The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 11
Akemi: acontece o inesperado.




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Mais uma vez sinto aquela dor insuportável nas costelas. Que droga é essa?, pergunto à mim mesma, enquanto me contorço de dor. A última coisa que vi antes de ir ao chão gritando, foi Gaara matando aquelas duas pessoas. Sei que ele me salvou e que eu deveria estar grata, mas não sei exatamente como me sinto. O jeito com o qual ele matou aquelas pessoas foi tão... Brutal. Gostaria de saber o que estava se passando na cabeça dele no momento em que os matou.

Tento pensar em mais coisas para afastar a dor, porém não consigo me concentrar em meus pensamentos o suficiente para criar algo coerente. A dor que sinto em minhas costelas começa a emanar para minha cabeça e isso me desconcentra. Vejo Sayuri chegar perto de mim, ela se agacha ao meu lado e coloca uma mão por cima da minha. Ela levanta minha blusa com a outra mão e vê o esperado: a ferida causada pelos choques e a marca em minhas costelas queimando em minha pele. Ela resmunga alguma coisa enquanto olha para cima e percebo que está falando com Sasuke. Seus pés estão parados ao lado da minha cabeça e isso é a única coisa que vejo, pois não tenho forças e nem quero olhar para seu rosto. Sasuke começa a dizer algo quando sinto a dor parar subitamente. Isso me deixa confusa por alguns segundos, mas pelo menos me faz parar de gritar. O rosto de Sayuri entra em meu campo de visão. 

— A dor parou? — ela pergunta, preocupada. — Você está bem? 

— E-eu... — gaguejo, fazendo esforço para sentar. Sayuri me ajuda. — A-acho que sim. 

— Ah, que bom — ela deixa escapar um suspiro de alivio. — Consegue levantar? 

Digo que sim com um movimento de cabeça e ela me ajuda a levantar. Cambaleio um pouco, mas consigo me manter em pé com a ajuda de Sayuri. Olho para Sasuke pela primeira vez e vejo que ele me observa com desaprovação. Era só o que me faltava, penso. Nós três começamos a nos distanciar da matança que Gaara fez no local. Não consigo olhar para os corpos, pois é horrível demais. Ao invés disso, me forço a olhar para frente, para as árvores, para qualquer lugar. Sayuri, Sasuke e eu voltamos para as árvores e eu me sento no galho de uma delas. Sayuri traz minha mochila que caiu no chão até mim e eu limpo meu ferimento e coloco algumas gaze no mesmo. 

— Seu trabalho como líder é péssimo — Sasuke diz, quebrando o silêncio. — Eu não sei como você conseguiu evitar que Gaara fosse pego pela corrente logo que fomos atacados, mas ainda assim você é uma péssima líder. Você sabe pelo menos se continuamos no caminho certo, Akemi? — ele cruza os braços, lançando-me um olhar incisivo.

— Eu consegui evitar que ele fosse pego por um motivo bem simples, Sasuke — digo, ficando de pé. — Tenho uma habilidade que, até agora, não conheci mais ninguém que tem além de Tobirama Senju, o Segundo Hokage. Consigo ler o chakra de qualquer pessoa. Posso saber, há quilômetros de distância, o que está acontecendo em uma batalha, o estado de uma pessoa, etc. tudo apenas lendo seu chakra. Vocês sentem a presença do inimigo, eu sinto o chakra. Foi por isso que eu consegui poupar o Gaara de ser eletrocutado várias e várias vezes. E você devia me agradecer, pois ao me jogar em cima dele, deixei você em alerta e te poupei de se machucar também — limpo o suor que se formou em minha testa. — Como líder dessa equipe, peço desculpas por não ter protegido todos vocês — olho para Sasuke. — E como líder dessa equipe, também acho válido dizer que não me importo com o que você acha da minha liderança, Sasuke. Eu vou continuar sendo a líder, pois é uma decisão do Hokage. E se você acha que pode ler um mapa melhor do que eu — pego o mapa e bato o papel no peito do garoto. —, pode ficar com ele. Você é o nosso guia a partir de agora — viro de costas para ele e Sayuri. — Agora vamos atrás de Gaara para continuarmos essa missão. 

Começo a me afastar, pulando de um galho para outro. Deixo os dois para trás não por estar com raiva, para ser sincera não estou sentindo muita coisa agora, me sinto anestesiada. Enquanto avanço, me pergunto aonde Gaara pode ter se metido. Me pergunto em que estado ele pode estar. Apesar de se descontrolar fácil e ser um pouco impiedoso de vez em quando, ele ainda é um ser humano e imagino que ele também não tenha gostado do que fez. Levo uma mão às minhas costelas. Você acha mesmo que ele se sentiu culpado oito anos atrás quando destruiu sua vida?, o pensamento me pega de surpresa e quase faz eu me desequilibrar. Paro um pouco para recuperar o fôlego. Ainda o odeio pelo o que ele fez comigo, mas hoje estamos em uma missão onde eu sou a líder e por isso não posso deixar que sentimentos atrapalhem meu julgamento. Gostando ou não, preciso de Gaara ao meu lado para completar esta missão, afinal se Kakashi o colocou aqui é porque ele tem sua importância. 

Sayuri e Sasuke me alcançam em poucos segundos. Nós três seguimos em silêncio e o único baralho que escutamos são os nossos passos. Aguço meus sentidos para ver se encontro sinal de vida de Gaara em algum lugar, mas não acho nada. Começo a pensar na possibilidade dele ter ido a um lugar impossível de ser detectado. Que droga, penso. Onde você se meteu?  Meus pensamentos são interrompidos quando sinto a mão de Sayuri em meu ombro. Nós duas paramos com Sasuke bem atrás de nós, ele está concentrado no mapa e nem nos olha. 

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, inquieta. 

— Não. Escute. Eu sei que você quer encontrar o Gaara por que ele é importante para a missão e tudo mais, mas você não acha melhor pararmos um pouco para descansarmos? Depois de tudo o que aconteceu, nós realmente merecemos alguns minutos de descanso. Podemos voltar a procurar por ele assim que amanhecer. 

Quero dizer que não, que Gaara precisa ser encontrado agora mesmo, mas ao olhar nos olhos de Sayuri percebo que ela está quase suplicando para que paremos um pouco. Ela provavelmente é uma das pessoas mais fortes que já conheci, mas ser eletrocutada várias vezes seguidas teve seu preço até para ela. Deixo meus ombros caírem e solto um suspiro, derrotada. 

— Tudo bem. Vamos parar um pouco — digo. É a vez dela de soltar um suspiro, mas é de alivio. — Ei, Sasuke — chamo. Ele tira os olhos do mapa para me olhar. — Nós vamos parar por alguns minutos. 

— Você está brincando? — ele ergue uma sobrancelha. — Não podemos ficar perdendo tempo.

— Por acaso você foi eletrocutado hoje? Por acaso você quase morreu hoje? — Sayuri semicerra os olhos, encarando-o. — Não, né?! Então o descanso não é perda de tempo para mim e Akemi. Portanto, sugiro que você sente a bunda no chão e aceite o que a nossa líder disse. 

— Você responde pela Akemi agora? — Sasuke cruza os braços. — Acho que não. Então eu sugiro que você fique calada. 

— Ora, seu... — interrompo Sayuri. 

— Já chega, vocês dois! Parem de brigar — aperto a ponte do meu nariz e meus olhos se dirigem ao chão. Vejo um pouco de areia acumulada por ali e meu primeiro pensamento é que Gaara tenha passado por aqui. Esperançosa, eu sigo a trilha de areia até ela se perder de vista dentro da mata. — Acho que tenho uma ideia de onde Gaara foi. Eu vou atrás dele, vocês dois fiquem aqui. E dependendo do estado em que eu o encontrar se preparem para passar a noite. 

— Nós não trouxemos barracas — Sasuke diz. 

— Isso não será um problema. Me esperem voltar e eu vou arrumar um lugar para dormirmos. Só... Não se matem, por favor. Vocês acham que são capazes de se manterem civilizados por um tempinho? 

— Não somos crianças, Akemi — Sayuri diz, sentando-se no galho da árvore. — Pode ir tranquila. 

Balanço a cabeça, decidindo acreditar nela. Porém, mal coloco os pés no chão e começo a ouvir uma discursão. Suspiro, derrotada. Só espero que eu não encontre dois corpos sem vida quando voltar. Não sei como Gaara pode ter sido tão descuidado com sua areia, mas imagino que sua condição não o deixava raciocinar normalmente. Uma trilha feita com a areia dele se estende até onde meus olhos alcançam. Começo a segui-la, mas paro em um momento, pois fico com medo que irei encontrar no final dela. Será que vale mesmo a pena ir atrás dele? O que você está pensando, garota?, meu subconsciente me repreende. É claro que vale a pena. Ele é da sua equipe! Certo, vale a pena. Puxo o ar com força para os meus pulmões, sentindo meu coração golpear meu peito, e me obrigo a voltar a caminhar. 

Os únicos sons que eu escuto enquanto avanço são os dos meus passos e o coaxar de sapos. Sei que Sayuri e Sasuke estão temerosos de ficar perto de Gaara e, de certa forma, eu também estou. Me pergunto se será seguro e se ele irá querer voltar comigo. E se ele quiser desistir da missão? Essa pergunta faz meu coração acelerar ainda mais. Não tinha percebido até esse momento que o que está me fazendo ter coragem de continuar nessa missão é o fato de que estamos os quatro juntos. Apesar das dificuldades que podemos enfrentar, tenho três pessoas nas quais posso me apoiar e acredito que possa confiar em tudo relacionado à missão. Afinal, essa missão é quase exclusivamente por minha causa e eles não tinham obrigação nenhuma de me acompanhar mesmo sendo um pedido do Hokage, mas cá estão eles, me acompanhando. Se um deles desistir, não sei se terei forças para continuar. Estou morrendo medo e esses três são as únicas coisas que estão me fazendo ir em frente. Por favor, não desista, peço mentalmente, esperando que Gaara escute meus pensamentos. 

Será que Kakashi estava ciente das dificuldades desta missão quando nos colocou como um grupo? Sim, com certeza. Então me pergunto qual seria o objetivo dele ao fazer isso. Olho a areia aos meus pés e lembro do momento em que aquelas pessoas nos atacaram e do momento em que aqueles dois pereceram aos pés de Gaara. Eu vi a expressão em seu rosto, a sede de sangue, o desejo quase palpável de matar. Pude sentir sua raiva, seu ódio, envolvendo-me como gavinhas e quase me sufocando. Ele estava insano, parecia tão machucado por dentro quanto eu estive todos esses anos. “O menino que foi destruído antes mesmo de seu nascimento”. As palavras de minha mãe sobre Gaara invadem meus pensamentos. Ela costumava falar isso todas as vezes em que ele passava na nossa frente ou sempre que o assunto era ele, eu nunca entendia o que ela queria dizer, mas agora entendo e odeio entender porque me faz sentir coisas que eu não consigo e não quero explicar. “Um dia ele vai precisar de ajuda”, a voz de minha mãe invade meus pensamentos pela segunda vez. “Me pergunto se terá alguém lá para ajudá-lo”. Fecho meus olhos com força.

— Droga, mãe — digo baixinho. — Por que meu coração tem que ser tão sensível quanto o seu?

Seguindo a trilha deixada por Gaara acabo chegando a um lugar bem bonito. As árvores se abrem dando lugar a uma linda cachoeira com um lago bem aos seus pés. Ao redor deste lago tem algumas pedras e é na mais alta que encontro Gaara. Ele estaria completamente escondido pelas sombras que as árvores projetam se não fosse por seus cabelos ruivos que chamam atenção de longe. Ele encara a cachoeira como se ali tivesse algo muito interessante. Parece bem mais calmo. Me pergunto no que ele deve estar pensando, mas não sei se iria gostar da resposta. Ficar sozinha com ele em um lugar tão isolado me causa arrepios, mas digo a mim mesma para acalmar meu coração, pois nervosismo não vai me ajudar em nada e também não é como se ele fosse me matar, não é?!

— Quem está aí? 

A voz de Gaara me pega de surpresa, tirando-me de meus pensamentos. Olho para ele e vejo que nem se deu o trabalho de virar o rosto para ver se realmente tinha alguém aqui. Ele simplesmente sentiu minha presença. Como qualquer shinobi sentiria, sua imbecil, digo a mim mesma, na tentativa de acalmar meu pobre coração. Sinto os pelos de minha nuca se arrepiarem. Limpo a garganta e começo a andar na direção dele. 

— Sou eu — digo, parando a alguns metros de distância dele. 

Gaara não vira a cabeça para me olhar e nem move um músculo, ele apenas me observa pelo canto do olho.

— O que você quer? — pergunta da maneira mais hostil possível. 

É uma boa pergunta. O que eu quero? O que eu realmente queria vindo até aqui? Não sei o que responder, nem sei se realmente há uma resposta para a pergunta dele. 

— Não sei — digo, sincera, encarando meu reflexo na água.

— Por que está aqui, Akemi? 

Escuto sua voz mais perto e viro a cabeça para olhar em sua direção novamente. Gaara agora está de pé na minha frente, seu rosto tão próximo do meu que posso sentir sua respiração e o cheiro de sangue. Nossos olhares se encontram e eu vejo seu rosto respingado do sangue do homem desconhecido, dou um passo para trás, um pouco assustada. Meu coração volta a bater descompassadamente e me xingo mentalmente por isso. 

— Para me certificar de que você está bem, talvez — digo a primeira coisa que me vem à mente para responder sua pergunta.

Ele inclina a cabeça para o lado e me observa por um instante. Diante de seu olhar me sinto um pouco exposta demais e começo a cogitar a possibilidade de voltar para o lugar de onde vim. Junto de Sasuke e Sayuri que vivem na eminencia de matar um ao outro parece bem mais seguro do que aqui com Gaara. 

— Você não precisa fingir que se importa comigo — ele diz, dando-me as costas. — Sei que você só está preocupada com a missão. Não se preocupe, eu não vou simplesmente abandoná-la, mas não vou continuar agora. Amanhã conversamos. Vá embora.

Ele começa a andar para longe de mim, mas o faço parar no meio do caminho quando seguro sua mão. É um movimento que pega nós dois de surpresa. Que merda você pensa que está fazendo? Não faço a menor ideia, bom-senso. Provavelmente não estou no meu juízo perfeito.

Quando nossas mãos se encontram sinto que sua pele está fria e seus dedos tremem. Sei que ele não está com frio, pois a noite está incrivelmente quente, então imagino que ele está assim por causa do que aconteceu ainda a pouco. Sinto meu coração se partir um pouco mais dentro do meu peito.

Aperto seus dedos gentilmente em minhas mãos para que ele pare de tremer. Gaara vira de frente para mim novamente, mas não tira a mão da minha como eu esperava que fizesse, isso me surpreende. Um vento começa a soprar, bagunçando meus cabelos, e tento colocar um sorriso no rosto, criando coragem para falar as palavras que querem sair da minha boca. Que eu não me arrependa disso, por favor.  

— Eu sei que as coisas entre nós dois são complicadas por causa de tudo o que aconteceu — digo, me sentindo um pouco culpada por estar cedendo desse jeito. Ele me olha atentamente. — Mas eu não estou aqui fingindo que me importo com você. Você me salvou daquele homem, mas o que você teve que fazer me deixou realmente preocupada e... — ele me interrompe. 

— Akemi, por favor, vá embora — ele separa nossas mãos. — Eu sei o quanto você me odeia e sei que para você estar aqui, dizendo essas palavras, deve ser mais do que você pode suportar. Não quero isso. Nunca quis. Então vá embora, por favor. Não quero acabar machucando você também. 

Abro a boca para dizer alguma coisa, mas nada sai. Vamos, diga alguma coisa!  Nada me vem à mente e isso me desespera. Diz qualquer coisa, Akemi! Apesar do que ele fez, ele ainda é um ser humano como você. “Um dia ele vai precisar de ajuda. Me pergunto se alguém estará lá para ajudá-lo”. EU ESTOU AQUI, MÃE! Quero gritar, mas parece que minha língua está derretendo dentro da minha boca, pois eu simplesmente não posso me sentir assim em relação à ele. Seria trair minha família, apagar sua memória, aceitar o que aconteceu. E eu não estou preparada para isso.

Mas também não estou preparada para vê-lo sofrer sozinho desse jeito.

Abaixo a cabeça e sinto meus olhos queimarem com as lágrimas que se acumulam. É só isso que eu vou fazer agora? Chorar? Não foi só isso que eu fiz a vida inteira? Não, agora tem que ser diferente. Já chega disso.

— Eu não estou com medo de você! — digo, quase gritando. Minha voz vacila um pouco. Gaara abaixa a cabeça.

Dou alguns passos na sua direção, contornando-o até ficar de frente para ele, e seguro seu rosto sujo de sangue com minhas mãos. Não me importo mais com nada, eu só preciso falar o que está preso na minha garganta antes que eu perca a coragem. Nos encaramos mais uma vez e posso ver tristeza e solidão em seus olhos.

— Gaara — digo seu nome da forma mais gentil que consigo. —, eu não faço a menor ideia do que estou fazendo, mas depois do que eu vi não posso simplesmente me sentar, ficar de braços cruzados e fingir que nada aconteceu. Me deixa cuidar de você.

Seus olhos se arregalam um pouco e me pergunto se isso foi a coisa certa a se dizer. Será que estou passando dos limites impostos por mim mesma? Sim, é bem provável que eu esteja bem longe desses limites. Porém, pela primeira vez, não me importo.

A resposta de Gaara para o que eu disse é apenas um balançar de cabeça. Ele assente, concordando, e sinto meu coração se aquecer diante desse gesto tão simples. Tiro as mãos de seu rosto e as levo até o colete cinza que ele usa por cima de sua roupa e que serve para segurar a cabaça de areia em suas costas. No momento em que começo a abri-lo, Gaara se retesa e se afasta de mim como se eu tivesse lhe dado um choque. Este movimento repentino me faz contrair as mãos e sinto minhas bochechas corarem. O que você está fazendo, sua maluca? Tentando cuidar dele como eu disse. Arrancando a roupa dele desse jeito? Ah, fica quieta consciência! Será que ele pensa que ao tirar a sua roupa eu estou procurando algo com segundas intenções? Sinto vontade de bater em minha própria cara. O que estava passando pela minha cabeça? Tirar a roupa dele assim, sem mais nem menos? Diante da expressão de espanto e confusão dele, abaixo a cabeça, envergonhada. 

— Desculpe — digo, olhando para os meus pés. — Eu não queria te assustar. Acho que é melhor eu voltar. Vá nos encontrar quando você se sentir pronto. Desculpe. 

Me sinto tão mal comigo mesma que viro de costas para ele e começo a me afastar o mais rápido que posso. Neste exato momento eu só quero poder me trancar em algum lugar e me enterrar de vergonhar. Mas sou impedida de continuar meu caminho quando sinto Gaara segurar meu pulso, fazendo-me parar.

— Espere — ele diz. Viro de frente para ele. — Sou eu quem deve se desculpar. Não queria constranger você. Fique.

— Err — coço minha nuca, sem jeito. — Eu não quero que você se assuste — olho em seus olhos. — Juro que não vou fazer nada demais.

Ele assente e volto a fazer o que eu estava fazendo: tirar seu colete. Quando já está sem essa parte de sua roupa, ele coloca a cabaça de areia e o colete encostados em uma pedra e depois volta novamente para a minha frente. Quando começo a abri o zíper de seu casaco vermelho, sinto que ele está me encarando, mas me sinto envergonhada demais para devolver o olhar. Assim que eu termino com o zíper, ajudo-o a tirar o casaco, passando por seu ombro e depois tirando por seus braços. Minhas mãos ficam espalmadas em seu peito nu e me surpreendo com o que vejo. Ele não é tão musculoso como Neji ou Naruto, mas ainda assim tem músculos definidos. Porém, o que me chama atenção é o curativo em seu peito nu. É um tanto quanto estranho ver essa marca em seu corpo já que a areia sempre o protegeu de qualquer tipo de ataque que pudesse lhe causar ferimento. Resolvo não mexer no curativo.

Passam-se alguns segundos até Gaara entender o que eu quero fazer e ele não se opõe. Eu me viro de costas para que ele possa tirar a calça e as sandálias ninja. Escuto quando Gaara entra no lago à nossa frente, quando me viro de frente, me surpreendo ao vê-lo parado na margem do lago, com um olhar cheio de expectativa. Caminho lentamente até ele e me agacho em sua frente, sentando-me sobre minhas pernas.

Junto minhas mãos em um formato de concha, encho-as de água e jogo gentilmente sobre a cabeça de Gaara. A água escorre pelo rosto dele, mas nem mesmo isso o faz tirar os olhos do meu rosto. Tento me concentrar no que estou fazendo, pois não quero acabar corando mais uma vez. Passo os dedos pelos fios ruivos de seu cabelo, tirando-o da frente de seu rosto e colocando tudo para trás. Depois que seu cabelo já está completamente molhado, vou para o rosto. O sangue já está secando, então tenho que fazer um pouco de força para tirar. Mas Gaara coopera comigo e levanta a cabeça para que eu consiga usar meus dedos em suas bochechas de forma eficiente. Esfrego nas partes sujas e aos poucos seu rosto vai ficando limpo.

Em um certo momento, ele segura minha mão em seu rosto e fecha os olhos. Observo ele se entregar ao meu toque de uma forma tão reverente que sinto um frio na barriga e uma vontade muito forte de chorar. Subitamente, o rosto de Neji aparece em minha mente e isso faz eu tirar a mão do rosto de Gaara de uma forma um pouco brusca, ele não se surpreende, apenas abre os olhos para me encarar. 

— Desculpe, minhas pernas estavam começando a doer — digo, inventando uma desculpa. Sento-me na posição de lótus. — Então, como você está se sentindo? Melhor? 

— Limpo — ele diz, passando as mãos nos cabelos. Solta um suspiro e volta a me encarar. — Por que você não entrar aqui também? 

— Entrar aí? — pergunto. Não fique nervosa! — Acho melhor não. A água está fria e... 

— Akemi, a água está ótima — ele diz, percebendo minha tentiva de arranjar uma desculpa. — Se você não vier por livre e espontânea vontade, eu vou te fazer vir. 

Nós ficamos nos encarando por um longo tempo até que ele se afasta e mergulha. No primeiro momento eu continuo sentada, esperando para ver como ele vai tentar me fazer entrar. No segundo momento começo a ficar preocupada. Ele continua submerso e não sei por quanto tempo ele consegue prender a respiração já que nasceu e cresceu na Vila da Areia onde não tem nem uma piscina para treinar mergulho. No terceiro momento me vejo tirando minhas roupas e ficando só de calcinha e sutiã. Vergonha? Deixei em algum lugar bem distante da minha mente. E se ele se afagou? Coloco meus pés dentro d’água e começo a gritar seu nome. Ele continua submerso.

Quando a água já está batendo acima de meus seios, começo a tatear embaixo de mim para ver se encontro um Gaara desacordado, mas não acho nada. Franzo o cenho. Ah, caramba, será que ele afundou muito? Mergulho e tento procura-lo, mas não consigo segurar minha respiração por muito tempo e logo tenho que voltar à superfície em busca de ar. É no momento em que coloco a cabeça para fora da água que o encontro. Ele está de volta à margem e me encara com um ar divertido. 

— Isso não foi nem um pouco engraçado! — digo, tirando meu cabelo molhado da frente do meu rosto. — Eu pensei que você tinha se afogado. 

— Por quê? — ele pergunta, curioso. — Só porque eu moro no meio de um deserto você achou que eu não sei nadar? 

— Bem, sim — digo. 

— Eu sei nadar — ele diz, vindo até mim. — E fiz você entrar na água, como eu disse. 

— Que bom, parabéns — digo, com raiva. — Mas nós realmente precisamos voltar. Deixei Sayuri e Sasuke sozinhos e sabe deus do que aqueles dois são capazes de fazer quando se estressam um com o outro. 

Vou até a margem, apoio minhas mãos na grama e impulsiono meu corpo para cima. Saio do lago e percebo que Gaara está me encarando um pouco mais intensamente do que ele estava fazendo minutos atrás. No inicio não entendo o porquê disso até seguir seu olhar e ver o que ele está olhando. Eu ainda estou usando apenas sutiã e calcinha.

Ah, meu deus.

Meu rosto cora instantaneamente. Gaara percebe meu desconforto e desvia o olhar do meu corpo. 

— Quer ajuda para sair daí? — pergunto, indo até ele e estendendo a mão. Ele já deve ter visto milhões de garotas nessas vestes, certo? Quer dizer, ele é o filho do Kazekage, deve fazer o maior sucesso na Vila da Areia. Então está tudo bem. Nenhum de nós dois somos puritanos. 

Gaara estende a mão e segura a minha. Eu o ajudo a sair do lago e felizmente ele está usando uma cueca. Não me prendo muito aos detalhes do que ele está usando, pois quando ele fica de pé na minha frente, acabo pisando em uma parte cheia de limo e vou ao chão. Para o meu azar, acabo puxando Gaara junto comigo. Ele cai em cima de mim. Nossos corpos se chocam no chão e, como eu fiquei embaixo, acabo batendo as costas no chão. Solto um arquejo de dor, mas logo fecho a boca quando vejo a proximidade em que o Gaara se encontra. Segundos depois que o susto passa ele também percebe a situação na qual nos encontramos. 

A posição em que estamos é um tanto quanto desconfortável e constrangedora. Uma das pernas dele foi parar entre as minhas e uma minha foi parar entre as dele. Será que isso pode piorar?, penso. Mal eu sabia que sim, podia piorar.

Uma parte de mim me dizia para ficar quieta, esperar ele se levantar e aí poderíamos seguir nossas vidas normalmente. Mas a outra parte já estava começando a entrar em pânico com toda essa proximidade. A culpa é sua. Toda sua, Akemi. Se você tivesse ficado quieta lá com o Sasuke e a Sayuri, nada disso estaria acontecendo agora.  Fica quieta consciência. Eu definitivamente não preciso de você agora.

Acabo não esperando Gaara decidir se levantar, eu simplesmente começo atentar sair debaixo dele o mais rápido que posso.

— Espera, Akemi... — ele tenta dizer, mas é interrompido no momento em que eu bato no braço que o está mantendo apoiado no chão. 

As coisas acontecem tão rápido que nem tenho tempo de me esquivar. Em um momento sua cabeça está pairando sobre a minha e no outro seus lábios estão colados aos meus. Nossos olhos nem sequer se fecham com tamanha surpresa. Ficamos nos encarando com os olhos arregalados enquanto nossas bocas estão petrificadas uma na outra. Sem pensar duas vezes, uso toda a força que consigo encontrar para tirar Gaara de cima de mim. Ele cai para o lado e eu me levanto rapidamente. 

— Droga, droga, droga — repito baixinho. — Isso não podia ter acontecido.

Começo a pegar minhas roupas do chão, porém nem sei mais o que estou fazendo. Estou completamente atordoada e com um milhão de sentimentos me invadindo de uma vez só. Será que eu deveria voltar para onde Sasuke e Sayuri estão? Ou será que eu deveria ir para um lugar mais afastado onde eu não pudesse ter nenhum tipo de contato com o Gaara? A segunda opção me parece mais segura. Olho para minhas mãos e vejo que estão tremendo, mas segundos depois percebo que meu corpo inteiro está tremendo. Nem pense em desmaiar aqui, Akemi, digo a mim mesma. Pego minhas roupas e começo a me afastar, mas sou impedida de continuar quando Gaara segura meu braço de uma forma firme. Ele me faz virar de frente para ele.

— Me solta — digo, tentando me soltar, mas a pegada dele é mais forte do que eu esperava.

— Espera, Akemi. Você não pode voltar assim para lá — ele me puxa para perto de si. Seu corpo está quente, diferente do meu que está tão gelado quanto um cadáver. 

— Eu vou me vestindo no caminho. Me solta — faço um pouco mais de esforço, mas ainda assim ele não solta. 

— Eu não estava falando das roupas — agora uma mão está no meu braço e a outra está na minha cintura.

— O que você está fazendo? — pergunto, visivelmente entrando em desespero. — Me solta, Gaara, ou eu juro que eu vou... 

— Você está tendo um ataque de pânico — ele diz o óbvio. — Precisa controlar sua respiração.

— Me deixa em paz. 

Minha voz falha e um nó começa a se formar em minha garganta. Ele não pode fazer isso. Não pode me segurar assim como se fossemos dois amantes, não pode simplesmente me tratar como se eu fosse a coisa preciosa do mundo. Ele não pode ser assim, preocupado, observador, acolhedor, reconfortante... Estar nos braços dele seminua em um lugar como esse é completamente fora de lógica. Não, não, não! Passei tantos anos odiando para tudo sumir agora? Não! Isso é completamente impossível. Não sei o que estava passando pela minha cabeça quando eu vim toda solícita até ele, mas agora isso agora. Não acontecerá nunca mais.

Deixo minhas roupas caírem no chão e começo a bate em seu peito com meus punhos. Ele não diz nada, apenas recebe minhas agressões com a expressão mais calma do mundo. NÃO! Diga alguma coisa, seja o cara que eu venho odiando todos esses anos. Seja o cara que me destruiu e não esse ser humano no qual eu quero me jogar nos braços e esquecer todas as minhas aflições. Por que eu vim aqui? Por que eu tinha que ser tão estúpida? Droga, Akemi! Se você não fosse tão idota nada disso estaria acontecendo. 

Continuo batendo em Gaara e ele continua sem dizer uma palavra. Em alguma hora minhas agressões começam a perder força e é neste momento que eu sinto a mão que Gaara mantinha em meu braço ir até a minha nuca. Ele segura a parte de trás da minha cabeça gentilmente em sua mão, seus dedos se misturando aos meus cabelos úmidos. Com uma mão em minha cintura e outra em minha cabeça ele continua me mantendo parada. Ele me segura de uma maneira tão firme em seus braços que simplesmente não consigo mais lutar para me afastar. Levanto minha cabeça e é nesse momento em que todos os muros que levei anos para construir ao redor do meu coração desmoronam — pela milésima vez.

Gaara aproxima o rosto do meu e nossos lábios se encostam uma segunda vez. Deixo minhas roupas caírem no chão. Dessa vez estamos sem expressões de susto ou olhos abertos. Nossas bocas estão fechadas, mas no momento em que se abrem sinto que se ele não estivesse me segurando eu teria ido ao chão. Com nossos corpos tão colados minhas mãos ficam espalmadas em seu peito e posso sentir as batidas de seu coração em meus dedos. Não está acelerado como o meu, pelo contrário, está muito calmo. É como se... É como se ele já estivesse esperando por esse momento.

Sinto lágrimas rolarem por minhas bochechas. O beijo se aprofunda, nossas línguas se encontram. Ele me segura de uma tal forma como se eu fosse evaporar caso ele me soltasse. Sinto que Gaara está tremendo. Assim como eu, ele também está com medo e com mais um milhão de emoções, mas sempre foi melhor em escondê-las do que eu.

No momento em que a falta de ar se faz presente, separamos nossos lábios. Gaara me abraça, me envolvendo com todo seu corpo. Isso me pega de surpresa. Apesar de ser menor que ele, neste momento Gaara parece ser bem mais frágil que eu. Descanso minha cabeça em seu ombro simplesmente porque não tenho forças para fazer nada além disso. As lágrimas continuam escorrendo por minhas bochechas ininterruptas e o corpo de Gaara treme tanto que eu poderia imaginar que ele está chorando também, mas sei que não está.

Entre Gaara e eu existe uma linha tênue chamada “distância segura”. Enquanto estávamos atrás dessa linha, nossas vidas não eram nada além do normal, como o nome sugeria, nós estávamos seguros. No momento em que resolvemos cruzá-la, rompemos o equilíbrio natural das coisas, acabamos com o pouco de paz que ainda tínhamos dentro de nós mesmos. 

Um vento frio sopra ao nosso redor no momento em que nossos corpos se separam. Parece condizer com o vazio que sinto dentro de mim. Em silêncio nós pegamos nossas coisas do chão e nos vestimos, movimentos mecânicos que só fazemos porque não podemos andar de roupas intimas por aí. Passo meus dedos por meus cabelos na tentativa de tirar os nós, coloco minha bandana e começo a caminhar para longe de Gaara. Sinto seu olhar em minhas costas, mas continuo andando como se eu não estivesse sentindo nada. No momento em que volto para a segurança das árvores, sinto meu peito começar a doer. De tristeza. Eu me encosto em um tronco e deslizo até o chão. Trago meus joelhos até meu peito e escondo minha cabeça neles enquanto começo a chorar de verdade agora. Eu sabia que ele me machucaria de novo, só não imaginava que seria de uma forma ainda mais dolorosa.

—x—

Quando eu volto, para minha surpresa, Sayuri e Sasuke fizeram o que eu pedi e se mantiveram distantes um do outro por todo o tempo em que eu estive fora. Sayuri é a primeira a notar a minha presença assim que chego. Ela vem até mim e repara em meu cabelo molhado. Ergue uma sobrancelha e pergunta se está tudo bem. Tento inventar uma desculpa qualquer, mas ela não parece ficar muito convencida de de que seja verdade. Não me importo muito, pois não estou com cabeça para isso. Sasuke dá o ar da graça segundos depois.

— Já estava começando a pensar que Gaara tinha matado você — ele diz assim que seus pés tocam o chão. 

— Não foi fácil achá-lo — digo, passando direto pelo Uchiha. 

— Falando no diabo, cadê ele? — Sayuri pergunta, olhando ao redor.

— Estou aqui. 

A voz de Gaara é ouvida por nós três e sou a única que não vira na direção dele. Tento me concentrar no que estou prestes a fazer, não posso olhar para ele, simplesmente não posso. Escolho um lugar com espaço suficiente para executar meu jutsu, porém, antes que eu consiga começar a fazer meus sinais de mão sinto alguém se aproximando de mim. Pelo canto do olho posso ver que é Sasuke. 

— O que você está fazendo? — ele pergunta, me olhando com curiosidade. 

— É aqui que vamos passar a noite — digo. 

— Como é? — Sayuri para ao meu lado esquerdo. Ela da uma boa olhada no espaço aberto à minha frente e ergue uma sobrancelha. — Olha, não quero reclamar, Akemi, mas já reclamando, se você quiser acampar devíamos ir atrás de uma caverna ou algo do tipo, como não temos barracas, ficar à assim, a céu aberto, pode ser perigoso. 

— Eu acho que você se esqueceu de quem é líder dessa missão, Sayuri — digo. Não quero descontar nela a raiva que estou sentindo de mim mesma, mas não consigo evitar. Sayuri me lança um olhar de "caramba, o que eu te fiz?", porém eu a ignoro. — Muito bem, vocês dois, se afastem. 

Sem discutir, Sayuri e Sasuke dão alguns passos para trás. Quando percebo que posso começar, faço meus sinais de mão. Sinto meus companheiros me observando com cuidado. Assim que termino os sinais, digo: 

— Estilo madeira: Justsu Casa de Quatro Pilares. 

Em menos de um segundo, vários pedaços de madeira rasgam o chão. Eles crescem e se entrelaçam bem na nossa frente. Lascas de madeira voam para todos os lados, fazendo os três atrás de mim colocarem os braços na frente para protegerem os rostos. Eu não faço isso, pois já estou mais do que acostumada com meu próprio jutsu. O chão sob nossos pés tremem e assim que encontro uma oportunidade subo em um dos pedaços de madeira que saem do chão. Quando tudo se acalma, estou olhando de quase dois metros e meio do chão para meus companheiros. Fiz uma casa para nós quatro. Uma casa bem aconchegante considerando que não tem nenhuma mobília por dentro. Tem dois andares e o símbolo da Vila da Folha bem acima da porta tripla. Sayuri é a primeira a levantar o rosto e me enxergar sentada no telhado da casa. Sua boca forma um perfeito “O”. Depois dela, meus olhos encontram o de Sasuke, ele não parece tão surpreso quanto ela, mas ainda assim sei que não esperava que eu fizesse algo assim. Não faço contato visual com Gaara simplesmente porque obrigo meus olhos a não olharem na direção dele. 

Pulo do telhado e caio de pé no chão. Abro a porta e nós quatro entramos. Nada dentro da casa me impressiona. Desde os meus dez anos treino jutsus como esse e sei cada detalhe das coisas que posso fazer. Porém, Sayuri parece bem impressionada. Ela olha o lugar com certa admiração. Não posso deixar de me sentir orgulhosa de mim mesma. Apoio-me no corrimão da escada e olho para meus companheiros. 

— Então, é aqui que vamos passar a noite — digo. 

— Incrivel, Akemi — Sayuri me encara. — Desconfiei que você fosse capaz de usar o estilo madeira na luta que tivemos com aqueles bandidos, mas não imaginava que você conseguia fazer algo assim.

— Você ainda não viu nada — digo, baixinho, mas acredito que ela me escuta. 

— Você tem o mesmo kekkei genkai do Hashirama, não é? — Sayuri pergunta, encostando os dedos na madeira.

— Sim — respondo, olhando ao redor. — Eu sou bisneta dele. Herdei o poder por causa da minha mãe. Ela também tinha o Mokuton. 

— Tenho uma amiga famosa! — Sayuri passa um braço por meus ombros e me arrasta escada acima, tagarelando. 

Lá em cima, nós nos juntamos dentro de uma sala e sentamos em posição de lótus, um ao lado do outro. Sayuri tenta sentar há quilômetros de distância de Sasuke e eu tento fazer a mesma coisa em relação a Gaara. Então ficamos assim: Gaara, Sayuri, eu e Sasuke, formamos um circulo. Nós tiramos tudo o que trouxemos comestível de dentro das nossas mochilas e não posso deixar de reparar que Gaara não tira nada de sua mochila simplesmente porque não trouxe nenhuma. Ele observa em silêncio nós três colocando o que trouxemos no centro da nossa roda. Imagino que ele não vai pedir nada, mas não negaria se alguém oferecesse. Em um certo momento, Sayuri vira-se para ele. Ela não parece ter percebido que ele não trouxe nada para comer, então apenas pousa seus olhos no casaco vermelho dele. 

— Você devia dar uma olhada nesse machucado, Gaara — ela aponta com o dedo para o peito dele. — Parece que está sangrando. 

Ele dá de ombros. Fico olhando para o ponto vermelho em sua roupa. Você é a líder dessa missão, é responsável por esses três. Vá cuidar dele!, minha consciência pode ser um saco de vez em quando.

Levanto-me, chamando atenção de meus companheiros, e dou dois passos até Gaara. Me agacho na frente dele e nos encaramos pela primeira vez depois do que aconteceu. 

— Deixa eu dar uma olhada nisso — digo, me sentando ao seu lado. 

Gaara me analisa por um momento, parece estar tentando descobrir se estou falando sério ou não. Quando se sente seguro de que eu não podia estar falando mais sério, ele balança a cabeça, concordando. Tiro de minha mochila o kit de primeiros socorros que sempre carrego comigo em caso de emergência.

Por ser sobrinha de Tsunade, aprendi algumas coisa sobre cuidados médicos quando passava meu tempo com ela.  Gaara tira o casaco vermelho, o deixa em sua cintura e expõe seu dorso. O machucado dele ainda é sério e precisa de repouso para que cure de fato. Estar em uma missão era tudo o que ele menos precisava. De qualquer forma, faço o que tenho que fazer. Digo a ele que terei que remover os pontos que abriram e precisarei colocar outros. Ele não se opõe e fica calado durante o processo inteiro, me surpreendo com o fato de que ele não faz nenhuma cara de dor ainda que eu não esteja usando nenhuma anestesia. Assim que termino o curativo, me afasto dele rapidamente, colocando algumas coisas de volta na bolsa. 

— Pronto — digo. — Você precisa tentar não ficar levantando muito os braços ou fazendo esforços desnecessários. 

— Alguns dos meus jutsus me obrigam a usar os braços — ele diz. Nós nos encaramos. 

— Então só use esses seus jutsus quando for realmente necessário. E... você pode dividir a comida que eu trouxe comigo — Gaara se surpreende com o que eu digo. — Como meu pai sempre dizia: saco vazio não para em pé.

Nós quatro comemos nossas comidas em silêncio e logo depois começamos a dividir os lugares onde vamos dormir. A casa que eu fiz é grande, mas não é cheia de cômodos, então vamos ter que dividir esse em que estamos. Sasuke vai se deitar perto da janela, Sayuri fica na parede direita, Gaara na parede esquerda e eu me vejo obrigada a ficar perto da porta. Nós quatro não trocamos nenhuma palavra e penso que essa missão não tinha como ficar pior. Nós nos deitamos, absortos em nossos próprios pensamentos. O quarto fica completamente em silêncio. Viro-me de costas, pronta para pegar no sono.

       Como de costume, tenho pesadelos durante a noite, mas felizmente não faço nenhum ruído que possa entregar minha mente desperta aos meus companheiros de equipe. De manhã, acordo com alguém me cutucando. Resmungo algumas coisas antes de abrir os olhos e dar de cara com o rosto de Gaara em cima de mim. Inconscientemente eu tento me afastar dele o mais rápido possível ao sentar e me encostar à parede. Ele me observa como costuma fazer, com a cabeça inclinada para o lado e cheio de curiosidade. Limpo a garganta e desvio o olhar do dele. Quando ele está perto de mim fica difícil até respirar.

Olho ao redor da sala e vejo que só estamos nós dois no quarto. Aparentemente fui a última a acordar, mas ainda assim acho estranho estarmos só nós dois aqui. 

— Onde está Sayuri e Sasuke? — pergunto, ficando de pé e recolhendo minhas coisas do chão. 

— A Sayuri sumiu — Gaara responde como se fosse a coisa mais normal do mundo. Arregalo os olhos. — O Sasuke está lá fora procurando por ela. 


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