Cartas para Bella escrita por Lu Cullen


Capítulo 9
Eric Yorkie, o garoto com um segredo


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiik, genteeee!!! Como estão? Cheguei aqui com o capítulo e a pequena maratona... Sim, pequena. Então, vamos pro capítulo?! Boa leitura!



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Finalizo o texto de inglês com uma frase de Emily Bronte. Perfeito! Digno de um A+. Depois de alguns segundos vendo a tela do computador, levanto-me para conversar com Sue.

Desço as escadas, fazendo barulho de propósito. A minha tia está sentada no sofá grande da sala, lendo um de seus livros de psicologia. Seth ao seu lado presta atenção na televisão. Paro em frente a tela, querendo chamar a atenção de Sue.

— Sue. - chamo-a. Seus olhos me encaram.

— Sim?

Respiro fundo, pronta para mentir, mais uma vez.

— Eu preciso ir para a casa da Alice hoje. Nós não terminamos o trabalho de inglês e é para amanhã a entrega. 

— Então, vocês não conseguiram terminar o trabalho de inglês na segunda? Ficaram mais de 3 horas fazendo e não terminaram?- Sue questiona desconfiada, após eu lhe dizer que estava indo para a casa da Alice.

— Pois é. - murmuro. - Nós não conseguimos chegar nem na metade, por isso, combinamos de fazer o resto hoje.

— E acredito que você vai dormir lá, não é? - comenta, olhando a hora em seu relógio.

Assinto com a cabeça. 

Seth esconde um sorriso por trás da sua caneca do Capitão América, vendo meu desespero em convencer Sue a me deixar ir na Alice. Eu limpo as mãos suadas na minha calça jeans preta, com medo de Sue descobrir que estou mentindo.

— Você só precisa me levar para a oficina dos Hale. De lá pego a Pulga e vou para a casa de Ally.

Sue cruza as pernas enquanto coça o queixo.

— Tem certeza que quer voltar a dirigir, Bella?

Reviro os olhos, dramaticamente.

— Não precisa bancar a psicóloga para cima de mim. 

Ela arqueia a sobrancelha.

— Você não respondeu a minha pergunta.

Eu quero voltar a dirigir? 

— Sim, Sue. Quero voltar a dirigir. - respondo com a voz firme, olhando dentro de seus olhos. - Satisfeita?

Ela semicerra os olhos.

— Por enquanto? Sim, estou. Agora vá arrumar suas coisas, louquissima.

Assentindo com a cabeça, levanto-me do sofá para ir arrumar minha mochila. Ponho uma muda de roupas para amanhã, pijama, roupas íntimas e acessórios para higiene. Com tudo guardado, pego minhas botas UGGs as colocando. Rapidamente, olho para a caixa com as cartas. Fecho a porta do closet com um baque.

Eu meio que surtei na noite anterior. O Correspondente Secreto não me enviou mais nenhuma mensagem desde a nossa briga. Eu estive ignorando tudo o que tem haver com ele. A caixa com cartas, o kindle e até mesmo meu armário. Eu escondi tudo da minha vista. No entanto, isso não quer dizer que eu não esteja atrás dele. Se Eric for o correspondente secreto, ele terá que preparar os ouvidos, porque irá escutar muitas coisas de mim. Eu sei, contraditório. 

    Eu estive perto de mandar uma mensagem para ele. Escrevi um mini texto. Desisti antes de enviar a mensagem, para depois entregar o celular para Seth com as instruções dele não me entregar até a manhã de hoje. Ele me chamou de louca, mas concordou.

    Após ter certeza que peguei tudo o que preciso, desço as escadas. Sue e Seth param a sua conversa. Franzo a testa para a ação. Eles estão escondendo algo de mim? Pego meu casaco preto do cabide para vesti-lo. Sue dá um beijo na cabeça de Seth para ir para o carro.

    – Tchau, cachorro. - digo, dando um tapa em sua cabeça.

    – Tchau, branquela. 

    O clima está péssimo hoje. Chuva e frio, muito frio. Entro no banco do carona no carro. Esfrego as mãos na intenção de esquentá-las. Sue liga o ar condicionado no quente, assim que liga o carro. Vejo duas vezes se o cinto está bem preso. Ficamos em silêncio por todo o caminho. Eu fico de olhos atentos no velocímetro.

Nós duas não estamos em nosso momento. Ela vem me lembrando muito os meus pais. O modo sério, escolhendo as palavras antes de dizê-las. Eu odiava esse seu novo jeito. Quando ela para o carro na frente da oficina, suspiro de alegria. Abro a porta, sentindo a tensão do ar se dissipar.

— Sabe, Sue. - chama sua atenção antes de sair. - Nada que aconteceu é a sua falta. Você não deve mudar como meus pais disseram. - pelo canto do olho vejo seu rosto triste. - Você é incrível! E o que aconteceu foram sucessão de escolhas ruins. 

Dito isto, saio do carro, sem olhar para a sua reação. Entro na garagem, encontrando vários carros mais novos que o meu. No canto direito, encontro pulga sem o amassado da batida e os vidros quebrados. Com as pernas tremendo, dou um passo em direção a ela.

Passo as mãos pela caçamba, lembrando dos gritos do acidente. O rosto apavorado de Seth. Fecho os olhos, tentando acalmar as milhares de lembranças que atacam a minha mente. A respiração começa a ficar descompassada. Abro os olhos, ignorando todos os maus sentimentos. 

    Abro a porta, entrando em Pulga, sentindo o cheiro reconfortante de menta e tabaco. Jogo minhas mochilas para a parte traseira. Com as mãos tremendo, seguro o volante preto. O carro começa a ficar quente e eu retiro meu casaco. O sangue pulsa nas orelhas enquanto a minha garganta fica seca.

    E se acontecer de novo? Se eu quase matar alguém? Quem pode ser o próximo? Alice, Seth ou até mesmo Sue? Uma dor forte começa a se instalar no meu peito.

    – Hey! - alguém bate na janela. Viro-me com a mão no peito pelo susto. Rosalie. - Vá pagar primeiro pelo conserto antes de sair daqui.

    Eu saio do carro, batendo a porta com força. Ela veste um macacão azul com botas de borracha. Tem os cabelos loiros presos num rabo de cavalo. Seu rosto está com uma mancha de óleo na bochecha. Ignoro seu modo rude. Pego o dinheiro que vinha economizando a meses para ir ao fundo da loja, tentando acalmar meu coração acelerado.

    – Eai? - Jasper chama ao me ver.

    Sorrio para ele. Assim como sua irmã, está vestido com um macacão e botas.

    – Vim pagar.

    – Assim que eu gosto! - ele brinca. 

    Engulo em seco ao olhar o tanto que deu.

    – Pode chamar o seu pai? - ele franze a testa.

    – Por que? Algo está errado? - pergunta, olhando a folha com preço.

    – Não, não. - balanço a cabeça. - É que eu só tenho 500 pratas agora. 

    Coço a nuca. Meus pais não irão me dar dinheiro para arrumar Pulga. Eles já falaram do seu descontentamento com a caminhonete. Sue não é uma opção.

    – Não tem como eu ir pagando durante as outras semanas? Recebo meu salário na cafeteria a cada duas semanas. Em três semanas consigo pagar tudo.

    Ele olha para baixo, pensando.

    – Eu só tenho isso, por agora.

    Jasper anota alguma coisa no papel para guardá-los em uma caixa transparente. Recolhe o dinheiro, me dando uma piscadela.

    – Só se você me der uma carona para a casa de Alice.

    – Pode até dirigir Pulga se quiser.

    Ele gargalha, pedindo para eu o esperar se trocar. Eu o espero sentada num banco vermelho. Vejo Rosalie semicerrar os olhos em minha direção antes de entrar para baixo de um nissan. Viro a cabeça para a entrada da loja quando escuto Jasper avisando o pai que irá ver a namorada. Ele aponta para mim. Eu aceno para o senhor Hale que me lança um grande sorriso.

    Jasper me joga as chaves da picape enquanto acena para eu o segui-lo até o carro. Ele coloca sua mochila dentro do carro. Estanco no meio do caminho, voltando a me sentir mal. Quando Jasper está prestes a entrar no banco do carona, jogo as chaves em sua direção que as pega no ar.

    – Duvido que vá conseguir sair daqui sem bater o carro.

    – Bobagem. - diz.

    Vou até onde está. Com a cintura, o tiro da frente da porta. Ele revira os olhos, dando a volta na picape. Subo nela junto com Jasper. Ele gira a chave e o motor liga com um estrondo. Eu ponho o cinto correndo, agarrando o estofado do carro.

    Jasper me encara de solsaiso. Eu sorrio amarelo. Com todo o cuidado, Jasper consegue sair da garagem sem bater em nada. Ele ri quando comento, “prática”. Já na rua, ele para o carro no acostamento. Antes de sair, eu o agarro pelo braço.

    – Você já está de motorista, não é?! Por que não dirige? Também tá chovendo, não quero me molhar.

    – Você está com medo de dirigir, Bella?

    Rio nervosa.

    – Claro que não.

    Ele arqueia a sobrancelha, no entanto, não diz nada. Agradeço mentalmente por ele não me pressionar. Eu já me sinto exausta por mentir o tempo todo. Ligo o rádio numa estação qualquer onde uma música da Ariana Grande toca.

    – Ainda não entendi porque convidaram Eric e eu. - ele diz, puxando papo.

    – É melhor fazer o trabalho juntos. A gente pode ajudar um ao outro. Além do mais, vai ser mais divertido.

    Ele tomba a cabeça.

    – Você tem razão. - fala, sorrindo.

    – Eu sempre tenho razão.

    – Tão modesta, você. 

    – Isso, eu sou também. - digo, abaixando a janela.

    – Eu fui sarcástico. - Jasper fala, parando no sinal vermelho.

    Abro um sorriso grande para ele.

    – Verdade não é sarcasmo, sabe?!

    – Meu deus é impossível ganhar de você.

    Nós dois gargalhamos. Mesmo não tendo muitos momentos juntos, eu adoro aqueles que passo com Jasper. Ele é um garoto divertido e engraçado. Muito sarcástico também. Seu rostinho angelical não engana ninguém.

    Aos poucos todas as casas têm as luzes de fora acesas por conta da escuridão. A chuva continua a cair cada vez mais forte. Eu odeio chuva. Jasper percebe o modo em que fico estática ao ver o ônibus da cidade chegar muito perto de nós. Eu tento dissipar a ansiedade do meu corpo.

    Ao virar na rua de Alice, sorrio aliviada. Eu já estou me sentindo sufocada por estar tanto tempo trancada em Pulga. Jasper aperta a buzina, anunciando a nossa chegada. Eu lhe dou um soco no ombro. Sinto meu rosto esquentar ao descer do carro. Será que os vizinhos teriam escutado? Carlisle nunca mais deixará nós virmos aqui no meio da semana.

    Franzo a testa ao ver dois carros parados na frente da casa. Jasper estaciona no cordão oposto. Volto a pôr o casaco junto com o capuz, pego as duas mochilas e Jasper e eu corremos em direção a grande casa na chuva. Eu caio na metade do caminho, isso faz Jasper rir. Ele volta, me ajudando a levantar. Voltamos a correr até parar embaixo da varanda. Eu toco a campainha, tentando limpar os joelhos. Jasper continua a gargalhar do meu tombo. 

    A porta da frente se abre por Alice que se joga em meu pescoço. Logo, ela se afasta de mim para cumprimentar seu namorado com um selinho. Ela puxa a minha mão para me por para dentro de casa. 

    É tão enorme. Ao passarmos pelo hall de entrada, tombo a cabeça ao escutar uma música alta vinda da sala de estar, Alice bufa e nos puxa direto para o seu quarto. Subimos as grandes escadas de mármore para entramos em uma sala íntima. Caminhamos para a porta do sudeste, onde o quarto de Alice fica. Ao abrir a porta, vejo Eric sentado na escrivaninha.

    O quarto de Alice é amplo e quadrado. Tem as paredes pintadas de roxo com todos os móveis brancos. Há uma cama de casal com um mosquiteiro, na frente um banco estofado. Pendurado na parede por um suporte tem uma televisão enorme. Ao lado dela, a porta para o grande closet.

    – Hey! - digo.

    – Hey! 

    Alice pega minha mochila com roupas, colocando-as num canto qualquer. De dentro da outra mochila, retiro o computador junto do caderno. Jasper faz o mesmo. Escutamos risadas muito altas.

    – Meus pais estão viajando. - Ally  fala, abrindo seu caderno, sentando ao meu lado e de Jasper no chão encarpetado. - Edward decidiu dar uma festa.

    – Ele disse que é uma reunião íntima. - Eric a corrige.

    – Meu cu. 

    Alice não é muito falar palavras de baixo calão. Só quando está estressada.

    – Você já fez esse trabalho, amor. - Jasper, desconversa. - Dá aqui para a gente ter uma base.

    Ficamos por um bom tempo com a cabeça estudando. Ou melhor, os garotos ficaram um bom tempo estudando já que o trabalho que teríamos que fazer eu já tinha terminado ontem. Alice e eu conversamos por papeizinhos, querendo me organizar em como abordaria Eric sem ser uma vadia.

    Ele é tão tímido e querido. Eu não quero perder a sua amizade. Ele me perdoaria? Só que e se ele for o correspondente? Eu descobriria quem é, pelo menos. A grande pergunta é: eu quero que Eric seja o correspondente? Bem, talvez seja isso do que o correspondente estava falando sobre eu julgar as pessoas. Engulo em seco ao notar que a culpa dele não se abrir é realmente minha. 

    Refazendo a pergunta: como eu me sentirei ao escutar a confissão de Eric: chocada, mas não desapontada. Claro que não! Ou sim? Isso é o que ele estava falando! Talvez seja melhor eu esquecer dessa maluquice e respeitar o seu tempo. Sem tentar descobrir seu nome ou quem é. 

    A música aumenta interrompendo a leitura do texto até então escrito pelos garotos. Eric escreve muito bem. Balanço a perna ansiosamente, ele escreve bem! 

    A música aumenta em quase 100%. Consigo sentir as vibrações por entre as paredes. Ao longo dos minutos, as bochechas de Alice vão ficando cada vez mais vermelhas. Jasper a olha pelo canto olho, mordendo o lábio tentando não rir. 

    – AH! Já chega! - Alice grita, jogando suas coisas espalhafatosamente no chão.

    – O que vai fazer?

    – Eu vou chutar a bunda do meu irmão. - diz, levantando-se. 

    – Vou com você.

    Alice concorda levantando-se. Jasper também. 

    – Você vem? - ele pergunta para Eric que baixa a cabeça, negando.

    Com passos largos, Alice chega na sala de estar em instante, com Jasper e eu ao seu lado. Ao entrar na sala, Ally põe as mãos na cintura indignada. A sala de estar é linda. Tem sofás cinzas, formando um grande L com uma TV enorme em cima da lareira. No teto, um lustre de cristais ilumina a sala. Na esquerda tem um balcão com muitas fotos da família. 

    Alice caminha até estar na frente de seu irmão, o qual tem Lauren Mallory sentada em seu colo. Dou um passo para o lado de Jasper ao ver tantas pessoas desagradáveis da escola. Muitos do grupinho da Lauren. 

    – Dá para abaixar a merda desse som? A gente quer estudar! - ela pergunta com as bochechas vermelhas.

    – Vai ter um ménage é? - Brad Peterson, um garoto da minha turma de álgebra, pergunta para Jasper. 

    Reviro os olhos, mostrando meu dedo do meio.

    – Coragem hein, Hale. - Lauren responde, olhando-me de cima a baixo. - Porque ir para a Swan é sinal de desespero.

    – Melhor a última do que a primeira opção como você é Lauren que com um simples “a” já abrir as pernas, por ser conhecida como a vadia de Forks. - retruco. Os outros sete idiotas na sala riem, menos Jéssica que tenta falar algo, mas ninguém presta atenção.

    – Vai abaixar ou não? 

    Vejo Edward revirar os olhos, no entanto, acena para Tom abaixar o som. Alice mostra o dedo do meio antes de voltar a nossa direção. Ao invés dela ir de volta para o quarto, ela passa pelas escadas, indo para a cozinha. Sigo a baixinha irritada.

    – O que está fazendo? - pergunto, sentando na bancada.

    – Depois eu fico uma baleia e minha mãe não entende o porquê da culpa ser do Edward. - ela diz, abrindo um pacote de biscoitos.

    – Ela come quando está estressada. - Jasper diz, passando os braços em torno do corpo de Ally. Como se eu não soubesse!

    – Agora, vá fazer o que a gente combinou.

    Faço uma careta.

    – Alice, acho melhor nã…

    – VAI! - ela grita. - Eu já estou estressada e não vou aguentar você estressada. A gente vai se matar! Então, VAI!

    Saio correndo da cozinha, não querendo escutar mais gritos. Demoro nas escadas. Descendo e subindo duas vezes, ainda em dúvida. Tomando coragem, volto a subir as escadas de dois em dois degraus. Ao chegar no quarto, entro fechando a porta. Franzo a testa ao ver as bochechas de Eric completamente vermelhas.

    – Por que você está corando?

    Seus olhos se arregalam. Ele está escondendo alguma coisa e eu sei o que é.

    – Ahn.. N-Nada. Eu coro por nada, você sabe.

    Estico o pescoço tentando enxergar o que Eric esconde atrás de si. Ele encosta-se na parede.

    – Por que você está assim?

    – Como? - me faço de desentendida.

    – Tão intimidadora. Parece até a-a Lau-Lauren. 

    Meus ombros caem por um momento. Ele está mesmo me comparando com ela? A desgraçada da Mallory? Irritada, chego mais perto de Eric, ficando a centímetros de seu rosto. Ele fecha os olhos. Eu sorrio por isso. 

—  Eu sei o seu segredo, Eric. - sussurro. 

Eric abre os olhos assustado. Ótimo! Agora, só falta ele confessar. Afasto-me dele, sentando na poltrona. Eu cruzo as pernas, batendo as unhas no estofado branco. Volto meu olhar para o garoto descendente de coranos que senta na cadeira da escrivaninha.

— E-eu não tenho nenhum segredo! - exclama. Eu solto uma risadinha.

— Sei! 

Ele roe as unhas. 

— Você tem um grande segredo, Eric. 

Por que ele está tão retraído? Já devia ter falado! Ou reagido irritado? Por que continua tão tímido? 

— Bella, por favor, por favor. - pede com lágrimas nos olhos. - Não conte a ninguém.

— Eric. - eu falo, balançando as mãos ao vê-lo ficando de joelho. - E-eu..

— Por favor, Bella. - ele diz, com lágrimas nos olhos. - É tão humilhante. Eu não queria isso, mas aconteceu!

— Tudo bem. Se acalma, ok? - digo, sentando no chão e o abraçando.

Com vergonha do que fiz, abraço Eric, sentindo remorso. Ele enterra sua cabeça no meu pescoço, chorando com força. Eu simplesmente não sei o que fazer quando alguém chora. Me limito a acariciar os seus cabelos e deixá-lo chorar em meu colo.

  - Promete para mim que não vai contar a ninguém? Muito menos para a Alice?

Espera aí, o que?

— Como assim? Você não quer que ninguém saiba que você gosta de mim? Porque eu sou feia? Ou estranha?

Eric afasta-se de mim, limpando os olhos com as palmas das mãos.

— Do que você está falando?

— Do que você está falando?

Ficamos em silêncio por um momento. Inquieta, coço a nuca.

— Bella.. E-eu sou gay. - ele susurra. Eu arregalo os olhos.

— M-mas achei que você estava gostando de mim!

Eric balança a cabeça violentamente. Porra! Eric e o grande segredo dele são de matar!

— Claro que não! Você é legal e tudo mais, só que eu não gosto de… - ele aponta para baixo, corando.

Eu abro a boca em um “o” perfeito.

— Eu tenho uma queda pelo Jasper. - ele sussurra.

CA-RA-LHO! Ponho a mão sobre a boca, sem saber o que dizer. Eric volta a roer as unhas.

— Diz alguma coisa, por favor.

— E-eu não vou contar. Nem para Alice, nem para ninguém. 

Ele solta um suspiro de alívio.

Eric gay?! Como eu nunca tinha percebido isso? Ele corado sempre que Jasper está com nós. É tão óbvio! Ponho a mão no ombro do garoto.

— Eu… Me desculpa, Eric. Pensei que era alguém que eu estava atrás e Alice falou para eu ser “agressiva”.

Ele sorri de leve.

— Tudo bem. Para falar a verdade, me sinto até melhor por finalmente me abrir com alguém.

Mordo os lábios.

— Ninguém sabe?

Ele nega com a cabeça.

— Nossa. - falo entre um suspiro. - O que tem aí? - ele mostra uma blusa de Jasper?! Porra!

Escuto a porta do quarto de Alice sendo aberta. Eu agarro a blusa e jogo para o outro lado do quarto, ao lado esquerdo da cama. A garota e seu namorado aparecem. Vejo as bochechas de Eric voltarem a ficar vermelhas. Engulo em seco, percebendo seu olhar de cima a baixo em Jasper. Cutuco de leve seu braço para ele se ligar no que está fazendo.

— Já está tarde! - Eric diz ficando de pé. - Minha avó mandou mensagem para eu voltar para casa. 

Alice assente.

— Claro! Pelo menos vocês conseguiram terminar o trabalho.

Eric recolhe seus pertences rapidamente. 

— Cara, vamos arrasar na apresentação. 

Jasper dá um abraço de lado em Eric que fica com as bochechas ainda mais vermelhas. Trocamos um olhar cúmplice. 

— É, claro!

— Vamos te levar até a porta. - digo.

Eric chama um uber que leva em torno de dez minutos para estar na frente da casa de Alice. Ele abraça todos nós. 

— Não vou contar a ninguém. Prometo! - sussuro rápido em seu ouvido.

Ele me dá um sorriso agradecido antes de sair correndo em direção ao carro preto que o espera. Esperamos o carro desaparecer de nossa vista para entrarmos de volta a casa. 

Comento que estou com fome. Alice prontamente me puxa para a cozinha para em seguida tirar uma pizza do congelador. Ela coloca no forno para por fim começar seu monólogo de ódio contra Edward. Eu nunca entendi o desentendimento que os dois tem. Também, nunca prestei muita atenção nisso,

Meus pensamentos viajam para Eric e sua revelação. Gay! Eric é gay! Não que isso seja um problema, claro que não! É só que eu nunca tinha percebido? Ok que sempre estranhei o modo que ele ficava ainda mais tímido perto de Jasper, mas nunca suspeitei que era por ele ter uma queda pelo garoto! De todos os caras de Forks High, logo por Jasper? 

O que vou fazer com Alice? Conto para ela que o nosso melhor amigo tem uma grande queda pelo seu namorado? Ou fica na minha? Será que ela iria falar alguma coisa para ele? Ele ficaria completamente desapontado! 

Subo rapidamente para pegar meu telefone, na esperança de ver uma mensagem sequer do meu correspondente. Sinto-me ainda mais triste ao ver que não tenho nenhuma notícia dele. Só minha mãe perguntando se estou bem. A ignoro completamente.

Volto a descer, desanimada. Mais uma vez, estou errada! Quantas vezes irei quebrar a cara até descobrir quem é o meu correspondente secreto? Eu estaria disposta a tanto desapontamento para descobrir quem ele é? E se eu o fizesse? O que iria fazer? Agora, tudo está diferente!
    Quando volto, Alice começa a explicar como será a noite. Resumidamente, filmes e comida. Alice convida Jasper para dormir também. Eu arregalo os olhos, com imagens desagradáveis na minha cabeça. Eu não duvido desses dois começarem a transar comigo no quarto. Tanto um quanto o outro são doidos da cabeça. 

Mentalmente, ignorando os pombinhos a minha frente, risco o nome de Eric da minha lista, onde sobra apenas mais duas pessoas. Jacob e Emmett. Valeria a pena ir à procura? Me resta apenas três semanas antes de toda a escola acabar. Depois cada um ia para seu próprio canto. Seria ainda mais sofrimento. Eu não estaria disposta a sofrer por causa de um garoto, certo?! Eu sei que devo deixar ele se mostrar, e, mesmo sabendo que é errado, eu apenas decido ignorar. Minha curiosidade - eu nego a mim mesma que não seja só isso - fala mais alto.

Suspiro ao perceber o quão aliviada meu peito está por saber que o correspondente não é Eric. Ele é um doce, mas eu não consigo o colocar como o correspondente secreto. Ele não é tão aberto e honesto. Merda! Bato com minha mão na bancada, sentindo raiva de mim, tentando tirar esses pensamentos idiotas da minha cabeça. Independente, se fosse ele, eu ficaria feliz. 

Jasper retira a pizza do forno. Como rapidamente, tentando preencher o espaço vazio no meu estômago. Após lavarmos as louças usadas, eu corro para o banheiro. Ao sair de lá, passo pelo acesso da sala de estar onde um dos garotos da escola chama meu nome.

— Heyyyyyy, Bellllllllla. - Tom diz, levantando de sua cadeira. Ele enrosca seu braço no meu pescoço. 

Eu só o conheço de longe. Ele tem cabelos castanhos com as pontas do topete encaracoladas. Sua pele é morena apesar de morar em Forks desde sempre. Seus olhos são azuis como o céu. Ele é lindo, mas não passa de um cretino. Pelo menos é isso que as garotas e garotos dizem sobre seus corações partidos por esse garoto. 

— Tchau, Tom. - respondo, tirando seu braço de perto de mim.

— Eu nem falei nada. - diz, fazendo um biquinho até bonitinho. 

— Será que você não pode dar o fora, Tomas? - Alice pergunta aparecendo do nada, irritada. - Pelo menos na minha parte da casa eu quero ficar em paz!

— Ela é tããão careta. - o garoto ao lado resmunga perto do meu ouvido. Seu bafo de tequila é horrível! - Você não é careta, ou é? - seus olhos brilham maliciosamente.

Espio pelo meu ombro vendo Lauren e Jessica nos encarando. Dou de ombros.

— Sou.

Ele abre um sorriso grande, me levando em direção a sala cheia.

— Quer jogar um jogo, Swan? - seus olhos brilham. - Fica com nós e deixa o casalzinho alí brincar de médico. 

Eu reviro os olhos. Vejo Alice bufar.

— Aqui! - ele me entrega a garrafa de vodka. - Aproveita o agora, Swan. Viva o momento.

Viva o momento! Por um segundo, lembro do correspondente e uma raiva inexplicável toma conta de mim, como na segunda-feira. Alice balança a cabeça enquanto Jasper me olha apreensivo. 

Eu posso negar para voltar a ficar com Alice. Vamos ficar na nossa zona de conforto, ela vendo os filmes a medida de tempo que eu leio. Ela irá cair no sono enquanto fico com mil e um pensamento na cabeça. Sempre é assim. Por que não fazer uma coisa diferente dessa vez?

PORQUE EU NÃO POSSO! Minha consciência grita. VOCÊ JÁ FEZ ISSO NA SEGUNDA! NÃO PODE FAZER DE NOVO! JÁ TEVE SUA COTA DE “VIVER O MOMENTO”Por que não? Você não é assim. Temos um objetivo, sua estúpida! FA-CUL-DA-DE. Pode se embebedar e aproveitar o momento depois! Eu sempre procrastino! Depois, depois, depois. O depois já é o agora. 

Eu vou decepcionar Sue? Ser hipócrita por estar fazendo aquilo que eu mais odeio? Ser irresponsável, sem nada na cabeça? Não, eu vou estar vivendo o presente, certo?! Aproveitar as oportunidades que me são dadas. Sair da zona de conforto! Mostrar que eu posso utilizar o meu tempo para coisas consideradas divertidas pelos adolescentes da minha idade. Ficar chapada, bêbeda. Mas eu não sou assim. Fui moldada para ser perfeita e por muito tempo gostei de ser! Mas agora…. Agora, tudo é diferente!

E se eu interpretei mal o que o correspondente falou? Ele não quis dizer, vá em frente, atrás das drogas! Aproveitar o agora… Pode ser feito com muitas coisas, passar um tempo mais com os amigos, sair para passear, mas o que me tem neste exato momento é um bando de adolescentes bêbados. Balanço a cabeça, pronta para admitir a derrota da minha batalha interna quando meus olhos encontram os de Lauren.

Seus olhos expelem sarcasmo. Como se dissesse “obviamente que a pequena Isabella Swan recusaria isso, muito fraca, muito careta”. Ela cochicha algo para Jessica ao seu lado que ri histericamente. As duas trocam olhares cúmplices, o que me faz ir à loucura! Já não basta na escola, aqui também?! 

Movida por uma raiva não conhecida por mim, me surpreendo e provavelmente todos na sala quando agarro a garrafa de vodka, grudando na minha boca, sem hesitar. O líquido transparente desce queimando toda a minha garganta, arranhando. Paro de beber o líquido, deixando a garrafa um pouco mais da metade preenchida. Limpo minha boca com as costas da mão. Eu entrego a garrafa rudemente para Tom que tem o olhar chocado.  

Passo por cima de Brad, sentando no lugar vago no sofá. Tom rapidamente senta-se ao meu lado, passando a garrafa depois de dar um longo gole. Ele passa seu braço esquerdo por cima dos meus ombros com um sorriso irônico estampado em seus lábios. Por cima do ombro vejo, Alice com Jasper surpresos. Lhes dou um sorriso, antes de tomar mais um gole no bico da garrafa. Apoio meus cotovelos nos joelhos, passando a garrafa de um lado para o outro. 

Pelo canto dos olhos, vejo Alice e Jasper de mãos dadas, sentando-se no chão. Os dois me encaravam de cima a baixo. Sinto as bochechas ficarem vermelhas, não sabendo distinguir se é pelos seus olhares chocados ou pelo álcool que eu ingeri. A música continua a tocar alta, preenchendo o nosso silêncio.

Arqueio a sobrancelha ao ver o olhar chocado de Lauren. Sorrio de lado, sentindo-me estranhamente ao ver a cara de “que porra é essa?” de todas as pessoas. Pisco em direção a Jéssica que coça a nuca. Meus olhos grudam nos de Edward que tem a testa franzida. Eu dou de ombros para qualquer que seja a coisa que ele tenta me dizer pelo seu olhar.  Como quem não quer nada, eu largo a garrafa em cima da mesa de vidro do centro.

— Então, qual é o jogo?

Lauren pega a garrafa de vodka, terminando com o rosto que tinha nela. Ela senta-se no chão, depois de dois caras que não tenho ideia de quem são tirarem a mesinha de centro. Todos se sentam em uma rodinha, deixando um espaço para mim. Lauren põe a garrafa de vidro no chão para em seguida girá-la. O bico da garrafa fica na direção de um garoto com cabelos pretos enquanto a base para Jéssica. Levemente, balanço a cabeça enquanto rio fraco, não acreditando no que estou vendo. 

— Verdade ou desafio, Swan. 

Um sentimento de arrependimento começa a nascer no meu peito. Eu trato de jogá-lo para dentro de algum lugar, querendo o ignorar. Nada demais aconteceria, alguém lamberia uma privada ou teria que virar uma garrafa inteira de tequila, no máximo. Afinal, jogo de criança. 

Tom me estende a sua mão. Eu a pego, me sentando ao seu lado. Espio pelo meu ombro vendo os olhos suplicantes de Alice. Ao seu lado, Jasper sibila para eu desistir. Eles não confiam em mim? Volto a encarar os olhos azuis e gélidos de Lauren.

— Um jogo incrivelmente foda. - zombo.

Ela arqueia a sobrancelha como se estivesse acreditando que eu a estava respondendo. Talvez seja o álcool que corre no meu sangue, esteja me dando coragem para fazer coisas que amanhã eu me arrependeria. Por hora, a única coisa que eu me importo é que eu não deixaria que um joguinho idiota me intimidasse. 

— É porque você não sabe como jogamos.

Acredito que estou prestes a descobrir.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Vamos fazer assim, me deem pelo menos sete comentários e eu posto o próximo! Pode ser?! Um grande beijo!



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