The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 10
Gaara: partindo em direção à Vila dos Artesãos.




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Depois que Sayuri saiu do quarto, me deixando sozinho com Akemi, eu não sabia o que fazer. Ir até ela ou ficar na minha cama? Tentar conversar ou continuar calado? Ir pegar umas flores e esperar ela acorda para fazer uma surpresa ou fingir que estou dormindo e não incomodar? Eu não tenho uma resposta, porém de uma coisa eu sei: estou morrendo de medo de acabar me descontrolando perto dela. Às vezes não consigo controlar minha raiva, como aconteceu hoje, e acabo machucando quem quer esteja na minha frente. Não quero acabar fazendo isso com ela.

Faço um esforço e me sento na cama. Levo uma mão ao meu peito e sinto o curativo no lugar onde Sayuri me atingiu. Ainda que esteja cheio de raiva do que aconteceu, sei que mereci. À minha frente, Akemi resmunga alguma coisa e muda de posição na cama. Sinto algum tipo de força invisível me puxando para ela quase que imediatamente. E, ignorando os avisos da menina de cabelo rosa para que eu não seja todo esquisitão, levanto da cama. Quase tropeço nos meus próprios pés, mas consigo manter o equilíbrio. Devagar, vou até a cama de Akemi.

Seu rosto entra em meu campo de visão e não posso deixar de ficar fascinado com o que vejo. Ela está tão linda. Seu rosto está tomado por uma paz que anseio experimentar algum dia. Queria poder deitar ao lado dela, abraçá-la e pegar no sono. Mas seria impossível. Primeiro porque ela nem sequer me deixa tocá-la conscientemente e segundo porque simplesmente não posso dormir. Minha vida tem sido cheia de muitas coisas e a insônia é uma delas. Não posso fechar os olhos sem correr o risco do Shukaku destruir minha mente. Mas posso observar enquanto Akemi tem seu sono tranquilo. Chego mais um pouco perto dela e ergo um braço, colocando uma de minhas mãos perto de seu rosto. Com meus dedos, tiro uns fios de seu cabelo da frente de seu rosto e acaricio sua bochecha com a maior delicadeza que posso para não acordá-la e acabar a assustando. Sinto vontade me inclinar e depositar um beijo em seus lábios, mas não tenho coragem. E não sei se um dia terei.

Akemi se mexe um pouco na cama. Acho que ela pensa que tem algum mosquito em seu rosto e leva sua mão até lá para afastá-lo, com isso nossos dedos se encostam e eu seguro os dela por um tempo. Quem nos visse assim pensaria que somos bons amigos apoiando um ao outro dentro do hospital, mas no fundo nós dois saberíamos a verdade. Eu destruí a vida dela oito anos atrás e não espero que um dia ela me perdoe por isso.

Mas você quer ficar perto dela, escuto uma voz em minha mente falar. Sim, mas vou respeitar se ela não me quiser por perto, respondo para a voz. Ela não o quer por perto, já deixou isso bem claro. Você está respeitando isso agora?, a voz rebate. Cala a boca, digo.

Não, eu não estou respeitando, mas não faço isso de propósito. Eu simplesmente não consigo ficar longe dela. Não mais. E depois do que ela fez por mim ainda a pouco, me segurando para que eu não caísse no chão, algo dentro de mim voltou a se encher de esperanças.

Você sabe que não tem nenhuma chance com ela. Ela é bonita, inteligente e está se tornando uma mulher incrível, a voz aparece de novo. Mas nós fomos amigos uma vez. Isso pode voltar a acontecer, respondo, determinado. Pare de se iludir, Gaara. Aceite de uma vez por todas que você não passa de esquisitão que ninguém consegue nem ficar perto sem ter de medo de ser morto, dessa vez a voz toca em uma parte sensível e tiro a mão do rosto de Akemi. Ela me aceitou uma vez do jeito que eu era, vai me aceitar de novo, digo. Isso foi antes de você acabar com a vida dela. Agora ela te despreza, te acha um monstro. E ela nunca seria capaz de amar um monstro como você, Gaara. Aceite que seu destino é sozinho.

Não, não, não! Levo minhas mãos à minha cabeça, tentando silenciar a voz que insiste em me magoar. Meu destino não é sozinho, não pode ser! Akemi me enxergou uma vez, viu algo em mim que ninguém mais via, nem eu mesmo. Ela voltará a ver, eu acredito nisso.

Você é um monstro, Gaara. Vai mata-la na primeira oportunidade, a voz está presente novamente. EU NUNCA FARIA ISSO COM ELA, grito em minha própria mente. Faria sim. É claro que faria. Quando a sede de sangue vier você acha que poupará a vida dela só porque ela tem um rosto bonito? Você vai abri-la com suas próprias mãos, sentirá o sangue dela escorrendo por seus dedos enquanto os olhos dela te encaram com pavor. Você será a ruína dessa menina, Gaara. Porque você é assim, quebra tudo o que toca. Você é defeituoso, um monstro no sentido mais puro da palavra...

— NÃO! — grito.

Não percebo que Akemi acabou acordando com a minha comoção ao seu lado e está de pé, perto de mim, olhando para um Gaara beirando a loucura agachado no chão. Eu só percebo a presença dela quando me lanço em sua direção, empurrando-a contra a parede e fazendo-a bater as costas ali. Akemi solta um arquejo de dor com o impacto e é nesse momento que eu percebo que estou a segurando pelos braços com mais força que o necessário e que estou machucando-a de novo. Ela me encara com os olhos arregalados. Solto seus braços e tento encontrar as palavras certas para me desculpar, mas nada sai de minha boca. Eu não sei o que dizer. Você é um monstro no sentido mais puro da palavra. É verdade. Eu não passo de um monstro e eu vou acabar machucando Akemi de uma forma bem mais grave. 

Sinto uma pontada de dor em meu peito e isso me faz cair de joelhos. Akemi vem até mim, ela não sabe o que fazer, mas se agacha para ficar no meu nível. Quando nossos olhos se encontram, eu vejo que ela ainda está com medo, mas reconheço preocupação ali também. Pare de criar esperança, garoto estupido! Ela não pode te salvar, ninguém pode!  Me afasto dela com uma velocidade incrível e isso a sobressalta. Nesse momento, meus irmãos entram no quarto e começam a me perguntar se está tudo bem, não respondo porque não está nada bem e a última coisa que quero são eles dois em cima de mim. Kankuro me ajuda a ficar de pé e eu me sento em minha cama novamente. Akemi quebra nosso contato visual e volta para sua própria cama. Temari tenta tocar em meu rosto, mas afasto sua mão com um tapa. 

— Eu não quero vocês dois aqui. Vão embora — digo, deitando-me novamente, de costas para eles. 

Escuto os dois sussurrando alguma coisa, depois passos se afastando e a porta sendo fechada. Faço movimentos circulares com meu dedo no lençol da cama e, apesar de sentir seus olhos nas minhas costas, tento não olhar mais para Akemi, afinal não nos trará bem nenhum se continuarmos com isso. Nós dois ficamos em silêncio por um bom tempo, apenas escutando o barulho de nossas respirações. Queria poder me desculpar com ela, mas não sei o que dizer e nem sei se faria algum bem dizer alguma coisa.

De vez em quando algum médico ninja vem até o quarto ver a mim ou a Akemi, todos dizem a mesma coisa: que nós estamos nos recuperando rápido e que vamos poder estar na missão no dia seguinte. Eu queria que a minha mente pudesse se recuperar rápido também, penso.

Acredito que já passa das dez horas da noite quando Akemi recebe uma visita. Eu ainda estou deitado de costas para ela, mas não preciso virar para saber quem é. Neji Hyuga. Eu escuto quando os dois se beijam e isso me causa repulsa. Sinto meu pulso ficar mais acelerado e minhas mãos começam a formigar. Na minha mente não consigo deixar de visualizar várias e várias formas de matar o Hyuga. Sinto, do fundo do meu coração, que ele morto seria um bem para a humanidade. Corrigindo, um bem para você mesmo, minha mente insiste em dizer. Tanto faz, respondo de volta. Akemi ficaria devastada, ela insiste. Quem se importa?, cerro os punhos de raiva. A voz ri. É, ninguém se importa. Mate-o então. Posso sentir que você quer isso. Você quer vê-lo morto, quer matá-lo com as próprias mãos. Pois então vá em frente. Mate-o. Afinal foi para isso que você nasceu, para trazer dor e sofrimento para as pessoas.

Seguro minha cabeça com as duas mãos. Será que essa voz nunca fica quieta? Por que ela não me deixa em paz? Sinto uma mão em meu ombro e viro de frente, assustado. 

— Ei, calma aí — é o Hyuga quem está de pé na minha frente. Ele levanta as duas mãos na altura dos ombros e me encara com uma cara de quem diz que eu sou maluco. Viro de costas novamente, já recebi muitos olhares como esse durante toda a minha vida e não preciso de mais um.

O escuto se afastando e voltando para perto da cama de Akemi. Escuto o som da respiração dela, entrecortada. Está nervosa e posso sentir o medo emanando de seu corpo, quase palpável. Eu não preciso do medo das pessoas e, definitivamente, não preciso do medo dela. Levanto da cama e, cambaleando, vou até a porta, ignorando o dois e saindo do quarto o mais rápido possível. Escuto alguém vindo atrás de mim, não sei dizer se é Akemi ou o Hyuga. Mas não me importo. Não posso ficar perto dela e se ficar perto dele vou acabar o matando. Ando cambaleando pelo hospital, segurando minha cabeça com uma mão.

Mate-o! Tento ignorar os apelos de minha mente, mas é quase que impossível. Mate-o, Gaara! Encosto-me à parede do hospital e deslizo até o chão. MATE-O, AGORA! Estou segurando agora minha cabeça com as duas mãos. Se eu matar o Hyuga estaria destruindo Akemi mais uma vez, não posso fazer isso.

Mas ela não é sua?, a voz diz e quase posso escutar uma risada perversa em suas palavras. abro os olhos, arregalados. A garota Senju, Gaara, ela diz, ela é sua, não é? Sempre foi. E o Hyuga só está atrapalhando. Se não fosse por ele, ela ainda seria sua amiga. Ela te amaria...

Sinto uma mão em meu ombro novamente e sei que é Neji. É a sua chance. Mate-o. AGORA! Escuto mais passos se aproximando no corredor. Temari e Kankuro. Com um movimento rápido eu pego o Hyuga pela gola de sua camisa e o jogo contra a parede. Ele bate as costas lá, de olhos fechados, e quando olha para mim novamente seu byakugan está ativado. Não me importo com o seu kekkei genkai. É bom que ele venha para cima com tudo o que tem porque seria uma desculpa mais do que boa para matá-lo. Minha mente se esvazia, não tenho mais espaço para Akemi ou para qualquer outra coisa, a única coisa na qual penso é em ter sangue Hyuga em minhas mãos.

Antes que ele possa me atacar, vou para cima novamente, batendo sua cabeça na parede com força. Sei que ele sente dor, mas sua expressão nem se abala. Sorrio. É melhor quando a presa se finge de durona antes de morrer. Você já era, Hyuga, penso. 

Ergo minha mão para continuar o que comecei, mas antes que eu possa fazer qualquer coisa, sou impedido por um soco. Um soco tão bem dado que teria atravessado minha defesa se eu estivesse com a minha cabaça. Sinto minha armadura de areia rachar. Vou parar no chão e levanto a cabeça para ver quem foi meu agressor. Meus olhos se arregalam quando encontram os seus. Akemi. 

— Já chega — ela diz, baixa e ameaçadoramente.

Não vejo medo em seus olhos e sim raiva. Pura raiva. Ela está com ódio de mim. Sinto minhas mãos começarem a tremer e cerro meus punhos, na tentativa de me acalmar. Akemi está ofegante como se tivesse corrido bastante para chegar aqui, mas sei que ela só está assim porque está com raiva. Seu corpo inteiro treme, seus dentes estão cerrados e ela perfura meu olhar com os seus. Akemi...

Ela caminha para mais perto de mim, vacilante no inicio, porém quanto mais a distância vai diminuindo, ela vai ficando mais confiante. Chega perto de mim, me puxa pela gola da minha roupa, obrigando-me a ficar de pé, e me encosta a parede, me segurando pelo pescoço. Ela está tão perto que posso sentir seus pés tocando na ponta dos meus. Eu não estou com medo dela, estou apenas assustado com o tamanho da força que a domina quando está com raiva. E acredito que ela nem está mostrando metade do seu potencial. Em oito anos, enquanto eu fiquei me escondendo atrás de meus medos e preso em minha própria mente, ela se tornou uma shinobi de verdade. É tão difícil olhar para ela e ver o quanto evoluiu, cresceu e seguiu em frente mesmo completamente despedaçada por dentro enquanto eu apenas continuei preso na mesma vida, com os mesmo problemas. Akemi...

— Akemi, por favor — é a voz de Kankuro. —, não faça nada imprudente.

— Fica fora disso, Kankuro! — Akemi vocifera para o meu irmão, sem nunca tirar os olhos dos meus. — Eu vou lidar com ele do meu jeito agora. 

Ela aplica um pouco mais de força em seu braço, está começando a me deixar com falta de ar, mas não me atrevo a me mexer. Ela não fala, mas posso ler tudo o que está pensando em seus olhos. Neste exato momento ela me odeia mais do que qualquer coisa ou pessoa nesse mundo. Sinto meu peito doer, não onde Sayuri me acertou, mas em lugar mais profundo. Um lugar que há muito tempo eu nem sabia mais da existência. 

— Você está aqui por um motivo — ela fala comigo agora. —, e esse motivo é ajudar a Vila da Folha, como um aliado da Areia. Você quer matar pessoas? Ótimo. Guarda essa vontade para a missão. Porque se você encostar em um fio de cabelo de mais alguma pessoa da vila, eu juro por tudo o que é mais sagrado, Gaara, eu vou te parar com as minhas próprias mãos — ela aperta mais um pouco mais meu pescoço. Deixo escapar um gemido de dor. — E eu mato você se for preciso, sem hesitar — seus olhos são como duas facas afiadas, afundando cada vez mais dentro de mim. — Passei muito tempo com medo de você, mas agora tudo o que eu consigo sentir é raiva. Então eu vou te dar um aviso: você só tem essa areia e um espírito com problemas de personalidade dentro de você, eu tenho o sangue de um clã muito poderoso correndo em minhas veias, eu tenho um kekkei genkai e... — ela chega bem próximo, posso sentir sua respiração quente em meu rosto. — eu tenho amigos tão fortes quanto eu que não hesitariam em ficar ao meu lado em uma batalha. Então, filho do Kazekage, não queira, nem sequer pense, em me ter como oponente, porque você vai se arrepender. Vai desejar estar morto. 

Ela me solta bruscamente e vai embora, sem fazer contato visual com mais ninguém. Seguro meu pescoço com uma mão e deslizo na parede até o chão. Acompanho Akemi com o olhar enquanto ela se afasta, ainda está tremendo, mas parece bem mais confiante agora. Neji me lança um último olhar, não está mais com seu byakugan, e vai atrás da namorada. Sinto o olhar de meus irmãos em cima de mim, mas não quero fazer contato visual com eles, então, quando perco Akemi de vista, olho para meus próprios pés. Uma lembrança de quando Akemi e eu éramos crianças me vem à mente, foi a primeira vez em que nos falamos.

A lua brilha alta no céu e, para a minha surpresa, está frio. Estou sentado em um balanço, vendo algumas crianças jogarem futebol. Eles parecem se divertir tanto, mas nem olham na minha direção. E eu sei bem o porquê. Aperto meu ursinho de pelúcia contra a peito. Vejo quando uma garota se aproxima do local, deve ter a minha idade, ela está usando um casaco roxo por cima de sua roupa. Seu cabelo curto e escuro está solto e balança com o vento. Na minha mente de cinco anos, ela é a garota mais bonita que eu já vi em toda a minha vida. A menina senta em um banco e começa a assistir ao jogo também, não parece notar a minha presença. 

Não presto mais atenção no jogo. A única coisa que me chama atenção é a menina sentada à minha frente e o casaco roxo dela. Penso que com certeza ela não é daqui, pois na Vila da Areia não usamos casacos e sim xales. Ela mexe nas unhas, desconfortável, como se quisesse se enturmar com as pessoas, mas não soubesse como. Sei como ela se sente, não sou bom com pessoas também. Levanto do balanço para ir falar com ela quando sou surpreendido por algo. Uma das crianças que estava jogando chuta a bola com mais força que o necessário e a bola acaba ficando presa no alto de um morro. Eles ficam discutindo para ver quem vai pegar a bola e eu faço a única coisa que me vem a mente: uso minha areia para trazer a bola para baixo. Quando o brinquedo para em minhas mãos, vou hesitante até as outras crianças, determinado a devolver a bola. Dou uma espiada na menina sentada no banco e ela não demora muito para me reconhecer. Sei que ela sabe quem eu sou, pois todos sabem. É impossível chegar à Vila da Areia e não escutar as histórias sobre mim. As outras crianças me reconhecem também e não demora muito para que comecem a fugir. Mas tento agir rápido, não quero que eles fujam.

— Por favor — minha voz está embargada. —, eu não quero mais ficar sozinho.

É quando a areia explode ao meu redor. Obedecendo diretamente a mim e agarrando duas crianças pelos pés. Antes que eu possa fazer alguma coisa contra as crianças, meu tio, Yashamaru, aparece. E, usando seu próprio corpo como escudo, impede que a minha areia vá longe demais. 

— Gaara, você não pode fazer isso! — Yashamaru diz, com um olhar assustado. — Vá para casa!

Dando as costas para mim, ele vai acompanhando quem ainda estava por ali. Até que ficamos apenas eu e a menina desconhecida. Olho para ela e vejo que está caída no chão. Ela começa a se mover e tentar se levantar. Percebo que as palmas de suas mãos estão feridas devido a queda e, com um gemido de dor, ela consegue ficar de pé. Nossos olhares se encontram.

Ela limpa as mãos na calça, desviando o olhar de mim por um tempo, e depois me encara de novo. Não sei se ela era muito nova na época para entender o que havia acabado de acontecer, mas ela não parece se importar muito com o fato da minha areia tê-la feito se machucar, mesmo que sem querer. Eu observo a expressão em seu rosto mudar de desconfortável para um sorrisinho tímido, com as bochechas coradas pelo frio da noite.

— Você ficou — digo, mais surpreso do que nunca. — Você ficou. 

As ruas estão desertas e o único som que podia ser ouvido era o do vento rodopiando ao nosso redor. Ela quebra o nosso contato visual para olhar para suas mãos machucadas mais uma vez, aproveito esse momento para chegar perto dela.

— Oi — digo, me aproximando com passos hesitantes. Um sorriso surge do nada em meus lábios. — Eu me chamo Gaara. Quem é você? — ela não responde logo e seu rosto começa a corar mais um pouco. — Você se machucou — comento, olhando para suas mãos. — Eu fiz isso com você?

— Não foi você — eu sei que ela está mentindo, mas não digo nada. — Eu tropecei. Sinto muito... Gaara. 

— Você está com medo de mim? — pergunto, temendo a resposta. Ela levanta a cabeça para me encarar. 

— Não. Eu não tenho medo de nadinha.

E ela sorri para mim, mostrando todos os dentes. Simplesmente sorri assim para mim como se eu fosse qualquer outra criança. Por um momento fico sem reação. É incrível ver que alguém ainda consegue sorrir para mim quando até mesmo minha própria família parece ter perdido essa capacidade. Ela estende a mão arranhada na minha direção e entendo que quer me cumprimentar. Hesitante, seguro a mão dela. 

— Eu sou Akemi Senju. Você me assustou um pouquinho, mas é um prazer conhecê-lo.

Mais tarde nesse dia, Yashamaru me disse para ir entregar alguns remédios para Akemi em sua casa como um pedido de desculpas. Quando cheguei lá e bati na porta, estava morrendo de vergonha. Quem atendeu foi justamente Akemi. Suas mãos estavam enfaixadas e ela sorriu ao me ver. 

— Gaara! — ela olhou para o pacote em minhas mãos e eu expliquei para ela o que era. — Obrigada, mas a mamãe já fez curativos em mim — ela olha para mãos e eu senti meu coração murchar. — Mas você pode entrar. A mamãe fez cupcakes com chantilly. Vamos comer juntos.

Ela estendeu a mão para mim e, quando a segurei, e ela me puxou para dentro, eu lembro de pensar que eu nunca havia me sentido tão feliz. Por muito tempo cupcake com chantilly tinha sido minha comida preferida apenas porque Akemi é louca por eles.

Naquele dia ela tinha sido a única a ficar comigo quando todo mundo me deu as costas e agora ela tinha sido a primeira a ir embora, sem olhar para trás. Uma mão entra em meu campo de visão e sei que é Kankuro querendo me ajudar a levantar. Aceito e ele me ajuda a ficar de pé, coloca uma mão em meu ombro e nós nos encaramos.

— Você precisa se controlar, Gaara — ele diz. 

— Eu sei — digo, simplesmente.

—x—

A noite passa sem mais nenhum episódio de raiva no qual eu esteja envolvido. Akemi sai do hospital às três horas da manhã, para se preparar para a missão. Como não durmo, fico observando o momento inteiro em que ela ajeita suas coisas e nem sequer olha na minha direção. Ela coloca a mochila nas costas e sai do quarto acompanhada pelo namorado. Eu fico sozinho no quarto por um tempo antes de decidir ir embora também. Olho para a lua pela janela e penso no por que aceitei ir nessa missão. Primeiro, nem é uma missão de interesse para a minha vila; segundo, ninguém na minha equipe gosta ou confia em mim; terceiro, sabe-se lá que tipo de perigos vamos enfrentar. Você aceitou por causa dela, é a minha mente de novo, por que ela está em perigo e você não consegue suportar a ideia de que alguém pode machucá-la. Fecho os olhos e respiro fundo. 

Assim que dá cinco horas da manhã já estou completamente vestido e fora do hospital. Temari e Kankuro se despedem de mim e dizem que vão esperar aqui na Vila da Folha até o meu retorno. Estou caminhando sozinho até a entrada da vila, quando vejo que Sasuke caminha um pouco mais a minha frente. Ele está andando devagar e consigo alcançá-lo com poucos passos. Sasuke olha para o lado para ver quem está o acompanhando, penso que ele vai se afastar e começar a andar mais rápido, mas ele apenas me dá uma olhada e depois virar a cabeça para frente de novo. Isso me pega de surpresa, ele parece triste ou com raiva de alguma coisa. Quando chegamos ao portão de entrada, me surpreendo por não ver Akemi ou Sayuri ali. Será que elas desistiram? Sasuke também parece um pouco confuso. Nós ficamos nessa dúvida até algo atrair nosso olhar para o galho de uma árvore acima de nós. Sasuke e eu vemos as duas sentadas ali. Elas estão olhando para baixo diretamente para a gente. O Uchiha é o primeiro a virar o rosto, soltando um “hunf”. Akemi me olha diretamente nos olhos, mas não vejo expressão nenhuma no seu rosto. Sayuri olha para além de mim e Sasuke e percebo que ela vê alguém se aproximando. Dou uma olhada para trás. É o Hokage. As duas pulam da árvore e caminham até eu e Sasuke. 

— Obrigado pela pontualidade de vocês — Kakashi diz. 

— Pode acreditar que não foi de livre espontânea vontade, Kakashi — Sayuri boceja audivelmente e se espreguiça. — Pelo menos não da minha parte. 

— Ok, Sayuri. Obrigado pela sinceridade. Certo — ele tira os olhos da menina de cabelos rosa e faz contato visual com todos nós. —, antes de vocês irem, preciso falar algumas coisas. Primeiro, ainda não decidi quem vai ser o líder da missão e... — Kakashi é interrompido. 

— Eu quero ser — Sayuri e Sasuke falam juntos. 

Os dois trocam um olhar de raiva e viram a cara para lodos opostos. Ao lado de Sayuri percebo que Akemi se mexe desconfortável. Eu não ligo para quem será o líder da missão, só quero ir embora logo e terminar isso o mais rápido possível para que eu possa voltar para a minha vila e esquecer tudo o que aconteceu nessa. 

— E — Kakashi continua, lançando um olhar feio para os dois. — vocês entendem que pessoas de outra aldeia não podem ser o líder, então Sayuri e Gaara não vão poder. 

— Você está brincando comigo? — Sayuri parece chocada. Ela realmente leva a sério esse negócio de ser líder. — Eu sou a pessoa mais capacitada para ser líder nessa equipe. 

Sasuke se vira para ela. 

— O que te faz pensar isso? 

— Bem, primeiro, eu... — Sayuri é interrompida. 

— Chega. Vocês dois — Kakashi aperta a ponte de seu nariz. — Eu acabei de decidir quem vai ser o líder. Vai ser a Akemi. Ponto final. 

— Como é que é? — Sayuri e Sasuke novamente, sendo acompanhados por Akemi. 

— Sim, a Akemi, porque ela é a mais sensata dessa equipe e acredito que por ter um bom julgamento é a mais indicada. Além de ser uma experiente caçadora Anbu, o que a torna ainda mais qualificada. Se vocês gostaram ou não, não é problema meu. Aceitem e fim de papo — Kakashi diz. — Bem, agora vamos a parte importante. Passei a madrugada pesquisando sobre aquele tecido que o Sasuke me deu e lembrei de uma época em que eu era apenas um chunnin e escutei falar sobre pessoas que usavam esse mesmo tipo de roupa. O Demônio da Folha, na época, me contou que é uma organização, chamada Doragon, que existe há muito tempo e que, com o tempo, apenas vai renovando seus membros. 

— O Demônio da Folha? — Akemi leva uma mão até o queixo, pensando. — Quando entrei para os Caçadores Especiais Anbu, uma das primeiras pessoas de quem ouvi falar foi sobre ele. Esse homem é um ninja patife da Vila da Folha, Hokage. É inteligente acreditar nas palavras dele? 

— Entendo como se sente, Akemi — ele olha para ela. — Mas, sim, é inteligente, porque ele, na época, se encontrou com membros dessa organização. 

— Então por que não vamos atrás desse ninja? — Sayuri diz, animada. — Se ele já se encontrou com essas pessoas poderá responder às nossas perguntas.

— Sinto muito, Sayuri, mas é impossível — Kakashi diz. O sorriso da menina murcha na hora. 

— Como assim “impossível”? — ela franze o cenho. — Você mesmo disse que nós somos os melhores shinobis disponíveis, damos conta desse cara!

— É impossível porque ele está morto, Sayuri — Kakashi explica, fitando-a. 

— Ele é conhecido como Demônio da Folha e está morto? Hunf! Que desperdício de nome — ela cruza os braços e faz bico.

Kakashi fica um tempo olhando para ela. Não sei o que seu olhar quer transmitir, mas acredito que seja algo muito parecido com pena. Ele parece saber de algo que Sayuri não faz ideia. Ao meu lado, sinto a ansiedade de Akemi aumentando. Imagino que ela esteja com os nervos à flor da pele, mas não está querendo demonstrar. Ela vai tentar se manter forte até o fim da missão, penso. Ainda que esteja morrendo de medo do que possa acontecer. 

— Sayuri, acredito que você não saiba que ele foi meu sensei — Kakashi diz. 

— Oh — percebo que Sayuri começa a se sentir mal pelo o que disse. — Bem, sendo assim, sinto muito pela sua perda. 

— Obrigado — ele suspira e volta a fazer contato visual com todos. — Bem, o que eu quero que vocês saibam é que estão lidando com mais de uma pessoa, é uma organização e eu não tenho ideia de quantos membros ela tem. Vocês vão precisar ter cuidado dobrado. E se não for pedir muito, voltem vivos, por favor. A última coisa que eu quero é que o Kazekage, o Mizukage, a Tsunade e os amigos do Sasuke fiquem no meu pé por ter mandado vocês para a morte. 

— Muito reconfortante. Obrigada, Kakashi— Sayuri dá tapinhas em seu ombro. — Bem, vamos lá, então. 

Kakashi dá a Akemi um mapa que mostra o caminho que devemos tomar até a Vila dos Artesãos. O Hokage se despede de sua líder Anbu, dá umas últimas instruções a ela e nós partimos nessa missão que eu tenho quase certeza ser suicida. Nós subimos nas árvores para ficarmos ocultos durante o percurso e começamos a nos mover. Akemi vai na nossa frente, olhando o mapa. Sasuke vai um atrás dela, depois vem Sayuri e por último eu. 

Quando os primeiros raios de sol aparecem, Akemi diz para pararmos um pouco para beber água ou, para quem estiver com vontade, fazer suas necessidades fisiológicas. Ela senta no galho de uma árvore e continua concentrada no mapa enquanto Sayuri e Sasuke bebem de seu cantil de água, eu apenas me encosto ao tronco da árvore e observo Akemi se concentrar no que está lendo. Não percebo quando Sayuri se aproxima de mim e fica ao meu lado, acompanhando meu olhar até a outra garota. 

— Você realmente devia falar com ela — a menina de cabelos rosa comenta.

— Ela não vai falar comigo — digo. 

— Você não tem certeza disso. 

— Sim, eu tenho sim. 

Sayuri me lança um olhar cansado, mas opta não falar mais nada. Nós continuamos o percurso. Eu tento ir para o lado de Akemi em alguns momentos, mas ela não quer ficar perto de mim de jeito nenhum. Todas as vezes em que eu tento me aproximar, ela apressa o passo ou vai para o lado de outra pessoa. Sasuke e Sayuri nem sequer se olham e eu não tenho amizade com nenhum dois para ficar ao lado deles, então me contento em ser o último de nossa fila. 

— Akemi! — Sayuri chama depois de um tempo. A menina de cabelos castanhos olha para trás e diminui o passo.

— Algum problema?

— Eu acho que não estamos indo pelo caminho certo. Algumas vezes eu já fui à Vila dos Artesãos e tenho quase certeza que passamos de uma curva — Sayuri diz, parando na frente da outra. — Posso dar uma olhada no mapa? 

— Sim, claro — Akemi passa o mapa para ela. 

Sasuke para ao meu lado e nós ficamos observando as duas enquanto elas estudam o mapa. Ele cruza os braços sobre o peito e, pelo canto do olho, posso ver que está bastante concentrado em Sayuri. Pelo o que posso ver, algo aconteceu entre eles e o clima está bastante tenso, mas digo a mim mesmo que não me importo e logo deixo isso para lá. Percebo que o Uchiha está inquieto, penso em dizer que a pressa é inimiga da perfeição, mas fico calado também. Não estou a fim de arrumar um briga. Um barulho à minha frente chama a minha atenção e vejo que Akemi e Sayuri estão vindo até nós dois. 

— Sayuri estava certa, vamos ter que mudar a nossa rota um pouquinho — a líder da missão diz.

— Baseado em que? Apenas nas palavras dessa aí? — Sasuke aponta com a cabeça para Sayuri. 

— O que você quer dizer com isso? — Sayuri cerra os punhos. 

— Que eu não confio em você — ele responde. 

— Ai, por favor, não briguem — Akemi diz, interrompendo. — A missão mal começou e vocês já estão assim... Só acalmem os ânimos, tudo bem? — ela olha para o Uchiha. — Sasuke, a Sayuri é sua companheira de missão então você vai ter que confiar nela querendo ou não. E sim, eu tenho certeza de que ela está certa porque nós devíamos ter dobrado para a esquerda minutos atrás e acabei não vendo isso no mapa. 

— Hunf — Sasuke começa a ir embora. — O Kakashi realmente tem um péssimo gosto para lideres. 

Ele começa a ir para o lugar certo e vejo que Akemi fica um pouco magoada com o que ele disse, mas tenta não demonstrar muito. Sayuri revira os olhos e segue Sasuke. Akemi e eu vamos logo atrás. Começo a acreditar que essa missão será um fracasso. 

Nós não paramos mais em nenhum momento. De acordo com Sayuri, se mantivermos esse ritmo, chegaremos a Vila dos Artesãos no dia seguinte. Horas mais tarde, a noite cai silenciosa sobre a mata fechada e logo o canto dos pássaros é substituído pelo piar de corujas. Pela primeira vez consigo ficar ao lado de Akemi e percebo que ela já está bem cansada por não ter parado em nenhum momento. Porém, apesar do cansaço, a força de vontade dela me surpreende. Em um certo momento, ela pede para que que todos parem, pois vê que Sayuri também já está cansada. A menina de cabelos rosa agradece enquanto se senta e toma um pouco de água.

Foi a pior decisão que Akemi poderia ter feito. 

Akemi é a primeira a sentir o perigo. Olho para o seu rosto e ela está com o cenho franzido. Abro a boca para perguntar o que está acontecendo quando ela se joga subitamente para cima de mim. Nós dois caímos no tronco da árvore, os rostos quase colados. No primeiro momento não entendo o que está acontecendo. Nós nos encaramos e ela leva um dedo aos lábios como se estivesse pedindo para eu fazer silêncio. Escuto o barulho de alguma coisa perto de nós dois, sei que Akemi me salvou de algo. Mas o quê? Ainda em cima de mim ela vira os olhos em pânico para o lugar onde Sayuri está e sinto seu corpo inteiro estremecer em cima do meu quando o tornozelo de Sayuri é preso por uma corrente, a líder Anbu da Névoa arregala os olhos, porém tudo acontece rápido demais. Uma descarga elétrica passa pela corrente, fazendo a a garota ser eletrocutada. Ela dá um grito, deixando seu cantil de água cair. Akemi se levanta e tenta ir até a menina, mas outra corrente se prende na cintura dela. Seus olhos se arregalam, dessa vez ela não foi rápida o suficiente para desviar. Akemi também é eletrocutada. 

— Mas que droga é essa? — é a voz de Sasuke. 

Ele consegue desviar de uma corrente que vem em sua direção. Sayuri e Akemi são puxadas para baixo e caem da árvore. Desenrosco a rolha da minha cabaça e uso minha areia para flutuar e ver o que diabos está acontecendo. Percebo que Sasuke já está com seu sharingan ativado e pronto para a luta. Do alto, não consigo ver muita coisa, apenas uns vultos. Quem quer que esteja nos atacando é rápido e sabe o que está fazendo. Quando volto para o chão, Sasuke e eu ficamos de costas um para o outro. 

Depois de uns minutos brincando com a nossa cara, finalmente nossos agressores se revelam. Eles caminham em nossa direção. São apenas dois, mas algo me diz que tem mais deles. É um homem e uma mulher. Eles vêm trazendo Sayuri e Akemi em suas correntes. Eles têm uma aparência estranha, nunca vi em nenhum lugar, e acredito que seus jutsus têm a ver com correntes. Os dois trazem as duas meninas arrastadas, elas estão conscientes, mas ainda atordoadas com o choque que tomaram. Sayuri parece um pouco mais desperta e tenta se soltar, debatendo-se, mas cada vez que ela se mexe recebe um choque. Sinto Sasuke inquieto ao meu lado. Olho para Akemi, ela está praticamente caminhando de joelhos, pois o homem que a segura não a deixa nem ficar em pé direito para arrastá-la até nós. Cerro os punhos. 

— Quem são vocês? — Sasuke pergunta, cauteloso. — O que querem? 

— Quem somos nós não importa — a mulher que está segurando Sayuri diz. — Mas o que queremos? — ela abre um sorrisinho malicioso. — Bem, isso é fácil: tudo o que vocês têm. 

Agora entendo o que está acontecendo. Imaginava que eles estavam aqui para atrapalhar a missão de alguma forma, mas as coisas são completamente diferentes. Eles querem apenas roubar nossas coisas. Provavelmente pensam que, por sermos novos, não somos nem um pouco experientes. Trinco o maxilar. Estou tremendo de ansiedade para mostrar a eles o quanto estão errados. 

— Bem, vejamos o que temos aqui — a mulher se agacha para ficar na altura de Sayuri e segura o rosto da menina com força, forçando-a a olhá-la nos olhos. — Uma ninja da Névoa. Interessante. O que você tem aí? — ela fica de pé novamente e olha para o homem ao seu lado. 
 

Assim como a mulher, ele faz uso da brutalidade para fazer Akemi olhá-lo. Mas diferente de sua parceira fez com Sayuri, ele segura os cabelos de Akemi com força e levanta sua cabeça para trás, fazendo-a soltar um grito. Dou um passo para frente, meu peito enchendo de raiva, mas Sasuke sum braço na minha frente, me obrigando a ficar parado. 

— Essa aqui é da Folha — ele diz. 

— Então temos dois ninja da Folha, um da Névoa e um da Areia. Parece que hoje é o nosso dia de sorte — a mulher da uma risada e levanta um braço. Ela estala um dedo e um grupo de pessoas sai de trás das árvores. — A nossa família vai cuidar de vocês dois e eu e meu companheiro aqui vamos dar um jeito nas amiguinhas de vocês. 

Os dois arrastam Akemi e Sayuri para longe de nós, mas não o suficiente para tirá-las de nossas vistas. Sasuke e eu voltamos a ficar de costas um para o outro, pois o grupo começa a avançar. Ele desembainha sua espada e eu deixo minha areia a postos. Dou uma boa olhada no grupo e percebo que eles seguram correntes como as dos dois que pegaram Akemi e Sayuri. Subitamente uma ideia me vem a cabeça. 

— Sasuke — sussurro. O garoto não responde, mas sei que ele está me ouvindo. — Você e eu temos estilos diferentes de luta. Você é mais do tipo ofensivo e eu sou mais do tipo defensivo. Então, vamos tentar assim: nesse primeiro momento você ataca e eu te dou cobertura. Se não der certo mudamos de tática. 

Ele fica uns segundos em silêncio, provavelmente pensando se o que eu disse é uma boa ideia.

— Pode ser. Espero que você consiga me acompanhar. 

Sem qualquer tipo de aviso Sasuke sai correndo para atacar a pessoa que está mais na frente. Xingo o Uchiha mentalmente. Tudo bem que eu vou ter que ser a nossa defesa, mas custa avisar? Mas o importante é que Sasuke realmente sabe o que está fazendo. Ele usa sua espada como se fosse uma parte de seu corpo, move a arma na velocidade da luz, mal dando tempo para as outras pessoas verem o que as atacou. Ele consegue fazer manobras incríveis para desviar dos ataques inimigos, me pergunto se em algum momento ele precisará de mim. Sasuke é o tipo de pessoa que gosta de levar a glória toda para si, por mais que não admita isso, e toda vez que eu tento usar minha areia para protegê-lo, ele me interrompe e cancela o ataque sozinho. Isso começa a me estressar. Até que em um momento, vejo que alguém lança uma corrente na direção dele, e Sasuke seria acertado em cheio se eu não me metesse. Vou para frente dele o mais rápido que posso, pegando-o de surpresa. Ergo meus braços e crio uma barreira na nossa frente, fazendo a corrente bater nela e não nele. 

— Isso se chama trabalho em equipe — digo, olhando para o Uchiha pelo canto do olho. — Você devia testar algumas vezes. 

— Quem é você para me dar lição de moral? — ele volta para sua posição de ataque. — Até onde sei você tenta matar seus próprios companheiros de equipe. E olha que engraçado, eles são seus irmãos. Então não me venha com discursos quando você não é nenhum exemplo. 

Trinco o maxila e começo a sentir vontade de atacar Sasuke eu mesmo. Mas digo a mim mesmo que preciso me controlar, pois querendo ou não nós estamos em uma missão e precisamos completa-la com sucesso. Nós voltamos a lutar, dessa vez os dois no ataque. Uso minha areia para jogar os inimigos longe enquanto Sasuke usa sua espada e o sharingan para mata-los. Não são muitos os que estão com a gente então damos conta deles rapidamente. Quando temos certeza de que ninguém mais virá nos atacar, viramos juntos para Akemi e Sayuri. As duas ainda estão presas, mas agora estão de pé. Elas tentam atacar seus agressores, mas não conseguem dar um passo sem que sejam eletrocutadas. 

— Nós temos que ajudar — digo, mas antes que eu dê um passo Sasuke me para novamente. 

— As duas são líderes Anbu — ele diz, sem tirar os olhos delas. — Você precisa confiar que elas são fortes o suficiente para se cuidarem sozinhas. 

Como se escutasse o que Sasuke diz, Sayuri é a primeira a agir. Com dificuldade ela se põe de pé e olha com ódio para a mulher à sua frente. A desconhecida apenas ri. A líder Anbu da Névoa faz uns movimentos de mãoe depois coloca a direita para baixo enquanto segura seu pulso com a mão esquerda. Levo uma mão ao meu peito. A ferida recém-feita nele lateja. Ela vai usar na mulher a mesma coisa que usou em mim no dia anterior. 

— Você quer ver o que é eletricidade de verdade? — Sayuri diz com uma voz sombria — Então me deixe mostrar a você. 

Em sua mão a chidori aparece, mas diferente do que fez comigo ela não corre para acertar a mulher. Entendo que ela não tem uma distância suficiente para usar esse jutsu com sua força total. Sayuri segura a corrente com a mão que está sem o jutsu. A agressora tenta dar mais um choque em Sayuri, mas dessa vez a menina não parece nem sentir. Sayuri puxa a corrente, fazendo-a ficar bem esticada, e com a mão que está fazendo seu jutsu ela encosta na mesma. A corrente arrebenta, mas não sem antes eletrocutar a mulher. A desconhecida grita de dor enquanto vai ao chão, se contorcendo. Sayuri não perde tempo, corre até ela e com apenas um golpe ela leva a mulher ao chão de vez. O soco de Sayuri é certeiro e bem forte. O pescoço da mulher poderia ter quebrado, mas ela teve muita sorte disso não ter acontecido. Quando ela finalmente cai desacordada, Sayuri se dobra e se segura em seus joelhos. Ela levou tantos choques que ainda me admira que esteja consciente. 

Um pouco mais à frente, o homem que está segurando Akemi se desespera quando percebe que está sozinho. E claro que ele resolve descontar sua raiva em Akemi. Ele balança a corrente, fazendo-a serpentear até a líder Anbu da Folha, mas assim como Sayuri, Akemi não se deixa ser atingida. Ela não tem o chidori e faz algo que me surpreende: ela segura a corrente com as duas mãos e para a corrente elétrica centímetros antes de acertá-la. 

— O que? — o homem pergunta, chocado. — O que você pensa que está fazendo, sua vadiazinha? 

Akemi está ofegante, seu peito sobe e desce com rapidez, mas ela levanta a cabeça e encara seu agressor com um olhar cheio de raiva. 

— Existe algumas coisas que são péssimos condutores de eletricidade — diz. — Uma delas é madeira. 

Akemi deixa um grito baixo sair de sua garganta e, usando apenas suas mãos, faz uma camada grosa de madeira cobrir a corrente. Com espanto entendo que ela está usando o jutsu estilo madeira que herdou de sua mãe. Ideia inteligente, penso. O homem solta a corrente antes que a madeira cubra suas mãos. Assim que Akemi fica livre ela vai rapidamente para cima do homem. Percebo que seu corpo está tremendo por causa dos múltiplos choques que levou e isso começa a me enfurecer. Ele a machucou, minha mente diz. Você não vai fazer nada? Sasuke disse para confiar nela. Quem se importa com o que o Uchiha diz? Você quer matar, Gaara. É a única coisa que importa. 

Obrigo minha mente a se calar e continuo prestando atenção no desenrolar da luta em minha frente. Posso ver que o abdômen de Akemi está sangrando por baixo de sua blusa e isso a causa dor. Ela faz uma careta no momento em que tenta socar o homem do mesmo jeito que Sayuri fez com a mulher, mas ela é lenta demais e o homem segura seu pulso centímetros antes do ataque dela acertá-lo. 

— Parece que você não é tão boa quanto a sua amiguinha, não é mesmo? — o desconhecido a provoca. Akemi cerra os dentes. 

Com um movimento rápido, ela pega uma kunai com a mão livre e a enfia no abdômen do homem. Ele urra de dor, mas não a solta. Pelo contrário, apenas a segura com mais força. Dessa vez ele usa sua mão livre para agarrar o pescoço dela. Akemi é pega de surpresa. Ele a ergue, tirando seus pés do chão, arranca a kunai de sua barriga e, antes mesmo que eu possa pensar no que vai acontecer, joga Akemi no chão como se ela não passasse de um saco de lixo. A cabeça dela bate com força no chão, atordoando-a, mas nem mesmo isso o faz soltá-la. Ele vai enforcá-la até a morte.

— AKEMI! — Sayuri grita. 

É a gota d’água para mim. Corro até Akemi ignorando o que Sasuke diz, ergo meus braços e a areia me obedece imediatamente. Jogo os braços para frente e a areia segue o movimento. O homem é pego pelos pés e mãos. Ele se assusta e vira o rosto para me encarar. Mas não dou tempo para ele fazer nada. Estou com tanta raiva que não consigo ver mais nada em minha frente além da morte dele. Cerro meus punhos e a areia aperta um pouco mais em seus membros. Ele arqueja. Ergo meus braços novamente e areia ergue o homem como eu quero. Meu cenho está franzido, meus dentes estão cerrados. O homem fica bem na minha frente a uma distância considerável do chão. Dou uma olhada em Akemi pelo canto do olho, ela está semiconsciente e me observa. Vamos lá, Gaara, você sabe o que tem que fazer, minha mente diz. Mate-o!  E é o que eu faço. Abro os braços e a areia segue meu movimento. Os braços e pernas do homem são esticados até o limite, desprendendo-se do corpo segundos depois. Sangue espirra para todos os cantos, incluindo em cima de mim. O assaltante cai sem vida no chão e minha areia deixa as partes do corpo dele caírem também. Ao meu lado, a mulher que machucou Sayuri começa a gemer de dor, recobrando a consciência. Não dou tempo para que ela se recupere completamente e ergo minhas mãos acima da minha cabeça. A areia repete o que eu faço e algo parecido com uma onda se forma atrás de mim.

— Morra! — digo, alto o suficiente para qualquer um ouvir. 

Agacho-me, tocando um joelho no chão e bato com minhas mãos na grama. A areia me copia e cai com uma força enorme em cima da mulher. O impacto é tão forte que posso escutar os ossos se quebrando. Quando a areia começa a voltar para a cabaça em minhas costas, posso ter uma visão clara do estado em que a mulher ficou. Seu corpo foi completamente esmagado e seu rosto sem vida sustenta agora uma expressão de puro terror. Caio de joelhos no chão, segurando a cabeça com as mãos. Sei que estou começando a perder o controle do que tem dentro de mim, ao longe escuto Akemi gritar de dor. Percebo quando Sayuri corre até ela. Uso toda a força que ainda me resta para ficar de pé e correr para longe de meus companheiros de missão. Não posso deixar que eles vejam o demônio que eu sou.


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