de uma da minha mãe. Yashamaru se agacha ao meu lado de novo.

— Sobre o amor que eu havia falado, Gaara — eu olho para ele. — Você o tem.

— Tenho? — eu arregalo os olhos. — Mas então, como posso fazer para me livrar disso? O que eu preciso fazer para me livrar dessa dor?

— Você não sabe, Gaara, mas ele já está sendo dado a você — ele vira o rosto e eu sigo seu olhar até Akemi que está ajeitando os biscoitos na mesa. — Amor é um sentimento de cuidar de alguém valioso para você. De proteger, de estender a mão em um momento difícil, de estar ao lado... — ele me olha de novo, mas eu continuo olhando para Akemi. — Não há dúvidas de que aquela garotinha sente algo especial por você. Ou ela não teria vindo debaixo de uma tempestade só para colocar um sorriso em seu rosto.

Eu olho para Yashamaru sem saber o que dizendo e ele sorri e bagunça meus cabelos, ficando de pé.

— Vem, vamos comer — ele pega minha mãe e me leva até Akemi e sua mãe.

Naquela noite, Akemi e a mãe ficaram um bom tempo comigo e Yashamaru, conversando e rindo. Quando a memória se desfaz, vejo que Akemi já está deitada para tentar dormir um pouco. As chamas da fogueira reflentem em seu rosto adormecido. Ela é o que amor significa para mim, desde que éramos crianças. Queria ser capaz de fazê-la entender isso.

—x—

Na manhã seguinte, enquanto caminhamos por uma estrada, olho para Akemi discretamente. Ela está andando quase ao meu lado, segurando as alças da mochila, de cabeça baixa. Me pergunto como ela está se sentindo ao voltar para vila. Se já se conformou ou ainda está sendo muito dolorido. Eu sinto muito, penso comigo mesmo.

Daqui alguns minutos será hora do almoço e nós teremos que parar em algum lugar para comer. Felizmente, chegamos rápido perto de um campo com algumas árvores e decidimos que esse seria um bom lugar para parar. Quando achamos uma perto de um pequeno riacho, nos espalhamos para pegar o almoço que guardamos da Vila da Folha. À nossa frente um grande campo de dentes-de-leão se estendia até onde a visão podia alcançar.

Todos nós nos acomodamos por ali e dou uma boa olhada agora em todos os ninjas que vieram acompanhando Akemi. São dez, entre eles haviam médicos ninja, jounins e até mesmo alguns caçadores Anbu. Eles conversam entre si e logo minha atenção se volta para Akemi como sempre. Ela está sentada um pouco afastada de nós, tirando sua comida da mochila. Me sinto mal por vê-la triste desse jeito e me sinto pior ainda por não poder fazer nada.

— O que você vê nessa garota? — a voz de Temari ao meu lado chama minha atenção, ela está olhando para Akemi também.

— Não é da sua conta — digo, frio, voltando minha atenção para a minha comida.

— Ela vai levar aquela organização para a nossa aldeia, Gaara, você sabe disso e mesmo assim continua defendendo ela — ela balança a cabeça em negação.

— Deixa ela em paz, Temari.

Com raiva, Temari volta a comer e fica em silêncio. Quando olho para Akemi de novo, Kankuro está lá com ela. Ele se senta ao seu lado e fica tentando fazê-la rir. Kankuro e Akemi eram muito próximos quando eram crianças, eles tinham personalidades parecidas e isso foi o suficiente para que se tornassem amigos muito rápido. Na época eu sentia um pouco de ciúmes, mesmo que ela sempre preferisse ficar mais comigo, e agora me sinto pior ainda porque tudo mudou.

— Vamos, Akemi. Levanta — ele puxa sua mão. Rindo, ela nega o convite dele. — Qual é? Vem logo.

Depois de muito implorar, Akemi acaba cedendo ao convite dele. Não sei do que eles estão falando, mas observo tudo atentamente. Ele a puxa pela mão e os dois passam correndo na minha frente. Eles correm, rindo um para o outro, até o campo de dentes-de-leão à nossa frente. Assim que entram entre eles, as “pétalas” começam a voar no ar. Observo, com inveja, a mulher que eu amo se divertir com meu irmão enquanto continuo sentado aqui.

Ela pula nas costas de Kankuro e, segurando as pernas dela, ele continua correndo. Ela joga os braços para cima e ri alto. A felicidade dela é a coisa mais linda que eu já tinha visto na minha vida. Ela abraça o pescoço do meu irmão e então nossos olhares se encontram. Por uns segundos parece que tudo fica em câmera lenta e eu me sinto tentando em ir até lá e tirá-la de Kankuro. O cabelo dela voa com o vento, cobrindo seu rosto e é só por isso que nosso contato visual é quabrado. Pouco depois, ela e Kankuro se cansam de correr e voltam para onde estamos, empurrando um ao outro com o ombro. 

— Tô feliz que você tá voltando lá pra aldeia — Kankuro diz à Akemi, perto de mim. — Vai ser bom te ter lá de novo.

Akemi apenas sorri.

—x—

Depois do almoço, resolvemos dar um tempo nesse lugar antes de seguirmos viagem. Já tínhamos andando uns bons quilômetros da Vila da Folha até aqui e descansar um pouco não parecia uma má ideia. Kankuro e Temari conversam debaixo de uma árvore assim como alguns outros ninjas, enquanto outros cochilam por ali. Eu vou até o riacho, encher meu cantil, e encontro com Akemi lá. Ela está lavando o rosto e o pescoço e depois fica olhando seu reflexo na água. Me pergunto se ela tem consciência do quão bonita é. Devagar, me aproximo e me ajoelho ao seu lado, começando a encher meu cantil.

Ela sabe que sou eu quem está ao seu lado, mas não me olha. Ficamos em silêncio apenas ouvindo o barulho do vento passando árvores. A água à minha frente me faz lembrar da cacheira em que Akemi e eu nos beijamos, ainda consigo sentir os lábios dela tocando os meus, ainda consigo ver nitidamente o momento em que a vi apenas de roupas íntimas, suas bochechas coradas...

— Você está bem? — escuto minha própria voz saindo da minha boca. Eu não quero fazê-la ir embora, mas não consigo deixar de me preocupar.

Lembro dela rindo minutos atrás e agora tudo isso desapareceu. Seu sorriso, aquela risada... A única coisa que vejo pelo reflexo da água é uma expressão fria em seu rosto.

— Tão bem quanto posso ao estar voltando para o lugar onde meus pais morreram.

Suas palavras fazem eu me sentir mal, mas o que eu esperava ouvir? Que ela está pulando de alegria? Obviamente não. Eu sei que ela estava triste e machucada e cansada de tudo isso, mas algo dentro de mim ainda anseia em ouvi-la dizer que está feliz em voltar para a Vila da Areia. Para mim.

— Eu não posso fazer isso — ela fica de pé rapidamente. Eu a acompanho e fecho meu cantil cheio. — Você e eu... — ela olha para o lado, para as árvores, depois para o chão. — Não posso. Não dá.

— Akemi... — eu me aproximo dela, mas ela se afasta.

— Eu estou voltando para o lugar onde a minha família morreu — ela me olha agora. — E você sabe muito bem como eles morreram. — sinto meu coração doer. — Então, por favor, se você puder não falar mais comigo durante essa viagem, eu ficaria agradecida.

Ela começa a se afastar, mas corro até ela e seguro seu braço, vendo as marcas que meus dedos deixaram noite passada. Dessa vez seguro mais gentilmente, fazendo-a virar para mim.

— Espera — ela me encara. — Eu não quero que você se afaste de mim. Você tá voltando pra vila, eu não quero te perder de novo — nunca fui tão sincero em toda a minha vida, espero que ela perceba isso. — Você é a única que...

— Para! — ela puxa o braço da minha mão. — Eu não quero escutar essas coisas. Me deixa em paz.

Ela volta a andar, mas vou atrás dela. Não vou deixa-la ir embora assim. Não de novo.

— Por que não? — escuto o desespero na minha voz. — Você me beijou de volta naquela cachoeira, Akemi, e quis me beijar de novo naquele apartamento! — continuo indo atrás dela. — Você me beijou, Akemi, então por que você foge tanto?

— VOCÊ MATOU A MINHA FAMÍLIA! — ela diz alto, virando bruscamente de frente para mim. Vejo lágrimas em seus olhos. — Você esqueceu disso? Porque eu não esqueci. Revivo o que aconteceu naquela noite todos os dias. E sim, eu te beijei de volta e, sim, eu quis te beijar de novo, e se você me perguntasse o porquê eu não saberia te responde porque nem eu sei! — as lágrimas escorrem por sua bochecha. — Desde que você apareceu de novo, minha vida virou de cabeça para baixo, tudo o que eu faço é sentir raiva de mim mesma porque eu devia te odiar, te desprezar pelo o que você fez, mas tudo o que eu consigo sentir por você é completamente o contrário de tudo isso porque... porque...

Internamente estou implorando para que ela fale, estou implorando pra que ela diga que sinta pelo menos metade do que eu sinto por ela. Vamos, Akemi, diga. Por favor, diga.

— Porque eu gosto de você! Você tem noção disso? Depois de tudo o que você fez, eu ainda gosto de você. Quando chegamos a Folha depois da missão e não nos falamos mais, eu senti sua falta; eu olho pra você e quero me aproximar, quero te escutar, quero cuidar de você. Pelo amor de deus, que tipo de pessoa eu sou?! Eu odeio com todas as forças o que você me faz sentir porque é errado e se a minha família me visse agora com certeza estariam decepcionados. Então, por favor, para. Para de tentar se gentil comigo, para de tentar se aproximar de mim, para de me fazer gostar de você porque eu preciso te odiar, eu preciso manter distância de você, eu preciso...

Não deixo que ela termine de falar. Em um minuto estou a alguns centímetros de distância dela e no outro estou segurando seu rosto com minhas duas mãos e a beijando. Sinto o gosto de suas lágrimas em minha boca, ela tenta me afastar, mas não deixo. Eu precisp dela, sempre precisei e agora, mais do que nunca, vou lutar por isso.

Tudo o que ela disse é verdade. Eu matei sua família quando perdi o controle e o Shukaku tomou controle de mim, eu destruí sua vida, mas de uns tempos pra cá tenho começado a pensar que há algo mais nessa história. Eu não me lembro de quase nada daquela noite. Na minha mente eu só tenho lembrança até o momento em que o Shukaku me dominou, depois disso é tudo um branco. É nisso que eu me agarro, pois não consigo aceitar o que aconteceu. Desde que reencontrei Akemi, eu havia metido na minha cabeça que ia atrás de respostas e, depois de tudo o que ouvi dela, estou mais motivado que nunca.

Quando ela desiste de tentar me afastar, eu desço meus braços de seu rosto e envolvo sua cintura, a puxando para mais perto de mim. Seus braços ficam entre nós doise o beijo se aprofunda. Finalmente. Finalmente eu tenho Akemi em meus braços de novo, finalmente eu posso beijá-la de novo.

Nossas línguas se encontram e deixo que a dela deslize sobre a minha primeiro. Eu só quero senti-la, de qualquer jeito. Suas mãos seguram minha roupa com força. Percebo agora que Akemi nunca será capaz de me odiar, não do jeito que ela quer tanto. No fundo, ela também sabe disso. Ela pode até fingir, mas não conseguiria me odiar de verdade.

Eu a encosto no tronco de uma árvore, apoiando uma mão ali e a outra continua envolvendo a cintura dela. Nunca pensei que um dia me sentiria do jeito que Akemi me faz sentir, sempre imaginei que sentimentos assim não eram para mim. Mas ultimamente ela tem me mostrado que eu estava errado. Quando o beijo acaba, estamos um pouco ofegantes, mas não nos afastamos mais que o necessário. Apenas ficamos na mesma posição, recuperando o fôlego.

— Não posso fazer isso — ela é a primeira a quebrar o silêncio.

— Por que não? — encosto minha testa na dela, de olhos fechados.

— Acabei de falar o porquê. Eu não posso te perdoar assim. Eu gosto de você na mesma intensidade que te odeio. Isso não é bom.

Abro meus olhos e afasto minha cbeça da dela, observando seus olhos fechados por uns segundos. Se ela estava achando que havia algo nesse mundo que me fizesse desistir dela, estava muito enganada. Ela poderia falar qualquer coisa, minha determinação não diminuiria.

— Eu vou te provar que tudo o que a gente sabe sobre aquela noite está errado — digo. Eu não devia dizer isso, pois estou me baseando apenas na minha intuição, mas preciso que ela acredite nisso também. — Te prometo.

Akemi abre os olhos e nós nos encaramos.

— Do que você tá falando?

— Eu não sei bem ainda, mas preciso que você confie em mim.

—x—

No resto da viagem da viagem Akemi e eu mal nos falamos. Eu sei que ela está confusa em relação ao que sente e sei que ficar pressionando só vai piorar ainda mais a situação. Então dou espaço um pouco de espaço a ela como Sayuri haviame instruído uma vez.

Decidimos ir para o País dos Ventos pelo mar se não teríamos que passar pela Vila dos Artesãos e eu não sei como seria essa recepção. Se não tivesse nenhum problema, seria apenas uma noite e um dia navegando até chegarmos lá. Felizmente Kakashi já tinha cuidado de tudo e quando chegamos ao porto a única coisa que precisamos fazer é subir no barco e nos acomodar.

Por incrível que pareça, a viagem passa tranquila. O barco não é enorme, mas todos conseguem ficar confortável. Temari e Akemi tiveram que dividir um quarto e eu esperava sinceramente que elas não se matassem durante a noite. Quando a lua da lugar ao sol, eu já estou de pé há muito mais tempo, pois dormir não é algo que eu faça com frequência.

— Chegamos? — Kankuro pergunta, saindo da cabine onde ficam os quartos. Eu já estou na proa, observando o País do Vento entrar em nosso campo de visão.

— Sim — respondo. — Onde está Akemi e Temari?

— Não sei — Kankuro está sem seu capuz e ele baguança os cabelos. Ainda está com sono. — Mas acredito que passaram bem a noite. Não escutei nenhum grito.

— Você dormiu a noite toda.

Ele cora.

— É, bem, você ouviu algo?

Kankuro e eu havíamos dividido o mesmo quarto e eu também não havia escutado nada, então talvez elas só estivessem dormindo ainda. Quando o barco atraca, as duas finalmente aparecem.

— Vamos andando. O Kazekage já está nos esperando — Temari diz.

Nós quatro descemos do barco, sendo seguidos pelos outros shinnobis. O País do Vento é apenas um deserto e Akemi logo tira um cachecol de dentro da mochila, enrolando-o no pescoço e puxando uma parte para cobrir a cabeça, o nariz e a boca. Kankuro, eu e Temari já estávamos mais que acostumados com a areia aqui.

Nós andamos por um tempo e logo chegamos na entrada da Vila da Areia, onde o Kazekage está nos esperando. Como esperado, ele não cumprimenta ninguém e diz apenas para eu, Temari e Kankuro levarmos os shinnobis da folha para o lugar onde eles vão ficar durante o tempo que passarem aqui e diz também que quer conversar a sós com Akemi. Ninguém diz nada, apenas seguimos as ordens do meu pai. Por um momento sinto vontade de ir correndo atrás de Akemi, pois não confio deixa-la sozinha com ele. Se ele fizesse algo com ela...

— Gaara — Temari chama minha atenção. — Vamos indo. Ainda temos um relatório para entregar e você tem que fazer o maior de todos.

Observo Akemi sumir dentro do prédio do Kazekage e, muito contrariado, sigo Kankuro e Temari para longe dela.


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